Sinto meu peito apertar quando chego na casa da tia Camila, ela pediu mil e uma exposições de onde eu passei a noite, mas eu só disse que explicaria depois é que precisava descansar. Não é cansaço físico, e sim mental. Tanto que sinto meu coração bater tão forte, como se eu tivesse cortado um vínculo que nunca sequer existiu. Badá é um bom, mas não é bom homem para mim. Somos pessoas diferentes, gosto da minha liberdade, mesmo que eu tenha descoberto ela em pouco tempo, e ele é possessivo demais, isso nunca daria certo. Ele se despediu de mim como quem se despede de uma pessoa que nunca mais vai ver. Quis voltar atrás, pedir pra ele me levar de volta para o rio junto, ou que ficasse aqui comigo, mas se eu fizesse isso, estaria em suas mãos. É só um apego, ninguém morre por deixar alguém apegado. Eu não o amo, e tenho certeza que ele não me ama também. Ele quer proteger, mas nunca disse do que, e aqui estou bem, ou acho que estou, mas pelo menos estou com minha família. O ruim é qu
Ele faz um longo percurso e eu permaneço calada. Não tenho o que falar ou discutir, e creio que o que ele menos queira agora, é falar comigo depois de tudo. Encosto minha cabeça na lateral do carro, observando a cidade passar diante dos meus olhos. Eu nem tive tempo de explorar antes de ir embora. Tia Camila já me mandou inúmeras mensagens perguntando se estou bem, e eu ainda nem sai da cidade. Mavi: falta muito? - pergunto sentindo o tédio tomar conta de mim. Badá: não tem nem uma hora que saímos de lá. Está muito longe ainda!Mavi: Aí Badá, eu não vou conseguir passar tanto tempo sentada. Porque não foi de avião? Eu poderia ter ido no próximo voo. Badá: O próximo voo é só amanhã. Mavi: mas de qualquer forma só vamos chegar ao rio amanhã. - ele bufa batendo o polegar no volante - quero pular para o banco de trás. Estou caindo de sono!Badá: a gente para em algum lugar pra dormir. Mavi: agora?Badá: quer dormir agora?Mavi: sim. - ele vira o rosto me encarando sério e passa a lí
Badá Ela me encara enquanto dentro na banheira, o que essa menina me faz passar, nenhuma mulher fez em toda minha vida. Essa veio pra fazer eu pagar meus pecados em terra, o tanto que ela testa minha paciência e eu ainda sou confiança, não tá escrito. Ela quer que seja como se nunca tivéssemos nos conhecido, e eu farei isso. Mas não por essa noite, não antes de chegar ao rio. Se ela quer fazer morada em minha mente, suave, mas ela não vai sair intacta disso. Deitada na cama ela mexe no celular, enquanto se nega a tomar banho comigo no quarto. E eu sei que ela não vai conseguir dormir sem tomar banho. Ele se levanta com a sacola na mão e vai em direção ao banheiro. Badá: vai fazer o que?Mavi: não quer saber se estou grávida? Então estou indo fazer o teste. - me levanto da banheira e saio e ela me encara - pra onde tá indo?Badá: quero ver o resultado. Mavi: você pode esperar aqui, vou te mostrar. Não precisa entrar no banheiro comigo. Badá: precisa sim. Mavi: meu Deus, cara. -
MaviPerco a voz na hora e paro de sentir minhas pernas no mesmo instante. Badá: isso é um positivo? - ele praticamente esfrega o teste na minha cara e eu afirmo com a cabeça - tu disse que não era possível. Mavi: pensei que não fosse. - me levanto da banheira sentindo minhas pernas trêmulas - puta merda, eu queria só perder a virgindade e ganhei foi um filho. - procuro uma toalha ao redor e Badá me olha com cara de espanto com ela enrolada na cintura - eu quero me secar, colocar uma roupa. Badá: está grávida?Mavi: eu não sei. Como vou saber? - ele continua parado no mesmo lugar, muito calmo e eu totalmente eufórica - Badá, eu vou sair pelada se tu não me der essa toalha. Badá: Sai, vou te foder no corredor na frente de todo mundo que passar. - ele fala na maior tranquilidade e eu reviro os olhos com raiva - mas antes, vamos na farmácia de novo pra ver se tu tá grávida mesmo. Ele desenrola a toalha da cintura me olhando, sabendo muito bem que meu olhar caiu para o meio de suas p
