Karen A atitude de Othon me deixou completamente atônita. Ele simplesmente ignorou a minha decisão e assumiu o controle da situação, mesmo após eu ter deixado claro que não estava pronta para revelar a verdade ainda. Eu planejava contar, sim, mas não naquele momento. O nervosismo me dominava, e o olhar do meu filho e da minha mãe sobre mim só aumentava a pressão, deixando-me sem saber como reagir. As emoções tumultuavam dentro de mim, e a minha mãe pareceu perceber isso. — Parece que o assunto é importante. Seria melhor conversarmos na privacidade de casa — sugeriu ela, com uma expressão compreensiva. Eu ainda não estava preparada, mas Othon não me deu escolha. Não podia inventar desculpas ou contar mais mentiras, pois sabia que isso só tornaria tudo ainda pior no futuro. Com um suspiro derrotado, concordei. Não havia mais como fugir. Juntos, todos entramos em casa. — Chamarei Átila — Mamãe avisou — Peço que fique à vontade, Dr. Arraes. — Obrigada — Othon agradeceu, acomodand
OthonA cena na sala da casa de Karen havia me deixado em estado de choque. O clima tenso e carregado de surpresa pairava sobre todos nós. Não conseguia compreender como as coisas haviam escapado tão rapidamente do nosso controle.Revelar a verdade para Otávio tinha sido uma experiência mais desafiadora do que eu poderia imaginar. Ver a recusa dele em conhecer o próprio pai foi um golpe doloroso, uma sensação de fracasso que pesava no meu peito. No entanto, mesmo diante da decepção, não me arrependia de ter tentado. Aquela cena dramática tinha sido apenas o primeiro passo em um caminho incerto. Otávio era apenas uma criança de cinco anos, e eu sabia que nada era definitivo para alguém tão jovem. Tentava me confortar com essa ideia, mesmo diante da incerteza do que o futuro reservava para nós.O primeiro a quebrar o silêncio foi o senhor Buarque, que, com delicadeza, expressou o desejo de entender o que estava acontecendo.— Eu e a sua mãe merecemos uma explicação — completou ele, com
Karen Após a saída de Othon, uma dor profunda se instalou no meu peito. Encarei os meus pais, que pareciam compreender a intensidade do que eu estava sentindo naquele momento. Os seus olhares eram cheios de compaixão, mas também carregados de preocupação. Reconheci os meus erros, uma sequência de escolhas mal calculadas que levaram a esse desfecho doloroso. Nenhum dos meus equívocos foi intencional, e a ideia de magoar aqueles que amo, especialmente Otávio, era como um peso insuportável na minha consciência. Mamãe olhou para mim, os seus olhos expressando uma mistura de compreensão e solidariedade. Ela se ofereceu para verificar como Otávio estava, mas eu, senti-me responsável pela situação, respondi que preferia fazer isso pessoalmente. Eu preciso enfrentar as consequências das minhas ações e tentar amenizar o impacto que tiveram sobre o meu filho. Subi as escadas com o coração apertado, uma sensação estranha martelando no meu peito. Ao chegar ao quarto de Otávio, esse sentimen
Othon Enquanto eu caminhava com Bart, o toque insistente do telefone quebrou a paz. Karen. O seu nome piscava no visor, despertando uma sensação estranha em mim. Um pressentimento ruim se instalou no meu peito. Com um nó na garganta, atendi, sentando-me em um banco próximo. As palavras de Karen cairam como um martelo, deixando-me atordoado. Meu filho estava desaparecido. Segurei firmemente a guia de Bart, pronto para voltar correndo para casa e ajudar nas buscas. Mas algo me fez hesitar. Enquanto encerrava a ligação e segurava a guia do cachorro, um movimento estranho e muito próximo a mim capturou a minha atenção. Uma figura se aproximava, vindo de uma rua lateral. Franzi o cenho, um arrepio percorrendo a minha espinha. — Otávio? — Falei em voz alta, mas ele não me ouviria aquela distância. A pequena figura que se aproximava era Otávio. Os meus olhos mal podiam acreditar no que viam. Otávio estava ali, diante de mim, caminhando sozinho naquela praça. Um turbilhão de emoções tom
