3. DIMITRI

Estava correndo, como sempre, em uma manhã ensolarada quando avistei alguém caído na beira da praia. Corri para mais perto e era uma moça, no momento, a achei muito bonita. Ela tinha a aparência de uns 25 anos, aproximadamente.

Chequei para ver se ela estava respirando, toquei seu rosto com delicadeza, para retirar os cabelos da frente dos seus olhos e de sua boca bem desenhada.

Ela abriu os olhos e me olhou com espanto. Senti uma eletricidade percorrer meu corpo quando nossos olhares se conectaram. Nunca havia sentido tal sensação física, meu corpo se arrepiou apenas com seu olhar.

Quando fui tomá-la em meus braços, ela esmoreceu, desmaiando.

Consegui checar sua pulsação, mas me preocupei com o fato de ela estar com a cabeça sangrando. Sem pensar direito, a levei para casa. Pois o hospital ficava a cerca de duas horas de distância, e eu podia ligar para o Doutor Versales, meu médico particular e amigo.

Meu segurança me ajudou a colocá-la no carro.

Fiquei perturbado. E se ela morresse? Tão linda, e parecia ser muito jovem.

Logo que chegamos em casa, a coloquei em uma cama no quarto de hóspedes e chamei a empregada. Assim que entendi a real gravidade de tudo e me livrei daquele momento de susto, liguei para o médico. Já estava passando da hora.

Por meu pedido, a empregada retirou as roupas da bela moça e as trocou por roupas limpas e secas.

Enquanto eu esperava o doutor chegar, olhei no relógio impaciente.

***

Dois dias se passaram e eu ainda não sei nada sobre a linda loira de pele clara e olhos azuis da cor do oceano, que chegou agitando minha vida, que já é um pouco bagunçada..

Estou impaciente por ela não acordar. Não consigo descrever a intensidade do seu olhar, quando se cruzou com o meu naquela praia. Senti algo diferente naquele momento. Sua presença despertou algo em mim que já estava morto há muito tempo.

Quando fui vê-la pela quarta vez em seu quarto, ela já tinha recobrado os sentidos. Observei o modo como seu cabelo loiro, embora bagunçado, dava a ela um aspecto inocente.

Estava muito confusa e com medo, me fez várias perguntas.

Sua voz doce me encantou.

Infelizmente, ela não se lembra de quem é, deve ser por causa da pancada na cabeça.

Tento ser gentil, pois não é do meu feitio. A conforto, dizendo que logo ela vai se lembrar de tudo. Isso tem se tornado meu mantra: ela vai se lembrar de quem é e voltar para a sua vida de antes.

Quando peço para retirar o curativo que ela usava, ficamos bem próximos. Sua respiração mudou com a minha proximidade.

Disfarçadamente, olho nos seus olhos e na sua boca, sem que ela perceba. Meu coração dispara…

Só posso estar maluco!

Brigo comigo mesmo internamente. Estou me sentindo um adolescente no colegial, quando se apaixona por uma garota.

Retiro a faixa que envolve sua cabeça e a olho fixamente nos olhos. Percebo que parei de respirar por um instante…

Me sinto um insano. Recobro minha postura de sempre, ficando em pé rapidamente.

Chego a me sentir estúpido com tal atitude. Mas como pensei, não posso ter nenhum sentimento por essa jovem.

Preciso que ela saia da minha casa o mais rápido possível.

"Que droga!" xingo mentalmente.

Até parece que fui eu que bati a cabeça, estou com um comportamento estranho. Após ela dizer que não sabe seu nome, vem até mim a imagem de uma pérola e pergunto se posso chamá-la assim. Bem, pérola é uma palavra vinda do latim, que tem semelhança com a lua, assim como pureza e brilho. É o que sinto quando olho para ela.

Agora ela deve pensar que sou um maluco… Deixo-a intrigada!

E digo que pérolas são delicadas e as encontramos no mar, assim como eu a encontrei.

Por que a mulher à minha frente tem que ser tão doce e delicada? Se ela souber que mexe com as minhas estruturas, sou um homem morto.

Pronto, pirei de vez.

Nunca fui gentil com as mulheres a esse ponto, somente uma que realmente me teve por completo, mas por obra do destino não estamos juntos.

