Mas, enquanto dormia, ela tinha algo de adorável. Pelo menos, para Lucas, era assim que parecia. Ele a observava com ternura, achando que ela parecia um bebê que precisava ser cuidado e protegido.Ele fitou os olhos fechados de Camila e, em um tom baixo, quase ameaçador, murmurou:— Não quero ouvir você chamando o Pedro nos seus sonhos. Se fizer isso, vou te abandonar de vez.Apesar das palavras duras, seu coração estava repleto de doçura. Se fosse mesmo para abandoná-la, ele não teria atravessado o país em um voo noturno só para vê-la.Ele inclinou-se, beijou os lábios dela e encostou sua testa na dela. Ficou assim por um longo tempo antes de fechar os olhos e também adormecer.Aquela foi uma noite de sono tranquila para Camila.Quando abriu os olhos na manhã seguinte, a primeira coisa que viu foi o rosto de Lucas. Sua estrutura óssea impecável, o nariz aristocrático e o ângulo perfeito do maxilar faziam dele um homem de beleza quase escultural.Ainda meio sonolenta, Camila demorou al
Ao ouvir as palavras de Camila, Joaquim arregalou os olhos, surpreso:— É sério? Você realmente terminou a pintura?— Sim. — Camila respondeu com sinceridade. — Fiquei emocionada só de olhar para ela. Tive vontade de chorar. Em quase vinte anos pintando, foi a primeira vez que senti algo assim.Camila, normalmente tão discreta e humilde, raramente elogiava seus próprios trabalhos. Mas naquela manhã, ela abriu uma exceção. Não era autopromoção, era apenas uma descrição honesta de suas emoções.Joaquim estava tão empolgado que sua voz até falhou:— Rápido! Traga a pintura para eu ver!— Ainda não mandei emoldurar. — Respondeu Camila.Joaquim, ansioso, disse rapidamente:— Não tem problema! Traga assim mesmo. Se eu gostar, vou cuidar de tudo, inclusive da moldura.— Tudo bem. Onde nos encontramos?— Venha à minha casa. Vou te enviar o endereço.— Certo. Chego aí em uma hora.Depois de desligar o telefone, Camila foi se arrumar. Ela lavou o rosto, trocou de roupa e, após comer algo rápido,
Tânia jogou sua bolsa no sofá e olhou para o pai com curiosidade:— Pai, o que aconteceu? Você parece muito animado.Joaquim, ainda emocionado, esfregou os olhos como se quisesse conter as lágrimas:— Camila terminou a pintura dela. Está simplesmente incrível. Uma obra-prima! Estou indo pegar o talão de cheques para pagar o restante.Ao ouvir o pai elogiar Camila com tanto entusiasmo, Tânia sentiu um incômodo imediato. Seu rosto endureceu, e sua voz saiu mais ríspida do que pretendia:— É só uma pintura. Não precisa exagerar, né?— Não, você não entende. — Joaquim respondeu, apressado. — A pintura é excepcional! Algo que raramente se vê. O cliente adorou.Ele abriu sua pasta, pegou o talão de cheques e começou a assinar. Mas, antes que pudesse completar a assinatura, Tânia arrancou a caneta de suas mãos:— Pai, você está louco? Ela é a ex-mulher do Lucas. Por que está ajudando ela?Joaquim a olhou com o cenho franzido, confuso:— E o que tem isso? A pintura dela é incrível. Além disso,
Camila sentia que aquela pintura era, de longe, a melhor de toda a sua carreira nos últimos dez anos. A composição era perfeita, os detalhes, incrivelmente realistas, e a obra transbordava vida, cor e emoção. Contudo, foi completamente rejeitada por Joaquim e seu cliente. Por um instante, ela chegou a duvidar de suas próprias habilidades.Com muito esforço, conseguiu enrolar a tela. Segurando-a com cuidado, Camila deixou a casa da família Salimo. Quando voltou ao Condomínio Hipicus, o céu já estava escuro.No estúdio, Camila sentou-se sozinha em sua poltrona, à penumbra. Parecia uma árvore que havia sido atingida por um raio, despojada de sua vitalidade e esplendor. Não acendeu a luz. Ficou ali, imóvel, com a postura curvada, algo raro para quem sempre mantinha a coluna reta e elegante.O peso daquela rejeição esmagava seu coração. Era como se o chão tivesse desaparecido sob seus pés, e um vazio imenso tomasse conta dela.Renata, preocupada, subiu para chamá-la para o jantar:— Srta. C
