Derek
DOZE MESES ANTES
— Não entendo, Damen. O que é tão importante a ponto de você me tirar do altar?
Com um mau humor já predominante, endireitei meu paletó pela milésima vez naquela manhã e encarei Damen. Por algum motivo que me era desconhecido até então, Damen parecia assustado. Como se tivesse visto uma espécie de fantasma.
Ele congelou em frente a porta de meu escritório. Confuso, coloquei-me de frente à ele, os braços cruzados e o rosto rígido.
— Mas que merda, Damen! Eu tenho um casamento, será que você pode, por favor, me dizer por qual motivo permanecer aqui parado é mais relevante do que estar no altar?
Damen permaneceu sério. Arrisco-me a dizer que entre estar sério e assustado, o seu medo estava mais evidente.
— Damen? — rosnei, impaciente.
— Eu... — ele engoliu seco. — garanto que precisa ver isso, irmão.
— Isso?
Eu franzi a testa e, de maneira quase instantânea, a porta de meu escritório se abriu. De supetão, senti o impulso de alguém correndo na direção de meus braços, o que me deixou completamente imóvel e assustado.
Tudo acontecera rápido demais. Eu nem ao menos tinha noção do que estava acontecendo ou quem havia pulado em cima de mim.
Confuso, segurei a pessoa pelos ombros e a afastei, para, só então, poder ter a visão completa de seu rosto.
Senti um arrepio percorrer por toda espinha. Meu corpo murchou-se no imediato momento que meus olhos se cruzaram com os dela.
Minhas pernas cambalearam numa simples fração de segundos. Eu não conseguia crer no que estava vendo.
— Monnie? — arrisquei-me em perguntar, minha voz quase como em um sussurro.
Um sorriso largo se estendeu nos lábios do fantasma de minha ex-mulher. Ela tentou novamente me abraçar, mas eu recuei.
Confusa, ela crispou a testa.
— Derek, o que há...?
— O que há? Como assim o que há? — rebati, num misto de irritação, medo e surpresa.
— Você está... com medo de mim?
— Que tipo de brincadeira é essa? — olhei para Damen, depois rolei os olhos pelo escritório e notei a presença de Sabrina, Meg e Amanda. — Quem diabos é você?
Fixei meus olhos em Amanda. Ela estava divinamente perfeita. Mas não parecia tão radiante, seu olhar estava triste e infeliz. E eu sabia exatamente o porquê.
— Como quem sou eu, Derek? Não sabe mais quem é sua esposa? — disse, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
— Minha esposa morreu há dois anos.
Monnie franziu a testa.— O que está dizendo? — seu sorriso murchou rapidamente. — Eu... eu não estou morta, não vê?
Ela abriu os braços, provavelmente esperando que eu correspondesse sua tentativa de abraço.
Mas tudo que fiz foi ignorá-la.
Estava perdidamente confuso.
— Eu não consigo... juro que estou tentando... o que você está fazendo aqui? Por que está aqui?
— Por quê? — ela riu baixinho, de um jeito que me irritava profundamente, como se tudo aquilo fosse completamente compreensível e fácil de assimilar. — Eu voltei para você, Derek. Eu voltei para você. Todo esse tempo... esses anos em que estive longe... eu estava tão confusa e perdida e...
Monnie choramingou baixinho e eu me perguntei se ela iria mesmo chorar.
No canto da sala, porém, avistei uma mulher baixinha, o rosto maduro e uma aparência de alguém sofrida.
— E você, quem é?
Queria não ter soado de maneira tão dura, mas há esta altura, eu já nem sabia o que estava fazendo. Se tudo aquilo era real ou uma espécie de sonho.
Sonho, não, pesadelo.
A mulher deu um passo cauteloso para frente e estava pronta para falar, quando a aberração de minha esposa a interrompeu.
— Ana cuidou de mim durante esses dois anos em que eu estive perdida. Foi ela quem me encontrou, jogada, vagando pelas ruas sem sequer saber quem eu era. Eu não lembrava de nada, Derek... nem do meu próprio nome. Mas a Ana me ajudou a lembrar de muitas coisas. A mais importante delas, é claro... foi você.