Quando me lembro desse fato, enrijeço a postura e a fito com um olhar sombrio. Nesse momento, ela desvia o olhar para a janela.

Aviso que vão trazer o café no quarto e saio em seguida, pois estou precisando me afastar ou não vou resistir aos seus encantos. Meus pensamentos sempre me levam á ela, tenho muitas curiosidades sobre aquela loirinha encontrada na praia.

Estar perto dela é estranho.

Peço para Amayume, a filha da empregada levar o café da manhã para ela no quarto. que prontamente ajuda sua mãe e faz o que eu ordenei.

Passo o dia com meus afazeres e retorno somente à noite para casa. Evito ao máximo encontrar com Pérola, mas meus pensamentos ainda estão nela, como pude ser tão idiota, dei até um apelido para a bela mulher.

Fechei-me para o amor e agora só faço sexo casual. Porque não quero ter que passar novamente pelo que passei.

O amor entre um homem e uma mulher nos deixa vulneráveis, e sou impenetrável quando se trata de relacionamentos. Vou ter que ser mais severo com ela não posso me dar ao luxo de que ela tenha algum sentimento por mim.

Sou Dimitre Kempel tenho 36 anos, todos me conhecem como o bem sucedido empresário de telecomunicação da Espanha.

Sou filho único, meu pai morreu de infarto a mais de 15 anos e minha mãe faleceu após fazer uma cirurgia e contrair infecção generalizada há 12 anos atrás.

Desde que meu pai faleceu eu dirijo a empresa da família.

Estudei na França, onde me formei em Administração e Direito.

Sou um homem rígido, obcecado pelo trabalho. Extremamente exigente e perfeccionista.

Tudo tem que ser do meu jeito. Odeio que contrariem minhas ordens.

Sempre fui um homem sonhador e ambicioso. Mas minha vida se tornou escura há oito anos atrás. Memórias daquela noite ainda me atormentam.

Minha história foi muito linda e trágica, as marcas de destruição ainda estão presentes no meu coração e fazem parte da minha vida.

Só tenho contatos com mulheres quando vou até as casa noturnas em busca de aliviar minhas necessidades.

Será que um dia poderei amar novamente. Afasto esse pensamento, pois estou determinado a não deixar isso acontecer.

Não quero ter um relacionamento sério desde então, odeio mulheres no meu pé. Principalmente porque elas viram nossas vidas de perna para o ar. Estou bem assim, já tenho muitos problemas de mais.

Entretanto uma mulher tem tirado o meu sossego durante esses dias. Pérola entrou na minha vida inesperadamente e agora está na morando na minha casa, não sei como eu permiti.

Passo o dia todo na empresa e não vejo a hora de chegar a casa, para vê-la, desde o dia em que a encontrei desacordada na beira da praia não para de pensar nela.

Cada toque, cada olhar, quero sentir seu cheiro e principalmente seu gosto.

Quando me pego pensando nela, tento afastar esses pensamentos obscenos que tenho, mas não consigo, eles são mais fortes do que eu.

Estou constantemente irritado, nervoso, descontente e mal humorado.

Não quero acreditar que estou tendo sentimentos por uma mulher novamente. Meu coração é apenas cacos quebrados dentro do peito.

Já tive algumas ficantes, mas nada serio, odeio mulheres no meu pé, choramingando ou exigindo atenção, principalmente essas interesseiras, que conhecem minha família e sabem que sou um homem bem abastado.

Vou jantar, e pergunto para a Mirella se Pérola já jantou. Mesmo não querendo me aproximar sou tomado pelo desejo de vê-la. Falo que eu mesmo vou levar seu jantar no quarto. Mirella me olha confusa, pois sabe que eu nunca trataria assim uma mulher na minha casa. Não que eu seja um ogro, mas evito esse tipo de situação e ela sabe muito bem.

Levo o jantar no quarto em que Pérola está, conversamos um pouco e ela fez alguns questionamentos sobre o dia em que a encontrei.

Respondo a todas as suas perguntas. Assim que terminamos de conversar e fazer companhia. Me despeço com muito sono e vou para meu quarto.

Quando estou no corredor, pensando ainda nessa doce mulher, ouço gritos vindos de outro quarto. Infelizmente a realidade que me martiriza todos os dias está aí, sigo em direção ao quarto o mais rápido possível, para realidade mais dolorosa que um homem possa viver.

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