Ana levou um susto tremendo e imediatamente pisou com força no freio. O som agudo dos pneus derrapando foi tão alto que pareceu perfurar seus ouvidos. Por pouco ela não colidiu com o veículo à frente. Com o coração disparado e o peito arfando, Ana deitou sobre o volante, sentindo o pavor dominar seu corpo. Estava assustada, com raiva e apavorada ao mesmo tempo. No entanto, o motorista da van à frente não deu sinal de vida. Nem um pedido de desculpas, nenhuma reação.Ana ficou furiosa. Abaixou o vidro e gritou para o veículo:— Tá maluco? Tá com pressa pra morrer? Se quiser, é só falar!Do lado de dentro da van, o silêncio permanecia. Ninguém respondia. Acostumada a ser mimada e sempre levada em consideração, Ana não podia suportar aquele tipo de desrespeito. E pior ainda, vindo de alguém que dirigia uma velha van! Um motorista de uma van caindo aos pedaços ousando ignorá-la? Um absurdo!Sua raiva subiu à cabeça como um relâmpago. Em momentos de fúria, a racionalidade desaparece. Ela ab
Quando Ana foi encontrada, estava semidespida, desabada ao lado de uma lixeira. Parecia um frango congelado exposto no refrigerador de um supermercado. Seu corpo estava pálido como a morte, e seus olhos, opacos e cheios de desespero.Ela foi levada ao hospital, onde os exames revelaram uma costela quebrada, lacerações pelo corpo, múltiplos hematomas e uma leve concussão. O médico sugeriu chamar a polícia, mas Ana recusou veementemente, envergonhada demais para permitir.Daulo recebeu a ligação e foi ao hospital vê-la. Assim que colocou os olhos naquela cena de humilhação, seu rosto ficou sombrio. A pressão arterial subiu como um foguete.— Vamos chamar a polícia! Vou pegar aqueles desgraçados e arrancar a pele deles! — Rugiu Daulo, em fúria, ameaçando explodir.Ana, entre soluços, balançava a cabeça desesperadamente:— Deixa pra lá, por favor. Eu não posso suportar essa vergonha. Se chamarmos a polícia, isso vai virar um escândalo, e como vou encarar as pessoas depois?Antes do ocorrid
Uma semana depois, Camila terminou a restauração da pintura. Em seguida, ligou para Vanessa e pediu que enviasse alguém para buscar o quadro e levá-lo ao museu onde seria exposto. Só de pensar que em breve veria a obra que restaurou no museu, com seu nome registrado na seção de restauração, sentiu uma grande satisfação. Aquela pintura seria passada de geração em geração, e ela teria sua contribuição eternizada.Imaginou o futuro, quando pudesse levar seus filhos ao museu e dizer: “Foi a mamãe quem restaurou essa obra”. Só de pensar nisso, um sorriso de orgulho apareceu em seu rosto. Ao lembrar-se de filhos, Camila instintivamente passou a mão sobre o ventre liso. Já fazia algum tempo que estava tentando engravidar, mas até agora nada. Contudo, sabia que isso não era algo que se podia apressar.Agora, ela se preparava para aprender a restaurar cerâmica com Afonso. Sabia que seria um processo longo e difícil, algo que não poderia dominar em pouco tempo.Camila marcou um encontro com Dan
— Você não me deixa ver esse, não me deixa ver aquele, nem viajar a trabalho. Você tem uma necessidade de controle muito forte. Assim fica difícil respirar. Eu sou uma pessoa independente, preciso trabalhar, ter uma vida social normal. Não dá mais para viver como antes, sempre ao seu redor.Lucas ficou em silêncio por um momento, com um sorriso leve no rosto:— Eu sou muito aberto. Você quis ter aulas com o Afonso, eu não te impedi.Claro que não, Afonso já tinha mais de oitenta anos.Camila não conseguiu segurar o riso:— Tá bom, você é bonito, então tudo que você diz está certo.— Cancelei meu compromisso de hoje à noite. Daqui a pouco, te pego lá em baixo. Come logo.Camila deu um murmúrio de resposta e desligou o telefone. Foi até a recepção, pagou a conta e voltou ao quarto para continuar jantando com Daniel.Mal tinha comido mais alguns pedaços quando chegou outra mensagem de Lucas no WhatsApp. Sem dizer nada, ele enviou apenas um emoji sorrindo.Antigamente, ele nunca mandava em
