ALYCIA
Aflição me define neste instante, porque realmente estou preocupada com minha saúde, os enjoos não cessaram, muito menos as dores de cabeça. Não acho que todo esse mal-estar se deve exclusivamente aos pesadelos e noites mal dormidas, não sou ingênua a este ponto, porém, para acabar com a angústia de não saber o que realmente tenho pedi para Helen agilizar a consulta com o médico para o mais breve possível, deste modo aguardo ansiosamente na sala de espera do consultório para ser atendida.
-Senhorita Hernández? –Levanto da cadeira imediatamente no momento em que a assistente do médico chama meu nome.
-Sou eu. –Respondo, assim que paro diante dela.
-Queira me seguir, por favor, senhorita.
Ando em seu encalço até a porta do consultório, a qual ela abre dando-me passagem, e sou recebida na entrada da sala por um senhor de meia idade e sorriso simpático.
-Bom dia, senhorita Hernández. Queira se sentar, por favor.
-Bom dia, doutor Jackson. –Retorno o cumprimento após sentar na cadeira a sua frente.
-Em que posso ajudá-la?
-Estou sentindo dores de cabeça horríveis, enjoos, além de vomitar todos os dias pela manhã.
- Há quanto tempo a senhorita vem sentindo esses sintomas?
-Há quase dois meses. Não sei se todo esse mal-estar seja consequência de noites mal dormidas, pois não consigo dormir direito pelo o mesmo período de tempo.
-Qual foi a data da sua última menstruação, senhorita? –Parece que todo sangue é drenado do meu corpo, após a realidade de sua pergunta descer sobre mim, pois só agora é que me dei conta de que faz um bom tempo desde a última vez que menstruei, há uns dois meses mais ou menos.
-Não precisa ficar assustada. Este é o procedimento de praxe, senhorita. Tenho que eliminar todas as possibilidades antes de passar para um exame mais específico. –Declara o médico ao examinar meu rosto, o que tenho certeza de que deve estar mais branco do que papel.
-O problema,dr. Jackson, é que a data da minha última menstruação foi há uns dois meses. E eu estava tão cheia de coisas na minha cabeça e depois tão cheia de problemas que não me liguei neste detalhe. - Vejo-o anotar alguma coisa em um papel sobre sua mesa antes de erguer o olhar novamente para mim.
-Então vamos eliminar essa possibilidade primeiro para, só assim, partir para o próximo passo. Vou pedir que a senhorita realize uma série de exames e quando eles estiverem prontos traga-os para mim imediatamente porque, como há a possibilidade de uma gravidez, não poderei medicá-la antes de ver o resultado dos exames. –Assinto ainda em choque com a possibilidade de estar carregando um filho de Josh dentro de mim.
Após mais algumas recomendações do médico e mais alguns pedidos de exames, saio da sala e do consultório depois de marcar os exames para a manhã do dia seguinte no laboratório da clínica.
Ainda me encontro em um estado de torpor, caminhando pela rua sem ver ou ouvir nada nem ninguém. Estou tentando compreender como é que eu posso estar grávida se fazia uso de anticoncepcional, mais especificamente de injeção, porque não sou muito boa em guardar horários e por este motivo optei por ela.
Entro no táxi que chamei, informo o endereço do meu escritório para o motorista que, assim como todo motorista de táxi, fala pelos cotovelos, mas eu não estou bem para embarcar em uma conversa, então só respondo com monossilábicos enquanto meu cérebro quase tem um curto circuito de tanto pensar.
Não posso crer que a vida me pregaria mais essa peça.
Não!
Porque seria azar demais para uma pessoa só. Digo isso não pelo fato de carregar um bebê no ventre, jamais renegaria um filho meu, longe disso. O fato é que manter um vínculo com ele seria a pior coisa que poderia me acontecer.
-Chegamos, senhorita. –Saio dos meus devaneios ao ouvir a voz do motorista.
Pago a corrida e desço do veículo para dentro do edifício onde trabalho.