O André hesitou por um momento antes de responder:— Sr. Lucas, ouvi dizer que Gustavo é uma pessoa de difícil acesso. Ele não costuma aceitar encontros com quem não conhece bem.Lucas respondeu com um tom tranquilo:— Tudo bem. Deixe comigo.Após encerrar a ligação, Lucas ficou em silêncio por alguns segundos, pensando. Em seguida, ele pegou o celular novamente e ligou para o avô.Quando a chamada foi atendida, ele foi direto ao ponto:— Vovô, o senhor conhece um homem chamado Gustavo Baptista? Ele tem cerca de setenta anos, mora nos Estados Unidos, mas é brasileiro, e é apaixonado por arte, especialmente pelas pinturas de Vivic.O Sr. Costa demorou alguns segundos antes de responder:— Sim, conheço. Tive alguns negócios com ele no passado. Por que pergunta?— Vocês têm algum tipo de relação?— Algo assim. Há mais de trinta anos, ajudei ele em um problema sério.— Um problema grande?— Nem grande, mas não pequeno.Esse significado era um favor grande.Lucas assentiu, satisfeito com a
Camila não reagiu imediatamente. Precisou de um tempo para digerir tudo. Seu coração, antes apagado, de repente se encheu de vida, como uma borboleta à beira da morte que, inesperadamente, volta a bater as asas. Seus olhos, antes opacos, recuperaram o brilho. Ela inclinou a cabeça e olhou para Lucas: — É verdade o que você disse? Aquele homem gostou mesmo do meu quadro? Lucas soltou uma risada leve:— Gostou. Quando soube que você não queria vendê-lo, ficou especialmente desapontado. Camila entendeu tudo. Fora Joaquim quem mentira para ela, fazendo-a duvidar de si mesma por um bom tempo. Lucas apertou de leve suas bochechas claras e brincou: — Uma coisinha de nada e você fica assim, como se o mundo tivesse acabado. Até deixou de comer! Camila revirou os olhos para ele, irritada, mas sem dizer nada. Lucas deu um sorriso de canto. Levantou-se, caminhou até a mesa de trabalho, desenrolou o quadro e, com os olhos atentos, comentou:— Olha só, este quadro está impressionante.
Gustavo esfregou os olhos e colocou seus óculos de leitura. Estendeu a mão para o assistente, que, percebendo imediatamente o pedido, entregou-lhe uma lupa de alta potência com uma moldura antiga e elegante. Com a lupa em mãos, Gustavo começou a examinar o quadro minuciosamente. Ele analisou de cima a baixo, das montanhas às figuras humanas. Enquanto observava, balançava a cabeça afirmativamente e murmurava: — Traços profundos, vigorosos. É exatamente o estilo que Vivic dominava. Parece até que ele mesmo pintou isso. Ao terminar, pousou a lupa sobre a mesa e, com um olhar penetrante, voltou-se para Camila: — Menina, foi você quem pintou este quadro? Camila sorriu levemente:— Sim, fui eu. Gustavo estreitou os olhos, examinando-a com desconfiança:— Você não parece ter muita idade, não é? — Tenho vinte e três anos. — Respondeu ela com naturalidade. A dúvida em Gustavo aumentou ainda mais:— Uma jovem tão nova com uma técnica tão apurada... Não está tentando me enganar, e
Gustavo sorriu com gentileza:— Não precisa agradecer. Você mereceu cada centavo.Camila segurava o cheque enquanto se sentava novamente. Quando seus olhos pousaram no valor, ela ficou completamente atônita.Dez milhões de dólares! Nem mesmo muitos dos pintores mais renomados do mundo atingiam cifras como essa.Camila, sendo extremamente honesta, não conseguiu evitar e perguntou:— Sr. Gustavo, o senhor não se enganou no valor?Antes, Joaquim havia oferecido quinze milhões de reais, e ela já achava aquilo um preço exorbitante. Agora, Gustavo havia ido ainda mais longe.Gustavo soltou uma risada calorosa:— Não, não me enganei. São dez milhões de dólares. Sua pintura vale isso. Você é muito jovem, mas já alcançou um nível de talento que poucos conseguem. Tenho certeza de que seu futuro será brilhante.— Ainda assim, é um valor muito alto... — Camila respondeu, hesitante.Gustavo passou os dedos pelo queixo, pensativo, e respondeu com um sorriso:— Não é alto. É raro eu me encantar tanto