Capítulo 2

Ricardo

Naquela tarde eu não sei o que aconteceu comigo, mas quando sai pra surfar não imaginava que iria encontrar alguém que me chamasse tanto a atenção, que no instante em que vi eu senti que precisava chegar perto e ver o que eu poderia fazer… e foi o que eu fiz… e quando a conheci, quando a vi, mesmo que com o olhar triste e confuso, com lágrimas no rosto, com tristeza no coração eu não pude deixar de enxergar sua beleza, seu ar de menina inocente, com aqueles olhos enormes que me olhavam com curiosidade, querendo saber da onde surgiu esse cara que nunca vi na vida, querendo puxar assunto comigo, me dizendo que sabe o que  estou passando? E acho que eu sabia mesmo, com certeza alguém que não a merecia a magoou e muito… fiquei muito feliz quando não fui ignorado por ela e quando ela começou a falar comigo mesmo sem saber quem eu era ou o que eu estava fazendo ali, sinal de que ela percebeu que eu não era um louco que queria fazer algo de ruim ou coisa parecida… eu só queria mesmo era fazer ela se distrair, e consegui, consegui um pequeno sorriso debochado que me deixou satisfeito, ela não era uma menina tão ingênua assim, o que era bom também… e até brinquei que era um anjo, mas quem sabe eu não tivesse sido escolhido para ser naquele momento? Pois aquela menina poderia ter feito inúmeras coisas, pois ela parecia mal mesmo, mas eu a distrair e pelo menos por algumas horas a fiz esquecer o seu sofrimento… Ela é linda! Tem um olhar profundo, tem uma voz doce, cabelos negros e enormes, parece um boneca frágil, eu fiquei encantado, mas não podia demonstrar isso logo de cara, pois o que ela menos quer agora é isso…  conversamos bastante e ela é muito sonhadora, muito meiga, muito simples e isso me chamou muito mais a atenção do que a sua beleza, claro que a beleza era algo divino, mas… o que tinha por dentro parecia ainda melhor e eu queria descobrir mais.


Acabo me desligando dos meus pensamentos quando meu telefone tocou, o pego e fico olhando para a tela antes de atender, mas depois de alguns segundos atendo.


– Oi Babi… digo.

– Cadu… eu queria muito conversar, podemos?

– Não sei se é uma boa ideia Babi.

– Por favor, eu sinto sua falta, você não sente a minha?

– Babi… já falamos sobre isso, combinamos que dariamos um tempo e precisamos nos dar esse tempo.

– Mas eu estou com saudades, não podemos nem nos ver como amigos? Eu preciso conversar com alguém… disse ela.

– Está certo… como amigos… estou em casa agora.

– Ok… estou indo pra ir… disse ela toda contente.


Babi e eu éramos namorados até pouco tempo, mas eu achei que nosso relacionamento não estava saudável, Babi era muito ciumenta e quase sempre brigávamos por isso e desse jeito não estava legal, então eu resolvi dar um tempo e ver o que aconteceria depois disso… Ela mora no mesmo prédio que eu, três andares a baixo, o que dificulta muito ficar longe dela, pois a todo momento nos vemos no prédio… mas, eu não devo esquecer que ela sempre foi uma boa amiga e namorada, apesar das crises de ciúmes, e que eu gosto dela, mas não sei se vai dar certo com toda essa falta de confiança em mim.

Me levanto da cama e vou até a sala.


– Filho, já viu que chuva está pra cair? Diz minha mãe olhando pela janela da sala.

– Sim, vi… por isso vim embora da praia, as ondas estavam muito boas, mas algo lá interessou mais que as ondas… eu disse me sentando no sofá.

– Algo? Perguntou ela curiosa.

– Alguém pra ser mais claro… eu disse.

– Quem? Babi?

– Não… mas, não quero criar expectativas ainda.

– Se apaixonou à primeira vista filho? Perguntou ela vindo até mim toda sorridente.

– Mais ou menos… sei lá… eu… fiquei encantado, hipnotizado, foi isso, me senti atraído.

– Que lindo! Quem é ela, qual o nome dela? Me fala, me conta tudo filho!

– Mãe… eu disse rindo… sem expectativas lembra? Ela parece não está aberta para isso agora.

– Bom… sei que ela não vai resistir ao meu loiro de olhos verdes… disse ela e eu ri.

– E o Henrique? Ligou hoje? Perguntei.

– Ainda não… essa semana ele ligou apenas uma vez, seu irmão está cada vez mais distante de nós… disse ela e seu semblante mudou.

