O olhar de Lucas era afiado como uma lâmina, perfurando Augusto com uma intensidade que fazia qualquer um se encolher. Seu rosto estava tão sombrio que parecia que poderia espremer água dele, e uma aura gelada emanava de sua presença.Augusto se sentiu completamente exposto sob aquele olhar. O desespero tomou conta dele. Ele conhecia Lucas, sempre soube quem ele era. Mas aquela era a primeira vez que o via cara a cara.A presença de Lucas era esmagadora, e sua raiva tornava tudo ainda mais aterrorizante.O pânico invadiu a mente de Augusto. Suas pernas começaram a tremer, e seu instinto foi fugir.Ele girou sobre os calcanhares e tentou correr, mas ao passar por Lucas, sentiu a mão dele agarrar seu braço com firmeza e, num só movimento, foi arremessado contra a parede.Com um baque seco, suas costas colidiram com a parede dura, e a dor o fez suar frio.Antes que pudesse se recompor, Lucas o segurou pelo colarinho e, num piscar de olhos, desferiu um soco direto em seu nariz.A dor foi a
Sentada no banco do passageiro, Maria disse com uma expressão de desgosto: — Ele não é o pai da Camila, não. Ele é um canalha! Camila, confusa, perguntou: — Mãe, por que ele te pediu dinheiro? Maria desviou o olhar por um instante e respondeu: — Ele faliu nos negócios, está endividado até o pescoço e agora não tem mais saída. Camila apertou os lábios levemente e ficou em silêncio. Estava com o nariz sangrando, pressionando um lenço contra ele. Um momento de silêncio se passou. De repente, Maria pareceu se lembrar de algo e alertou: — Camila, se ele for te pedir dinheiro, não dê de jeito nenhum. Não importa o que ele inventar, não acredite. Aquele desgraçado nunca diz a verdade. Tudo o que ele disser, ignore. Entendeu? Camila assentiu. Ela já tinha perguntado antes sobre o pai. Maria sempre evitava falar no assunto. Quando Camila insistia, a mãe ficava irritada. Hoje, pela primeira vez, Maria falou sobre isso, e Camila não conseguiu conter a curiosidade: —
Os olhares de desprezo das pessoas perfuravam Ana como flechas. Ela, sendo uma senhora rica, sempre acostumada a ser mimada e bajulada, nunca tinha passado por algo assim. O desconforto em seu rosto era visível a olho nu.Ela se virou para a empregada que a empurrava e, com um tom cortante, ordenou:— Tá parada aí por quê? Me empurra logo! Fica longe dessa louca, deve ser uma doida varrida!Maria ouviu aquilo. Ela era do tipo que resolvia as coisas na hora. Num movimento rápido, levantou-se, olhou Ana de cima e, em alto e bom som, gritou:— Louca é você! Maluca! Sem vergonha! Rapariga! Vaca!Ana tinha um temperamento passivo-agressivo, acostumada a jogar sujo pelas sombras. Na frente de alguém como Maria, que era barulhenta e direta, ela não tinha chances. Com o rosto pálido de raiva, virou-se para a empregada, ordenando com fúria:— Anda logo! Você tá surda? Eu disse pra me empurrar mais rápido!A empregada, com medo, começou a empurrar a cadeira de rodas de Ana, quase correndo pelos
Depois de Camila comer e tomar o mingau, Lucas perguntou:— Já tomou os remédios?Camila, obediente, assentiu com a cabeça:— Já tomei.— E o tônico de ferro?Camila bateu a palma da mão na testa, rindo:— Esqueci.Nunca tinha ouvido falar em tomar tônico de ferro por causa de um sangramento no nariz.Lucas franziu os dedos e deu um leve peteleco na testa dela:— Sua distraída, onde está o tônico? Eu vou pegar.Camila riu, esfregando a testa:— Está na bolsa, em cima do armário de sapatos, na entrada.Lucas se levantou, foi até o armário, abriu a bolsa e, ao pegar o tônico, notou algo prateado em baixo: uma adaga.Era uma adaga bastante delicada, com um formato incomum. Havia flores entalhadas nela, além de uma linha de letras em inglês. Lucas a retirou e puxou a lâmina, revelando o metal afiado, que brilhava sob a luz.Ele rapidamente reconheceu que não se tratava de uma adaga qualquer. Era uma das facas de combate mais renomadas do mundo, com um poder de destruição extremo. Podia cor
