Capítulo II

ALYCIA

            Aflição me define neste instante, porque realmente estou preocupada com minha saúde, os enjoos não cessaram, muito menos as dores de cabeça. Não acho que todo esse mal-estar se deve exclusivamente aos pesadelos e noites mal dormidas, não sou ingênua a este ponto, porém, para acabar com a angústia de não saber o que realmente tenho pedi para Helen agilizar a consulta com o médico para o mais breve possível, deste modo aguardo ansiosamente na sala de espera do consultório para ser atendida.

            -Senhorita Hernández? –Levanto da cadeira imediatamente no momento em que a assistente do médico chama meu nome.

            -Sou eu. –Respondo, assim que paro diante dela.

            -Queira me seguir, por favor, senhorita.

            Ando em seu encalço até a porta do consultório, a qual ela abre dando-me passagem, e sou recebida na entrada da sala por um senhor de meia idade e sorriso simpático.

            -Bom dia, senhorita Hernández. Queira se sentar, por favor.

            -Bom dia, doutor Jackson. –Retorno o cumprimento após sentar na cadeira a sua frente.

            -Em que posso ajudá-la?

            -Estou sentindo dores de cabeça horríveis, enjoos, além de vomitar todos os dias pela manhã.

            - Há quanto tempo a senhorita vem sentindo esses sintomas?

            -Há quase dois meses. Não sei se todo esse mal-estar seja consequência de noites mal dormidas, pois não consigo dormir direito pelo o mesmo período de tempo.

            -Qual foi a data da sua última menstruação, senhorita? –Parece que todo sangue é drenado do meu corpo, após a realidade de sua pergunta descer sobre mim, pois só agora é que me dei conta de que faz um bom tempo desde a última vez que menstruei, há uns dois meses mais ou menos.

            -Não precisa ficar assustada. Este é o procedimento de praxe, senhorita. Tenho que eliminar todas as possibilidades antes de passar para um exame mais específico. –Declara o médico ao examinar meu rosto, o que tenho certeza de que deve estar mais branco do que papel.

            -O problema,dr. Jackson, é que a data da minha última menstruação foi há uns dois meses. E eu estava tão cheia de coisas na minha cabeça e depois tão cheia de problemas que não me liguei neste detalhe. - Vejo-o anotar alguma coisa em um papel sobre sua mesa antes de erguer o olhar novamente para mim.

            -Então vamos eliminar essa possibilidade primeiro para, só assim, partir para o próximo passo. Vou pedir que a senhorita realize uma série de exames e quando eles estiverem prontos traga-os para mim imediatamente porque, como há a possibilidade de uma gravidez, não poderei medicá-la antes de ver o resultado dos exames. –Assinto ainda em choque com a possibilidade de estar carregando um filho de Josh dentro de mim.

            Após mais algumas recomendações do médico e mais alguns pedidos de exames, saio da sala e do consultório depois de marcar os exames para a manhã do dia seguinte no laboratório da clínica.

            Ainda me encontro em um estado de torpor, caminhando pela rua sem ver ou ouvir nada nem ninguém. Estou tentando compreender como é que eu posso estar grávida se fazia uso de anticoncepcional, mais especificamente de injeção, porque não sou muito boa em guardar horários e por este motivo optei por ela.

            Entro no táxi que chamei, informo o endereço do meu escritório para o motorista que, assim como todo motorista de táxi, fala pelos cotovelos, mas eu não estou bem para embarcar em uma conversa, então só respondo com monossilábicos enquanto meu cérebro quase tem um curto circuito de tanto pensar.

            Não posso crer que a vida me pregaria mais essa peça.

            Não!

            Porque seria azar demais para uma pessoa só. Digo isso não pelo fato de carregar um bebê no ventre, jamais renegaria um filho meu, longe disso. O fato é que manter um vínculo com ele seria a pior coisa que poderia me acontecer.

            -Chegamos, senhorita. –Saio dos meus devaneios ao ouvir a voz do motorista.

            Pago a corrida e desço do veículo para dentro do edifício onde trabalho.

            As horas se arrastam enfadonhamente, os ponteiros do relógio brincando com minha sanidade à medida que o tempo passa vagarosamente e, apesar de fazer várias coisas durante o dia, sempre há aquela pontinha de consciência escondida bem lá no fundo da cabeça me dizendo que as suspeitas do médico são verdadeiras e que eu, de fato, estou grávida.

            Espanto esses pensamentos indesejados bem para o fundo da minha mente novamente e sigo fazendo tudo no automático para manter-me ocupada e não pensar.

            Não quero pensar e surtar, porque, senão, perderei minha mente e assim desmoronarei de vez.

            Ainda com os pensamentos em polvorosa termino o dia de trabalho com o peso do mundo sobre as costas.

            Chego em casa, como alguma coisa, porque assim me obriguei a não negligenciar mais minha saúde, deito e, como havia previsto, não consigo dormir com a cabeça fervilhando de pensamentos e lembranças que levam a noite toda a me atormentar.

            Todas as vezes em que Josh e eu fizemos amor, rodeando minhas memórias. Lembro de que antes de usar o anticoncepcional, transamos de preservativo todas as vezes...

            É quando me cai a ficha, de que não foram todas as vezes, pois cometemos um deslize uma única vez.

            Quando transamos no barco dele assim que começamos a namorar, na verdade não chegamos nem a transar sem camisinha, só iniciamos sem ela e depois quando tivemos consciência, Josh se preveniu e demos continuidade.

            Porém, tenho noção de que se eu estivesse em meu período fértil, que era o que acontecia, só seria necessário o fluído pré-ejaculatório para engravidar. E foi o que aconteceu.

            Levo as mãos ao rosto em agonia.

            Então desabo em um pranto sem fim.

            Choro e choro pela noite adentro.

***

            Fiz os exames no dia seguinte tendo a noção de que não conseguiria sossegar até ter o resultado em minhas mãos. Porém só receberei no dia seguinte devido a quantidade de exames solicitados, sendo assim,tenho consciência de que passarei mais um dia com os nervos à flor da pele sem conseguir realizar qualquer tarefa corretamente e tendo que me policiar para focar nas coisas mais importantes para não surtar de vez.

            Trabalhei até a exaustão, porque queria direcionar meus pensamentos para o trabalho, além do mais o escritório estava lotado de processos novos. Graças ao caso que vencemos do senhor Thompson, ano passado, a demanda de novos clientes estava superando a expectativa, o que foi um fator determinante para que os sócios majoritários de comum acordo elegessem meu nome para que ocupasse a posição de chefe do setor penal aqui em Washington.

            E aqui estou eu.

            Não vou negar que usei a oportunidade que a proposta do senhor Mackenzie me ofereceu para fugir, mas também estou orgulhosa de mim mesma, que com apenas vinte e dois anos, já ocupar um cargo de direção e estar firmando meu nome como uma das maisbem sucedidas advogadas do escritório.

            A vida é engraçada às vezes.

            Por um lado, meu mundo está desmoronando com a possibilidade de uma gravidez que não foi desejada e a traição vil do homem que sempre amei, mas andando na contramão de tudo isso, minha carreira vai de vento em popa com um futuro promissor.

            Mas é como dizem... não se pode ter tudo.

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