Demorou cerca de uma semana para que finalmente se encontrassem. Naquela madrugada, uma tempestade assolava o Império Roveaven, com ventos fortes balançando furiosamente as folhas das árvores, uma chuva gélida e grotesca que omitia qualquer conversa secreta dos ouvidos alheios.Um clima perfeito para aquele grupo de pessoas.Quando ouviu falar que ele era um "pirata", Magnus já conseguia imaginar um adulto brincando feito criança usando uma fantasia estereotipada. Já tinha se preparado mentalmente para uma visão ridícula e irrisória. Contudo, quando o Capitão Rayland tirou o seu sobretudo e revelou-se um homem forte de vestes caras em moldes comuns e confortáveis… ficou difícil esconder o seu interesse.O Capitão Rayland era um homem de pele bronzeada e cabelos compridos, sendo nítido que é um estrangeiro. Os olhos castanhos claros brilhavam com charme e astúcia, e o sorriso indolente em seu rosto deixava claro que ele estava confortável mesmo perante o Grão-duque. Claramente uma pesso
Os corredores silenciosos pareciam um filme de terror que Lucian viu em sua outra vida. A sensação fantasmagórica já não o assustava mais, já que estava acostumado com isso desde que voltou a ser o Oitavo Príncipe. Só era uma novidade ele se esgueirar pelos corredores para não ser visto por nenhuma escolta, tal como se fosse um ladrão.Ainda assim, Lucian conseguiu alcançar a torre norte onde a Segunda Princesa estava sendo mantida presa.A decisão do Imperador Rehael de prender Dáhlia na torre foi considerada excessiva. Segundo os rumores que circulavam na alta sociedade, o Imperador teria tomado tal decisão depois de Dáhlia tentar fugir com o seu suposto noivo. Muitos nobres, apoiadores de Raven e Dáhlia, estavam desgostosos com tal decisão, criticando a posição do Imperador ao ponto de questionar o seu amor paternal.Porém, nenhum deles tinha a audácia de realmente enfrentar Rehael e pedir a revogação da restrição da princesa.Enquanto subia as escadas de espiral, Lucian era cuidad
A Sombra Profunda, o nome do submundo, era uma cidade subterrânea onde negócios clandestinos e ilegais fluíam livremente, uma teia intricada que se expandia abaixo da capital imperial de Roveaven. Nos confins escuros e encobertos daquele domínio obscuro, a palavra de ordem era ambição: muitos almejavam influenciar os três grandes nomes que controlavam o submundo. Em suas posições sólidas, esses três eram inabaláveis, mantendo o domínio com uma rede de informação e influência que os tornava intocáveis para "aqueles lá de cima".Para os mais ousados, ganhar o favor desses nomes equivalia a conquistar uma posição de poder significativa dentro da Sombra Profunda. E havia apenas uma pessoa que conseguiu fechar negócios com os três.O Grão-duque compreendia o peso dessa influência, garantindo o seu próprio espaço dentro do Submundo. Desde que fechou negócios com os três nomes — Ferdinand Brighton, Baronesa das Jóias e o Capitão Rayland — o nome Grimwood havia se tornado sinônimo de autorida
O sol estava prestes a se pôr, tingindo o quarto da torre com tons alaranjados e sombras alongadas. Dáhlia observava o reflexo de seu rosto na superfície do chá quente, refletindo em silêncio sobre seus próprios planos. Em poucas horas, teria que partir, mas uma dúvida incômoda ainda a acompanhava.— Tem certeza de que não deseja enviar uma carta à sua mãe? — A voz suave de Raven interrompeu seus pensamentos. — Ela está muito preocupada, acredita que você foi tratada com severidade demais.Raven, a Primeira Princesa, continuava a demonstrar seu comportamento impecável e sereno. Dáhlia ergueu o olhar, encontrando-se com os olhos cor-de-pêssego da irmã, e esboçou um sorriso leve.— De que adiantaria enviar uma carta? Mamãe insistiria na questão do meu casamento, e isso só irritaria o nosso pai.— Sim, papai tem se irritado com facilidade ultimamente — Raven respondeu em tom compreensivo. — Alguns nobres o desgastaram, mas a situação está… sob controle.Aquela notícia a pegou de surpresa
