Ainda não era madrugada, mas a noite estava anormalmente fria. Uma figura estranha e encapuzada anda pela rua, sem se preocupar com as pessoas em seu caminho. Anda por um tempo, trôpego e aparentemente alheio ao que acontece à sua volta. Do lado oposto, um homem caminha rápido. Ele é um senhor alto, calvo, com uma grande barba e uma grande barriga. Os dois homens se esbarram, batendo com os ombros.
- Ei, cuidado! - o homem calvo fala com um tom um pouco mais forte.
A figura encapuzada somente resmunga algo inaudível. Nesse momento o homem calvo percebe que o sujeito encapuzado está descalço, com os pés sujos com alguma gosma preta.
- O senhor está bem? Precisa que chame uma ambulância? - o homem calvo fala em um tom mais brando, tentando se aproximar.
Nesse momento a figura encapuzada para de andar. Ela se vira para o homem calvo e segue em sua direção, lentamente.
- Ou talvez o senhor queira que eu chame a polícia? - a voz do homem calvo agora está trêmula, com medo. Ele começa a andar para trás, afastando-se.
A figura encapuzada começa a falar coisas estranhas em alguma língua incompreensível e, de seus pés, saem pequenos escaravelhos formados da gosma preta. O homem calvo encosta em uma parede. Ele olha para os lados, mas não consegue ver nada, sua visão fica completamente preta. Ele começa a sentir que alguma coisa está andando em suas pernas, subindo a partir de seus pés. Ele tenta pisotear, mas não consegue se mexer. Ele tenta gritar, mas não sai nenhum som de sua boca. Ele apenas ouve, como um sussurro, lentamente falado em seu ouvido, como se fosse para ele entender cada palavra.
- Nós. Somos. Legião.
O manto preto cai no chão, se desfazendo em uma fina fumaça. O homem calvo olha para os lados e vê a rua, normalmente. Ele toca suas pernas e sua barriga e não sente nada de estranho. Seu coração está acelerado e seus pensamentos atordoados.
- Meu Deus, o que foi isso? - fala enquanto pega o seu crucifixo em seu bolso.
O homem calvo então continua o seu caminho, dessa vez mais rápido e rezando o terço. Ele é um homem criado dentro de uma família católica bastante rígida e tradicional, mas naquele momento, por algum motivo, ele não conseguia completar a sua reza. Ele não lembrava mais como se rezava. Então ele parou. Olhou para o terço em sua mão trêmula durante alguns segundos. Então sua mão para de tremer e ele joga o terço no chão. Ele olha para frente e continua o seu caminhar.
Mais uma manhã normal no Brasil de 1985. Em Belo Horizonte, na manhã do dia 21 de outubro, é possível ver que várias crianças e adolescentes se encaminham para as escolas em seus uniformes e com suas mochilas pesadas. Adultos em seus carros ou nos pontos de ônibus seguem para mais um dia de trabalho. Os policiais, ainda na rua, finalizando suas rondas, porém bem menos do que nos anos anteriores, mas ainda haviam alguns. Tudo normal, como sempre fora. A comprida rua, com vários c
Na escola, tudo continua como sempre. As aulas começam e tudo segue normalmente até a hora do intervalo. Nesse momento, quando Emmily está sozinha, saindo do banheiro, Marisa aparece perto dela. - Oi. Queria conversar com você, rapidinho pode ser? – pergunta Marisa. - Puta merda, que susto menina. Sempre no banheiro, mas que tara, em. Pode falar. As duas entram no banheiro, que está vazi
Na manhã de domingo Pedro teve que ser ágil. Deixou um bilhete para Emmily e saiu pela janela, antes do pai de Emmily acordar. Ele nunca acreditaria que os dois só dormiram juntos, muito menos no que aconteceu depois da explosão na escola. Ele segue para a oficina, ainda precisa trabalhar e é bom não pensar no dia anterior. Porém não deu para fazer muito. A única coisa que as pessoas conversavam na rua era sobre a explosão na escola. Já era notícia! Pedro foi para a oficina, trabalhar, mas o pessoal ficava perguntando muito o que tinha acontecido e coisas do tipo. Ele sabia que não devia falar do professor e nem de Alexandre, então simplesmente respondia que não sabia o que houve, somente que uma parte do segundo andar da escola havia explodido e ele e os amigos foram embora correndo.
Na segunda-feira, dia 04 de novembro, todos vão para a aula normalmente. Porém, já dentro de sala, no último horário do dia, Pedro avisa para Tai Shio que ele está escutando o maldito apito na sua cabeça. Assim que Pedro finaliza sua fala o professor Dave LerChandu reaparece na porta da sala, para mais uma aula de História. Seu semblante estava diferente, não havia aquela estranha tentativa de ser simpático. Parecia mais com algum misto de raiva com cansaço, bastante semelhante com algumas das vezes em que Pedro se encontrava. O professor entra sem falar nenhuma palavra e vai direto para sua mesa, onde coloca sua
A semana passou, pesada e cheia de complicações, mas passou. Os amigos conseguem combinar de se encontrarem em um bar do lado da escola, na sexta-feira a noite. Todos se encontram e conversam bastante, um pouco sobre tudo, porém são atrapalhados várias vezes por pessoas que sabem que eles são estudantes da escola e que sobreviveram ao que foi chamado de “Massacre Comunista”. A mídia, manipulada pela ditadura, conseguiu unir o fato de dois homens nus estarem mortos dentro de uma escola, junto de 16 adolescentes também mortos, como uma forma de protesto da esquerda comunista. A história apresentada é que três homens invadiram a escola no final da aula e, nus, massacraram os adolescentes, usando de armas de corte pesadas e espadas. Term
A sexta-feira de todos foi relativamente tranquila, sem saídas e sem encontros. Pedro tenta conversar com Emmily, mas não a encontra em casa, ou simplesmente o seu pai não quis que ele a visse, é uma possibilidade. Pedro ainda está na oficina, mas precisará passar em casa logo, suas roupas estão acabando e ele precisa pegar novas. Lavar roupas no tanque não é divertido e demora muito mais para secar.O sábado iniciou normalmente. Pedro pegou um serviço bastante complexo e demorado, mas que vai render uma grana extra muito bem-vinda. Esse serviço o deixará ocupado durante alguns dias. Um carro da década de 50 veio para ser todo reformado,
Na terça-feira, Emmily acorda bem cedo. Estranhamente cedo, ainda estava amanhecendo. Ela se levanta e vai até o banheiro. Lava o rosto e se olha no espelho. Então ela lembra da reunião do dia anterior, do seu momento com Marisa e algumas coisas lhe vem a memória. Emmily volta correndo para o quarto e pega um caderno e uma caneta. Ela se senta na sua cama e começa a relembrar todos os fatos da reunião e a anotar alguns. O primeiro é sobre Anaã e sua assistente sem nome. Ambos muito pálidos e a menina tinha a pele muito fria. Emmily não se le
Rebeca chega na casa de Tai Shio por volta das 14:00 horas. Ela toca a campainha e quem atende é Emmily. Rebeca se assusta, mas corre e dá um abraço na amiga. Então começa a chorar. - O que foi amiga, por que está assim? O que aconteceu? – questiona Emmily. - Tudo aconteceu. Você sumiu, um lobisomem matou os nossos colegas, o Pedro acha que somos loucos e eu tenho certeza que estou ficando louca. – Rebeca fala alto, enquanto chora. - Acalme-se Rebeca, você não es