Capítulo V

JOSH

            Em toda a minha vida nunca me senti tão perdido, como me sinto agora, é desesperador querer mostrar a alguém o quão forte são meus sentimentos por ela e esta pessoa não acreditar em nenhuma palavra que diga.

            Errei, admito, mas nem tudo o que fiz foi na tentativa de obter vantagem. No começo fiquei indignado com meu pai pelo que nos fez e então quis me vingar, no entanto,os sentimentos de vingança e ódio foram arrefecendo com o passar do tempo e foram dando lugar à admiração, querer bem e, por fim, ao amor, que foi crescendo dentro de mim e quando dei por mim já a amava com loucura. Fiz de tudo para não perdê-la, talvez aí tenha sido meu erro, porque ao invés de tentar a todo custo que Alycia não soubesse nunca do que planejamos contra ela, eu deveria ter contado tudo, aberto o jogo e declarado meu amor por ela, e quem sabe assim ela teria acreditado em meus sentimentos.

            Doeu demais ouvir suas palavras hoje pela manhã quando declarei meu amor por ela.

            “Mesmo que seja verdade, o que duvido, agora não importa mais. ” –Recordo.

            “Você matou o sentimento bonito que eu tinha por você, Josh.”

            Tomo um gole do liquido âmbar em meu copo para aplacar o sentimento de angústia em meu peito.

            “Você matou tudo dentro de mim, acabou com minha autoestima, com minha confiança e, principalmente, com meu amor por você. ”

            Recordar a maneira como essas palavras foram ditas, traz à tona a mesma dor rascante ao peito. Nunca a vi daquela forma, tão fria e distante, nem quando tentava fugir de mim e da atração que sentíamos.

            Sabia que seria difícil reconquistá-la, porém me equivoquei, porque não vai ser difícil não, vai ser quase impossível, a julgar pela mágoa e dor contida em seu olhar.

            Suspiro ao levar mais uma vez o copo com uísque aos lábios.O telefone toca sobre a mesa.

            -Josh. –Atendo no segundo toque.

            -Senhor Kent, perdoepor interrompê-lo, mas o senhor O’Connor está aqui para vê-lo. Posso mandá-lo entrar?

            -Pode sim, senhorita Fisher. –Sorvo o restante do líquido em meu copo para aguardar meu visitante.

            No começo, ao vir para Washington, minha intenção inicial era a de reconquistar minha mulher e ainda é, mas ponderei e vi que quando tiver minha abelhinha de volta, estabelecerei minha vida com ela aqui.

            Quero apagar tudo o que aconteceu no passado, passar uma borracha sobre ele, e começar uma nova vida com ela em Washington, por isso a intenção é de montar meu escritório aqui e, assim, transferir a sede para cá. Pretendoconvencê-la a vir trabalhar comigo e com o tempo torná-la sócia.

            Sei que tenho um trabalho árduo pela frente, principalmente em reconquistá-la e depois em impedir que minha mãe interfira em nossas vidas. Ela não ficou muito contente em descobrir que me apaixonei por Alycia e menos ainda quando informei que pretendia morar em Washington, longe dela e de suas chantagens emocionais.

            Longe também de Kelly, que ao perceber que nosso relacionamento realmente chegou ao fim, tem se tornado inconveniente e obsessiva. Ela com toda sua arrogância não admite ser trocada por alguém como Alycia, pois em sua cabeça Aly não é digna de estar ao meu lado, e sim ela.

            Uma batida na porta faz com que retorne do meu devaneio.

            -Entre. –Autorizo.A porta se abre após meu comando.

            -Senhor Kent. –O´Connor fala ao entrar na sala.

            -Jack. Sente-se, por favor.Cumprimentamo-nos e sentamos, ele em uma cadeira do outro lado de minha mesa, e eu em minha cadeira.

            -O que deseja de mim, sr. Kent?

            -Jack, pedi que você viesse até mim, porque quero que descubra tudo sobre a vida de Alycia Hernández, aqui em Washington, onde está morando.  Quero saber tudo. Quem são seus amigos, o que faz nas horas vagas, o que come no café da manhã, se tem um cachorro ou qualquer outro tipo de bicho de estimação. Revire a vida dela de cabeça para baixo, mas me deixe saber de tudo sobre ela. Fui claro?

            -Claríssimo. Algo mais, senhor?