KarenEu estava tomada pelo desespero, mas sabia que precisava manter a lucidez, como Camila havia me sugerido. Otávio dependia de mim, e eu não podia me permitir desmoronar. Com passos lentos, retornei para a calçada, esperando ansiosamente pela chegada dos policiais, cuja demora parecia uma eternidade.Enquanto isso, minha mãe, com os olhos marejados de lágrimas, se juntou a mim, após vasculhar a casa em busca de qualquer sinal de Otávio. Meu pai, por sua vez, batia de porta em porta, perguntando aos vizinhos se tinham visto o menino. A angústia pairava no ar, envolvendo a todos em sua teia.— Ele está por aí, em algum lugar — minha mãe tentou me confortar, segurando minha mão com firmeza.— Eu sei, mãe, mas está tão difícil… — respondi, lutando contra as lágrimas que ameaçavam cair a qualquer momento.De repente, a expressão de minha mãe mudou drasticamente. Seus olhos se arregalaram enquanto ela fixava o olhar em algo atrás de mim.— Karen! Olhe ali! — exclamou ela, apontando para
OthonApós deixar Otávio com Karen em segurança, retornei para casa, sentindo-me dividido entre o desejo de esclarecer tudo imediatamente e a necessidade de dar um passo para trás, permitindo que todos nós digeríssemos todas as revelações daquele dia movimentado.Enquanto Bart vagava pela casa, eu estava perdido em pensamentos. Não tentei dormir, pois eu sabia que não iria conseguir. Eu me sentia inquieto ao extremo e incapaz de simplesmente deitar tranquilamente na minha cama. Optei então por tentar me concentrar na leitura de um dos meus livros dispostos na estante da sala de estar. Tentaria me perder no mundo da ficção e esquecer um pouco a reviravolta extraordinária que aconteceu na minha vida naquele fim de semana.Com um suspiro resignado, escolhi um volume e me acomodei no sofá, na esperança de que a distração das palavras impressas pudesse afastar os pensamentos tumultuados que me assombravam.Já absorto na leitura, mergulhei nas páginas do livro e enfim consegui esquecer um p
Karen Ao ouvir as palavras de Othon, senti um aperto no meu coração. A sua expressão séria e as suas palavras sinceras me atingiram profundamente. Eu estava genuinamente arrependida por minhas ações, mas também sabia que não podia apagar o passado. A decisão de perdoar ou não agora estava nas mãos de Othon. Por um momento, fiquei em silêncio, processando tudo o que ele disse. Reconheci a gravidade da situação, no entanto, também senti a urgência de uma segunda chance, a oportunidade de provar que aprendi uma lição valiosa naquele dia. — Othon, — comecei, a minha voz um pouco trêmula — eu sei que não posso mudar o passado, mas estou disposta a fazer o que for preciso para recomeçar. Eu aprendi com os meus erros e estou determinada a ser uma pessoa melhor, não apenas para mim, mas também para nosso filho. Olhei nos olhos de Othon, esperando encontrar compreensão e aceitação em seu olhar. A incerteza pairava no ar enquanto aguardava a sua resposta, ansiando por uma chance de reparar
ColinA campainha tocou de forma insistente, interrompendo meu momento de paz em casa. Com um suspiro irritado, me levantei do sofá e me dirigi até a porta, preparado para soltar alguns palavrões para quem quer que estivesse do outro lado. Mas quando abri a porta, fiquei completamente atônito ao me deparar com Valquíria.— Valquíria? O que está acontecendo? Por que você parece tão abalada? — perguntei, minha surpresa refletida em minha voz.Ela olhou para mim com os olhos vermelhos e inchados, claramente lutando para conter as emoções que a dominavam. Eu nunca a tinha visto daquele jeito antes, e isso me preocupou profundamente.— Colin... eu... eu preciso de ajuda — murmurou ela, sua voz tremendo de emoção.Instintivamente, abri a porta mais amplamente, convidando-a a entrar. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas sabia que precisava estar ali para ela.— Entre, Val. Vamos conversar — disse eu, tentando transmitir o máximo de calma e apoio possível em minhas palavras.Ela hesitou