A morada do divino habita em cada coração, foi o que disseram. Em meu coração habita um ser desleal, palpável no qual sinto suas garras perfurando de dentro para fora. Matando cada célula viva, fazendo a carne apodrecer enquanto estou em pé fingindo ser um homem. Ao meu redor os papéis estão jogados pelo chão, as fotos gritam tanto quanto o demônio implora pela caçada. A dor fina que atravessa a casca vazia do meu coração dilacera o que resta da máscara que uso para fingir ter sanidade. Maya está nua, os homens ao seu redor a tomam como apenas eu, deveria toma-la, eles a veem. O olhar estampado no rosto se traços joviais e finos, sem brilho, implorando pela morte. É esse o verdadeiro problema, a jovem implorou tanto pela morte que a besta adormecida escutou o chamado. Nem ao menos preciso virar o rosto para saber que está paralisada no meio das escadas envergonhada por descobrirmos a sujeira na qual foi criada. O olhar de Nicklaus não carrega condenação, mesmo assim, sei que ainda
NicklausObservo a garota parada no meio da escada com os olhos arregalados cheios de medo e vergonha, suas feições pálidas e marcadas pelo machucado. Percebo a maneira como Pytro abre e fecha as mãos impaciente com a situação, se vira de costas voltando a procurar no meio dos papéis. Dimitri encontra com meu olhar, consigo ver a besta solta pelas suas iris, por isso prefiro dar o meu consentimento ao invés de tentar segura-lo. Suspiro quando os dois estão longe das minhas vistas."Sabe que para Dimitri assumir o posto que era do último sub chefe ele precisa de um casamento firmado com alguma mulher que tenha família honrada aos olhos do que restou do conselho." Ele termina de falar sem desviar os olhos."Ainda não aceitou que perdeu?" Questiono.Ele cerra a mandíbula seu olhar é um misto de raiva e vergonha."O senhor aceitaria se não tivesse casado com Carolina?" Rebate. Ergo a sobrancelha para a coragem dele, nos últimos anos não mantive uma proximidade com Pytro, talvez cego dem
NicklausAdmiro a coragem da mulher em se manter firme diante do demônio, com uma arma apontada para sua cabeça não está chorando ou implorando como tantos homens. A raiva estampada em suas feições chega a ser fofa. "Não gostaria de se sentar para conversarmos?" Questiono com ironia.Ela bufa sem desfazer os braços cruzados, seus olhos disparam adagas na minha direção."Isso é invasão de propriedade." Acusa."É uma lástima que você não tenha poder suficiente para levar uma acusação dessas adiante." Rebato. Ergo a pizza do prato ignorando a raiva dela, talvez se Carolina não tivesse aparecido na minha vida poderia estar tentando dobrar essa mulher sobre os próprios joelhos. "Bem melhor do que parece." Falo ao terminar de comer puxando um guardanapo e limpo a boca."Não é todo mundo que tem dinheiro sujo para gastar com comida cara." Abro um sorriso para ela, percebendo o quanto fica desconcertada com a minha atitude."Você é obcecada demais por mim, Emmanuelle." "Se por obcecada
Nicklaus Chego em casa observando que alguns móveis foram colocados na sala, provavelmente por Dimitri que não iria admitir nenhum soldado entrando e saindo daqui sem ter a certeza de que são leais a Bratva. Retiro o terno jogando contra o sofá, sento e levo os dedos a testa em busca de acalmar os pensamentos. Alimentei monstros embaixo dos meus pés e sou retribuído com traição. O fato de Yukov ter estado esse tempo todo pensando no meu anjo, causa uma fúria letal. Ainda assim, não consigo crer que ele é realmente o idealizador de tudo, um homem de baixo status apesar de próximo o suficiente da minha família. Ele precisa ter conseguido um apoio, investimentos ou qualquer outra coisa para poder mostrar aos ratos pedaços de queijo atraentes o suficiente para trocar de toca. É isso que mais me indigna na traição, eles não se lembram de quem lhes estendeu a mão quando nada tinham ou quando suas mães, esposas e irmãs precisaram de médico, escola ou trabalho. Penso seriamente em fazer u
