Os documentos caíram no chão com um barulho estrondoso. A secretária, que estava entrando com uma bandeja de café, deu um leve pulo de susto ao ver a cena. Rapidamente, colocou o café sobre a mesa e se abaixou para recolher os papéis.Enquanto os colocava de volta na mesa, ela observou cautelosamente a expressão de Lucas. Embora seu rosto estivesse impassível, sem demonstrar emoções, havia uma frieza sombria em seu olhar, como se sob a superfície calma, uma tempestade estivesse prestes a se formar.A secretária não ousou dizer nada. Com um tom humilde, disse apenas:— Sr. Lucas, seu café.Lucas levantou as pálpebras, lançando um olhar gélido para a xícara de café, mas não respondeu.A secretária prendeu a respiração e, em passos leves, começou a sair da sala, com medo de que qualquer som mais alto pudesse irritá-lo ainda mais.No caminho para a porta, ouviu Lucas pegar o celular e discar um número. Sua voz ao falar ao telefone foi um contraste inesperado, suave e calorosa, como uma bri
Meia hora depois, Camila chegou à casa da mãe. Ainda nem tinha alcançado a porta quando ouviu barulhos altos lá de dentro, objetos sendo arremessados e quebrados. Vozes exaltadas, um homem gritando e sua mãe respondendo aos berros. O medo de que sua mãe estivesse em perigo fez seu coração acelerar.Com as mãos trêmulas, Camila pegou a chave e abriu a porta. Ao entrar, a cena no interior da casa era de caos total. A sala estava virada de ponta cabeça. Havia cacos de vidro por todo lado, almofadas e o controle remoto jogados no chão, frutas espalhadas. As cadeiras estavam tombadas, o sofá e a mesa de centro deslocados de seus lugares.Maria, com os cabelos desgrenhados e as roupas desalinhadas, estava de pé, enfrentando um homem desconhecido, que, com as mãos na cintura, ameaçava:— Me dá meio milhão, ou não me responsabilizo pelas consequências!Maria, com os olhos vermelhos de raiva, gritou:— Pode esquecer! Não vou te dar um centavo!Eles estavam tão envolvidos na briga que nem perceb
O olhar de Lucas era afiado como uma lâmina, perfurando Augusto com uma intensidade que fazia qualquer um se encolher. Seu rosto estava tão sombrio que parecia que poderia espremer água dele, e uma aura gelada emanava de sua presença.Augusto se sentiu completamente exposto sob aquele olhar. O desespero tomou conta dele. Ele conhecia Lucas, sempre soube quem ele era. Mas aquela era a primeira vez que o via cara a cara.A presença de Lucas era esmagadora, e sua raiva tornava tudo ainda mais aterrorizante.O pânico invadiu a mente de Augusto. Suas pernas começaram a tremer, e seu instinto foi fugir.Ele girou sobre os calcanhares e tentou correr, mas ao passar por Lucas, sentiu a mão dele agarrar seu braço com firmeza e, num só movimento, foi arremessado contra a parede.Com um baque seco, suas costas colidiram com a parede dura, e a dor o fez suar frio.Antes que pudesse se recompor, Lucas o segurou pelo colarinho e, num piscar de olhos, desferiu um soco direto em seu nariz.A dor foi a
Sentada no banco do passageiro, Maria disse com uma expressão de desgosto: — Ele não é o pai da Camila, não. Ele é um canalha! Camila, confusa, perguntou: — Mãe, por que ele te pediu dinheiro? Maria desviou o olhar por um instante e respondeu: — Ele faliu nos negócios, está endividado até o pescoço e agora não tem mais saída. Camila apertou os lábios levemente e ficou em silêncio. Estava com o nariz sangrando, pressionando um lenço contra ele. Um momento de silêncio se passou. De repente, Maria pareceu se lembrar de algo e alertou: — Camila, se ele for te pedir dinheiro, não dê de jeito nenhum. Não importa o que ele inventar, não acredite. Aquele desgraçado nunca diz a verdade. Tudo o que ele disser, ignore. Entendeu? Camila assentiu. Ela já tinha perguntado antes sobre o pai. Maria sempre evitava falar no assunto. Quando Camila insistia, a mãe ficava irritada. Hoje, pela primeira vez, Maria falou sobre isso, e Camila não conseguiu conter a curiosidade: —