Parada de frente pra casa da Helen, eu não sei quem está mais nervosa, eu ou ela. Bom, ela ainda tem que se explicar para mãe, e eu só tenho que lidar com isso, sozinha. Boa parte de mim já aceitou esse bebê que cresce em mim, mas a outra parte só vai acreditar quando de fato ver esse bebê. Como eu pude ser tão burra, é o que eu venho me perguntando desde a hora que eu olhei aquele segundo teste positivo em minha mão. Ela vem em minha direção já com a carinha de choro, está bem tarde, só conseguimos chegar agora depois de fazer várias paradas durante o percurso. Helen: eu falei com minha mãe! - ela afirma, parando na minha frente e segurando minha mão. Mavi: e aí? Como ela reagiu?Helen: ah, ele chorou né, Maria. Mas disse que filhos são sempre bençãos. Mavi: acredite que vai dar tudo certo. Helen: e quanto a você?Mavi: vou saber lidar com isso. - olho para lado quando ouço o ronco do carro que eu sei bem a quem pertence - sabe se Laura está em casa?Helen: eu vi ela passando m
Mavi: você dormia nessa cama minúscula e ficou reclamando da minha? — pergunto a Badá, ele me fez jantar e sua mãe me enfiou todo e qualquer tipo de doce que ela havia feito, especialmente para mim. Depois de uma longa conversa e assunto que eu já não estava nem entendo, eu gostei ao menos, me senti acolhida e pela primeira vez, em casa. Agora estamos aqui deitados em uma minúscula cama de solteiro, porque segunda a mãe dele, eu preciso descansar depois de ter enchido a barriga, e praticamente me obrigou a deitar aqui, e que Badá ficasse junto caso eu passasse mal, e aqui estamos. Badá: eu não entro nesse quarto desde que fui preso. Nem sabia que minha mãe ainda tinha ele assim. Mavi: sério? — pergunto a ele, que estava sentado na beirada da cama com as costas apoiada na parede, enquanto olha o celular vez ou outra. Badá: papo reto. — ele bloqueia a tela e coloca o celular em cima do criado no pé da cama — achei que já tivesse desfeito do quarto, po. Tem muito tempo, ainda era mo
Badá Quando eu soube que me alvará já estava pronto, a primeira coisa que eu queria fazer quando saísse da cadeia, era resolver minha vida. Talvez entregar o comando, morar no mato e criar galinhas. Mas a vida da cada reviravolta e a gente nunca tá preparado. Maria entrou na minha vida feito um furacão, deixou tudo de ponta a cabeça e depois quis sair como quem não fez nada. Eu entendo ela. A mente da mina tá confusa, perdeu a mãe recentemente e ela era a única pessoa a qual tinha um apoio, mas as coisas acontecem como devem acontecer, e ninguém pode mudar o destino que já foi traçado. Encostado na minha cama, enquanto observo ela dormir do lado. Foi mó luta pra trazer ela pra cá depois da minha coroa ter enchido a barriga dela com as coisas possíveis. Meu celular toca, não sei qual filho da puta que tá me perturbando essa hora noite, mas atendo sem nem olhar. Badá: Fala!Erica: tenho que conversar contigo. — ela responde do outro lado, com a voz carregada de raiva. Badá: fala
Badá Mãos soando e adrenalina que eu não sentia a muito tempo, corriam pelo meu corpo, como uma forte onda elétrica. Faz tempo que não troco com ninguém, acho que nem sei mais manusear uma arma. Mas de esse fodido acha que pode contra mim ou qualquer um dos meus, tá muito enganado. Fui para a cadeia por tirar a vida de um homem que tinha meu sangue, agora um mauricinho bunda mole achar que vai entrar aqui, tirar vidas e ficar por isso mesmo, tá muito enganado. Sem falar que preciso ver meus filhos crescerem, agora será tudo por eles é uma pretinha teimosa pra caralho. Eu desço o beco correndo, achei que nem teria mais pique pra isso, mas ainda tô em forma, muitos anos parados, que a descarga de adrenalina veio com tudo. PT: Badá, na escuta?Badá: fala mano, tô chegando. PT: balearam o Rangel, os manos conseguiram tirar ele da reta, mas mesmo assim acertou um nele. Badá: pistola?PT: fuzil mano. Badá: puta que pariu. Acertou onde?PT: na perna, mas tá sangrando pra caralho. Fa