Camila finalmente entendeu que Nuno era o avô de Chloe e que Afonso, por sua vez, era o avô materno dela. Lucas havia pedido que ela não revelasse a Afonso que já era casada, muito menos mencionar o nome dele. Agora tudo fazia sentido.Camila riu por dentro, admirando a astúcia de Lucas. Sem querer, Chloe acabara de sofrer uma grande humilhação. A Chloe estava à beira de explodir, como se tivesse uma espinha de peixe presa na garganta, impossível de remover, e que a fazia sofrer terrivelmente. Seu avô materno, a quem sempre admirou, havia aceitado sua maior rival como discípula e a elogiava como se fosse a pessoa mais talentosa do mundo. Como ela poderia suportar isso?Chloe abaixou-se para pegar a bolsa que havia caído no chão e, com raiva, bateu no couro caro, como se estivesse descontando sua frustração. Ao levantar-se, lançou um olhar cheio de desprezo para Camila.Camila, por sua vez, ergueu levemente o queixo, endireitou os ombros e permaneceu elegante, seu olhar firme e seguro e
Afonso baixou os olhos, olhando para Chloe com uma expressão que nunca tinha sido tão séria:— Eu e Camila fizemos a cerimônia de mestre e aprendiz, e eu tomei o café que ela me ofereceu. Um dia como mestre, para sempre mestre. Esse vínculo é sagrado e não pode ser tratado como brincadeira. Ela não cometeu crime algum, nem fez nada de errado. Se eu a expulsar da minha tutela por um motivo qualquer, todos vão rir de mim.Sua voz era firme, inabalável, como se estivesse fechando todas as portas para qualquer contestação.Terminando de falar, Afonso soltou a mão de Chloe, cruzou os braços nas costas e saiu caminhando para fora.Camila lançou um olhar rápido para Chloe e o seguiu.Eles saíram da loja, Afonso à frente e Camila logo atrás, deixando Chloe furiosa. Seu rosto estava completamente distorcido de raiva. Ela levantou o pé e deu um chute no vaso de flores mais próximo.A árvore favorita de Nuno caiu no chão, espalhando terra por todo lado.Nuno franziu a testa e não conseguiu evitar
Na manhã seguinte, Lucas levou pessoalmente Camila ao Pavilhão Antiga. Ao descerem do carro, ele segurou a mão dela e os dois caminharam lado a lado em direção ao pavilhão. O sol nascente tingia a paisagem com um brilho dourado suave, e Camila sentiu uma estranha nostalgia, como se estivesse sendo levada para a escola pelos pais.Ao entrarem na loja, Afonso estava à janela, entretido com um papagaio. Quando viu Lucas entrar, ele resmungou:— Malandro! Aposto que você já sabia que o mestre da Camila seria eu, não é?Lucas respondeu com um leve sorriso:— Camila se parece muito com a Sra. Lara quando jovem. Ensine-a bem, você não vai se arrepender.Ao ouvir o nome "Lara", algo no íntimo de Afonso se contraiu. Ele ficou em silêncio por um momento, lançando um olhar a Lucas:— Você sabe mesmo onde apertar para doer, hein?Lucas deu um tapinha no ombro de Camila e disse:— Esta jovem é especial. Ela é inteligente, esforçada, leal, e toda nossa família a adora. Aceitá-la como aprendiz é uma
— Eu venho aqui para te lembrar, e com razão, que você não deve favorecer estranhos! — Disse Ana, cheia de convicção.Afonso levantou a xícara de café e tomou um gole, respondendo com calma:— Aceitar um aprendiz é uma decisão minha, e não diz respeito a você.Ana franziu a testa:— A Chloe não gosta da Camila. Você não precisa fazer a Chloe ficar chateada por causa de uma estranha, certo?Afonso soltou uma risada fria:— A Chloe é imatura. E você também não entende nada?Ana lançou um olhar ameaçador para Camila, que estava a uma distância:— A mão da Chloe foi quebrada por alguém que a Camila contratou. Só porque a Chloe deu uma tapa nela, naquela mesma noite, ela mandou alguém esmurrar o rosto da Chloe. Uma menina tão maldosa como essa, você pretende aceitá-la como aprendiz? Não é como convidar um lobo para entrar em casa?As palavras de Ana inflamaram a ira de Camila. Ela olhou friamente para Ana e disse:— Por favor, traga provas. Sem provas, não venha me caluniar!Ana sorriu sarc