As horas se arrastam enfadonhamente, os ponteiros do relógio brincando com minha sanidade à medida que o tempo passa vagarosamente e, apesar de fazer várias coisas durante o dia, sempre há aquela pontinha de consciência escondida bem lá no fundo da cabeça me dizendo que as suspeitas do médico são verdadeiras e que eu, de fato, estou grávida.
Espanto esses pensamentos indesejados bem para o fundo da minha mente novamente e sigo fazendo tudo no automático para manter-me ocupada e não pensar.
Não quero pensar e surtar, porque, senão, perderei minha mente e assim desmoronarei de vez.
Ainda com os pensamentos em polvorosa termino o dia de trabalho com o peso do mundo sobre as costas.
Chego em casa, como alguma coisa, porque assim me obriguei a não negligenciar mais minha saúde, deito e, como havia previsto, não consigo dormir com a cabeça fervilhando de pensamentos e lembranças que levam a noite toda a me atormentar.
Todas as vezes em que Josh e eu fizemos amor, rodeando minhas memórias. Lembro de que antes de usar o anticoncepcional, transamos de preservativo todas as vezes...
É quando me cai a ficha, de que não foram todas as vezes, pois cometemos um deslize uma única vez.
Quando transamos no barco dele assim que começamos a namorar, na verdade não chegamos nem a transar sem camisinha, só iniciamos sem ela e depois quando tivemos consciência, Josh se preveniu e demos continuidade.
Porém, tenho noção de que se eu estivesse em meu período fértil, que era o que acontecia, só seria necessário o fluído pré-ejaculatório para engravidar. E foi o que aconteceu.
Levo as mãos ao rosto em agonia.
Então desabo em um pranto sem fim.
Choro e choro pela noite adentro.
***
Fiz os exames no dia seguinte tendo a noção de que não conseguiria sossegar até ter o resultado em minhas mãos. Porém só receberei no dia seguinte devido a quantidade de exames solicitados, sendo assim,tenho consciência de que passarei mais um dia com os nervos à flor da pele sem conseguir realizar qualquer tarefa corretamente e tendo que me policiar para focar nas coisas mais importantes para não surtar de vez.
Trabalhei até a exaustão, porque queria direcionar meus pensamentos para o trabalho, além do mais o escritório estava lotado de processos novos. Graças ao caso que vencemos do senhor Thompson, ano passado, a demanda de novos clientes estava superando a expectativa, o que foi um fator determinante para que os sócios majoritários de comum acordo elegessem meu nome para que ocupasse a posição de chefe do setor penal aqui em Washington.
E aqui estou eu.
Não vou negar que usei a oportunidade que a proposta do senhor Mackenzie me ofereceu para fugir, mas também estou orgulhosa de mim mesma, que com apenas vinte e dois anos, já ocupar um cargo de direção e estar firmando meu nome como uma das maisbem sucedidas advogadas do escritório.
A vida é engraçada às vezes.
Por um lado, meu mundo está desmoronando com a possibilidade de uma gravidez que não foi desejada e a traição vil do homem que sempre amei, mas andando na contramão de tudo isso, minha carreira vai de vento em popa com um futuro promissor.
Mas é como dizem... não se pode ter tudo.
JOSH Admirando o belo arranha-céu, caminho até a entrada do prédio, tomo o elevador até o vigésimo andar e aguardo os números vermelhos passarem até alcançar o meu andar de destino, dirijo-me até a mesa da secretária me apresentando e informando o motivo da minha presença. Como sei que cheguei muito cedo, aguardo ansiosamente até ser atendido. O barulho das portas do elevador se abrindo chamam a minha atenção quando este traz a pessoa a qual espero. -Bom dia, Josh. Está me esperando há muito tempo?
