OthonCheguei do trabalho no horário de sempre, mas hoje estava mais ansioso do que nunca. Ao passar em frente à casa dos vizinhos, notei que havia algo incomum: Karen e Otávio estavam juntos. Essa mudança me deixou intrigado, já que eram sempre os avós que cuidavam de Otávio nesse horário. Decidi não fazer alarde e aproveitar a oportunidade para encontrar Karen e conversar com ela. Troquei de roupa às pressas e sai para passear com Bart. Como poderia ela não me reconhecer? No entanto, ao chegar em frente à minha casa, a decepção tomou conta de mim. Karen e Otávio já não estavam mais lá. Certamente Karen viu a minha chegada e resolveu não continuar com Otávio no mesmo lugar. Era evidente que ela estava me evitando, não restavam dúvidas.Fiquei contrariado com a situação, porém optei por não me deixar abater e prosseguir com meu passeio com Bart. Sabia que Karen não poderia evitar um encontro por muito tempo. Além disso, como vizinhos, logo nos encontraremos novamente, especialmente
KarenAo me sentar na mesa daquela boate badalada ao lado de Camila, comecei a questionar novamente se aquela era realmente uma boa ideia. Camila, sempre perceptiva aos meus dilemas internos, me repreende com um sorriso travesso, dizendo que eu não estou morta e preciso aproveitar a vida um pouco mais. Solto uma risada diante do exagero dela, mas decido não contestar. Conheço Camila o suficiente para saber que quando ela decide algo, é melhor não ir contra.Camila tinha decidido que precisávamos comemorar minha recente conquista: o novo emprego no Hospital Central. E Camila não aceitaria um "não" como resposta. Meus pais também insistiram que eu deveria sair um pouco, algo raro de acontecer desde que Otávio nasceu.Então, ali estávamos nós, em meio à música pulsante e luzes coloridas, celebrando uma nova fase da minha vida que mal tinha começado. Eu me sentia grata por ter uma amiga como Camila, sempre disposta a me arrastar para fora da minha zona de conforto, mesmo quando eu resisti
OthonEu me sentia perplexo com a reviravolta da noite; estava dançando com Karen! Era uma surpresa tão grande que parecia flutuar diante de algo tão inesperado. Quando concordei em acompanhar meus amigos até a boate, estava longe de imaginar que acabaria nessa situação. Mas sabia que precisava aproveitar aquela oportunidade única que o destino havia preparado para mim.No entanto, não sabia ao certo como agir. Karen claramente tentava se esquivar de mim desde o primeiro momento em que nos reencontramos, no dia anterior. Eu não queria assustá-la, mas precisava abordar a questão de alguma forma. Decidi apostar em uma abordagem direta.— Eu sei que você lembra de mim.O olhar de Karen mostrou surpresa e um leve toque de apreensão, mas não desviei o olhar. — Está enganado, Dr. Arraes — Karen responde com firmeza — Eu nunca o vi antes de nosso esbarrão ontem, no Hospital Central.Como eu esperava, Karen nega minha sugestão direta, mas isso não me abala. Continuo avançando, aproveitando o
KarenEnquanto dançava com Othon, meu maior desejo era confrontá-lo, perguntar a ele sem rodeios o que aconteceu com a noiva e o filho que eu esperava. Cheguei até a imaginar o momento em que ele responderia com um sorriso irônico "que noiva?", como se fosse inocente, e eu diriaa ele que descobri suas mentiras, que sabia que ele era um grande mentiroso. Mas eu não teria coragem de ir tão longe. A verdade era que eu temia sua reação e não queria reviver as emoções dolorosas daquele passado.Sendo uma grande covarde, penas fingi que não o conhecia, tentando ignorar a sensação de que ele sabia mais do que estava deixando transparecer.Quando finalmente consegui escapar dos braços de Othon, senti um alívio temporário. Mas logo percebi que precisava fazer algo para que ele entendesse que eu não estava interessada nele. Ele não podia continuar insistindo em lembrar-me do nosso encontro em Fernando de Noronha. Não sabia até quando conseguiria resistir aos seus avanços, e precisava encontrar
