Camila não reagiu imediatamente. Precisou de um tempo para digerir tudo. Seu coração, antes apagado, de repente se encheu de vida, como uma borboleta à beira da morte que, inesperadamente, volta a bater as asas. Seus olhos, antes opacos, recuperaram o brilho. Ela inclinou a cabeça e olhou para Lucas: — É verdade o que você disse? Aquele homem gostou mesmo do meu quadro? Lucas soltou uma risada leve:— Gostou. Quando soube que você não queria vendê-lo, ficou especialmente desapontado. Camila entendeu tudo. Fora Joaquim quem mentira para ela, fazendo-a duvidar de si mesma por um bom tempo. Lucas apertou de leve suas bochechas claras e brincou: — Uma coisinha de nada e você fica assim, como se o mundo tivesse acabado. Até deixou de comer! Camila revirou os olhos para ele, irritada, mas sem dizer nada. Lucas deu um sorriso de canto. Levantou-se, caminhou até a mesa de trabalho, desenrolou o quadro e, com os olhos atentos, comentou:— Olha só, este quadro está impressionante.
Gustavo esfregou os olhos e colocou seus óculos de leitura. Estendeu a mão para o assistente, que, percebendo imediatamente o pedido, entregou-lhe uma lupa de alta potência com uma moldura antiga e elegante. Com a lupa em mãos, Gustavo começou a examinar o quadro minuciosamente. Ele analisou de cima a baixo, das montanhas às figuras humanas. Enquanto observava, balançava a cabeça afirmativamente e murmurava: — Traços profundos, vigorosos. É exatamente o estilo que Vivic dominava. Parece até que ele mesmo pintou isso. Ao terminar, pousou a lupa sobre a mesa e, com um olhar penetrante, voltou-se para Camila: — Menina, foi você quem pintou este quadro? Camila sorriu levemente:— Sim, fui eu. Gustavo estreitou os olhos, examinando-a com desconfiança:— Você não parece ter muita idade, não é? — Tenho vinte e três anos. — Respondeu ela com naturalidade. A dúvida em Gustavo aumentou ainda mais:— Uma jovem tão nova com uma técnica tão apurada... Não está tentando me enganar, e
Gustavo sorriu com gentileza:— Não precisa agradecer. Você mereceu cada centavo.Camila segurava o cheque enquanto se sentava novamente. Quando seus olhos pousaram no valor, ela ficou completamente atônita.Dez milhões de dólares! Nem mesmo muitos dos pintores mais renomados do mundo atingiam cifras como essa.Camila, sendo extremamente honesta, não conseguiu evitar e perguntou:— Sr. Gustavo, o senhor não se enganou no valor?Antes, Joaquim havia oferecido quinze milhões de reais, e ela já achava aquilo um preço exorbitante. Agora, Gustavo havia ido ainda mais longe.Gustavo soltou uma risada calorosa:— Não, não me enganei. São dez milhões de dólares. Sua pintura vale isso. Você é muito jovem, mas já alcançou um nível de talento que poucos conseguem. Tenho certeza de que seu futuro será brilhante.— Ainda assim, é um valor muito alto... — Camila respondeu, hesitante.Gustavo passou os dedos pelo queixo, pensativo, e respondeu com um sorriso:— Não é alto. É raro eu me encantar tanto
Pedro tocou a campainha, e o assistente de Gustavo veio abrir a porta.Já dentro da suíte, Pedro colocou a maleta sobre a mesa, digitou a senha e abriu a caixa:— Sr. Gustavo, aqui está o item que o senhor pediu. Espero que goste.Gustavo deu uma olhada rápida e sorriu satisfeito. Era uma peça de porcelana chinesa que havia pertencido a Dom João VI.— Excelente. Muito obrigado, Pedro. — Gustavo então ergueu o olhar e perguntou. — Pelo telefone, você mencionou que precisava falar comigo sobre algo.Pedro sorriu de leve, sempre com a expressão controlada:— Soube que o senhor estava à procura de uma reprodução da A Moça Junto ao Ribeiro. Tenho uma amiga que fez uma cópia impressionante. Mas, pelo visto, ela já esteve aqui com o senhor, então acho que minha ajuda não será necessária.Gustavo, que já tinha experiência suficiente para ler nas entrelinhas, entendeu imediatamente. Ele riu:— Ah, entendi. Você está falando da jovem que acabou de sair. Uma garota incrível. Vou te dizer, ela é a