Os olhares de desprezo das pessoas perfuravam Ana como flechas. Ela, sendo uma senhora rica, sempre acostumada a ser mimada e bajulada, nunca tinha passado por algo assim. O desconforto em seu rosto era visível a olho nu.Ela se virou para a empregada que a empurrava e, com um tom cortante, ordenou:— Tá parada aí por quê? Me empurra logo! Fica longe dessa louca, deve ser uma doida varrida!Maria ouviu aquilo. Ela era do tipo que resolvia as coisas na hora. Num movimento rápido, levantou-se, olhou Ana de cima e, em alto e bom som, gritou:— Louca é você! Maluca! Sem vergonha! Rapariga! Vaca!Ana tinha um temperamento passivo-agressivo, acostumada a jogar sujo pelas sombras. Na frente de alguém como Maria, que era barulhenta e direta, ela não tinha chances. Com o rosto pálido de raiva, virou-se para a empregada, ordenando com fúria:— Anda logo! Você tá surda? Eu disse pra me empurrar mais rápido!A empregada, com medo, começou a empurrar a cadeira de rodas de Ana, quase correndo pelos
Depois de Camila comer e tomar o mingau, Lucas perguntou:— Já tomou os remédios?Camila, obediente, assentiu com a cabeça:— Já tomei.— E o tônico de ferro?Camila bateu a palma da mão na testa, rindo:— Esqueci.Nunca tinha ouvido falar em tomar tônico de ferro por causa de um sangramento no nariz.Lucas franziu os dedos e deu um leve peteleco na testa dela:— Sua distraída, onde está o tônico? Eu vou pegar.Camila riu, esfregando a testa:— Está na bolsa, em cima do armário de sapatos, na entrada.Lucas se levantou, foi até o armário, abriu a bolsa e, ao pegar o tônico, notou algo prateado em baixo: uma adaga.Era uma adaga bastante delicada, com um formato incomum. Havia flores entalhadas nela, além de uma linha de letras em inglês. Lucas a retirou e puxou a lâmina, revelando o metal afiado, que brilhava sob a luz.Ele rapidamente reconheceu que não se tratava de uma adaga qualquer. Era uma das facas de combate mais renomadas do mundo, com um poder de destruição extremo. Podia cor
Depois de um dia de descanso, Camila voltou ao Pavilhão Antiga. Pela manhã, Afonso a ensinou o básico de como limpar porcelanas. O processo envolvia o uso de reagentes químicos especiais, e era necessário aprender as proporções corretas. Camila, embora não fosse muito habilidosa no que se tratava de relacionamentos, tinha um talento natural para esse tipo de coisa. A verdade é que Deus era justo. Ele não faria alguém perfeito em tudo. Camila passou a manhã ocupada, e o tempo voou. Após o almoço, Afonso insistiu para que ela fosse à loja de antiguidades ao lado para uma visita. E como Camila não ousava desobedecer as palavras do mestre, ela o acompanhou. Assim que entraram, Afonso ergueu a voz em um chamado:— Nuno! Nuno Miranda! Desce logo! Vou te apresentar minha aluna!A voz de Afonso era tão potente que dava para ouvi-la do andar de cima e de baixo.Ao ouvir a agitação, Nuno saiu da sala de avaliações no andar superior, segurando-se no corrimão, descendo devagar. Camila focou se
Nuno expressou-se com um tom desdenhoso. Afonso ficou imediatamente irritado com aquele desdém. Ele bateu com força na mesa e exclamou: — De qualquer maneira, a Camila agora é minha aluna, e com uma discípula tão talentosa assim, eu me orgulho, me sinto realizado! Camila não pôde evitar e soltou uma risada. Não imaginava que Afonso fosse desse jeito. Ele era extrovertido, extravagante, enérgico, um verdadeiro “velho moleque”, bem diferente do seu avô materno, que sempre foi discreto, reservado e bastante sério. Camila então pegou um vaso inglês do período Elizabethano das mãos do terceiro funcionário. Nem precisou observar com atenção. Ela apontou para o desenho na superfície e disse: — A tinta usada aqui é de pigmentos modernos. Ela virou o vaso para examinar o fundo:— A inscrição na base é muito mecânica, claramente impressa. O olhar de Nuno mudou. Não havia mais desprezo ou desconfiança. Agora, havia admiração. Camila recebeu das mãos do quarto funcionário um pequen