            -Sim. Preciso que você comece o trabalho imediatamente, porque ela tem um almoço com um cliente daqui a meia hora e eu preciso, não, necessito que a vigie de perto, pois sei que esse cara está dando em cima da minha mulher. Assim que você descobrir o endereço do restaurante em que eles irão almoçar, me comunique na mesma hora.Além disso, quero que você vigie os passos dela, vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Se necessário, chame Bill para te ajudar, mas quero saber tudo, inclusive quero relatórios diários, ouviu bem?

            -Entendido.

            -Pode começar agora mesmo. Fique de tocaia na frente do prédio, pois sei que ela não está de carro, portanto, terá que pegar um táxi e no momento em que ela pegar um táxi você a segue em outro. Compreendido?

            -Perfeitamente, senhor.

            -Quanto à logística de sua transferência para cá, pode deixar comigo. Assim que souber o endereço de Alycia pedirei para minha secretária alugar um apartamento para mim e outro para você e Bill no mesmo prédio, só que em um andar diferente do nosso para não levantar suspeitas quanto à vigilância.

            -Como quiser, senhor Kent. Se me permite vou começar a trabalhar agora mesmo.

            -Ok, Jack. - Ele se levanta, me cumprimenta com um aperto de mão e segue em direção a porta. -E Jack?

            -Pois não, senhor? –Vira-se ao ouvir meu comando.

            -Seja cauteloso e, assim que souber o endereço do restaurante, me passe imediatamente. –Jack assente e se vai.

***

            Adentro o restaurante com a ira e o ciúme me fazendo companhia. Não vejo nada pela frente, a não ser as imagens das fotos em que minha mulher é cortejada por outro cara e, o pior de tudo, é que vi a maneira com que ela ficou encantada com os gestos do tal sujeitinho.

            Bufo em escárnio.

            Depois que recebi a localização do restaurante junto com as fotos dos dois anexados, não pude conter o sentimento de ira que me dominou, então saí do escritório no momento em que abri a mensagem e vi Alycia com um sorriso enorme no rosto, ao receber um buquê de rosas vermelhas do sujeito e que este se debruçava sobre sua face para plantar um beijo em sua bochecha.

            A ira e a cólera me dominaram, então saí com tudo no intuito de caçar a minha mulher e mostrar ao babaca que ela, Alycia, me pertence.

            E agora, aqui estou procurando com olhos de águia, por todo ambiente, tentando localizá-los. Quando finalmente os identifico, em uma mesa, em um canto reservado do restaurante, bastante intimista para o meu gosto, marcho até eles ignorando o maître pelo caminho.

            -Boa tarde. –Digo assim que paro ao lado da mesa.

            Alycia olha com espanto em minha direção, seguida do coroa metido a galã.

            -Josh, o que faz aqui? –Ela pergunta ainda com o rosto em choque por minha presença inesperada.

            -Vim para a reunião com seu cliente. –Sem precisar de permissão, arrasto a cadeira ao seu lado e me sento.

            -Como vai sr. Smith. Sou Josh Kent. –Estendo minha por sobre a mesa para cumprimentar o babaca.

            -Vou bem, sr. Kent. Achei que a reunião seria somente entre mim e a senhorita Hernández.

            -Resolvi participar do almoço de negócio também para me inteirar dos assuntos empresariais das quais minha parceira presta consultoria a sua empresa. –Vejo espanto cruzar o olhar de Alycia ao perceber que eu me inteirei dos seus assuntos de trabalho.

            -Bem... –Limpa a garganta e continua. - acho desnecessário o senhor participar deste almoço já que o assunto que vou tratar com sr. Smith não está relacionado aos assuntos do escritório, haja vista que eu só presto consultoria empresarial em caso excepcional para Harry. –Fúria me toma novamente, mas empurro-a para baixo a fim de acalmar meu temperamento.

            -Compreendo, Alycia, porém gostaria de participar mesmo assim, se não se importar, Harry. –Fuzilo-o com meu olhar, em uma clara tentativa de intimidação e demarcação de território. Entendimento desce sobre ele assim que me encara de volta.

            É isso aí, não vou deixar o caminho livre para qualquer babaca metido a galã tomar minha mulher de mim.

            Nunca!           

            Alycia me fuzila com os olhos ao perceber minha real intenção, mas não diz nada.O clima se tornando bastante pesado sobre o ambiente.