O motorista ligou o carro.Chloe apressou-se a se desviar.O carro se afastou bastante, mas ela ainda permanecia parada, com os olhos cheios de rancor fixados no veículo de Lucas, e o rosto pálido.Sentia-se desolada, como se estivesse afundando em um poço gelado.Só se virou lentamente em direção ao Pavilhão Antiga quando o carro desapareceu de vista.Suas pernas tremiam e mal conseguia se manter em pé.Ao entrar na loja, viu Afonso atrás do balcão, segurando uma enorme lupa enquanto examinava um jarro de porcelana com alças.Chloe contorceu a cintura e se aproximou dele, com um tom manhoso:— Avô, o senhor não me ama nem um pouco.Afonso ajustou os óculos de leitura e a olhou com uma expressão neutra:— Se ainda for por causa da Camila, nem comece.As palavras que estavam prestes a sair da boca de Chloe foram sufocadas. Revoltada, disse:— Eu também quero ser sua discípula.Afonso empurrou o jarro para ela e perguntou:— Então, me diga, esse jarro, é verdadeiro ou falso? Que tipo de
Lara, sem dúvida, era uma beldade de tirar o fôlego. Camila, ao vê-la de relance, notou que elas realmente se pareciam um pouco. Especialmente no porte, eram praticamente idênticas. Ela passou os dedos suavemente pela tela do celular, admirando o rosto de Lara, e comentou com sinceridade: — Sra. Lara é realmente linda. Lucas levantou os olhos de leve, lançando um olhar rápido para a foto:— Uma pena. Beleza assim geralmente vem com azar. Camila pensou um pouco antes de dizer: — Lembro da Elisa mencionar que, depois que a filha dela morreu, ela ficou perturbada e acabou enlouquecendo? Lucas murmurou algo, passando a mão pela testa, claramente sem vontade de continuar o assunto. Percebendo a falta de entusiasmo, Camila decidiu não insistir. Ela voltou a olhar para o rosto de Lara na tela, observando por mais algum tempo. Sem saber ao certo o motivo, aquele sorriso de Lara fez Camila sentir uma pontada de tristeza. Suspirou em silêncio: "Uma beleza que foi destruíd
Ao ver Augusto, o rosto de Camila, que já estava calmo, ficou ainda mais sereno. Uma calma que não parecia natural para alguém de sua idade.Ela perguntou, com uma voz fria e distante:— Sr. Augusto, o que o senhor quer?Augusto soltou uma risada irônica:— Não se faça de boba. Naquele restaurante, eu já deixei bem claro. Se você não me der o dinheiro, vou contar para todo mundo aqui na loja o quanto você é egoísta e insensível! E, se isso não bastar, vou para a televisão te expor! Vou te processar no tribunal por não sustentar seu próprio pai!Camila esboçou um leve sorriso, mas era um sorriso amargo. Por dentro, estava triste. Ele realmente tinha destruído todas as suas ilusões sobre a figura paterna.Se ele ao menos mostrasse alguma fraqueza, fingisse estar arrependido... Se derramasse algumas lágrimas e apelasse para o laço de sangue entre eles... Quem sabe, se seu coração amolecesse, ela até poderia ceder. Cinco milhões não eram uma quantia tão grande para ela.Mas ele não. Estava
Augusto achava que Pedro não passava de um ex-soldado, alguém sem importância. Sem medo, ele soltou um xingamento:— Quem é esse moleque que me bateu? Vai me pagar, ouviu? Quebrou o meu osso! Quero cinco milhões, ou não vou te deixar em paz!Pedro, ao longo de sua vida, raramente encontrava alguém que ousasse insultá-lo. E ameaçá-lo ou extorqui-lo, isso era ainda mais incomum.Seu olhar imediatamente se tornou gélido. Sem dizer nada, ele agarrou o braço de Augusto e começou a arrastá-lo para fora da loja. Nem parecia que estava fazendo força.Num piscar de olhos, Augusto já estava do lado de fora.Camila, aflita, correu atrás deles.Augusto, com a cabeça do fêmur machucada, não conseguia ficar de pé. Mesmo assim, Pedro o arrastou por uma boa distância, e as calças dele já estavam rasgadas de tanto esfregar no chão.Pedro continuava puxando Augusto, sem pronunciar uma palavra, em direção a um canto mais isolado. Seus lábios estavam firmemente cerrados, o semblante era rígido como gelo.