Tímidamente, a mulher a quem Monnie disse se chamar Ana assentiu, balançando a cabeça positivamente.
— Eu não compreendo... você não lembrava de nada? Eu...
— Ela ainda lembra de poucas coisas. — foi a vez da mulher falar. — Ela lembrou-se de você há alguns meses. Só falava em você e de você, até que as lembranças voltaram em seu ápice e ela lembrou com exatidão quem você era. Eu prometi que a ajudaria a encontrá-lo...
Suspirei fundo.
Fechei os olhos e passei as mãos pelos cabelos, desorientado.
Isso não pode estar acontecendo.
Não, definitivamente, não pode.
— Você tem noção de quantas coisas aconteceram desde que você supostamente estava morta para mim?
Monnie permaneceu calada, e eu preferia que ela continuasse assim.
— Do quanto se lembra?
— Como assim...? Eu...
— Quero saber do que se lembra. Se lembra do acidente? Lembra de...
Eu iria mencionar sua traição, mas Sabrina me olhou feio, como se estivesse pedindo para me conter. Pelo menos por um instante. Mesmo contra a sua vontade, o fiz.
Voltei meus olhos para Monnie.
— Eu só lembro... Lembro de você. Lembro de nós dois, do quanto nos amamos. Do quanto fazíamos planos, e da maioria que nós realizamos. Mas tudo ainda é tão... borrado. É uma desordem, eu... eu tento me lembrar, mas não consigo... — ela fez uma careta. — E o acidente... Aquele maldito acidente... nosso bebê! Eu o matei, eu... o matei, Derek!
De modo a me deixar admirado, Monnie começou a se debater e chorar alto. Damen se aproximou dela, para tentar ajudá-la. Mas foi em vão.
A senhora Ana caminhou até Monnie e segurou firme nos ombros da menina, como se não fosse a primeira vez que ela tivesse de lidar com aquilo.
— Querida, está tudo bem. Já passou, Monnie, preciso que se acalme.
Monnie permanecera se debatendo e chorando incansavelmente.
— Ela fica agitada quando tenta lembrar do passado. — a mulher murmurou baixo, ao perceber minha curiosidade em saber o por quê de Monnie estar daquela forma.
— Acho que ela precisa descansar um pouco. Todo esse reencontro, tudo isso a deixa um tanto quanto agitada.
Eu cerrei meus olhos em Amanda novamente, como se esperasse que ela me dissesse o que fazer. Mas não, Amanda parecia distante demais para me ajudar nessa.
— Damen, mostre, por favor, um dos quartos de hóspedes para a senhora Ana e Monnie.
— Claro.
— Derek, eu perdi nosso bebê. Você me perdoa? Eu... eu juro! Derek, eu te amo tanto, não mataria ele...
Pegando-me de surpresa, Monnie ajoelhou-se aos meus pés.
Surpreso, assustado e sem reação, olhei ao redor.
Ninguém sabia o que me dizer ou simplesmente o que eu devia fazer.
Agachei-me e ergui Monnie pelos ombros.
Ela estava visivelmente desestabilizada emocionalmente.
— Está tudo bem, Monnie. Tudo bem. Agora, é melhor ir descansar, ok? Depois... depois nós falamos sobre isso, tudo bem?
Ela assentiu freneticamente, e eu forcei um sorriso.
Uma merda de sorriso.
Ana segurou a cintura de Monnie, enquanto Damen as guiava para fora dali.
Quando a porta do escritório se fechou, senti que iria desmoronar ali mesmo.
Um silêncio infeliz pairou por todo o ambiente.
Ninguém se arriscou em dizer nada, apenas sentir.
No entanto, ao perceber o grau da situação, e os maiores envolvidos, Meg e Sabrina decidiram, por si só, sair do escritório sem nada dizer.
Ao notar que estava sozinho com Amanda, soltei um longo suspiro.
Virei-me para encará-la, mas não sabia o que dizer.
Porque não havia uma só palavra que pudesse descrever o que tinha acontecido ali.
