Pedro Souza fez uma pausa: — Tudo bem. Eu tirei uma foto do quadro com o celular, te mando em breve. — Não precisa, já decorei tudo. Garanto que vou fazer uma cópia idêntica. Pedro Souza ficou em silêncio por um instante e, com a voz bem suave, disse: — Você continua tão esperta. O coração de Camila deu um salto. — O que você disse? Pedro Souza riu levemente e, então, elevou o tom da voz: — Eu disse que você é mais esperta do que eu imaginava. Camila achou que talvez tivesse escutado errado, então respondeu casualmente: — Hábito desde criança... A prática leva à perfeição. — Você pode colocar a sua assinatura na cópia. Eu acredito que, no futuro, você será muito famosa. E, quando isso acontecer, a sua versão de " Barqueiros à Beira do Rio " vai se valorizar ainda mais. — Você me lisonjeia. — Disse Camila, mas, por dentro, sentiu-se imensamente satisfeita por ser reconhecida. Depois de desligar, Camila foi para o escritório e pendurou um aviso de "Não Perturbe"
Camila imaginou que ele poderia estar irritado, então apressou-se em explicar: — A pintura estava no escritório dele e foi comprada por um cliente por treze milhões. Ele me transferiu o milhão a mais, eu quis devolver, mas ele recusou e sugeriu que nos encontrássemos para um jantar. Eu recusei educadamente e ofereci a ele uma nova cópia de "Barqueiros à Beira do Rio". Mas ele insistiu no jantar, e eu não consegui evitar. Por isso, pensei em te chamar. Se você não puder ir, posso convidar a Vanessa para me acompanhar. Antes mesmo de ela terminar de falar, Lucas respondeu pelo telefone: — Eu posso ir. Camila sorriu suavemente. — Obrigada. No dia seguinte, às seis da tarde. Camila e Lucas chegaram ao restaurante privado escolhido por Pedro Souza. Dizia-se que o dono desse restaurante tinha ancestrais que cozinharam para a realeza. Eles só atendiam oito mesas por dia, com oito pratos por mesa, sem aceitar pedidos adicionais ou modificações no menu. O lugar era um sucesso es
Camila percebeu que Lucas ainda não estava muito satisfeito, então espetou outro bolinho de bacalhau e o ofereceu, sorrindo: — Você tem trabalhado bastante ultimamente, coma mais um pouco. Lucas não recusou, abriu a boca e mordeu o bolinho com uma delicadeza calculada, mastigando devagar enquanto sua expressão aos poucos voltava ao normal. Camila soltou um suspiro de alívio, sentindo que havia superado aquela pequena crise. Antes de chegar ao restaurante, ela jamais imaginaria que Lucas, sempre tão elegante, cortês e impecável em sua postura, poderia ser tão insistente. Ele, um magnata dos negócios conhecido por sua inteligência e finesse, comportava-se como um jovem apaixonado, cheio de ciúmes. Algo completamente fora do comum. Enquanto Camila ponderava sobre a situação, Lucas pegou um pedaço de carne wagyu e o aproximou dos lábios dela, olhando-a com ternura e dizendo suavemente: — Você andou passando noites em claro pintando, precisa se alimentar bem. Camila se sentiu
Pedro Souza manteve um tom completamente indiferente: — Não faço ideia do que você está falando. O olhar de Lucas pousou no cigarro entre os dedos de Pedro Souza, seus olhos ganhando um brilho intrigante. Ele abriu os lábios, dizendo calmamente: — Camila é minha esposa. Não importa qual seja o seu sobrenome, não se meta com ela. Pedro Souza deu de ombros com um sorriso desafiador: — Está com medo de quê? O olhar de Lucas se estreitou, e a tensão ao seu redor tornou-se palpável. Pedro Souza sorriu, mas havia uma ameaça oculta por trás daquele sorriso. Lucas também sorriu, tirando o cigarro do cinzeiro e soltando a fumaça. Com um tom despreocupado, disse: — Foi a Camila quem me chamou para vir hoje. Você viu como ela se importa comigo. Sua voz soou mais grave, um leve sorriso nos lábios, mas era impossível decifrar suas emoções. Pedro Souza parou por um instante, recolhendo o sorriso. — Cuide bem dela. Dizendo isso, empurrou a cadeira e se levantou para ir embora.