– Ele só precisa de um tempo mãe… eu disse.

– Não sei porque ele ficou desse jeito.

– Talvez a morte do pai tenha afetado muito mais a ele do que pensamos… eu disse.

– Talvez sim, mas ele deveria ficar com sua família, com os que o amam… disse ela.

– Mas ficar sozinho também faz bem, fique calma mãe, tudo vai passar… eu disse e a campainha tocou… – Deve ser Babi.

– Chamou ela? Pensei que vocês tinham dado um tempo.

– E demos, mas ela insistiu que precisava de um amigo, então… eu disse me levantando e indo até a porta.

– Bom, vou pro meu quarto ler meus livros… disse minha mãe saindo.


E com isso não pude evitar lembrar de Nena e sorrir sozinho… como pode uma menina que vi somente uma vez na vida, me fazer sentir essas coisas? Novamente a campainha tocou e eu me assustei, fui até a porta e abri.


– Oi... disse Babi sorrindo.

– Oi… entra… eu disse lhe dando passagem e depois que ela entrou fechei a porta.

– E sua mãe? Onde está?

– No quarto dela… eu disse.

– Hum… será que podemos conversar no seu quarto? É melhor lá.

– Ok… eu disse e fomos até meu quarto.

– Cadu, minha casa parece até um campo de guerra… disse ela.

– Seus pais brigando novamente?

– Sim, eles parecem dois inimigos mortais, sempre disputando com o que cada um vai ficar e nenhum deles abre mão da casa, o que torna a convivência impossível… disse ela.

– Sinto muito Babi… eu disse.

– Só me abraça e me ajuda a esquecer tudo isso, você sabe como fazer isso tão bem… disse ela me abraçando.

– Se acalme… bom… podemos ver um filme… eu disse.

– É uma boa… disse ela.


Escolhemos um filme e colocamos para assistir… e acabamos pegando no sono, pois quando despertei já era noite, e estava chovendo muito pois dava pra ouvir o barulho da chuva batendo na janela do meu quarto.


Me levantei devagar para não acordar Babi e fui até a cozinha, estava com fome, peguei uma maçã e voltei para a sala… Fiquei olhando pelo vidro da sacada a chuva caindo e os raios e clarões cortando o céu… de repente ouvi meu celular tocar, estava no sofá da sala, fui até lá e o peguei, era um número que eu não conhecia.


– Alô… eu digo.

– Fiquei com medo da chuva e resolvi ligar pra um anjo… disse uma voz doce e eu ao ouvir já sorri.

– Ligou certo… Anjo falando... eu disse e pude ouvir sua risada.

– Oi… disse ela… que chuva não!

– Sim, está bem forte… está melhor?

– Melhor? Do que mesmo? Perguntou ela e eu ri.

– Parece que sim… fico feliz… quero ver como a Nena é de verdade.

– E verá… obrigada mais uma vez… disse ela.

– Não foi nada… eu disse… bom… a semana vai ser corrida pra mim, então … será que no sábado a tarde podemos nos ver?

– Claro, onde?

– Vou te esperar no calçadão, em frente ao lugar que nos conhecemos.

– Ok… estarei lá… disse ela.

– Combinado… Ah… o medo vai passar, é só fechar os olhos e pensar em coisas boas… eu disse.

– Está certo… obrigada anjo… boa noite!

– Boa noite Nena.. eu disse e ela desligou.


Coloquei o celular ao lado e me joguei pra trás no sofá, coloquei as mãos no rosto e sorri feito um bobo, que sentimento é esse que me fez ficar assim feito um tonto? Não faço idéia, mas é algo bom de sentir, é diferente do que já senti, é novo e eu me sinto bem e feliz.


– Cadu… disse Babi me observando.

– Oi! Eu disse me sentando no sofá.

– Estava falando com alguém? Perguntou ela.

– É… eu… tava falando com o Júnior, amanhã temos uma proposta pra entregar na empresa.

– Hum… entendi… bom, acho melhor eu ir pra casa.

– É, já está tarde… eu disse.

– Bom, já vou, nos vemos então… disse ela indo até a porta.

– Até mais Babi… eu disse indo até a porta com ela, abri a mesma e antes dela sair me deu um beijo na bochecha, sorri e retribui, depois fechei a porta e fui pro meu quarto.


Uma longa semana de trabalho me espera… algo me diz que será a mais longa semana, pois eu nunca quis que o sábado chegasse tão rápido como agora.

...


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