— Eu quero que saiba... — tentei iniciar nosso diálogo, mas fui interrompido no mesmo instante.
— Não tem que se justificar. Você nunca adivinharia que ela estava viva todo esse tempo. Nem que isso aconteceria logo hoje.
— Ela voltou, Amanda. Ela voltou. Mas que grande merda.
Amanda torceu a boca.
Eu gargalhei fraco. Gargalhei de maneira nervosa, e Amanda me olhou sem entender.
— O que é tão engraçado?
— Ela voltou.
— É, Derek, sua esposa morta está, na verdade, viva.
— Ela voltou justamente no dia do nosso casamento.
— Nosso casamento... — Amanda repetiu baixinho, quase sem emoção nenhuma.
— Quer saber? — eu disse, aproximando-me de Amanda. — Eu não me importo! Eu não me importo, Amanda! Porque eu sei exatamente o que eu quero. — abri um sorriso sincero. — Estou olhando para a mulher com quem eu quero passar todo o resto da minha vida. Estou olhando para a mulher que eu quero dizer sim todos os dias de minha vida. Eu quero você, Amanda. E não importa o que aconteça, hoje é o nosso casamento. Nada pode estragar isso, tudo bem?
Aproximei-me de Amanda na intenção de beijá-la ainda que rapidamente, mas, para minha surpresa, ela se afastou.
— Você não entende, Derek? — ela sussurrou baixinho, tristonha. — Nosso casamento... ele, bom, já era.
Franzi a testa.
— Você não está dizendo que...
— Derek, não vai haver casamento. Não mais. Não hoje.
— Amanda, mas é o nosso...
— Sua esposa morta está no quarto ao lado, e ela não lembra de nada, exceto que ama você. Acha mesmo que eu ainda tenho cabeça para levar nosso casamento adiante?
— Ela não é nada, Amanda...
— Agora, certo? Porque um dia, estou certa de que ela foi tudo para você. — Amanda cerrou os olhos em mim. — Ouça: eu te amo, se é o que quer ouvir. Mas não podemos fingir que está tudo bem, porque não está. Sua esposa morta está viva, Derek. Viva. E isso é demais para mim.
E, sem mais nada a dizer, Amanda passou por mim em passos cautelosos e saiu pela porta, deixando-me para trás, sozinho, questionando toda a minha existência.
E me perguntando o porquê de tudo aquilo estar acontecendo no dia que deveria ficar marcado por ser um dos melhores de toda a minha vida.
AmandaEu não estava enfurecida com Derek.Entretanto, eu não conseguia arranjar alento o suficiente para encará-lo nos olhos. Talvez por não ter as palavras apropriadas para lhe expressar.Ou, um pouco mais que isso: eu não tinha fibra para olhar em seus olhos, uma vez que eu simplesmente não admitia que minha mente idealizasse mais abstrações enlouquecedoras. Especialmente porque, no fundo, bem no fundo, meu subconsciente insistia em me fazer crer na idéia de Derek ter ficado levemente balançado com o retorno daquela mulher.E não era para menos, afinal de contas, estamos falando da mulher que ele tanto amou na vida.Pensar que ela poderia afanar o amor de Derek, novamente, causava sensações desconhecidas em mim. Era como se meu coração estremecesse dentro do peito.— Posso
DerekSentei-me alinhadamente sob a confortável cadeira aveludada do consultório de meu velho amigo Peter, esperando seu retorno, na medida em que fitava atentamente o quadro abstrato que tomava conta do meu campo de visão.Logo que Peter entrou na sala, rolei meus olhos para encará-lo. Ele forçou um sorriso e movimentou-se rapidamente até seu assento.— Me desculpe pela demora, Derek. As coisas estão uma loucura ultimamente.Sorri, talvez deixando transparecer minha ansiedade em ouvi-lo. Aquilo estava me matando lentamente.— Como me pediu, eu analisei o caso com bastante atenção e, Derek, acredito estar correto em afirmar que nós estamos falando de um caso de Amnésia retrógada. Tudo pode ter sido ocasionado depois do
