— Como disse, preciso de mais do que somente a sua palavra. Digamos que eu não posso conceder favores de graça. — Informei. E eu poderia. Mas eu não quero. Não existe razão pela qual eu faria isso.Ela me olhou com mais atenção.Astryd apertou os lábios e assentiu, abraçando os cotovelos enquanto me olhava. Ela parecia mais indefesa do que nunca.— Eu... Tudo bem. — Suspirou, parando na minha frente. — Onde quer que eu assine?Me levantei, guiando Astryd para a próxima ala do castelo e subimos alguns lances de escada. Ela estava atenta em tudo, seu olhar entregava o encanto com a decoração estrategicamente escolhida para despertar desejo e cobiça.As dimensões eram divididas por pecado, sendo assim, o castelo aflorava os sentimentos mais destrutivos em cada alma que nela pisava, na vida e após a morte.Milhares de almas eram condenadas todos os dias. E quanto mais cheio o inferno ficava, mais o castelo crescia.Tranquei a porta da última sala do corredor.Estávamos na zona umbralina.
Os olhos avelãs de Astryd foram transformando-se, ganhando os mesmos pigmentos avermelhados dos meus. Os cabelos antes negros, clarearam, da raiz às pontas, assumindo a coloração platinada da minha. Ao me dar conta do que estava acontecendo, gargalhei, numa mistura de indignação e escárnio.— Do que está rindo? — ela disse confusa e puxou uma mecha dos cabelos longos e ondulados para frente, assustando-se. — O que você fez? — gritou, levantando-se depressa.— Ora, não me dê os créditos por isso. — Disse debochado. — O mérito é todo seu.— O-o que? — Gaguejou. — O que isso quer dizer?— Não fui eu que fiz isso, Anghel. — Expliquei.Ela negou prontamente, dando voltas pela sala.— Eu não fiz isso. Não sei fazer isso! — Gritou. — Eu não... Não entendo. — Balbuciou confusa, o seu olhar se perdeu outra vez.Oh, Astryd. Alguém lá em cima a odeia muito para ter lhe dado de presente para mim com tanta facilidade.Aproximei-me dela em passos largos e segurei seu braço bruscamente, forçando a g
Astryd Anghel.Meu coração batia acelerado. Nunca senti tanto medo em toda a minha vida. O frio esquisito da floresta ainda gelava o meu corpo e mantinha todos os meus pelos arrepiados.O que era aquela coisa?Engoli seco, revivendo na cabeça os gritos e a imagem daquele homem sendo devorado vivo pela criatura mais assustadora que já vi. Tinha certeza de que aquele monstro habitaria meus pesadelos de agora em diante.Ou será que ainda estava sonhando?Tentei falar alguma coisa, mas não consegui. Minha voz não saiu. Entrei em desespero. O que tinha acontecido com a minha voz?— Oh, claro. — O duque revirou os olhos e uma fumaça preta saiu dos seus dedos.Minha garganta ardeu e eu tossi forte. Minha voz havia voltado!— O que foi isso? Por que ele não me viu? — Disse apavorada, levantando-me depressa.— Preferia que tivesse visto? Vou me lembrar disso na próxima vez. — Ele rebateu, debochando. Depois franziu o cenho, me olhando de cima a baixo. — Como me seguiu até a floresta negra? Ela
Dia seguinte.O sol adentrava pelas janelas do quarto, iluminando todo o ambiente. Mal preguei o olho durante toda a noite, e quando finalmente conseguia dormir, mesmo que por poucas horas, era despertada pelos pesadelos mais esquisitos possíveis logo após. Não que eles superassem qualquer coisa que eu estivesse passando agora.Apertei os olhos ao me levantar, estranhando a lama no chão e nos meus pés.— Bom dia. — Um homem de cabelos longos e olhos negros entrou pela porta carregando uma bandeja de café da manhã. Sua voz era muito grave, mal parecia humana. Ele usava roupas tão elegantes quanto Leonard, além de ser muito bonito e excêntrico. Os acessórios que usava pareciam de um pirata. Entretanto, ele não podia ser comparado à Leonard. Ninguém poderia. Não que isso significasse alguma coisa. Sua beleza já não parecia encantadora, mas me causava arrepios. — Mantenha as janelas fechadas. — Ordenou, erguendo as mãos para fechá-las com magia.— Que ótimo. Outro feiticeiro. — Resmunguei
