Sofia
Permaneci parada, estática, paralisada de pavor e confusão diante daquilo. Senti a movimentação ao meu redor, de alguém começando a avançar em direção a Mariana e Cian. Até que este gritou:
— Fiquem onde estão!
Todos pararam automaticamente. Vi a neblina que camuflava um ponto alguns metros adiante de nós se dissipar e, em meio a ela, surgir um cara esquisito agachado sobre uma pedra.
— Surpresa! — Ele soltou uma sonora gargalhada.
— Mas quem é esse cara? &mdash
Mariana — Você foi demais, Sofia! — Mariana, você já disse isso! — Eu sei, mas preciso repetir um monte de vezes, porque estou muito, muito impressionada! — Que tal se impressionar um pouco menos e comer sua comida antes que esfrie? Ela estava certa. Todo mundo já terminava de comer o seu almoço e logo o grupo iria querer seguir viagem. Enquanto isso, eu estava tão empolgada em relembrar o último feito da Sofia, que mal tinha tocado na minha comida.&
Mariana Eu sempre fui uma pessoa sonhadora e imaginativa em um nível bem fora do real. Costumava construir cenas inteiras dentro da minha cabeça, tanto com relação ao passado quanto ao futuro. Ao passado no sentido de reviver situações de outras maneiras, geralmente colocando-me para falar coisas que não falei, fazer coisas que não fiz e, desta forma, recriar mentalmente toda a sequência de fatos que na vida real não tiveram um final muito feliz. Nessas horas, sempre batia uma ponta de tristeza por saber o quanto aquilo era inútil. O passado não poderia ser alterado, não importava o que fizéssemos. Só que o mesmo acontecia com relação ao futuro e, nessas horas, eu não sentia ter motivos para me reprimir. Amava ensaiar ment
Sofia Alguma coisa tinha mudado no ar. Eu não sentia antes nada de diferente, mas foi como se a pressão atmosférica ao nosso redor tivesse ficado mais leve. Algo como quando se está em um voo e a aeronave começa a se preparar para o pouso e a perder altitude, eu acho... nunca tinha andado de avião, mas sabia, na teoria, como aquilo funcionava. Deduzi que seria o bloqueio energético ao nosso redor sendo quebrado. Olhei para a plateia e Galamor não estava mais lá. Já tinha conseguido o que queria e, é claro, não ficaria por perto para ser também derrotado. Eu não era uma guerreira, e talvez jamais chegasse a ser. Ainda trazia a espada nas minhas mãos, mas era uma completa inútil que não so
Sofia Zaria... O próprio som da minha voz ao pronunciar aquele nome causou-me arrepios por todo o meu corpo. Soava como uma maldição, como o presságio de coisas extremamente ruins, como a personificação da própria maldade. E de todas as formas que eu imaginei que fosse ficar pela primeira vez cara a cara com aquela mulher, nenhuma era nem parecida com esta: simplesmente caindo de pé diante de nós, a poucos metros de distância. O instinto que me fez recuar alguns passos parecia ter dominado também os meus companheiros, pois percebi que todos faziam o mesmo, enquanto Cian e Dylan sacavam suas espadas. Ao fazer isso, percebi que ela olhara diretamente para mim e não sei de onde veio a coragem para sustentar aque
Mariana Se desse ao que eu sentia o nome de medo, não estaria sendo sincera. Eu estava desesperada, em níveis completamente surreais. Porém, ao mesmo tempo, tinham outras sensações tão ou mais fortes que me mantinham de pé. A maior delas era o desejo de salvar a rainha Morgan. Outra, era o desejo de justiça. Zaria precisava e iria pagar pelos crimes que cometeu. Eu apenas não fazia ideia de como faria isso. Eu tinha achado que o quarto para onde levaram Sofia e eu na noite em que dormimos no castelo era majestoso, mas não se comparava ao local onde estávamos agora. Era o mais puro luxo, o que demonstrava o quanto Morgan se preocupava com o bem-estar de sua prima criminosa. Porém, em meio a todo o co
Mariana Eu não era capaz de imaginar nada que pudesse ser mais aterrorizante do que aquela sensação de falta de controle sobre o meu próprio corpo. Eu não conseguia nem ao menos chorar e, apesar do pavor que sentia, toda a minha musculatura se mantinha firme, sem sequer um indício de tremor. Havia segurança e destreza em minha postura, na forma com que eu empunhava a espada e, até mesmo, na firmeza com a qual eu olhava fixamente para Sofia. Mas eu não sentia nada daquilo. Eu não queria estar ameaçando uma pessoa que eu amava como uma irmã. Ouvi a risada de Zaria e a vi se levantar e vir em minha direção. Parou bem atrás de mim e me abraçou. Senti nojo daquele contato, queria empurrá-la, queria sair dali, mas apenas me mantive im
Sofia Nada do que aquela mulher dizia fazia qualquer sentido. Minha mãe se chamava Amanda e era tão terráquea quanto eu. Tinha nascido e passado a vida inteira em uma cidade do interior, vinda de uma família humilde, criada por uma tia já falecida e sem parentes vivos. Foi mãe solteira antes dos vinte, nunca se casou, não fez faculdade e trabalhava na prefeitura. Gostava de cavalos, de feng shui, de paradas místicas e artesanatos. Uma mulher de vida simples e de uma índole maravilhosa, tão humana quanto todas as outras pessoas do meu mundo. Nada de sucessora de um trono em um outro mundo. Não existia qualquer chance, por mais remota que fosse, daqueles devaneios de Zaria serem verdade. Não mesmo! Mas... e se houvesse?&nbs
Sofia Eu sempre achei que a noite que se seguiu ao dia da morte da minha mãe seria para sempre a pior de toda a minha vida, mas agora eu vivia outra que a superava. Mesmo porque, a morte dela, em si, parecia estar sendo revivida, adquirindo outro significado ainda mais doloroso na minha vida. Assassinada por uma criatura inescrupulosa e cruel, a mesma que agora tinha em suas mãos a vida de outra pessoa que também se tornara importante para mim. E, em meio ao luto, à revolta e ao medo, vinha também a culpa. Eu havia falhado miseravelmente na missão atribuída a mim. Um missão duplamente atribuída, na verdade, já que agora eu descobria que não apenas era uma das guerreiras esperadas, como era também uma futura