Carolina É um pouco atormentador sentir a tempestade chegando sem avistar as nuvens escuras, quando encerro a ligação, sinto o coração se partindo com a realidade. Maya, me olha com certa pena, não pelos fatos em si, mas talvez por entender que não faço parte desse mundo e dentro dele, não existe perdão. Algo do qual daria a Yves em um piscar de olhos, mesmo sabendo o quão cruel foi comigo. Mordo os lábios segurando o choro enquanto Dimitri reaparece de banho tomado e usando uma, golo polo azul que Nicklaus jamais deve ter usado, sua análise dessa vez não me causa vergonha. Estou aérea demais para prestar atenção em muita coisa, enquanto o filme de tudo o que vivo com Nicklaus se passa pela minha cabeça. Nesse meio tempo, Maya prepara uns sanduíches, escuto o som do elevador várias vezes. Na última, Dimitri volta para a cozinha, altero a minha atenção para ele comendo meia dezena de sanduíches e uma vitamina que Maya serve para ele, estranho essa maneira silenciosa de conversa entre
Nicklaus Alguns instantes atrás estava pensando sobre como se sente, como está sensível e o quanto se tornou tão importante ao ponto de colocar as minhas crenças de lado, apenas para te-la entre os braços e observar a respiração pesada enquanto dorme. Quando cansada demais depois do sexo acaba ressonando. Mas deveria imaginar, anjos como você não são feitos para trazer luz a homens como eu. Talvez essa tenha sido a maneira de pagar pelos meus pecados, não consigo lidar com as palavras repercutindo em minha mente. Então, diga se está doendo tanto quanto doí em mim, como se a carne queimasse a alma se despedaçasse ainda de uma maneira louca estou enfeitiçado pelo brilho dos dois diamantes preciosos. A acusação crua deixando claro, como gostaria que fosse outro alguém de como me mudaria sem ser capaz de enxergar cada um dos esforços para ser apenas dela. Estou tão alto na adrenalina da discussão, o monstro em meu peito deseja tantas coisas quanto o orgulho que berra no meu ouvido. En
CarolinaO mundo quebra ao meu redor, o toque quente e a visão do penhasco aberto no meio do nosso apartamento exibindo as pessoas tão minusculas lá embaixo enquanto o vidro fosco está destruído. Nem ao menos consigo perceber a minha respiração voltando ao normal ou as lágrimas secando com o vento frio, parece que estamos no inferno e realmente é de onde viemos parar culpando um ao outro mesmo sabendo que quando o sol nasce voltaremos aos braços do outro. Quero poder dizer que finalmente as suas palavras fazem sentido, que estou feliz em receber as chaves das algemas nas quais fui acorrentada, quero poder abrir um sorriso de felicidade por estar livre do meu capataz. Então que motivo louco é esse que me leva a adorar a cicatriz em seu peito, procurar os detalhes em seu rosto, odiar a maneira como desvia o olhar para não me encarar. O modo como parece estar despedaçado causando uma dor cruel dentro do meu peito. Que porra de amor é esse? Quando tudo que queria era receber amor, qu
CarolinaDescobrir o prazer em estar do lado errado é tão perturbador quanto saber o dia da própria morte, pois a moral da qual carregamos junto a toda hipocrisia se tornam um sopro distante, mas são as vozes julgadoras que continuam gritando. Deslizando a mão pelo pescoço dele, sinto que posso ser desfeita em partículas pequenas e ainda optaria pelo lado maldoso, a sensação de estremecer contra a suas investidas firmes. Nossas respirações estão rápidas demais e mesmo assim, Nick ergue uma das minhas coxas sem se importar com a visão que estamos dando. Com a panturrilha encaixada no ombro largo, grito em desespero pelo choque das nossas pelves, revirando os olhos embriagada no gosto doce causado na excitação. Perdida entre o medo de ser jogada dessa altura ao mesmo tempo, em que o coração palpita de confiança a esse homem tão cruel e dissimulado.Somos dois pedaços desfeitos se encaixando perfeitamente, a eletricidade que percorre os nossos corpos, transporta tantos sentimentos bons