KarenEnquanto dançava com Othon, meu maior desejo era confrontá-lo, perguntar a ele sem rodeios o que aconteceu com a noiva e o filho que eu esperava. Cheguei até a imaginar o momento em que ele responderia com um sorriso irônico "que noiva?", como se fosse inocente, e eu diriaa ele que descobri suas mentiras, que sabia que ele era um grande mentiroso. Mas eu não teria coragem de ir tão longe. A verdade era que eu temia sua reação e não queria reviver as emoções dolorosas daquele passado.Sendo uma grande covarde, penas fingi que não o conhecia, tentando ignorar a sensação de que ele sabia mais do que estava deixando transparecer.Quando finalmente consegui escapar dos braços de Othon, senti um alívio temporário. Mas logo percebi que precisava fazer algo para que ele entendesse que eu não estava interessada nele. Ele não podia continuar insistindo em lembrar-me do nosso encontro em Fernando de Noronha. Não sabia até quando conseguiria resistir aos seus avanços, e precisava encontrar
OthonEu estava decidido a levar Karen para casa. Afinal, não fazia sentido algum ela ir de táxi quando morávamos tão perto um do outro. Porém, eu já tinha percebido que as chances de Karen aceitar qualquer coisa da minha parte eram praticamente nulas. Então, usei um tom de voz determinado, que não deixava margens para contestação, ao avisar a todos que eu mesmo a levaria para casa.A minha determinação não pareceu abalar Karen, pois ela protestou de iediato, como eu já imaginava que faria. — Você não precisa me levar em casa. Eu vou pegar um táxi — ela insistiu, tentando se desvencilhar.— Não, você não vai de táxi quando moramos vizinhos, Karen!. Vou te levar. É o mínimo que posso fazer — insisti, segurando gentilmente em seu braço, determinado a convencê-la.— Mas… — ela começou, mas eu a interrompi.— Sem discussão. Vamos — disse, guiando-a em direção ao meu carro. Era hora de mostrar a ela que eu podia ser insistente quando achava necessário. Mesmo que ela não quisesse minha co
Estou me sentindo como se estivesse flutuando em um mar de nuvens, quando uma voz rompe o silêncio ao meu redor. Alguém está chamando pelo meu nome, mas estou tão imersa na inconsciência do sono que não sei se estou sonhando ou se é realidade. A voz é familiar e muito parecida com a de Othon, o homem que conheci em Fernando de Noronha e que conseguiu mudar completamente o rumo da minha vida.Nesse estado de subconsciência, provavelmente causado pelo cansaço e pela bebida, me deixei envolver por mais um sonho com o pai do meu filho. É uma sensação agridoce, porque, por um lado, estar nos meus sonhos me permite reviver momentos maravilhosos ao seu lado, mas por outro, é também a lembrança de algo que nunca mais voltará a acontecer.Apesar disso, não quero acordar. Não agora. Não quando estou tão perto de sentir novamente o seu toque, mesmo que seja apenas em meus sonhos. A voz continua a me chamar, cada vez mais insistente, até que, mesmo relutante, meus olhos se abrem lentamente, revel
OthonEstou na cozinha, saboreando meu café, quando Colin se junta a mim. — Como foi com Karen ontem à noite? — pergunta Colin, sua curiosidade evidente em seu tom.Dou um gole no café antes de responder, escolhendo as palavras com cuidado. — Ela continua agindo como se não se lembrasse de mim, mas ficou claro que está mentindo.Colin franze a testa, intrigado.— Então, vocês não conseguiram se entender?Solto um suspiro. — Não, Colin, ela continua jogando esse jogo. Adormeceu no carro e, quando acordou, pensou que estava sonhando, chegou a me chamar pelo nome.Colin arqueia as sobrancelhas. — Isso é estranho, cara. Por que ela faria isso? Eu não consigo entender o motivo dessa atitude de Karen.Sacudo a cabeça, frustrado. — Eu também não entendo. Ela parece determinada a manter essa fachada, como se estivesse tentando se convencer de que não me conhece. Mas há algo no olhar dela, algo que me intriga. É como se ela carregasse uma espécie de magoa de mim. Colin cruza os braços, p
