OthonEstou na cozinha, saboreando meu café, quando Colin se junta a mim. — Como foi com Karen ontem à noite? — pergunta Colin, sua curiosidade evidente em seu tom.Dou um gole no café antes de responder, escolhendo as palavras com cuidado. — Ela continua agindo como se não se lembrasse de mim, mas ficou claro que está mentindo.Colin franze a testa, intrigado.— Então, vocês não conseguiram se entender?Solto um suspiro. — Não, Colin, ela continua jogando esse jogo. Adormeceu no carro e, quando acordou, pensou que estava sonhando, chegou a me chamar pelo nome.Colin arqueia as sobrancelhas. — Isso é estranho, cara. Por que ela faria isso? Eu não consigo entender o motivo dessa atitude de Karen.Sacudo a cabeça, frustrado. — Eu também não entendo. Ela parece determinada a manter essa fachada, como se estivesse tentando se convencer de que não me conhece. Mas há algo no olhar dela, algo que me intriga. É como se ela carregasse uma espécie de magoa de mim. Colin cruza os braços, p
KarenEstou determinada a evitar qualquer encontro com Othon, especialmente depois do constrangimento da noite anterior. O fato de eu estar sonhando com ele é algo que me deixa extremamente desconfortável, e temo que ele venha buscar explicações sobre isso. Então, quando Otávio me chama durante o almoço para passear na rua enquanto ele anda de skate, concordo com a condição de que iremos mais cedo do que o habitual.Eu já sei mais ou menos o horário em que Othon costuma sair para passear com o seu cachorro e planejo evitar qualquer coincidência. Não quero correr o risco de nos cruzarmos.Enquanto acompanho Otávio pelo bairro, observo-o com orgulho enquanto ele domina o skate com mais confiança a cada volta. Ele parece tão feliz e concentrado que por um momento me vejo perdida em pensamentos.Quando finalmente Otávio demonstra um relativo cansaço, aproveito para sentar nos degraus de nossa casa, observando-o brincar em seu skate com uma mistura de admiração e alívio. Ele parece tão tra
OthonQuando cheguei ao Hospital Central na segunda-feira pela manhã, senti a minha energia renovada, apesar do fim de semana movimentado com a visita de Colin e Noah. Após várias conversas e uma sucessão de eventos com saldo negativo para mim, eu estava determinado a deixar para trás tudo o que estivesse relacionado a Karen e focar no que realmente importava: meu trabalho e minha própria felicidade.No entanto, assim que pus os pés no hospital naquela manhã, tudo mudou. Meu ânimo evapora instantaneamente ao me deparar com Karen nos corredores, usando o uniforme da instituição. Aquela visão abrupta me atingiu como um soco no estômago, trazendo à tona uma enxurrada de sentimentos conflitantes.Não pude evitar reviver os momentos do sábado passado, as palavras cortantes e o desdém que Karen dirigiu a mim. E agora ali estava ela, ocupando o mesmo espaço que eu, me obrigando a agir como se nada tivesse acontecido.Meus passos hesitaram por um instante enquanto me esforçava para controlar
OthonPor um instante que pareceu uma eternidade, um silêncio denso e carregado de tensão pairou entre nós. A expectativa pulsava no ar e os segundos se esticaram enquanto eu aguardava a reação de Karen, meu coração batendo tão forte que parecia ecoar no silêncio. Seus olhos traíram o turbilhão de pensamentos que a assaltavam, cada músculo do seu rosto contorcendo-se em uma nuance complexa de emoções. Então, de maneira notável, uma expressão de incredulidade se formou em seu rosto.— Você... você deveria se envergonhar de proferir tais palavras! — sua voz estava carregada de rancor e mágoa, repleta de nojo e revolta.Aquelas palavras atingiram como flechas, mas o que mais me assombrou foi o olhar de puro desdém que ela lançou sobre mim. Aquilo era raiva, pura e límpida. Como ela podia me odiar tanto?— Por que... por que deveria sentir vergonha de expressar meus sentimentos? — Minha voz saiu duro e fria.— Se você não entende, então não sou eu quem irá te explicar! — sua resposta era