OthonEu estava decidido a levar Karen para casa. Afinal, não fazia sentido algum ela ir de táxi quando morávamos tão perto um do outro. Porém, eu já tinha percebido que as chances de Karen aceitar qualquer coisa da minha parte eram praticamente nulas. Então, usei um tom de voz determinado, que não deixava margens para contestação, ao avisar a todos que eu mesmo a levaria para casa.A minha determinação não pareceu abalar Karen, pois ela protestou de iediato, como eu já imaginava que faria. — Você não precisa me levar em casa. Eu vou pegar um táxi — ela insistiu, tentando se desvencilhar.— Não, você não vai de táxi quando moramos vizinhos, Karen!. Vou te levar. É o mínimo que posso fazer — insisti, segurando gentilmente em seu braço, determinado a convencê-la.— Mas… — ela começou, mas eu a interrompi.— Sem discussão. Vamos — disse, guiando-a em direção ao meu carro. Era hora de mostrar a ela que eu podia ser insistente quando achava necessário. Mesmo que ela não quisesse minha co
Estou me sentindo como se estivesse flutuando em um mar de nuvens, quando uma voz rompe o silêncio ao meu redor. Alguém está chamando pelo meu nome, mas estou tão imersa na inconsciência do sono que não sei se estou sonhando ou se é realidade. A voz é familiar e muito parecida com a de Othon, o homem que conheci em Fernando de Noronha e que conseguiu mudar completamente o rumo da minha vida.Nesse estado de subconsciência, provavelmente causado pelo cansaço e pela bebida, me deixei envolver por mais um sonho com o pai do meu filho. É uma sensação agridoce, porque, por um lado, estar nos meus sonhos me permite reviver momentos maravilhosos ao seu lado, mas por outro, é também a lembrança de algo que nunca mais voltará a acontecer.Apesar disso, não quero acordar. Não agora. Não quando estou tão perto de sentir novamente o seu toque, mesmo que seja apenas em meus sonhos. A voz continua a me chamar, cada vez mais insistente, até que, mesmo relutante, meus olhos se abrem lentamente, revel
OthonEstou na cozinha, saboreando meu café, quando Colin se junta a mim. — Como foi com Karen ontem à noite? — pergunta Colin, sua curiosidade evidente em seu tom.Dou um gole no café antes de responder, escolhendo as palavras com cuidado. — Ela continua agindo como se não se lembrasse de mim, mas ficou claro que está mentindo.Colin franze a testa, intrigado.— Então, vocês não conseguiram se entender?Solto um suspiro. — Não, Colin, ela continua jogando esse jogo. Adormeceu no carro e, quando acordou, pensou que estava sonhando, chegou a me chamar pelo nome.Colin arqueia as sobrancelhas. — Isso é estranho, cara. Por que ela faria isso? Eu não consigo entender o motivo dessa atitude de Karen.Sacudo a cabeça, frustrado. — Eu também não entendo. Ela parece determinada a manter essa fachada, como se estivesse tentando se convencer de que não me conhece. Mas há algo no olhar dela, algo que me intriga. É como se ela carregasse uma espécie de magoa de mim. Colin cruza os braços, p
KarenEstou determinada a evitar qualquer encontro com Othon, especialmente depois do constrangimento da noite anterior. O fato de eu estar sonhando com ele é algo que me deixa extremamente desconfortável, e temo que ele venha buscar explicações sobre isso. Então, quando Otávio me chama durante o almoço para passear na rua enquanto ele anda de skate, concordo com a condição de que iremos mais cedo do que o habitual.Eu já sei mais ou menos o horário em que Othon costuma sair para passear com o seu cachorro e planejo evitar qualquer coincidência. Não quero correr o risco de nos cruzarmos.Enquanto acompanho Otávio pelo bairro, observo-o com orgulho enquanto ele domina o skate com mais confiança a cada volta. Ele parece tão feliz e concentrado que por um momento me vejo perdida em pensamentos.Quando finalmente Otávio demonstra um relativo cansaço, aproveito para sentar nos degraus de nossa casa, observando-o brincar em seu skate com uma mistura de admiração e alívio. Ele parece tão tra