O frio do inverno era um belo contraste para a xícara de chá que aquela pessoa segurava. Observando o próprio reflexo na bebida de cor clara, podia sentir o calor da água morna aquecer os seus dedos. Enquanto se deleitava no chá, aquela pessoa ouvia o relatório dos seus últimos planos.— Tivemos baixas consideráveis com o ataque à Sombra Profunda. O medo se espalhou e agora o pessoal do Submundo está hesitante em provocar mais problemas que possam chamar a atenção do Palácio Imperial — relatou o subordinado.Aquela pessoa ergueu um olhar complacente para o rebelde. Um sorriso quase imperceptível despontou em seus lábios enquanto os dedos se apertaram ao redor da porcelana.— Isso é... irritante — murmurou com suavidade, retomando o gole de chá. — Com a Segunda Princesa desaparecida e agora a perda dos armazéns, sofremos um prejuízo significativo.— Deveríamos reforçar a segurança nos armazéns principais? — perguntou o rebelde.— Claro, seria prudente — respondeu, os olhos voltados nova
Templo da Deusa KronosisA madrugada pairava silenciosa sobre o Templo. Os corredores frios e solenes pareciam guardar segredos inconfessáveis, mergulhados na penumbra que as velas solitárias mal conseguiam romper. Ali, onde o som era tão escasso que até a respiração soava como uma confissão, um homem coberto por um capuz pesado esgueirava-se nas sombras. Ele evitava qualquer contato, movendo-se com a destreza de um predador, ainda que fosse apenas um lacaio de planos maiores.Alguns cavaleiros do templo faziam suas rondas mantendo a segurança. O sujeito encapuzado se escondia atrás de pilares e paredes, evitando entrar no campo de visão dos cavaleiros que usavam armaduras prateadas. Ele esperou pacientemente que os homens armados passassem em passos firmes, garantindo um caminho livre pelas sombras.O caminho já estava traçado em sua mente: contornou cuidadosamente o átrio central e, de maneira habilidosa, dirigiu-se ao poço do Templo, que fornecia a água sagrada usada em rituais e q
Magnus Grimwood era um homem atento. Possuía a habilidade de observar discretamente as pessoas ao seu redor, notando pequenos detalhes que revelavam fraquezas, ou sinais de alerta, mesmo à distância. E quando se tratava de seu esposo, sua atenção era ainda mais afiada.No começo do seu relacionamento, ele viu com facilidade que o Oitavo Príncipe passava longe de ser como diziam os rumores. Negligenciado no próprio Palácio Imperial, sem nunca sair por não ter apoio nem da própria família, esperava por alguém patético e covarde. Mas a imagem que detinha era o completo oposto. Lucian se provou alguém astuto como uma raposa. Desde então, Magnus era incapaz de deixar de acompanhar o seu esposo, já que parecia alguém manipulador com sua falsa inocência.Por isso, Magnus conhecia muito bem a pessoa com quem tinha se casado. E seria fácil para ele descobrir quando algo estaria estranho.Nas últimas semanas, Magnus notou que algo não estava certo. Lucian mantinha sua rotina, dividindo-se entre
O fato de haver uma epidemia já deixou a capital de Roveaven em polvorosa. Os plebeus, que foram os mais infectados pela misteriosa doença, encontravam-se desesperados procurando pela cura. Os nobres, tomados pelo medo de serem contagiados, fecharam os seus portões para os plebeus e monopolizavam os médicos com preços absurdos que um plebeu jamais seria capaz de pagar.O Palácio Imperial ficou dividido entre os nobres que pressionavam o Imperador para resolver a questão e aqueles que insistiam em construir um muro para isolar os plebeus enfermos. Cadec participou das assembléias sentindo o seu coração bater acelerado de raiva e frustração por ver tantas pessoas cegas pelo poder. Todos ergueram suas vozes e cobriam seus ouvidos recusando abandonar os seus ideais.— Silêncio — Ordenou Rehael com autoridade máxima, calando os nobres de imediato — O que sabemos a respeito dessa doença?— Os plebeus que foram consultados disseram que começaram a apresentar os sintomas logo depois de terem