Do Limite á Redenção (Série Limites - Livro 2)
Do Limite á Redenção (Série Limites - Livro 2)
Por: Chris Nascimento
Prólogo

            Olho ao redor e me pergunto o que realmente estou fazendo aqui, nesta festa, neste estado onde, há um mês, decidi nunca mais pisar os pés enquanto vivesse. Mas, como a vida ultimamente tem me pregado peças de muito mau gosto, vale ressaltar, me encontro agora na festa de final de ano do escritório que sou sócia e, portanto, não poderia me abster em comparecer a esse evento. Sendo assim, caminho resignada pelo belo salão no qual está sendo realizado o evento, acompanhada do senhor Mackenzie e sua esposa Karen, ambos elegantemente vestidos, assim como eu, já que o evento exige traje formal.

            Apesar do meu sorriso, a dor, minha única companheira de todos os dias durante todo o mês que se passou, se faz presente em cada parte do meu ser. Sorrio para todos os conhecidos com quem trabalhei no escritório de Boston, abraço senhorita Morret, senhor Garrett e sua esposa que estavam ocupando a mesa reservada para os sócios, no entanto, ao puxar a cadeira para sentar ouço meu nome sendo chamado, por uma voz que me fez muita falta durante todo o período em que saí de Boston.

            -Alycia! –Giro a cabeça na direção em que a voz vem e me deparo com o sorriso mais lindo, no rosto mais bonito que já vi e que tanto me fez falta.

            Peço licença a todos da mesa e caminho ao encontro de Amber, minha melhor amiga e a pessoa que mais amo no mundo.

            -Amber!–Digo assim que consigo alcançá-la no meio do salão. O sorriso estampado em meu rosto, agora sim genuíno, transparece a alegria que sinto ao vê-la, pois senti muita falta da minha amiga maluquinha.

            -Aly, você não sabe como senti sua falta! – Exclama ao nos abraçarmos saudosas.

            -Creio que foi o tanto que eu senti a sua. – Sussurro ainda abraçada a ela sem vontade de largá-la.

            - Pode ter certeza de que eu senti mais,sua amiga ingrata! – O sorriso em meu rosto se alarga ainda mais com sua implicância.

            -Bom te ver também, minha amiga. – Digo após cessar o abraço.

            -Sabe, Aly, eu entendo que você precisava se afastar, senão sucumbiria a dor, mas entender não significa aceitar, pois tem sido um tormento,para mim,não te ter por perto. –Diz com o semblante triste.

            -Para mim também tem sido péssimo, amiga, só que ou eu me mudava ou não aguentaria mais viver, Am, e ainda assim tem sido difícil demais sobreviver dia após dia. –Abaixo a cabeça com vergonha. – Nunca me senti tão humilhada e enganada em toda minha vida. Eles pisaram na minha dignidade de tal maneira que agora me sinto incapaz, suja, comminha autoestima jogada na lama.

            - Ei! – Ela ergue meu queixo com a mão para que consiga me fitar. – Não fique assim, bom? – Assinto. – Você não teve culpa de nada, amiga. Você foi a vítima, não o contrário, portanto não deixe que ninguém diga que não é capaz ou digna, porque você é sim.

            - Agora me escute, tenho que te falar uma coisa e peço que seja forte. – Sinto um calafrio percorrer minha espinha.

            - O que tem para me dizer, Am? –Pergunto com um pressentimento ruim.

            - Ele está aqui. – Não compreendo a quem ela se refere, então Amber completa ao notar minha incompreensão. -Josh Kent, foi convidado para a festa. – Como se gelo corresse por minhas veias, ao invés de sangue, meu corpo todo estremece.

            - Não! Isso não pode ser.

            - Fica calma, amiga. Eu tinha que te avisar sobre ele, porém não é só isso. – Vejo seu olhar de pena para mim e me encolho, como que pressentindo que mais humilhação virá.

            - Diga de uma vez, por favor, Amber. –Suplico em agonia.

            - Ele veio acompanhado da mãe dele, a namorada e o pai dela. - Deus! Quando eu penso que terei paz, vem a vida e me mostra o meu lugar no mundo.