Nesse dia, Camila acordou bem cedo.O motorista a levou até o Pavilhão Antiga, uma loja de antiguidades localizada na cidade velha, que era administrada por Afonso. O lugar se especializava em porcelanas chinesas, pedras preciosas, jade, pinturas e outras obras de arte.Naquele dia, Afonso havia escolhido uma data especial, ideal para o ritual de aceitação de um discípulo, um ato que para ele, como parte da velha guarda, era algo de extrema importância.Para isso, ele até chamou um testemunha, Damio, para presenciar o evento.Quando a hora auspiciosa chegou, Afonso estava sentado com postura firme em sua cadeira no escritório.Damio anunciou em voz alta:— Vamos dar início ao ritual de aceitação do mestre.Camila, segurando o papel de juramento de discípula em mãos, começou a ler em voz alta. Terminada a leitura, fez uma reverência respeitosa para Afonso.Após beber o café que ela lhe ofereceu, Afonso colocou a xícara na mesa ao lado e, em seguida, tirou de seu bolso um cartão e o entr
Ao ver Camila, os olhos de Pedro brilharam com uma leve surpresa, mas ele manteve a expressão indiferente. Com um sorriso suave, perguntou:— O que você está fazendo na loja do Sr. Afonso? Eu lembro que você trabalhava no Antiquário do Tesouro.Camila curvou os lábios em um sorriso e respondeu:— Hoje mesmo me tornei discípula do Sr. Afonso.Pedro ficou ainda mais surpreso:— Pouco tempo atrás, eu pedi para ser discípulo dele, mas ele não quis me aceitar. E agora ele te aceitou... Parece que você tem mais prestígio que eu.Afonso, acariciando a barba, respondeu devagar:— Essas coisas de aceitar discípulos dependem muito da conexão que sentimos. Desde o primeiro instante que vi a Camila, soube que ela seria minha discípula.Pedro sorriu de canto:— Quando o senhor fala, não tem como discutir. Camila, venha dar uma olhada nesse vaso.— Certo.Camila colocou as luvas brancas da loja e, com cuidado, pegou o vaso de dragão das mãos de Pedro, colocando-o sobre o veludo do balcão.Ela pegou
Os documentos caíram no chão com um barulho estrondoso. A secretária, que estava entrando com uma bandeja de café, deu um leve pulo de susto ao ver a cena. Rapidamente, colocou o café sobre a mesa e se abaixou para recolher os papéis.Enquanto os colocava de volta na mesa, ela observou cautelosamente a expressão de Lucas. Embora seu rosto estivesse impassível, sem demonstrar emoções, havia uma frieza sombria em seu olhar, como se sob a superfície calma, uma tempestade estivesse prestes a se formar.A secretária não ousou dizer nada. Com um tom humilde, disse apenas:— Sr. Lucas, seu café.Lucas levantou as pálpebras, lançando um olhar gélido para a xícara de café, mas não respondeu.A secretária prendeu a respiração e, em passos leves, começou a sair da sala, com medo de que qualquer som mais alto pudesse irritá-lo ainda mais.No caminho para a porta, ouviu Lucas pegar o celular e discar um número. Sua voz ao falar ao telefone foi um contraste inesperado, suave e calorosa, como uma bri
Meia hora depois, Camila chegou à casa da mãe. Ainda nem tinha alcançado a porta quando ouviu barulhos altos lá de dentro, objetos sendo arremessados e quebrados. Vozes exaltadas, um homem gritando e sua mãe respondendo aos berros. O medo de que sua mãe estivesse em perigo fez seu coração acelerar.Com as mãos trêmulas, Camila pegou a chave e abriu a porta. Ao entrar, a cena no interior da casa era de caos total. A sala estava virada de ponta cabeça. Havia cacos de vidro por todo lado, almofadas e o controle remoto jogados no chão, frutas espalhadas. As cadeiras estavam tombadas, o sofá e a mesa de centro deslocados de seus lugares.Maria, com os cabelos desgrenhados e as roupas desalinhadas, estava de pé, enfrentando um homem desconhecido, que, com as mãos na cintura, ameaçava:— Me dá meio milhão, ou não me responsabilizo pelas consequências!Maria, com os olhos vermelhos de raiva, gritou:— Pode esquecer! Não vou te dar um centavo!Eles estavam tão envolvidos na briga que nem perceb