Nove da manhã, foi a hora que Badá me acordou porque decidiu que faria um churrasco para receber seu então irmão desaparecido, Nem. Samuel já brinca do lado de fora da casa, enquanto eu não consigo sentir o cheiro da fumaça sem que eu faça ânsia de vômito. Os enjoos da gravidez não passa nunca? Cinco meses já. Na próxima semana vou fazer umUltrassom pra ver o sexo, e ainda preciso fazer uma porrada de exame que a médica passou, estou cansada de ser furada todo mês. Exame que não acaba mais. Abro o chuveiro no morno, e entro sentindo minha barriga endurecer quando o bebê mexe. Sorrio. Até dias atrás eu estava surfando por estar grávida, sem saber o que fazer e com um medo absurdo, mas agora estou aqui, ansiosa com a sua chegada, e me sentindo a pessoa mais boba do mundo. Logo faço 19 anos, e parece que já vivi uma eternidade, que nem me dou conta que Badá e eu nos conhecemos a tão pouco tempo, mas parece que somos de outras vidas. A porta do banheiro é aberta, e eu nem preciso o
Nem fudendo. Mavi: meu pai morreu quando eu nem era nascida ainda. — afirmo.Nem: Eu sou teu pai, Maria. Da Laura e Isadora. Mavi: Nem fudendo. Badá: Maria! — ele me encara sério, me repreendendo. Mavi: Maria nada, tá de sacanagem com a minha cara? — pergunto servindo para os dois — você vem aqui com esse papinho furado de que é meu pai. E aí? Isso significa que estou transando com meu próprio tio? Porque vocês são irmãos, e se isso for verdade, é nojento pra caralho. Nem: tu nem espera eu explicar as coisas, po. Que isso!Mavi: explicar o que? Você me olhou com tanta convicção de que sou tua filha, então significa que você sempre soube de nós duas, de mim e da Laura. — Badá me encara de canto, enquanto eu falo — então porque nunca nos procurou? Nunca se preocupou com nenhuma de nós duas, então eu não sou sua filha. Nem: É complicado as coisas, Maria. Eu não sabia que vocês ainda moravam aqui. Mavi: Ah, fala sério. Não mete essa que não desce. É sempre a mesma desculpa de que n
Tinha tudo para dar certo essa noite. Se não fosse o fato de eu ter passado mal ao ponto de vir parar no hospital. Talvez foi a carne do churrasco, ou o calor, não sei. — Você está com anemia, muito forte. É perigoso para sua gestação. — o médico afirma, após ler meu exame de sangue. Mavi: como assim?— você não faz acompanhamento de pré-natal? Badá: claro que ela faz, sempre vou com junto. Como assim anemia?— os exames afirmam, irei fazer uma ultrassonografia para ver como o bebê está. — o homem passa por mim e eu não consigo abrir a boca pra dizer nada, pois só consigo pensar o que de ruim possa acontecer. Ele fecha a porta, deixando eu e Badá sozinhos dentro da sala, e já sinto meus olhos marejarem com as lágrimas. Badá: iiih, qual foi pretinha? Precisar chorar não. — ele me envolve em seus braços e alisa minha barriga delicadamente — nossa cria tá bem, po. Tu vai ver. Mavi: estou com medo. Badá: não vai acontecer nada, fica tranquila. Tô aqui contigo, po. — ele beija minha
Eu sempre amei fazer aniversário, mas acabo de descobri que hoje em dia, odeio. Isso porque minha mãe não está presente para comemorar comigo. 6 meses sem ela… e parece que tudo aconteceu no dia anterior. Em breve minha filha nasce, e eu só queria que ela pudesse está aqui para acompanhar tudo de perto. Mas isso não importa agora, pois sei que independente de qualquer coisa, ela sempre interceder por mim. O dia mal amanheceu, sei disso porque ainda está escuro lá fora, mas eu não consigo dormir até tarde como sempre fazia, Lavínia mexe a noite toda e durante a manhã, é a hora que ela tem mais energia, isso por que nem nasceu ainda. Com o braços de Badá em cima do meu estômago, ela chuta como se quisesse expulsar ele daqui, e acaba me deixando sem ar também. Tento tirar, mas ele me agarra mais ainda. Mavi: Amor… — ofego — estou ficando sem ar. Badá: deixa eu ficar agarradinho contigo. — ele responde, e eu sei que ainda está com os olhos fechados. Mavi: deixo, mas você precisa pa