            Instintivamente meus olhos percorrem todo o ambiente a procura deles, parando quando meu olhar colide com o de Josh.

            Meu peito dói ao olhar para ele, ao ver o quanto ele está bonito em um smoking preto ao lado dela, Kelly. E,então,meus pensamentos me traem e voltam há um mês, em sua sala, onde meu mundo desabou e sua máscara caiu. Até hoje não consigo entender como fui tão burra e cega. Como não percebi a sua falsidade e falta de caráter.

            Na verdade, eu sabia a resposta do porquê não ter percebido. Porque eu estava cega para tudo! Só enxergava Josh na minha frente. Fui tola demais e acabei me entregando de corpo e alma ao homem que era a minha vida, meu tudo, e caíem seu plano feito uma idiota. Imagino o quanto eles riram de mim pelas costas enquanto se refestelavam na cama zombando do quanto sou burra e ridícula.

            Nunca pensei que um dia iria odiar tanto uma pessoa quanto o odeio e tudo o que ele representou para mim no passado.

            Jamais deixarei alguém chegar perto do meu coração novamente, jamais serei tola da mesma forma que fui.

            Jamais!

            Aquela Alycia, a tola apaixonada, morreu naquela sala,há um mês, no momento em que ouviu da boca do homem que amava a vida toda que foi só um joguete em suas mãos.

            Fecho os olhos e ainda posso ouvir suas palavras duras ecoando em meus ouvidos. Na verdade, a cena toda se repete noite após noite em pesadelos horríveis que acabam, geralmente, comigo acordando suada e chorando copiosamente até desmaiar na cama, exausta, e com uma forte dor de cabeça por não querer dormir para reviver meu inferno pessoal noites sem fim.

            Limpo qualquer pensamento em relação a “eles” da minha cabeça. Despeço-me da minha amiga, após conversar mais um pouco e volto para a mesa decidida a ignorá-los e rezar a Deus para que esta noite passe o mais rápido possível para que possa sair desta cidade e me esconder em Washington para sempre.

JOSH

            Senti sua presença no momento em que ela pisou no salão, onde estava acontecendo a festa. Eu bebi da sua imagem como um maldito lunático, sem querer sequer piscar para não perder nada dela. Foram malditas quatro semanas sem vê-la. Malditos trinta dias em que estive no inferno, na mais pura escuridão.

            Quando Alycia caminhou por entre as pessoas, todos pararam para admirá-la, pois sem sombra de dúvidas ela era a mulher mais bonita de toda a festa. O que me enfurecia e abismava ao mesmo tempo, pois todos os homens do evento babavam sobre ela como cães famintos sobre uma refeição e, por outro lado, me deixava admirado porque ela não percebia o quanto era linda, na verdade ela não tinha um pingo de noção do efeito que causava nos homens ao seu redor. O que só a deixava ainda mais linda aos meus olhos.

            Ao vê-la passar por mim, linda em um vestido vermelho de mangas compridas, justo ao corpo e que abria-se na altura dos joelhos até os pés, foi como se ateassem fogo em meu sangue, pois tudo ferveu dentro de mim, ardeu, queimou, como quando estávamos juntos na cama, quando eu não podia nunca ter o suficiente dela. E lembrar disso me fez miserável, porque me fez recordar que não a tinha mais.

            Eu a perdi.

            Era difícil acreditar nisso, difícil principalmente aceitar o fato de que não mais a teria em meus braços toda noite. E o pior de tudo é que perdi a mulher que amo por minha própria culpa, por minha arrogância e prepotência.

            Mas prometi a mim mesmo que iria recuperá-la e vai ser a partir de hoje que começarei. Disse isso a mim mesmo no momento em que seus olhos colidiram com os meus há alguns minutos. Dei tempo para que ela digerisse o que aconteceu e se acalmasse, mas chega, pois não quero nem vou mais abdicar do nosso amor por mais nada ou ninguém.

