Porque tudo isso era impossível.
Porque Lila não era uma opção.E porque, por mais que eu tentasse me afastar da ideia, Scarlett estava aquiScarlett não disse nada de imediato, mas o jeito que desviou o olhar e cruzou os braços contra o peito foi suficiente para me fazer entender.Ela ficou decepcionada.E estava tentando esconder isso.Meu peito apertou com a culpa, algo denso e pesado se formando dentro de mim. Eu não queria machucá-la. Não queria que ela pensasse que a resposta que eu dei tinha algo a ver com ela.Mas tinha.Eu engoli em seco e finalmente a encarei.— Scarlett…Ela forçou um pequeno sorriso e balançou a cabeça.— Está tudo bem, Ethan.Não, não estava.Eu conhecia Scarlett o suficiente para saber quando ela estava escondendo algo. O brilho nos olhos dela tinha mudado, como se uma parte dela tivesse se fechado para mim.E isso me fez odiar a mim mesmo um pouco mais.Antes que eu pudesse pensar melhor, estAo atravessar as portas do restaurante com Scarlett ainda segurando meu braço, meus olhos percorreram o salão, um hábito que eu nunca conseguiria abandonar. Precisava estar ciente de tudo ao meu redor, mesmo em um ambiente controlado como aquele.E foi então que vi.Liam, meu irmão, acabava de levar um tapa na cara.E não foi um tapa qualquer.Liam, para o crédito dele, não pareceu surpreso. Apenas esfregou o rosto agora vermelho, soltando um suspiro cansado.Meus lábios ameaçaram se curvar em um sorriso, mas me controlei. Não era a primeira vez que via algo assim acontecer com ele.— Alguém está passando tempo demais com o Alec — brinquei, parando ao lado dele.Liam me lançou um olhar de lado, ainda esfregando a bochecha.— Engraçadinho — murmurou.A loba que havia lhe dado o tapa, uma morena de olhos intensos que eu reconhecia vagamente de outros eventos, cruzou os braços e saiu pisando duro, ainda irritada.— O que foi dessa vez? — pergunte
O jantar de negócios estava em pleno andamento, e eu já podia sentir a familiar sensação de tédio rastejando sob minha pele.Conversas sobre alianças, acordos comerciais e disputas de território preenchiam o ambiente, cada palavra cuidadosamente medida, cada sorriso carregado de intenções ocultas. Nada disso era novidade para mim. Eu sabia o jogo. Apenas não gostava de jogá-lo.Mas, como sempre, coloquei minha melhor expressão de calma, deixando que meu olhar vagasse pelo salão enquanto os mais velhos discutiam entre si. Foi quando vi Colin e sua esposa lutando uma batalha perdida contra seus filhos.Audrey e James estavam em plena guerra silenciosa, cutucando e empurrando um ao outro sob a mesa, tentando não chamar a atenção dos adultos — e falhando miseravelmente. Cada vez que Audrey estendia a mão para o prato do irmão, ele estalava a língua em irritação, sussurrando algo que a fazia revirar os olhos.Colin passou a mão pelo rosto, claramente no limite da paciênci
Leonard ergueu uma taça de vinho, girando o líquido antes de continuar.— Bom, todos sabem que Rowan não erra seus alvos. Mas quem imaginaria que até mesmo os fiéis cachorrinhos da empresa não estão imunes?Meu coração deu um solavanco.Como ele sabia disso?Foi há semanas. Colin fez de tudo para encobrir. A morte de um dos nossos por Rowan nunca deveria ter saído das sombras.— Parece que nem mesmo um Whitmore está imune à caça — ele acrescentou, sorrindo de lado.Minha mão apertou a borda da mesa.O silêncio na mesa era opressor, mas ninguém recuou.Lauren, Audrey e James trocaram olhares sem entender completamente o peso do que estava sendo dito, mas sentiram a mudança no clima.Colin manteve o olhar fixo em Leonard, mas era Scarlett quem me observava agora.E eu sabia que ela percebeu.A tensão em meus ombros. O jeito que minha respiração ficou mais curta.Ela sabia que aquilo me atingiu em cheio.Minha mente girava. Como Hayes