KarenEstou determinada a evitar qualquer encontro com Othon, especialmente depois do constrangimento da noite anterior. O fato de eu estar sonhando com ele é algo que me deixa extremamente desconfortável, e temo que ele venha buscar explicações sobre isso. Então, quando Otávio me chama durante o almoço para passear na rua enquanto ele anda de skate, concordo com a condição de que iremos mais cedo do que o habitual.Eu já sei mais ou menos o horário em que Othon costuma sair para passear com o seu cachorro e planejo evitar qualquer coincidência. Não quero correr o risco de nos cruzarmos.Enquanto acompanho Otávio pelo bairro, observo-o com orgulho enquanto ele domina o skate com mais confiança a cada volta. Ele parece tão feliz e concentrado que por um momento me vejo perdida em pensamentos.Quando finalmente Otávio demonstra um relativo cansaço, aproveito para sentar nos degraus de nossa casa, observando-o brincar em seu skate com uma mistura de admiração e alívio. Ele parece tão tra
OthonQuando cheguei ao Hospital Central na segunda-feira pela manhã, senti a minha energia renovada, apesar do fim de semana movimentado com a visita de Colin e Noah. Após várias conversas e uma sucessão de eventos com saldo negativo para mim, eu estava determinado a deixar para trás tudo o que estivesse relacionado a Karen e focar no que realmente importava: meu trabalho e minha própria felicidade.No entanto, assim que pus os pés no hospital naquela manhã, tudo mudou. Meu ânimo evapora instantaneamente ao me deparar com Karen nos corredores, usando o uniforme da instituição. Aquela visão abrupta me atingiu como um soco no estômago, trazendo à tona uma enxurrada de sentimentos conflitantes.Não pude evitar reviver os momentos do sábado passado, as palavras cortantes e o desdém que Karen dirigiu a mim. E agora ali estava ela, ocupando o mesmo espaço que eu, me obrigando a agir como se nada tivesse acontecido.Meus passos hesitaram por um instante enquanto me esforçava para controlar
OthonPor um instante que pareceu uma eternidade, um silêncio denso e carregado de tensão pairou entre nós. A expectativa pulsava no ar e os segundos se esticaram enquanto eu aguardava a reação de Karen, meu coração batendo tão forte que parecia ecoar no silêncio. Seus olhos traíram o turbilhão de pensamentos que a assaltavam, cada músculo do seu rosto contorcendo-se em uma nuance complexa de emoções. Então, de maneira notável, uma expressão de incredulidade se formou em seu rosto.— Você... você deveria se envergonhar de proferir tais palavras! — sua voz estava carregada de rancor e mágoa, repleta de nojo e revolta.Aquelas palavras atingiram como flechas, mas o que mais me assombrou foi o olhar de puro desdém que ela lançou sobre mim. Aquilo era raiva, pura e límpida. Como ela podia me odiar tanto?— Por que... por que deveria sentir vergonha de expressar meus sentimentos? — Minha voz saiu duro e fria.— Se você não entende, então não sou eu quem irá te explicar! — sua resposta era
KarenEu precisava desabafar com alguém em quem confio e convidei Camila para jantar na casa dos meus pais naquela noite. Camila sempre foi minha confidente mais próxima, alguém em quem posso depositar meus segredos mais íntimos.Após ouvir sobre os meus últimos encontros com Othon, Camila faz uma sugestão nada agradável.— É óbvio que está te afetando mais do que você quer admitir — ela me diz, sua voz carregada de preocupação.Respiro fundo, tentando controlar a avalanche de emoções que ameaça me dominar.— Ter Othon morando ao lado da minha casa e ainda ter que trabalhar no mesmo hospital que ele está sendo mais complicado do que eu poderia supor — Confessei.Após o nosso encontro no estacionamento após o expediente, Othon e eu não tínhamos mais nos encontrado á sós em momento algum. Porém, naquela tarde, eu tinha sido informada de que fui a escolhida para representar o setor clínico junto a direção, em uma conferência que iria acontecer no próximo fim de semana. Aquilo foi me levo