Eduardo— É melhor você me respeitar, ou será muito mais divertido te mandar embora. — Ela sorri, como se eu estivesse brincando, e se afasta indo para sua mesa. Vou até a sala da Anne, e ela está escrevendo, bem nervosa. — Está tudo bem?— Está... Não está... quero dizer, está, está tudo bem.— Não parece. — Me sento na cadeira, e ela ergue o olhar para mim. — Anne, não quero que você fique sob pressão.— Eu sei, mas tem gente que me irrita. Vou dar só mais uma chance para essa nova enfermeira. Se ela me encher o saco, eu quero ela fora do meu plantão e bem longe das minhas crianças.Ela já está estressada só pelo que essa enfermeira fez com as crianças. Imagina se ela soubesse que essa mulher está tentando me seduzir... Acho que a jogaria pela janela. Fico olhando ela trabalhar, até ela falar que finalizou. Ela olha para mim e sorri, soltando um suspiro.— Já perdi as contas de quantas vezes liguei para casa. Na última, a Sophia já estava dormindo.— Ela vai ficar bem, pode ficar tr
Eduardo,— Não temos problemas em casa, mas vou conversar com ela sobre o ocorrido. Já estou ciente, vi o que aconteceu. Mas talvez seria melhor mudar ela... — aponto para a enfermeira. — de especialidades, para evitar confronto entre as duas.— Não, eu só gosto de trabalhar com crianças. — Ela fala e eu me irrito por dentro. Seria muito mais fácil se ela saísse do hospital, aí sim ficaria tudo perfeito como era antes.— Vou dar um jeito de mudar o seu turno, para que você e a Anne não tenham mais problemas. — Solto um suspiro de alívio. Pelo menos essa coisa não vai mais me encher o saco. — Mas se a Anne continuar, vou ser obrigado a afastar ela do hospital. Gosto muito dela e sei o que ela já passou, mas aqui ela não pode ficar desequilibrada.— Vou conversar com ela, sou o chefe da pediatria, e ficará tudo bem.Ele acena com a cabeça e eu saio do seu consultório. Olho no relógio e ainda falta algumas horas para terminar o turno. Passo na minha sala para ver se tem mais trabalho, e
Anne,Ele olha para trás, bate no próprio rosto. Acho que ele pensa que está dormindo. Me levanto da poltrona e me aproximo dele, dando um beliscão em seu braço, só para ele saber que está acordado.— Ai! — Ele grita de dor e eu permaneço séria. — Eu não sei de quem é essa calcinha, e nem onde você a encontrou.— No seu jaleco. Será que você esqueceu que ainda sou eu que separo as roupas do hospital para mandar para a lavanderia? Ou será que pensou que eu não iria olhar o seu bolso? De quem é essa merda, Eduardo?— Eu não sei. Eu já falei para você que eu odeio traição, já disse também que eu te amo. Acha mesmo que eu iria te trair?— Te conheci como o pior galinha de todos os tempos.— Assim você até me ofende. Eu era assim porque não tinha compromisso com ninguém. A partir do momento que nos entramos em um relacionamento, minha vida de pegador ficou para trás junto com a minha vida de solteiro.Ergo uma sobrancelha e olho bem firme para ele, esperando que tenha algum indício de ment
Anne,Saímos de casa e lembro dele colocar o celular para gravar. Ele vai no carro dele e eu no meu. Para não ter erro, eu vou primeiro, estaciono o carro e entro no restaurante, ficando em um lugar que ela não possa me ver.Com poucos minutos, ele chega primeiro e se senta na mesa, logo em seguida, ela chega também. Coloco o meu celular para gravar os dois na mesa, e vejo o Eduardo colocando o celular dele em cima da mesa também.Gravo por um tempo, até a comida deles chegar. Levanto o celular, arrumando o ângulo enquanto me aproximo dos dois, tentando pegar o máximo dela. Assim que me sento do lado do Eduardo, ela arregala os olhos para mim, e depois olha para o Eduardo.— Sabe qual foi o seu maior erro? Ter armado para Eduardo e eu nos separarmos, porque ele é bonito assim, mas é fiel e ele jamais iria me trair, muito menos com você.— Isso é o que você pensa. Tivemos umas noites muito boas na sala dele no hospital, não foi, Eduardo?— Não, não foi. Não jogaria o meu casamento no l
