Uma semana se passou desde que Marcus retornara à mansão na capital. A rotina, apesar de tranquila, estava recheada de cuidados. Eveline seguia com zelo absoluto nas orientações da equipe médica, que agora fazia visitas regulares à casa para acompanhar a evolução da cirurgia.Naquela manhã, dois profissionais compareceram à residência: o enfermeiro-chefe da clínica de reabilitação e a doutora Lorena Viana, uma cirurgiã plástica auxiliar conhecida não apenas pela competência, mas também pela beleza estonteante e jeito desinibido. Alta, de curvas marcantes e um sorriso marcante, Lorena não demorou a se destacar no ambiente.Durante o procedimento de retirada dos primeiros curativos, Eveline observava com atenção cada movimento. Lorena, no entanto, não parecia se importar com a presença da esposa ao lançar olhares longos para Marcus e falar com um tom que beirava a intimidade.— Marcus, você está cicatrizando incrivelmente bem. É um paciente exemplar... e muito forte. Confesso que poucos
Vinte dias haviam se passado desde a cirurgia e, enfim, Marcus estava de rosto novo. Ainda não podia sair ao sol nem fazer grandes esforços, mas a recuperação era considerada um sucesso. A equipe médica viera até a mansão para a avaliação final e autorizou seu retorno gradual ao trabalho, ao menos dentro do escritório de casa. Helena e Eduardo estavam presentes, emocionados com a transformação do filho.Naquela manhã, toda a família Castelão reuniu-se discretamente na sala de estar da mansão. A tensão era palpável quando Marcus apareceu, agora com o rosto parcialmente revelado, ainda sensível, mas visivelmente reconstruído. Os olhos marejados de Helena e o aperto de mão forte de Eduardo diziam tudo.— Meu filho... você está lindo — disse Helena, abraçando-o com delicadeza.— Um novo rosto para uma nova fase, não é? — respondeu ele, olhando para Eveline com ternura.Ela assentiu, o coração acelerado de emoção. A cada dia, sentia-se mais ligada a ele, orgulhosa de sua coragem e encantad
As semanas seguintes foram de celebração e avanços. Marcus, agora com seu novo rosto, retomava cada vez mais sua vida social e profissional. Seu carisma, já natural, agora se somava à autoconfiança restaurada. Com a nova linha gourmet das queijarias Castelão fazendo sucesso, os convites para eventos sociais da alta sociedade se tornaram inevitáveis.E foi num desses eventos — um baile exclusivo da elite empresarial e leilão de solidariedade — que os reencontros aconteceram.A noite estava impecável. O salão decorado com cristais, luzes suaves e música ao vivo recebia os maiores nomes do empresariado nacional. Helena e Eduardo chegaram acompanhando Marcus e Eveline, que estava deslumbrante em um vestido vinho de cetim que realçava suas curvas e sua elegância natural. Marcus vestia um terno sob medida, e seu novo rosto atraía olhares por onde passava.Entre brindes e cumprimentos, muitos comentavam sobre sua transformação.— Ele está irreconhecível! — sussurravam alguns.— Agora sim, um
O carro deslizava pela avenida iluminada, e a cidade parecia brilhar mais do que nunca naquela noite. Mas entre os bancos de couro, o silêncio pesava. Não era desconfortável, apenas denso. Cheio de pensamentos não ditos, de olhares trocados e respirações controladas.Eveline olhava pela janela, mas seus olhos estavam em outro lugar. Marcus dirigia com uma mão no volante, a outra descansando distraída sobre a coxa dela. Um gesto simples, mas carregado de eletricidade. O toque era quente, possessivo, quase protetor.— Você foi incrível hoje — disse ele, sem tirar os olhos da rua.Ela virou o rosto lentamente, o olhar ainda enevoado.— E você... parecia um rei. Ela não esperava por isso. Nenhum deles esperava.Marcus sorriu de canto. — Mas você percebeu, não é? A aproximação deles. Os elogios forçados, as palavras doces demais...— Eles têm um plano — respondeu Eveline, sem hesitar. — E eu vou descobrir qual é.Ele assentiu, sério. Mas no momento seguinte, a mão dele apertou mais a coxa