Astryd Anghel.Não tive um segundo sozinha desde que Leonard fez aquele anúncio, mas foi bom rever mamãe e Asteryn. Me casar com o duque não era exatamente o que tinha em mente quando pedi a sua ajuda para me livrar de Seth, mas não é como se eu tivesse escolha.Quando o castelo esvaziou e o silêncio voltou a reinar, desci para caminhar pelo jardim. Não havia muito o que eu poderia fazer por lá.O jardim parecia um labirinto de rosas e espinhos, mas uma rosa preta em meio às vermelhas e brancas, chamou a minha atenção. Estendi a mão para pegá-la, me espetando com o espinho que fez um pequeno corte no dedo.— Ai. — Gemi, levando dedo para a boca. Antes que pudesse lambê-lo, senti dedos prenderem-se ao redor do meu pulso.Leonard levou minha mão para a boca e lambeu o sangue do corte. Tentei me livrar do seu toque, mas ele não aliviou a pressão e virou minha palma para baixo. Com a mão esquerda, tirou uma caixinha aveludada do bolso da calça e abriu, mostrando-me o anel de brilhantes co
Leonard Scorpius.Invadi o quarto de Astryd silenciosamente e coloquei a caixinha de veludo com a aliança em cima da cômoda. Sua respiração alta chamou minha atenção. Seu sono parecia conturbado, então não resisti a tentação de invadir sua mente para descobrir o que a deixava tão agitada.Ela acordou alguns segundos depois, correndo o olhar perdido pelo quarto como se tentasse reconhecer o ambiente. Quando me viu encostando em sua cômoda com os braços cruzados, seu rosto ruborizou.— Tendo sonhos eróticos comigo, Anghel? — Disse sacana, notando sua respiração normalizar. Me aproximei da cama e ela se sentou depressa, ajeitando os cabelos. Sua expressão estava confusa.Sentei-me ao seu lado e abri a caixinha de veludo, revelando a aliança dentro dela. Seus olhos se arregalaram.— Pertenceu a sua mãe? — Indagou. Como ela sabia disso?Concordei com um breve aceno com a cabeça e puxei sua mão, colocando a aliança de diamantes em seu anelar.— Não parece surpresa. — Constatei. — Quer me con
Astryd Anhgel.Encarava o meu reflexo em frente ao espelho do quarto. Quase não me reconhecia naqueles vestidos extravagantes, decotados e muito sensuais. Meu closet estava repleto deles. Os cabelos brancos se destacavam no vestido vermelho até os pés. O decote nos peitos parecia mais exagerado do que o habitual.Não consegui tirar Mihai da cabeça desde que Scorpius invadiu minha mente, aquela lembrança há muito esquecida não me perturbava há anos.Eu me considerava uma garota emotiva e sensível. Nunca me envergonhei da minha fragilidade, mas ela já não parecia fazer parte de mim. Não mais. Ainda não tive tempo para conhecer todas as alas daquele castelo. Não me sentia segura nele, mas precisava conhecer meu novo lar. Deixei o quarto e caminhei pelos corredores que ainda não explorei. Havia muitos quadros nas paredes, mas um em especial chamou a minha atenção.Era uma rainha. Uma bela rainha de olhos negros impetuosos e cabelos brancos como os de Leonard. Sua expressão era fria e crue
Quando chegamos no clube, ele segurou a minha mão para descer do carro e abriu um sorriso falso para cumprimentar aqueles que passavam por nós. Todos fingiam simpatia, inclusive ele. Leonard odiava aquelas pessoas tanto quanto eu. Aquele teatro passou a ser irritante. Estupidamente irritante.Nos sentamos à mesa com alguns conhecidos e Dacia me lançou alguns olhares suspeitos e sarcásticos. Seu desprezo por mim nunca foi tão escancarado. Quando os homens se retiraram da mesa para jogar no cassino, ela e Morgana se aproximaram, sentando-se ao meu lado.— Então, Astryd, vai nos dizer seu segredo? — Morgana disse, ganhando a minha atenção. A observei em silêncio, mas não respondi. — Ora, não se faça de desentendida. Todas nós queremos saber como conquistou o coração do homem mais desejado da Romenia. Ninguém conseguiu prender a atenção do duque por mais de uma noite.— Imagino que nossa querida Astryd saiba as artimanhas para prender um homem. — Dacia completou ardilosa. — Os boatos eram