Anne,Sempre achei que quando chegasse o momento de casamentos e termos filhos seria uma coisa mais fácil, mas está sendo difícil. Muito difícil, na verdade. Estou com medo de perder a Sophia, estou com medo de perder o Eduardo, porque ele pode não ter aceitado a Carina, pode ser porque ela não tenha agradado a ele, mas se aparecer uma que lhe chame atenção?Eu sei que devo confiar nele, suas atitudes e palavras me confortam muito, mas então porque eu tenho esse medo dentro de mim? Depois que a babá vai embora, subo para o quarto com a Sophia, coloco ela para fazer a sua higiene e a deito na cama.— Hoje eu vi a minha mãe, mas a babá não deixou eu ir até ela, porque?— Você quer morar com a sua mãe? — Ela nega com a cabeça. — Sua mãe quer tirar você de mim, quer levar você para a casa dela.— Eu gosto da minha mãe, mas as vezes eu ficava sozinha em casa quando ela saia. Dormia sozinha também. E eu tinha que fazer a minha comida.— Ela saia? Como assim?— Eu não sei, mamãe.— E como el
Eduardo,A coordenadora volta com o celular no ouvido, já ligando para a polícia. Anne começa a ficar desesperada, e eu tento acalmá-la.— Calma, vamos achar ela.— A polícia está vindo. Enquanto isso, vou verificar as câmeras de segurança. — Eu digo que vou também e entramos na escola, indo até a parte da guarita, onde ficam as filmagens.Ela pede para o segurança olhar e vimos a parte em que a Sophia passa pelo corredor para ir ao banheiro. Depois entra uma funcionária de limpeza no banheiro, e somente ela sai com o carrinho. Dali, a Sophia sumiu.— Tem janela ou algo que ela possa ter passado?— Não, as janelas são quadradinhos pequenos, o máximo que passa por ali seria a mão dela.— Po...pode puxar o rosto da faxineira, por favor. — Anne pede soluçando, e quando ele puxa, até fecho os meus olhos. Foi a mãe dela.A diretora começa a se desculpar, pois as meninas da limpeza são terceirizadas da prefeitura, elas não sabem quem vem ou quem sai. A polícia chega, e mostramos a filmagem
Anne,Depois que o Eduardo sai com os policiais, me sento com ela para conversarmos.— Desculpa, eu não sei como você se chama.— Eu sou Anne, e você...— Pode me chamar de Linda, meu nome é típico de uma mãe maluca que queria colocar o nome de toda a família nele. — Sorrio e abaixo a cabeça.— Me conta a história dela, por favor.— Bom, conheci a Meg a muitos anos. Era uma mulher direita, mas se perdeu ao conhecer o pai da Sophia. Eles tiveram um... como posso chamar? Um lance, porque não era namoro, e eles ficavam sempre que ele queria. Ela era apaixonada por ele, mas ele só usava ela. Ele dizia que não queria se casar, ter família, nada disso, mas ela achou que poderia prendê-lo. Foi onde ela resolveu engravidar, furando a camisinha.Meu Deus, já até imagino como essa história vai acabar, pois o futuro dela eu estou vivenciando com a Sophia, que só sofreu em sua vida.— Ela engravidou, e ele a rejeitou. Não queria ela mais, nem pintada de ouro e deixou claro que era para ela se vir
Anne,O monitor apita, aquele som que me faz perder o chão. O coração dele parou.— Saiam! — grito, empurrando os médicos para longe. Respiro fundo, tento manter a calma para que eu possa trazer ele de volta. Minhas mãos tremem, mas sei o que fazer. Preciso manter o foco.— Uma ampola de drenalina, rápido! — minha voz sai meio rouca, mais pela urgência do que pela certeza. Seguro o desfibrilador, tentando não pensar que quem está ali, parado, sem vida, imaginando ser outra pessoa, e não o amor da minha vida. O primeiro choque. Nada. Um silêncio que faz a minha espinha gelar .— De novo! — não reconheço minha própria voz. Minhas mãos começam a suar, mas não posso perder o controle agora. — Afastam — O segundo choque. Ainda nada. Meus olhos enchem de lágrimas, mas eu as ignoro. Ele precisa de mim. Só mais uma tentativa.— Vai! De novo, anda! — grito, quase num pedido desesperado.O terceiro choque faz seu corpo sacudir de novo, e dessa vez, o bip volta, fraco, mas está lá. Ele voltou.