Horas depois, já no início da noite, Marcus estava no escritório de sua casa, um espaço amplo no primeiro andar, com paredes forradas de madeira escura e luz amarelada de abajures. Precisava revisar contratos, mas a cabeça estava inquieta.Abriu a caixa de e-mail por reflexo. Entre as mensagens comuns, uma o chamou atenção: remetente anônimo, assunto “Voce confia de mas”.Clicou.Uma sequência de fotos se abriu. Eveline com o Dr. Daniel. Conversando em uma cafeteria. Abraçando-o. Tocando o braço dele. Sorrisos cúmplices. E então… a imagem final. Um beijo.Mal editada, com falhas na sombra, mas realista o suficiente para um homem cego de ciúmes.Marcus congelou. O estômago revirou.O sangue ferveu.Levantou da cadeira com brutalidade, a respiração acelerada, os olhos já cheios de raiva.— EVELINE! — gritou, subindo as escadas feito um furacão. — EVELINE!O grito ecoou por toda a casa, assustando a todos. A mãe de Marcus, que estava na sala com o pai, levantou imediatamente. O pai o s
O silêncio daquela manhã tinha peso. Um tipo de vazio que nem o som dos pássaros ousava romper. Marcus acordou no quarto escuro, com a cabeça pulsando em dor. A boca seca, o gosto amargo do uísque ainda grudado na língua. A luz que escapava pelas frestas da cortina projetava linhas no chão de madeira. Mas não havia calor. Só um frio que parecia vir de dentro.Esticou a mão para o lado da cama. O lençol ainda guardava o calor que não estava mais ali. Eveline se fora. Não apenas do quarto — de toda a casa.Sentou-se devagar, os músculos pesados, como se carregasse concreto nos ombros. Passou as mãos pelo rosto e inspirou fundo. Sentia-se fraco. Vazio. Mas não arrependido. Não ainda. Porque o orgulho que havia inflamado na noite anterior ainda estava ali, latejando como uma ferida aberta.Desceu as escadas com passos arrastados. A mansão estava estranhamente quieta. Nenhum som de louça, nenhum cheiro de café. Nem mesmo os empregados pareciam querer estar por perto.Na sala, sua mãe estav
O silêncio no apartamento de Clara era diferente do silêncio da mansão.Era mais leve. Mais vazio, sim — mas sem o peso de julgamentos, sem gritos ecoando pelas paredes. Ainda assim, para Eveline, aquele silêncio machucava. Era como um espelho do que ela sentia por dentro.Ela estava ali há pouco mais de doze horas, e já parecia tempo demais. Clara, sempre generosa, havia deixado o quarto de hóspedes pronto, colocado uma chaleira elétrica ao lado da cama, cobertores limpos, pantufas e um bilhete simples: “Se precisar de mim, estarei na sala. Não precisa falar nada. Só respira.”Eveline chorou quando leu.Naquela noite, dormiu pouco. Não conseguia fechar os olhos sem ver o rosto de Marcus distorcido pelo ódio. A voz dele repetindo palavras que ela sabia que não merecia."Cala a boca.""Voce é uma vagabunda""Voce me enganou.""O filho é meu?""Sai da minha casa."Ela jamais esqueceria aquelas palavras gritavam dentro de sua cabeça......Na manhã seguinte, acordou com o rosto inchado. O
Duas semanas haviam se passado desde a noite em que Marcus destruiu tudo com as próprias mãos.Duas semanas em que a mansão havia se transformado em um mausoléu de memórias. O bar estava mais vazio, as taças mais sujas. Ele mal dormia. Não comia direito. E passava horas trancado no escritório, olhando para a mesma pasta de fotos que ainda insistia em não deletar.As imagens, antes “provas”, agora apenas o incomodavam. Havia algo de estranho nelas. Algo que sua mãe não se cansava de repetir.— Marcus, eu te conheço — ela dissera naquela manhã, entrando no escritório com a coragem que só mães têm. — E conheço a Eveline. Aquilo não é real. Você precisa encarar isso.— Já encarei.— Não. Você gritou, expulsou, ofendeu. Isso não é encarar. Isso é fugir. Covardia mascarada de orgulho.Ele não respondeu. Apenas tomou um gole de café frio.Ela foi até ele e puxou o laptop.— Me mostra.As imagens se abriram na tela. Eveline e o Dr. Daniel. O abraço. O toque no ombro. O beijo.— Aqui — ela apo