DerekAs noites curiosamente pareciam mais longas. A insônia também começara a fazer parte de minha rotina noturna.Como conseguir dormir tranquilamente sabendo que a mulher que você tantou amou e acreditou estar morta, estava ali, literalmente, no quarto ao lado, mais viva do que nunca?Sentei-me na cama atormentado com as perguntas sem resposta que rondavam minha mente. Respirei fundo e esforcei-me para não acordar Amanda que, diferente de mim, parecia dormir de maneira suave e tranquila.Fixei meus olhos nela.Então, como num filme de recordações, muitos de nossos momentos juntos, especialmente a primeira vez que pusemos os olhos um no outro, exibiram-se em minha cabeça.Lembrei-me com exatidão de quando descobri estar apa
Derek— Então, estou atrapalhando?Amanda repetiu, dessa vez parecia mais irritada do que sarcástica.— Não, é até bom que esteja aqui...Respondi-lhe, andando em sua direção. Entretanto, Amanda deu dois passos para trás, me fazendo entender que ela não queria que eu me aproximasse. Depois, ela apenas rolou seus olhos e os fixou em Monnie.E seu olhar não me parecia nem um pouco amigável.— Eu estava falando que, bem... você sabe, Monnie pode contar conosco! — disse, rígido.— Conosco? — ela crispou a testa.— É. — cerrei os olhos em Amanda. — Ela vai ficar aqui o tempo que for necessário.
AmandaEstava no jardim, caminhando com Lexie e recebendo a brisa fria do vento de fim de tarde.Derek me ignorou durante as poucas vezes que tivemos o desprazer de nos cruzar.Mas ele não era o único, afinal de contas, eu também fiz questão de ignorá-lo.Flashes da noite anterior se passaram en minha mente:— Eu vou embora! — Gritei, sentindo-me completamente menosprezada.— Embora? — ele repetiu, a testa franzida.— É isso mesmo que ouviu. Eu vou embora.— Está se comportando como uma criança mimada, Amanda.Eu ri, com escárnio.— E você está se comportando como um idiota.
AmandaDerek continuou me encarando, seu olhar frio e distante me afrontava com raiva.Semicerrei meus olhos nele, não deixando transparecer minhas pernas trêmulas.Eu não podia vacilar. Não agora.— Derek, eu sei que quer me ajudar, mas...— Mas nada. Eu disse que você fica, não disse?Monnie balançou a cabeça positivamente.— Pois bem. Assunto encerrado. —ele revirou os olhos e, como se tivesse terminado seu "serviço", saiu andando desajeitadamente, ignorando minha existência.— Não acredito que vai me ignorar! Você &e
DerekAmanda e eu estávamos de pé desde as seis da manhã, visto que hoje nossa pequena Lexie teria de submeter-se à alguns exames e uma consulta sua pediátra.Por coincidência, o consultório de Melanie, a atual pediátra de Lexie, ficava no hospital, cujo Peter também atuava.Unindo o útil ao agradável, determinei que aquela era a oportunidade perfeita para apresentar Amanda e Lexie ao meu velho amigo de faculdade.— Eu quero que conheça alguém antes de irmos, Ama.Amanda assentiu, sorrindo de lado.Mas ela estava entretida demais com Lexie, que hoje — especialmente — estava mais hiperativa que o comum e, vez ou outra,
AmandaAntes mesmo de entrarmos em casa, podia-se ouvir perfeitamente um sonido de gargalhadas escandalosas. Eu não sabia exatamente o que viria pela frente, mas já suspeitava.Susan Sant deixou bem claro seu desprazer em me conhecer desde a primeira vez que nos vimos. Certamente isso não havia mudado com o tempo.Mas eu estava disposta a enfrentá-la. Eu mostraria a ela, a qualquer custo, que eu era uma boa pessoa. Que eu amava Derek, e não estava interessada em seu dinheiro. Isso soava tão ilógico. Por que eu tinha de provar algo para alguém que só procura os filhos com segundas intenções?Estava pronta e realmente determinada a entrar em casa, mas não pude fazê-lo, tendo em vista que Derek estava inerte, impossibilitado de