Sofia
Apesar de situações e cenários muito diferentes, aquela era a segunda vez que eu presenciava um enterro.
Dessa vez, não havia um corpo ali. Era apenas uma cerimônia simbólica. Enterramos o anel de Enki, a única “parte” dele que chegara até nós. Seu corpo deveria estar jogado em algum lugar no meio daquela floresta maldita, naquele mundo insano o qual ele estivera incumbido de proteger.
Pensei no quanto a morte dele tinha sido em vão. Ele ficara sozinho para que pudéssemos ganhar tempo e continuar avançando. Mas ali estávamos nós, parados, passando algum tempo a fazer um enterro simbólico de alguém que deveria estar vivo, seguindo adiante ao nosso lado. Com a atitude supostamente inteligente, também acabamos deixando para trás os cavalos – que foram soltos e enxotados pelos inimigos &ndash
MarianaMeu mundo sempre foi cor de rosa. Porque eu o colori assim. Eu gostava do meu mundinho de faz de conta. Gostava de ser apenas a Mari, com minhas orelhas de gatinho, meus vestidos de Lolita, meus mangás, meu vocabulário próprio e meu empenho em aprender os passos de dança dos meus ídolos. Eu gostava porque era bom... porque era agradável... porque era seguro. Mas, é claro... eu sempre soube que a vida era bem mais do que isso. Sabia que existiam pessoas ruins e que o mundo, aquele de verdade, que ninguém conseguiu colorir, era uma grande porcaria. E sabia que mesmo as pessoas que eram boas também faziam, vez ou outra, coisas não muito legais.Meu pai era maravilhoso para mim, mas tinha falhado muito com a Sofia. E talvez
Mariana A lista de coisas que eu gostava era gigantesca. Minha mãe sempre disse que eu era a menina mais fácil de ser agradada, porque qualquer presente me deixava feliz. Apesar de minha preferência por cor-de-rosa, eu amava todas as cores. Era apaixonada por Kpop, mas escutava de boa qualquer tipo de música. E, em se tratando de comida... doces, salgados, tanto faz. Eu comia de absolutamente tudo! Dito isso, fica meio lógico afirmar que a lista oposta, de coisas que eu odiava, era ridiculamente pequena. E os três primeiros itens desta lista eram, em ordem:Lugares apertados;Água;Raciocínio lógico, ou a nada boa e muito velha Matemática.Eu já tinha enfrentado o meu ranço núme
SofiaO zumbido que ecoava em minha mente aos poucos foi ganhando a forma de sons que se pareciam com palavras, embora ainda não fizessem sentido algum. Até que um ou outro vocábulo com significado real foi formado... espaçados, vez ou outra... aumentando de frequência até que eu fosse capaz de reconhecer as vozes e me situar no tempo e no espaço.Consegui abrir um pouco os olhos, ouvindo um “Olha, ela está acordando!” seguido por perguntas sobre como eu estava me sentindo. Ofereceram-me água, e eu bebi com muita vontade, o máximo que consegui, antes que minhas forças voltassem a me abandonar e eu me visse novamente afundando na escuridão total, junto aos ruídos indecifráveis. Às veze
Sofia Permaneci parada, estática, paralisada de pavor e confusão diante daquilo. Senti a movimentação ao meu redor, de alguém começando a avançar em direção a Mariana e Cian. Até que este gritou: — Fiquem onde estão! Todos pararam automaticamente. Vi a neblina que camuflava um ponto alguns metros adiante de nós se dissipar e, em meio a ela, surgir um cara esquisito agachado sobre uma pedra. — Surpresa! — Ele soltou uma sonora gargalhada. — Mas quem é esse cara? &mdash
Mariana — Você foi demais, Sofia! — Mariana, você já disse isso! — Eu sei, mas preciso repetir um monte de vezes, porque estou muito, muito impressionada! — Que tal se impressionar um pouco menos e comer sua comida antes que esfrie? Ela estava certa. Todo mundo já terminava de comer o seu almoço e logo o grupo iria querer seguir viagem. Enquanto isso, eu estava tão empolgada em relembrar o último feito da Sofia, que mal tinha tocado na minha comida.&
Mariana Eu sempre fui uma pessoa sonhadora e imaginativa em um nível bem fora do real. Costumava construir cenas inteiras dentro da minha cabeça, tanto com relação ao passado quanto ao futuro. Ao passado no sentido de reviver situações de outras maneiras, geralmente colocando-me para falar coisas que não falei, fazer coisas que não fiz e, desta forma, recriar mentalmente toda a sequência de fatos que na vida real não tiveram um final muito feliz. Nessas horas, sempre batia uma ponta de tristeza por saber o quanto aquilo era inútil. O passado não poderia ser alterado, não importava o que fizéssemos. Só que o mesmo acontecia com relação ao futuro e, nessas horas, eu não sentia ter motivos para me reprimir. Amava ensaiar ment
Sofia Alguma coisa tinha mudado no ar. Eu não sentia antes nada de diferente, mas foi como se a pressão atmosférica ao nosso redor tivesse ficado mais leve. Algo como quando se está em um voo e a aeronave começa a se preparar para o pouso e a perder altitude, eu acho... nunca tinha andado de avião, mas sabia, na teoria, como aquilo funcionava. Deduzi que seria o bloqueio energético ao nosso redor sendo quebrado. Olhei para a plateia e Galamor não estava mais lá. Já tinha conseguido o que queria e, é claro, não ficaria por perto para ser também derrotado. Eu não era uma guerreira, e talvez jamais chegasse a ser. Ainda trazia a espada nas minhas mãos, mas era uma completa inútil que não so
Sofia Zaria... O próprio som da minha voz ao pronunciar aquele nome causou-me arrepios por todo o meu corpo. Soava como uma maldição, como o presságio de coisas extremamente ruins, como a personificação da própria maldade. E de todas as formas que eu imaginei que fosse ficar pela primeira vez cara a cara com aquela mulher, nenhuma era nem parecida com esta: simplesmente caindo de pé diante de nós, a poucos metros de distância. O instinto que me fez recuar alguns passos parecia ter dominado também os meus companheiros, pois percebi que todos faziam o mesmo, enquanto Cian e Dylan sacavam suas espadas. Ao fazer isso, percebi que ela olhara diretamente para mim e não sei de onde veio a coragem para sustentar aque