            Não consigo parar de olhá-la. Minuto após minuto, quando a vejo dançar nos braços de algum outro homem que a convida para dançar, a raiva e a fúria me dominam, pois estou sem poder fazer nada para demonstrar a todos esses imbecis que ela é minha e que eles não devem sequer olhar em sua direção, mas não posso, e a frustração me mantém no lugar apenas observando e bebendo como um louco.

            - Você não se cansa de bancar o ridículo, Josh. –Desvio meu olhar um segundo para Kelly, que está inconvenientemente grudada em mim. Tudo para transparecer para seu pai uma intimidade entre nós que não existe mais.

            - Estou pouco me lixando para o que você acha ou deixa de achar, Kelly. –Tomo um gole do meu uísque.

            - Idiota. Como você ousa me trocar por aquela empregadinha bastarda. –Ela sussurra as palavras em meu ouvido, já que quer passar a imagem de casal perfeito para seu pai.

            -Foda-se. –Digo em resposta a sua grosseria e me levanto em direção a pista de dança.

            A banda toca uma bela música que embala os casais. Reconheço a melodia como Home de MichaelBublé e não poderia ser em melhor hora, porque Garrett acaba dechamá-la para dançar e não poderia deixar a oportunidade passar.Espero que ela não me rejeite por medo de causar algum escândalo em frente a seu chefe. Sigo até eles rezando que minha teoria esteja correta.

            - Com licença. Poderia me dar a honra de dançar com a mulher mais linda da festa, meu amigo? –Garret, me cumprimenta com um abraço fraternal depois que percebe minha presença. – Claro que sim, filho. Bom saber que aceitou o meu convite para a festa. –Ele fala com um sorriso no rosto.

            - Obrigado mais uma vez pelo convite, Eliott.

            - Não tem nada que agradecer, filho. Se me derem licença, vou me juntar a minha esposa.

            Com a saída de Eliott, posso enfim olhá-la frente a frente depois de longos dias.

            Finalmente posso tê-la tão perto novamente depois de tanto tempo,penso, com o coração batendo como louco no peito.

            - Dance comigo. –Peço.

            - Não encoste em mim. –Meu coração se quebra com sua resposta fria, não lembrando em nada a minha, Aly, doce e amorosa.

            -Por favor, Alycia...Temos que conversar. –Tento me aproximar, mas à medida que chego pertoela dá um passo atrás, mantendo a distância entre nós.

            -Não tenho nada para falar com o senhor. –O olhar frio que me dirige faz com que perceba que o mal que causei a ela foi mais profundo do que eu havia previsto.

            Ao tentar passar por mim, seguro seu braço, e meu corpo se aquece com o simples contato de nossas peles.

            - Não toque em mim. Eu tenho nojo de você, nojo do seu toque em meu corpo ouviu bem. –Congelo ao ouvir suas palavras duras.

            -Por favor, abelhinha...

            -Eu nunca mais vou acreditar em uma única palavra que saia da sua boca, portanto, poupe sua saliva e todo esse seu joguinho de sedução para cima de mim. Abomino seu toque, esse apelido tosco e tudo o que vem de você me dá asco e repulsa. Não ouse cruzar meu caminho nunca mais, pois aquela Alycia bobinha e totalmente apaixonada que te idolatrava, morreu no dia em que conheci o seu verdadeiro eu, falso, arrogante, prepotente e podre. E tudo o que sobrou daquele amor e devoção que dediquei toda a minha vida, foi ódio, rancor e desprezo.

            Com um solavanco ela arranca o braço de minha mão e se perde no meio dos casais dançando dentro do salão.

            Uma dor absurda rasga meu coração em dois. Nunca havia sentido nada como isso antes, a dor da rejeição. Pois tudo o que quis, eu tive, sem nenhum esforço. Mas agora, diante das palavras duras ditas por Alycia, eu soube que tinha chegado a hora de lutar, lutar por algo mais importante do que minha própria vida.

            Ela.

            Alycia era meu mundo. E eu a teria de volta e recuperaria seu amor novamente, nem que para isso tivesse que morrer tentando, pois sem ela não havia razão para viver.

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