            O garçom vem tomar nossos pedidos.

            Percebo o clima carregado no ar, mas não dou a mínima, pois sei que Alycia está furiosa por eu ter atrapalhado sua reunião, o babaca a nossa frente está furioso por outro motivo, porque eu acabei com sua tentativa ridícula de dar em cima da minha mulher. O que não vai acontecer.

            Eles discutiram sobre alguns processos da empresa do Smith enquanto eu só observava tudo e declaradamente deixava transparecer o meu desgosto com relação a ele. Não me importei em nenhum momento em parecer amigável ou forçar um interesse ao que eles discutiam, pois queria que ele notasse mesmo de que só fui lá por ela e nada mais.

            Ao fim do almoço, nos despedimos do idiota, que foi embora prometendo agendar um novo encontro com a minha Aly. Bufo em escárnio.Só em seus sonhos, babaca.

            -Que droga foi essa, Josh. –Alycia me fulmina com o olhar assim que o idiota está longe o bastante para não ouvir nossa conversa.

            -Não sei do que você está falando, Alycia. –Me faço de desentendido descaradamente.

            -Não se faça de sonso e me responda! O que você pensa que está fazendo ao vir aqui interromper meu almoço de negócios e ainda afrontar meu cliente descaradamente?

            -Já disse o que vim fazer aqui. Queria participar do almoço de negócios para me inteirar sobre o ramo do direito empresarial. Só isso.

            -Por acaso eu tenho cara de idiota? Você em momento algum do almoço se mostrou interessado na conversa, ao contrário, permaneceu o tempo todo em silêncio encarando de forma hostil o sr. Smith.

            Aproximo-me dela de forma predatória, ocupando seu espaço pessoal para deixar claro minhas reais intenções.

            -Aquele babaca está dando em cima de você e eu não irei permitir isso, jamais. Sabe por que, Alycia? Porque você me pertence. –Ela fecha o semblante ao me ouvir pronunciar as palavras. Eu não me intimido e continuo. -Sei que fiz merda com você. Admito.

            -O eufemismo do mundo. –Rebate.

            -Mas, apesar de tudo o que fiz, eu nunca menti quando dizia que você era minha, porque ali, quando estávamos no quarto, só  você e eu,quando eu te tomava e te fazia minha, pode ter certeza de que quem estava com você era eu, sem máscaras ou fingimentos. Eu, o homem completamente apaixonado por você.

            Completo a distância que separava nossos corpos e no meio do restaurante, com os olhos cravados nela, agarro sua cintura, prendo seus cabelos na nuca como gosto de fazer, e me aposso dos seus lábios sem permissão.

            Completamente atordoada, Alycia não reage no primeiro momento.

            O beijo de início é suave, apenas um roçar de lábios, mas quando a velha eletricidade percorre meu corpo e eu tomo nota de sua respiração agitada, sua pele sedosa sob meus dedos, forço minha língua a adentrar a sua boca com sofreguidão, então me perco nas sensações que só ela faz surgir em mim.

            O mundo ao meu redor é esquecido. A sensação gostosa de poder saborear sua boca carnuda e de percorrer seu interior com a língua explorando cada cantinho tão bem conhecido por mim.

            Agora só existe  ela e eu.Mais ninguém.

            Como senti falta disso, de poder abraçar e beijar minha mulher, porque apesar do que ela diga, ela é e sempre será minha, só minha.

            Com um empurrão, nossas bocas são separadas abruptamente.

            -Não encosta em mim! –Ódio surge em sua face ao proferir as palavras, esmagando meu coração ao falar de modo tão duro.

            Ela se desvencilha com brusquidão e desfere um tapa em meu rosto.

            -Não pense que vou cair novamente nesse seu joguinho, porque não vou. Estou vacinada contra você e sua arrogância, que pensa que com essa voz rouca e mansa pode me dobrar ao seu bel prazer. Não. Jamais cairei em sua armadilha novamente. Jamais!

            Alycia pega a bolsa e sai do restaurante apressadamente.

            Todos no ambiente estão olhando em minha direção.

            Eu não dou a mínima. O que me incomoda é o quanto de Alycia eu fui capaz de magoar, o quanto tive do amor que ela me dedicou, e agora receber só o desprezo, está me deixando com bastante medo. Medo de que o que fiz a ela não tenha conserto.

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