LetíciaAcordei naquele sábado com uma sensação de empolgação que não sentia há algum tempo. A ideia de começar a comprar coisas para o meu bebê era emocionante, mesmo que eu ainda não soubesse o sexo dele. Enquanto tomava meu café da manhã, minha mente estava cheia de pensamentos sobre roupinhas, brinquedos e tudo o mais que eu poderia comprar. Tinha o dia livre e queria aproveitá-lo da melhor maneira possível.Comentei com minha mãe sobre a minha vontade de começar as compras, mas também sobre o fato de Karen estar em lua-de-mel e eu não querer ir sozinha. Minha mãe sugeriu então que eu convidasse Camila. — Você e Camila têm se dado tão bem, Letícia. Por que não a convida para ir com você? Tenho certeza de que ela vai adorar.Ela tinha razão. Camila tinha sido uma ótima amiga, sempre presente e disposta a ajudar. Peguei meu telefone e liguei para ela.— Camila, bom dia! Você está livre hoje à tarde? Estou pensando em começar a comprar algumas coisas para o bebê e adoraria sua compan
A primeira coisa que chamou minha atenção quando Letícia entrou na cafeteria foi sua barriga protuberante. Era discreta, mas claramente uma barriga de gravidez de poucos meses. Ela estava radiante e bela, mas a frieza com que me tratou logo me fez voltar o foco ao que realmente interessava naquele momento.Enquanto nos sentávamos, eu ainda me sentia um pouco incrédulo por Letícia ter aceitado me encontrar. Mais chocante ainda foi ela ter entrado em contato comigo, marcando o encontro. Agora poderíamos conversar de maneira mais calma e esclarecer as coisas entre nós. — Obrigado por vir, Letícia — comecei, tentando encontrar um tom amigável.Ela apenas acenou em concordância, seus olhos não encontrando os meus diretamente. Notei seu olhar desviando para a mesa ao lado, onde o garçom acabou de deixar algumas rosquinhas com chá. De repente, entendi que ela provavelmente estava desejando comer a mesma coisa, afinal, estava grávida. Eu acenei para o garçom e pedi a mesma coisa para nós doi
LetíciaO encontro com Colin foi bem diferente do que eu esperava. Quando decidi procurá-lo, imaginava que ele poderia usar todo tipo de desculpa para justificar sua atitude grosseira quando fui contar sobre a gravidez. Mas jamais passou pela minha cabeça que ele usaria a desculpa de que seu irmão gêmeo havia se passado por ele.Enquanto caminhava de volta para casa, tentando processar tudo o que ele me disse, me vi dividida entre acreditar ou não nessa história. Não duvidava que ele tivesse um irmão gêmeo; afinal, isso não era tão extraordinário assim. O que me deixava incrédula era que esse irmão fosse tão desprezível a ponto de se passar por Colin e destratar a mulher que estava grávida do irmão. Mas, como Colin mesmo havia dito, não seria difícil descobrir se ele estava falando a verdade sobre algo tão sério.Ao chegar em casa, não consegui esperar mais. Precisava saber se Colin estava sendo sincero. Peguei o telefone e liguei para Camila. Ela atendeu no segundo toque, e eu fui di
LetíciaDemorei muito tempo acordada naquela noite, rolando na cama, pensando sobre o passado e os meus próprios fantasmas. Ouvir sobre a história louca envolvendo não apenas Colin e o irmão gêmeo, mas também a irmã de Othon me fez refletir não apenas sobre o que o estava atormentando naquela noite em que nos encontramos no bar, mas também o motivo que me levou até lá. Tudo aquilo mexeu com uma ferida ainda aberta em mim. Era difícil simplesmente perdoar Colin e conseguir envolvê-lo na gravidez do meu filho, após tantas mágoas. Descobrir que não foi ele que as causou, não pareceu mudar muita coisa dentro de mim.Sempre sonhei em ter um filho para dar todo o amor do mundo. Amo crianças; por isso, escolhi ser pediatra. Mas não estava preparada para ter um filho de um completo estranho, de quem só lembrava o nome. Ele se apresentou como Colin Salles logo que brindamos e começamos a beber juntos. Não tinha motivos para confiar nele, mas naquela noite, ele parecia estar no fundo do poço,
