OthonEu ainda não conseguia acreditar que Karen havia concordado com a sugestão de Carlos Lopes, o supervisor encarregado de gerenciar a recepção de clientes, e que foi designado pelo gestor administrativo para representar o setor. Carlos sugeriu que uma forma de reduzir os custos da viagem para a conferência em Porto Alegre, que aconteceria dali a dois dias, seria irmos todos juntos no mesmo carro. O grupo designado para representar o Hospital Central consistia de quatro pessoas, além do diretor, que era eu. Eu tive a sensação de que Karen não estava completamente presente naquela reunião. Ela parecia distraída e, quando voltei a perguntar para ela, esperando que recusasse, fiquei surpreso ao vê-la aceitar a sugestão.Eu não podia impor minha vontade ao grupo, especialmente quando os outros quatro integrantes haviam concordado com a sugestão de Carlos. A aceitação de Karen apenas reforçava essa dinâmica, embora eu suspeitasse que minha colega não estivesse totalmente presente na re
KarenEnquanto aguardava que Othon abrisse a porta, meu coração parecia querer escapar do meu peito de tão acelerado. Quando finalmente a porta se abriu, encontrei os olhos penetrantes dele, me encarando com frieza e uma pergunta no olhar. — Senhorita Buarque… — disse Othon, em tom de constatação, sua voz soando impessoal.Fiquei momentaneamente sem reação, meu rosto provavelmente revelando toda a surpresa que sentia diante da recepção gélida de Othon.— Pois não? — perguntou ele, pressionando-me com seu olhar inquisidor.Balancei um pouco a cabeça para reunir meus pensamentos. Decidi então adotar a mesma impessoalidade, respondendo:— Preciso conversar com o senhor, Dr. Arraes.Othon me olha com uma mistura de preocupação e cautela quando pergunta se prefiro conversar ali mesmo ou em outro lugar. Sua expressão diz tudo: ele está nervoso com a possibilidade de sermos vistos juntos. Respiro fundo antes de responder, consciente de que minha escolha pode aumentar ainda mais a tensão ent
OthonO impacto das palavras de Karen cai sobre mim como uma boma, me deixando atordoado e sem chão. Seu olhar carregado de sinceridade me comove, e por um instante, me vejo incapaz de processar a enormidade do que ela acabou de revelar.— Você... esteve grávida de mim? — murmuro, minhas próprias palavras soando distantes e irreais aos meus ouvidos.Karen confirma lentamente, seus olhos refletindo a dor e a verdade contida em suas palavras. — Sim, Othon. Eu estive grávida e... você tem um filho de cinco anos — ela responde, com a voz embargada pela emoção contida.A confissão dela me deixa atordoado. Um filho... Eu sou pai. A ideia parece tão distante e surreal, como se pertencesse a uma realidade alternativa.— Um filho...? — sussurro, minha mente lutando para processar essa revelação inesperada.Karen confirmou mais uma vez, e senti como se o chão tivesse sido arrancado debaixo dos meus pés. Eu tenho um filho, um filho que nunca soube que existia. Completamente atordoado, eu vaguei
KarenAntes que os lábios de Othon encontrassem os meus, já era evidente a sua intenção, e mesmo assim, não o detive. Hoje, não havia desculpas para minha falta de consciência do que estava ocorrendo, como na noite em que nos encontramos na boate e tivemos um momento dentro do seu carro. Hoje, não pude conter a torrente de emoções que sempre me invade quando estou perto desse homem persistente, determinado a perturbar a minha paz.Decidi não racionalizar, apenas sentir. Eu ansiava por aquele toque, aquele beijo, aquele momento. Othon é o pai do meu filho e tudo o que compartilhamos foi uma única noite. Não foi o bastante. Ele sempre soube que queria mais. E agora, neste instante, percebo isso enquanto as mãos de Othon seguraram o meu rosto com gentileza extrema, mas com firmeza e determinação.Não analiso nada, apenas me entrego totalmente ao momento, e o beijo, que começou de forma suave, se intensifica, tornando-se mais quente e apaixonado. As mãos de Othon deslizam por meu pescoço,