Camila passou dois meses seguidos fazendo fisioterapia na mão esquerda. A flexibilidade estava quase completamente recuperada, então ela voltou ao Antiquário do Tesouro. Assim que entrou, viu César, o avaliador da loja, segurando uma enorme lupa enquanto examinava uma pintura a óleo sobre o balcão, tentando verificar sua autenticidade. Camila passou e deu uma olhada casual. Era uma pintura dos girassóis de Pinto. Desde pequena, ela praticava desenho, começando justamente pelas cópias dos girassóis de Pinto. Apenas um olhar era suficiente para ter uma ideia. César ajustou os óculos no nariz e perguntou ao vendedor da pintura: — Quanto você quer por ela? O vendedor, um homem de meia-idade com os ombros encolhidos, respondeu: — Este é um quadro dos girassóis de Pinto, uma herança de família. Se não fosse por necessidade, eu nunca o venderia. Já pesquisei os preços em leilões passados, e não saem por menos de três milhões. Em outras palavras, não aceitaria menos que isso.
César ficou com o rosto subitamente sombrio, enquanto sentia um suor frio escorrer pelas costas. Ainda bem que Camila chegou a tempo; do contrário, ele teria cometido um erro grave. Se tivesse comprado aquela pintura milionária, teria perdido tudo. E o pior: sua reputação no mercado estaria arruinada para sempre. Quando Camila começou a trabalhar na loja, o dono havia dito a César para consultá-la sempre que não tivesse certeza sobre algo. Ele não gostou muito da ideia na época, mas agora, estava completamente convencido da sua competência. César, encurvando os ombros, perguntou: — Como você percebeu? Camila deu um sorriso discreto. A pintura, embora tivesse tela e técnica autênticas, apresentava pequenos fiapos que não haviam sido removidos corretamente. No entanto, ela não mencionou isso e apenas disse de forma leve: — Intuição. Desde criança lido com pinturas a óleo, e apesar de jovem, já trabalho na área há quase vinte anos. Às vezes, só de bater o olho, já sinto que al
Camila estava pálida, os lábios sem cor, e permanecia de pé como uma folha frágil ao vento. Apesar de ser uma tarde ensolarada de abril, ela sentia como se estivesse em um inverno rigoroso, com frio gelando todo seu corpo, a ponto de seus dentes rangerem involuntariamente. Seu coração se apertava tanto que ela mal conseguia respirar. Eles haviam combinado que Lucas manteria distância de Chloe. Mas ele estava lá, segurando-a nos braços, entrando apressado no carro. Tão apressado, tão urgente. Ela estava bem ali, na entrada, num lugar bem visível, e ele sequer a notou. — Sra. Camila? O motorista chamou duas vezes. Camila não respondeu. O motorista se abaixou, pegou o celular caído no chão, verificou rapidamente e entregou para ela: — Sra. Camila, seu celular. Camila pegou o aparelho de forma automática, ainda atordoada. O motorista, observando atentamente seu semblante, falou com cautela: — Senhora, acho que a Chloe se machucou. Foi por isso que o Sr. Lucas a carregou.
Camila assentiu, seus belos olhos marejados e brilhantes olhando para ele: — Eu acredito em você. Os cantos da boca de Lucas se curvaram em um leve sorriso. Por um instante, ele teve vontade de abraçá-la, mas, por conta dos funcionários por perto, conteve-se. Ele segurou a mão dela firmemente entre as suas e disse: — Quando chegar em casa, me liga. Se quiser comer alguma coisa, peça para Renata preparar. Em outro dia, quando eu tiver mais tempo, saímos para jantar. Camila concordou: — Tudo bem. — Vai para casa, então. Ele soltou a mão dela. — Tá bom. Camila se virou para ir embora, mas parou de repente, seu olhar endurecendo ao ver Enzo e Daulo se aproximando apressados. De longe, o olhar afiado de Enzo já a perfurava como uma lança gelada, atingindo seu coração como uma estaca de gelo. Camila sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Daulo, por outro lado, tinha um olhar que parecia uma lâmina, cortando sua pele com um desconforto insuportável. Algumas pessoas ti