Badá Sangue por todos os lados. No meu rosto, na minha camisa, e a última coisa que eu consigo me lembrar foi do grito abafado de Samuel. Mavi: Ba… Badá! — o som abafado da voz da Maria me faz olhar para o chão. Ela caída, pressionando a barriga onde sangra, sangra pra caralho e eu entro em pânico. Bada: Porra… o que? — olho para a parede procurando algum vestígio de como aquilo foi acontecer e vejo o buraco na parede. Me abaixando, como sua cabeça apoiada na palma da minha mão e ela pisca os olhos — ei, olha pra mim. Eu vou te levar para o hospital. Mavi: Samuel… — ela fala com a voz fraca — cadê ele?Badá: no banheiro, vem — com um impulso, levanto com ela no como que geme de dor de me olhando, com tiro atravessado em sua barriga — Maria, não dorme!Atravesso a sala já ligando pra minha coroa e colocando Maria no carro. Não tive tempo pra explicar o que aconteceu, só pedi pra ela ficar com Samuel. Ele gritou quando o barulho do tiro ecoou, só estava assustado. E eu nem vi quan
Voltar pra casa sem a Maria, foi a coisa mais cruel que eu já senti em toda minha vida. Ver ela ligada a aparelhos e tubos, lutando por um fiasco de vida enquanto eu, estou aqui, pensando em como caralho aquilo foi acontecer. Como eu deixei minha mulher tomar uma bala por mim, e como vou sobreviver esses dias sem ela. Ver minha filha tão pequena dentro daquela incubadora, também lutando pela vida que mal conheceu. Meu mundo desaba novamente. Tá geral preocupado com ela, por isso estamos aqui na casa da minha coroa. Não tive forçar pra voltar pra casa sozinho, por que sei exatamente o que vou encontrar lá, o sangue dela ainda no chão. Rose: O que aconteceu, meu filho? — é o que todo mundo tem me perguntando e eu não consigo formular frases coerente do que aconteceu na real. Badá: não sei, coroa. Foi tudo rápido demais, o dia ainda estava amanhecendo — engulo a saliva com dificuldade, e encaro minha família ao meu redor — ela acordou dizendo que iria fazer um bolo para Samuel, então
MaviEstou no horizonte distante, avisto uma figura conhecida se aproximando. Meu coração se enche de emoção, reconheço a silhueta amorosa de minha mãe. Seus olhos brilham com uma ternura que transcende o tempo e o espaço, e seu sorriso transmite uma paz que tanto ansiava. Corro em direção a ela, uma mistura de alegria e tristeza me inundando. Abraço-a com todas as forças que posso reunir, sentindo seu calor e seu perfume reconfortante. Lágrimas escorrem em nossos rostos, testemunhas silenciosas do amor inquebrantável que compartilhamos.Mavi: mãe… — falo com a voz trêmula — eu senti tanto sua falta!Ela acaricia gentilmente meu rosto, seus olhos expressando uma sabedoria tranquila.Fernanda: Meu amor, você não está sozinha. Sempre estive com você, em seu coração e em sua memória.Olho para ela, os olhos marejados, em busca de respostas e conforto.Mavi: por que estou aqui? O que aconteceu comigo?Fernanda: Você passou por uma provação dolorosa. Seu corpo está lutando, mas sua alma
Ele autorizou que desligassem os aparelhos, tenho pensado nisso durante 5 dias desde que fui encaminhada para o quarto, saindo da UTI. Por um lado, eu entendo. Estou aqui tem mais de um ano, sem respostas de tratamentos, simplesmente, vegetando…Mas por outro, sinto medo. Será que minha filha vai me reconhecer? Vai sentir medo de mim? E minha irmã? Quer dizer, minhas irmãs. Recordo das coisas pouco a pouco, mas eu jamais esqueceria das pessoas que tenho pra chamar de família. O latejo da minha cabeça passa pouco a pouco, mas ninguém apareceu aqui… Não sei se os médicos deram notícias a alguém que acordei, mas eu não vou esperar pra ver. Me olho no pequeno espelho do quarto, meu rosto abatido e pálido. Passo os dedos pelo colo do meu corpo e sinto a cavidade funda, pela magreza que me encontro, irreconhecível…Meu cabelo sem vida, crespo e levemente embolados. Solto o ar fundo, sentindo minhas costas doerem, levanto a blusa fitando a enorme cicatriz em minha barriga, dedilhando de po