KarenEu precisava desabafar com alguém em quem confio e convidei Camila para jantar na casa dos meus pais naquela noite. Camila sempre foi minha confidente mais próxima, alguém em quem posso depositar meus segredos mais íntimos.Após ouvir sobre os meus últimos encontros com Othon, Camila faz uma sugestão nada agradável.— É óbvio que está te afetando mais do que você quer admitir — ela me diz, sua voz carregada de preocupação.Respiro fundo, tentando controlar a avalanche de emoções que ameaça me dominar.— Ter Othon morando ao lado da minha casa e ainda ter que trabalhar no mesmo hospital que ele está sendo mais complicado do que eu poderia supor — Confessei.Após o nosso encontro no estacionamento após o expediente, Othon e eu não tínhamos mais nos encontrado á sós em momento algum. Porém, naquela tarde, eu tinha sido informada de que fui a escolhida para representar o setor clínico junto a direção, em uma conferência que iria acontecer no próximo fim de semana. Aquilo foi me levo
OthonEu ainda não conseguia acreditar que Karen havia concordado com a sugestão de Carlos Lopes, o supervisor encarregado de gerenciar a recepção de clientes, e que foi designado pelo gestor administrativo para representar o setor. Carlos sugeriu que uma forma de reduzir os custos da viagem para a conferência em Porto Alegre, que aconteceria dali a dois dias, seria irmos todos juntos no mesmo carro. O grupo designado para representar o Hospital Central consistia de quatro pessoas, além do diretor, que era eu. Eu tive a sensação de que Karen não estava completamente presente naquela reunião. Ela parecia distraída e, quando voltei a perguntar para ela, esperando que recusasse, fiquei surpreso ao vê-la aceitar a sugestão.Eu não podia impor minha vontade ao grupo, especialmente quando os outros quatro integrantes haviam concordado com a sugestão de Carlos. A aceitação de Karen apenas reforçava essa dinâmica, embora eu suspeitasse que minha colega não estivesse totalmente presente na re
KarenEnquanto aguardava que Othon abrisse a porta, meu coração parecia querer escapar do meu peito de tão acelerado. Quando finalmente a porta se abriu, encontrei os olhos penetrantes dele, me encarando com frieza e uma pergunta no olhar. — Senhorita Buarque… — disse Othon, em tom de constatação, sua voz soando impessoal.Fiquei momentaneamente sem reação, meu rosto provavelmente revelando toda a surpresa que sentia diante da recepção gélida de Othon.— Pois não? — perguntou ele, pressionando-me com seu olhar inquisidor.Balancei um pouco a cabeça para reunir meus pensamentos. Decidi então adotar a mesma impessoalidade, respondendo:— Preciso conversar com o senhor, Dr. Arraes.Othon me olha com uma mistura de preocupação e cautela quando pergunta se prefiro conversar ali mesmo ou em outro lugar. Sua expressão diz tudo: ele está nervoso com a possibilidade de sermos vistos juntos. Respiro fundo antes de responder, consciente de que minha escolha pode aumentar ainda mais a tensão ent
OthonO impacto das palavras de Karen cai sobre mim como uma boma, me deixando atordoado e sem chão. Seu olhar carregado de sinceridade me comove, e por um instante, me vejo incapaz de processar a enormidade do que ela acabou de revelar.— Você... esteve grávida de mim? — murmuro, minhas próprias palavras soando distantes e irreais aos meus ouvidos.Karen confirma lentamente, seus olhos refletindo a dor e a verdade contida em suas palavras. — Sim, Othon. Eu estive grávida e... você tem um filho de cinco anos — ela responde, com a voz embargada pela emoção contida.A confissão dela me deixa atordoado. Um filho... Eu sou pai. A ideia parece tão distante e surreal, como se pertencesse a uma realidade alternativa.— Um filho...? — sussurro, minha mente lutando para processar essa revelação inesperada.Karen confirmou mais uma vez, e senti como se o chão tivesse sido arrancado debaixo dos meus pés. Eu tenho um filho, um filho que nunca soube que existia. Completamente atordoado, eu vaguei