ALYCIA O papel em minhas mãos queima, como se este ardesse ao entrar em contato com minha pele. Eu me pergunto como é que uma palavra, apenas uma única palavra, pode mudar a vida de uma pessoa de uma hora para outra dessa maneira. Com a outra mão seguro com força o pingente pendurado em meu pescoço, que traz a imagem da Virgem de Guadalupe, tentando buscar forças através dele. Essa correntinha foi presente de minha mãezinha que era devota dela e que no seu leito de morte me pediu para usá-la e quando estivesse sozinha, desamparada, rezasse a ela pedindo a sua interseção junto a Jesus e que Ele olharia por mim. -Virgenzinha, por favor,
JOSH Em toda a minha vida nunca me senti tão perdido, como me sinto agora, é desesperador querer mostrar a alguém o quão forte são meus sentimentos por ela e esta pessoa não acreditar em nenhuma palavra que diga. Errei, admito, mas nem tudo o que fiz foi na tentativa de obter vantagem. No começo fiquei indignado com meu pai pelo que nos fez e então quis me vingar, no entanto,os sentimentos de vingança e ódio foram arrefecendo com o passar do tempo e foram dando lugar à admiração, querer bem e, por fim, ao amor, que foi crescendo dentro de mim e quando dei por mim já a amava com loucura. Fiz de tudo para não perdê-la, talvez aí tenha sido meu erro, porque ao invés de t
ALYCIA -Burra! Burra! –Grito comigo mesma assim que fecho a porta do meu apartamento. Jogo a bolsa sobre o sofá e chuto os sapatos de salto sobre o tapete felpudo e, só então afundo no sofá, com a intenção de ter um pouco de paz. Mas o encontro inesperado com Josh e toda a confusão armada por ele me vêm à tona, mais especificamente o beijo. -Deus! Como pude ser tão idiota e ceder a Josh da maneira que cedi quando ele me beijou no restaurante? Como?! –Agarro os cabelos em frustração. Não posso acreditar que, apesar do que ele me fez e do quanto m
ALYCIA O voo para Boston foi muito complicado, enjoei muito, além do desconforto causado pela ansiedade de voltar ao estado mais uma vez, pois jamais conseguirei pisar aqui novamente sem me recordar de como fui embora e da dor que carregava dentro de mim. Ainda dói na verdade, mas agora foi suplantada pelo amor que cresceu no momento em que descobri que estava grávida, passado o susto e o medo, me vi sendo inundada por um sentimento lindo e maravilhoso: o amor de mãe. Caminhando pelo saguão do aeroporto, vejo minha amiga acenar para mim, gesticulando sem parar no velho estilo Amber de ser. -Aly! Quanta falta eu senti de você! –Ela fala ao nos abraçarmos no meio do
ALYCIA Os dias se passaram sem nenhum tipo de imprevisto. Ao retornar de Boston, não ouvi mais nada sobre Josh. Melhor assim. Só dessa forma consigo ter um pouco de paz. Graças a Deus os enjoos deram uma trégua essa semana e pude ter algumas manhãs mais tranquilas. Porém tenho consciência de que tenho que começar a me cuidar melhor e cuidar do meu bebê. Então, como hoje meu bebê me deu mais uma folguinha, resolvi preparar umas panquecas deliciosas para o café da manhã, além de muitas frutas e suco de laranja.
JOSH A agitação vinda do escritório em frente ao meu, o escritório de Alycia, me chamou a atenção, mas o que me fez ir até lá para saber o que estava acontecendo foi quando vi passar pela porta dois paramédicos com os equipamentos em mãos, sendo recebidos pela secretária de Alycia e logo em seguida, encaminhados até sua sala. Então, não me importei com mais nada e saí em disparada deixando um cliente em potencial no telefone, com quem estava falando. Nunca senti tanto medo em minha vida, pois sabia em meu âmago que algo tinha acontecido com minha abelhinha. Cruzei a recepção do escritório e entrei e
ALYCIA -Não compreendo qual é o plano agora. O porquê de tanta preocupação e cuidados. Será que Josh está tentando me ganhar de outra maneira? Ou será que tudo isso é para me enganar fingindo um cuidado e devoção com meu filho para que eu caia novamente em suas mentiras? –Faço a pergunta em voz alta, na tentativa de tentar entender o comportamento de Josh desde que saí do hospital. Nos três dias que se seguiram, após minha alta, Josh tem se tornado praticamente minha sombra. Todos os dias ele vem até minha casa, traz comida, cuida de mim, apesar dos meus protestos, ele não desiste, faz ouvidos moucos e dia após dia continua vindo. &