OthonEnquanto Karen se levantava da cama com os olhos arregalados, envolta no lençol da cama, eu continuei tranquilamente deitado. Não iria confrontá-la, tampouco entrar em uma discussão com Karen logo agora que finalmente conseguimos nos entender e descobri que temos um filho. Não. Eu quero aproveitar ao máximo aquela noite ao lado dela e, no dia seguinte, quero encontrar o Otávio e dar um abraço bem apertado no meu filho. — Não ter usado proteção não foi algo que eu tenha planejado, Karen — disse com tranquilidade — Tampouco ouvi você perguntar sobre isso.— Você está me culpando? — Karen perguntou, levando a mão ao peito de maneira dramática.— Meus exames estão em dia, Karen. E eu tenho certeza de que você também não está se envolvendo com mais ninguém — eu disse, tentando tranquilizá-la. — Não há motivos para se preocupar.As minhas palavras parecem colocar ainda mais lenha na fogueira, pois Karen pareceu ficar vermelha de raiva. — Ao contrário de você, eu estou sim, muito pre
A sala já estava começando a se esvaziar e as pessoas ao meu redor aplaudiam quando eu percebi que a conferência estava sendo encerrada. Num gesto automático, juntei-me a eles, mas por dentro lamentava profundamente ter perdido as últimas apresentações. A minha mente estava em outro lugar, imersa em pensamentos tumultuados. Durante toda a manhã, não consegui ouvir uma única palavra dos palestrantes, tão absorvida estava pela angústia que me consumia. O peso da verdade que eu teria que revelar para meus pais e, especialmente, para Otávio, me deixava paralisada. Como poderia encontrar as palavras certas para explicar tudo? A sensação de desconforto só aumentava à medida que me aproximava do momento inevitável de encarar essa conversa difícil. Saí do auditório com uma sensação incómoda de ter perdido algo importante. O restante do grupo já estava reunido do lado de fora, e pude sentir o peso do olhar deles sobre mim assim que me aproximei. Estavam todos reunidos, claramente esperando
Othon Ao ouvir as palavras de Karen, a primeira sensação que percorreu o meu ser foi raiva. Uma raiva intensa pulsando dentro de mim, ameaçando dominar os meus pensamentos. No entanto, eu sou um homem controlado e sempre tento ponderar as minhas palavras antes de falar, mesmo quando profundamente chateado como estou agora. As coisas estavam fugindo do meu controle desde que reencontrei Karen. Especialmente agora, com a revelação de que ela teve um filho meu, eu lutava para entender as suas razões para manter tudo em segredo. Era difícil para mim me colocar no lugar dela, entender por que ela não tentou me encontrar todos esses anos. Mas agora, tudo isso estava atingindo um ponto crítico. A raiva borbulhava dentro de mim, procurando uma saída. Eu queria exigir explicações e exigir que fizesse aquilo que combinamos na noite passada, mas, ao mesmo tempo, sabia que não era assim que as coisas funcionavam. Eu sabia que precisava encontrar uma maneira de lidar com essa situação, de encon
Karen A atitude de Othon me deixou completamente atônita. Ele simplesmente ignorou a minha decisão e assumiu o controle da situação, mesmo após eu ter deixado claro que não estava pronta para revelar a verdade ainda. Eu planejava contar, sim, mas não naquele momento. O nervosismo me dominava, e o olhar do meu filho e da minha mãe sobre mim só aumentava a pressão, deixando-me sem saber como reagir. As emoções tumultuavam dentro de mim, e a minha mãe pareceu perceber isso. — Parece que o assunto é importante. Seria melhor conversarmos na privacidade de casa — sugeriu ela, com uma expressão compreensiva. Eu ainda não estava preparada, mas Othon não me deu escolha. Não podia inventar desculpas ou contar mais mentiras, pois sabia que isso só tornaria tudo ainda pior no futuro. Com um suspiro derrotado, concordei. Não havia mais como fugir. Juntos, todos entramos em casa. — Chamarei Átila — Mamãe avisou — Peço que fique à vontade, Dr. Arraes. — Obrigada — Othon agradeceu, acomodand