O jantar seguiu em frente, mas a tensão ainda pairava no ar como um cheiro forte impossível de ignorar. As conversas ao redor da mesa voltaram a girar em torno de negócios, contratos e investimentos, mas eu sabia que ninguém ali havia esquecido o que acabara de acontecer. Leonard continuava com seu sorriso satisfeito, mas agora bebia em silêncio, apenas observando. Eu podia sentir seus olhos sobre nós, como um predador avaliando sua presa. Alec ainda parecia se divertir com tudo aquilo. Ele se inclinou para Caleb, murmurando algo que fez o irmão mais velho revirar os olhos. Colin, por outro lado, estava tenso, os olhos varrendo a mesa como se já estivesse planejando o que fazer a seguir. Scarlett manteve a expressão serena, mas eu sabia que ela estava atenta a cada detalhe. Ela sempre fora boa nisso — em parecer indiferente enquanto absorvia tudo ao seu redor. Minha mente ainda estava no que Leonard havia dito. Como ele sabia sobre o ataque de
O restaurante havia se transformado em um campo de batalha. O cheiro de sangue e pólvora já se misturava ao aroma de vinho e carne recém-servida, e o barulho de cadeiras tombando e gritos preenchia cada canto do salão.Cassia surgiu ao meu lado, os olhos dourados brilhando com intensidade.— Eu cuido dela! — ela praticamente arrancou Scarlett dos meus braços, sua postura já preparada para a defesa.Eu hesitei por um segundo, o instinto me dizendo para não soltá-la, para não deixá-la fora do meu alcance. Mas Cassia era uma loba forte, e, agora, eu precisava ser outra coisa.Um assassino.Me virei para o salão, e foi então que percebi: aquilo não era um ataque isolado.Os caçadores estavam por toda parte.Não era só um idiota armado tentando fazer um ponto. Eram vários, espalhados, todos bem treinados, vestidos como convidados comuns, disfarçados entre os garçons, magnatas e empresários.Alguns já estavam sacando armas. Outros tinham lâminas escondidas
Meu termo ainda estava manchada de sangue. O vestido dela também.— Você está bem? — perguntei, minha voz saindo mais rouca do que eu esperava.Ela assentiu, os olhos cansados, mas suaves.— Você também está?Por um momento, não soube responder.Eu estava vivo.Ela estava viva.Mas nada ali tinha terminado.Liam foi o primeiro a soltar um suspiro, passando a mão pelos cabelos bagunçados.— Porra… — murmurou, observando os corpos caídos e os rastros de destruição pelo salão.Alec, que ainda segurava um dos caçadores desacordados pelo colarinho, simplesmente jogou o homem de lado e estalou o pescoço.— Bem, isso foi divertido.— Isso foi um desastre — Caleb corrigiu, os olhos escuros varrendo a cena. Seu olhar se encontrou com o de Colin, e os dois trocaram um aceno silencioso.Foi quando Colin virou para mim, provavelmente para dizer algo, mas seu olhar caiu sobre Scarlett.O sangue no meu terno.O sangue no vestido dela.
Isso apertou algo dentro de mim.Sem mais hesitação, me inclinei sobre ela e posicionei a lâmina sobre a pele ao redor da ferida. O cheiro de sangue e prata misturados era sufocante, e eu sabia que cada segundo contava.— Segurem firme — avisei, e então comecei.Scarlett se encolheu no mesmo instante, um gemido de dor escapando de seus lábios.A prata estava corroendo a carne ao redor da bala, dificultando o acesso. Com cuidado, cortei um pouco mais fundo, abrindo espaço para alcançá-la.— Quase lá — murmurei, tentando manter a voz estável.Cassia segurava Scarlett com força, seu olhar duro e focado. Colin rosnava baixinho, odiando cada segundo disso. Alec desviou o olhar, desconfortável com a cena.Enfiei dois dedos dentro do ferimento, ignorando o calor pegajoso do sangue que cobria minha pele.Scarlett arquejou, o corpo inteiro tremendo.— Só mais um pouco — incentivei.Meus dedos encontraram a bala alojada na carne. Com um movimento firme,
Coloquei Scarlett na minha própria cama assim que chegamos à mansão, com todo o cuidado que minha força permitia. Ela estava mole em meus braços, um peso quase insignificante, mas a palidez de seu rosto fazia meu estômago revirar. Sob os lençóis egípcios impecavelmente arrumados, ela parecia ainda mais frágil, quase irreal, como se pudesse desaparecer a qualquer momento.Minha respiração estava pesada enquanto ajeitava os travesseiros ao redor dela, tentando encontrar alguma maneira de deixá-la mais confortável. Seus cabelos estavam espalhados pelo travesseiro como um véu escuro, a pele úmida de suor, e seus lábios...Merda.Os lábios dela estavam mais pálidos que o normal.Minha mandíbula travou.Ela ia ficar bem. Tinha que ficar.Sentei-me ao lado da cama, os cotovelos apoiados nos joelhos, observando cada mínimo movimento dela. O ritmo da respiração, o franzir leve da sobrancelha, os dedos trêmulos que se mexiam de tempos em tempos.Esperei.Minuto