Depois de um dia de descanso, Camila voltou ao Pavilhão Antiga. Pela manhã, Afonso a ensinou o básico de como limpar porcelanas. O processo envolvia o uso de reagentes químicos especiais, e era necessário aprender as proporções corretas. Camila, embora não fosse muito habilidosa no que se tratava de relacionamentos, tinha um talento natural para esse tipo de coisa. A verdade é que Deus era justo. Ele não faria alguém perfeito em tudo. Camila passou a manhã ocupada, e o tempo voou. Após o almoço, Afonso insistiu para que ela fosse à loja de antiguidades ao lado para uma visita. E como Camila não ousava desobedecer as palavras do mestre, ela o acompanhou. Assim que entraram, Afonso ergueu a voz em um chamado:— Nuno! Nuno Miranda! Desce logo! Vou te apresentar minha aluna!A voz de Afonso era tão potente que dava para ouvi-la do andar de cima e de baixo.Ao ouvir a agitação, Nuno saiu da sala de avaliações no andar superior, segurando-se no corrimão, descendo devagar. Camila focou se
Nuno expressou-se com um tom desdenhoso. Afonso ficou imediatamente irritado com aquele desdém. Ele bateu com força na mesa e exclamou: — De qualquer maneira, a Camila agora é minha aluna, e com uma discípula tão talentosa assim, eu me orgulho, me sinto realizado! Camila não pôde evitar e soltou uma risada. Não imaginava que Afonso fosse desse jeito. Ele era extrovertido, extravagante, enérgico, um verdadeiro “velho moleque”, bem diferente do seu avô materno, que sempre foi discreto, reservado e bastante sério. Camila então pegou um vaso inglês do período Elizabethano das mãos do terceiro funcionário. Nem precisou observar com atenção. Ela apontou para o desenho na superfície e disse: — A tinta usada aqui é de pigmentos modernos. Ela virou o vaso para examinar o fundo:— A inscrição na base é muito mecânica, claramente impressa. O olhar de Nuno mudou. Não havia mais desprezo ou desconfiança. Agora, havia admiração. Camila recebeu das mãos do quarto funcionário um pequen
Camila finalmente entendeu que Nuno era o avô de Chloe e que Afonso, por sua vez, era o avô materno dela. Lucas havia pedido que ela não revelasse a Afonso que já era casada, muito menos mencionar o nome dele. Agora tudo fazia sentido.Camila riu por dentro, admirando a astúcia de Lucas. Sem querer, Chloe acabara de sofrer uma grande humilhação. A Chloe estava à beira de explodir, como se tivesse uma espinha de peixe presa na garganta, impossível de remover, e que a fazia sofrer terrivelmente. Seu avô materno, a quem sempre admirou, havia aceitado sua maior rival como discípula e a elogiava como se fosse a pessoa mais talentosa do mundo. Como ela poderia suportar isso?Chloe abaixou-se para pegar a bolsa que havia caído no chão e, com raiva, bateu no couro caro, como se estivesse descontando sua frustração. Ao levantar-se, lançou um olhar cheio de desprezo para Camila.Camila, por sua vez, ergueu levemente o queixo, endireitou os ombros e permaneceu elegante, seu olhar firme e seguro e
Afonso baixou os olhos, olhando para Chloe com uma expressão que nunca tinha sido tão séria:— Eu e Camila fizemos a cerimônia de mestre e aprendiz, e eu tomei o café que ela me ofereceu. Um dia como mestre, para sempre mestre. Esse vínculo é sagrado e não pode ser tratado como brincadeira. Ela não cometeu crime algum, nem fez nada de errado. Se eu a expulsar da minha tutela por um motivo qualquer, todos vão rir de mim.Sua voz era firme, inabalável, como se estivesse fechando todas as portas para qualquer contestação.Terminando de falar, Afonso soltou a mão de Chloe, cruzou os braços nas costas e saiu caminhando para fora.Camila lançou um olhar rápido para Chloe e o seguiu.Eles saíram da loja, Afonso à frente e Camila logo atrás, deixando Chloe furiosa. Seu rosto estava completamente distorcido de raiva. Ela levantou o pé e deu um chute no vaso de flores mais próximo.A árvore favorita de Nuno caiu no chão, espalhando terra por todo lado.Nuno franziu a testa e não conseguiu evitar