Joaquim estava tão irritado que mal conseguia respirar. Com a mão no peito, tentava aliviar a pressão enquanto respirava com dificuldade. Seu rosto estava vermelho e contorcido de raiva.Tânia ficou paralisada. Nunca em toda a sua vida o havia visto tão fora de si. Levantou-se, aproximou-se dele e começou a massagear seu peito na tentativa de acalmá-lo. Em um tom quase suplicante, disse: — Pai, por que ficar tão nervoso? Faz mal para a saúde. É só um cliente! O senhor tem tantos... Perder um não vai fazer diferença.Joaquim afastou a mão dela com um gesto brusco:— Besteira! Gustavo não é um cliente qualquer. Ele movimenta mais de cem milhões por ano comigo! E o lucro em antiguidades é enorme, praticamente dividido meio a meio! Ao ouvir o número, Tânia ficou sem palavras. De fato, era uma perda significativa. Tentando justificar-se, retrucou:— Mas por que o senhor não me avisou antes? Eu achei que era só uma questão de um quadro. Joaquim jamais imaginou que Camila descobriria qu
Ao descerem do carro, Camila e Lucas carregaram as sacolas com roupinhas de bebê, brinquedos e outros presentes que haviam comprado. Pararam em frente à porta, bateram e logo foram recebidos. A esposa de Raquel estava no sofá, com o bebê no colo, assistindo televisão. Uma babá cuidava das tarefas da casa e da alimentação. A casa era nova, ampla e bem iluminada. Era evidente que Lucas havia providenciado tudo. Depois de algumas trocas de gentilezas, Camila deixou os presentes sobre a mesa e se sentou ao lado da mulher. Seus olhos foram imediatamente atraídos pelo bebê em seus braços. Sentiu uma curiosidade natural, mas também um aperto no peito. Se não tivesse perdido o próprio filho, em alguns meses ela também teria um bebê adorável como aquele nos braços. Mas a vida não permite "e se". Vendo o interesse de Camila, a esposa de Raquel sorriu:— Quer segurar? Camila hesitou por um momento, mas acabou pegando o bebê com cuidado. Ele era tão pequenino, tão frágil, que ela o segur
Ao ouvir Sra. Costa gritar daquele jeito, Enzo não ousou perder tempo. Ele delegou a reunião para seu assistente e saiu da empresa às pressas. No menor tempo possível, chegou à casa da família. Assim que passou pelo portão do casarão, avistou Sra. Costa no pátio, apoiada em sua bengala. Seus olhos estavam arregalados e seu semblante transbordava fúria. Ela sempre foi vaidosa e teimosa, odiando aparentar fragilidade. Usar bengala era algo que evitava a todo custo, mas, naquele dia, parecia não se importar. A bengala, adornada com rubis, era um presente de Enzo de três anos atrás. Percebendo que algo estava fora do normal, Enzo esboçou um sorriso forçado enquanto se aproxima:— Mãe, o que aconteceu? Por que tanto nervosismo de repente? Sra. Costa estava prestes a explodir, mas seus olhos captaram um detalhe que a deixou ainda mais irritada: Enzo segurava uma garrafa de vidro comprida em uma das mãos. Ela ergueu o queixo, ainda mais indignada:— Você aparece aqui com um vidro ridí
Enzo esfregou o braço dolorido com calma e respondeu:— Eles já se divorciaram faz tempo. Foi a Camila que pediu, então a senhora não precisa se preocupar mais com isso. Sra. Costa ficou atônita. Seu olhar mudou de imediato, revelando tristeza, pena e uma expressão de profunda mágoa. Parecia perdida em seus próprios pensamentos. Depois de um longo silêncio, recuperou a compostura, apoiou uma das mãos na cintura e lançou um olhar fulminante para Enzo:— Com certeza foi você quem forçou a Camila a pedir o divórcio! Enzo, com um tom sarcástico, retrucou:— Dessa vez, eu juro que não. Foi ela quem pediu um bilhão para ir embora. E, pelo que vi, saiu bem feliz. Sra. Costa hesitou por um momento, parecendo desconfiada, mas manteve o tom firme:— Com um traste como você, eu também pegaria o dinheiro e sumiria! Enzo soltou uma risada cínica:— Não entendo vocês. Camila é claramente uma garota fútil e interesseira, mas todos vocês insistem em defendê-la como se fosse um anjo.Sra. Costa