Continuação - Quatro meses atrásLetíciaOs anos passaram, e eu tentei seguir em frente. Minha mãe foi meu suporte em tudo. Ela trabalhou duro para que eu pudesse estudar e me tornar médica. Ela fez de tudo para que eu não sentisse a falta de meu pai, mas essa ausência era uma ferida difícil de cicatrizar.No entanto, o destino tem suas reviravoltas. Um dia, sem que eu pudesse prever, alguém tocou a campainha de nossa casa e ao abrir a porta, lá estava ele, Osvaldo, o homem que eu não via há anos. Meu pai, o estranho que havia me abandonado. Ele parecia mais velho, cansado, mas ainda tinha aquele sorriso que eu lembrava da infância. — Letícia, eu… — ele começou, mas não conseguiu terminar a frase.O choque me deixou paralisada por alguns segundos. Queria gritar, chorar, perguntar o porquê de tudo, mas simplesmente fiquei ali, olhando para ele. Finalmente, consegui dizer algo. — O que você está fazendo aqui? — Minha voz saiu mais fria do que eu pretendia, mas não conseguia esconder
ColinVoltei para São Paulo com o coração pesado. A lembrança da dor nos olhos de Letícia me assombra. Ela me acusou de coisas que eu jamais faria. O choque de descobrir que Patrick estava envolvido fez tudo ganhar uma nova perspectiva. Como ele pôde? Mesmo com nossas desavenças, nunca imaginei que ele seria capaz de algo tão baixo. Tenho que resolver isso. Deixar tudo esclarecido e, de alguma forma, tentar corrigir o mal que foi feito a Letícia.Mas o desejo de fazer as coisas certas desta vez aliado ao medo de causar ainda mais estragos em nossa relação me deixavam confuso e indeciso sobre o que fazer a seguir. A revelação de que Patrick mais uma vez tinha se intrometido em minha vida era como um soco no estômago. Ele ultrapassa todos os limites desta vez, mexendo em algo tão sério e íntimo como a decisão de Letícia sobre sua gravidez.Letícia... o nome dela ecoava em minha mente, trazendo à tona lembranças daquela noite única que passamos juntos. Uma noite que mudou tudo. Eu sabia
LetíciaA semana passou sem notícias de Colin. No começo, acreditei na sua ideia de que ele realmente queria assumir suas responsabilidades. Cheguei até mesmo a conversar com minha mãe sobre a possibilidade de não permitir que Colin fizesse parte de nossas vidas. Ela, com sua sabedoria e calma, me fez ver que não seria justo privar nosso filho do direito de conhecer o pai, desde que ele estivesse disposto a ser uma presença positiva.— Filha, todos cometemos erros. Se Colin realmente quiser estar presente, você deve permitir que ele tenha essa chance — apontou a mamãe. Mas, à medida que os dias se passaram em silêncio, comecei a pensar que tudo o que ele disse não passava de mentira e enganação. Cínica, pensei que ele deveria ser igual ao irmão gêmeo, um mentiroso. No entanto, essa constatação não impediu que a tristeza se instalasse em mim. Atribui esses sentimentos aos hormônios da gravidez.A ausência de contato de Colin me levou a repensar minha decisão. Será que ele realmente se
ColinO momento do encontro com Letícia chegou mais rápido do que eu esperava. Enquanto estava sentado no carro, eu olhei para a porta da casa de Letícia e senti um nó se formar em meu estômago. Passei os últimos dias tentando resolver as coisas com minha família, mas nada parecia se comparar ao nervosismo que me dominava naquele momento. Respirei fundo, tentando reunir coragem, e finalmente saí do carro.Caminhei até a porta de Letícia, e antes de tocar a campainha, hesitei por um segundo. Será que ela realmente acreditaria em mim depois de tudo? Será que eu conseguiria provar a ela que estava aqui para ficar? Sem mais demora, toquei a campainha e esperei.A porta se abriu e lá estava Letícia, com um olhar misto de apreensão e determinação. Mesmo em sua simplicidade, ela parecia radiante, e por um momento, eu fiquei sem palavras.O silêncio no carro era denso, mas eu sabia que precisava quebrá-lo. Porém, diante do fracasso da minha tentativa de entabular uma conversa durante o percur