Naquela tarde fria, regada às lágrimas honestas, eu ouvi a minha primeira (provável) declaração de amor, embora tenha sido daquele garoto e eu não tenha lá muita certeza se ele sabe exatamente a diferença dos sentimentos de amor e amizade. Não posso julgar, talvez eu também não saiba.
— Definitivamente, você está entendendo tudo errado. Não tem como você gostar de mim. Talvez seja por não ter amigo, você está confundindo e entendendo mal o que sente. — foi a explicação que arrumei para mim, pelo menos. Não fazia sentido Danilo gostar de mim. O mais próximo que chegamos foi quando joguei o milkshake na cabeça dele, depois disso foi só ladeira abaixo. Nem sequer tivemos uma conversa sequer decente. Não faz sentido algum o que eles está dizendo.— Sério? Você acha que não tenho a capacidade de avaliar a forma que me sinto em relação a alguém apenas porque eu não tenho amigos? Acha que eu sou um idiota? Acha mesmo que sou tão desesperado assim por amigos? Mesmo que fosse essa verdade, não mudaria absolutamente nada. Mesmo que eu tivesse repleto de amigos, Gabriela. Eu tenho certeza, que ainda assim, você me afetaria da mesma forma. No fim, acabaria te amando. — Danilo disse de forma tão sincera, que não acreditei no que estava ouvindo. Como alguém fala esse tipo de coisa como se não fosse nada? Será que ele estava em outro surto dele? Uma hora quebra todo, outro tímido e agora romântico? Acho que ele não precisa de amigo, mas de um médico.— Você parece muito certo sobre isso, mas talvez seja melhor pensar um pouco sobre isso. Não nos conhecemos direito. Somos bem diferente um do outro visivelmente. Se pensar bem, nem nos damos bem. Deveria refletir um pouco mais para compreender melhor como se sente — Resumo: Não tem como esse ser está gostando de mim. Só entreguei uma apostila a ele. E ainda fui forçada pela professora, sem contar quase que me mata de susto no mesmo dia ao pular da janela.— Você não deveria julgar o sentimento dos outros com tanta facilidade. As pessoas sente de formas diferentes, mas isso não faz os sentimentos delas verdadeiro ou falso. Você pode levar uma vida inteira para se apaixonar, mas também pode se apaixonar por um olhar ou até mesmo o sorriso. O amor está nos detalhes. — Danilo disse sem receio algum.— Você leu isso em um livro de romance bem meloso, né? Sabe que aquilo é ficção. Não tem nada de real. O amor não é algo mágico. Sentimento não são maravilhosos e nem salvam as pessoas. Isso tudo é uma enorme baboseira que os autores escrevem para iludir os leitores como você, quem acreditam em tudo. — Quem acredita que o amor pode acontecer com um olhar? Só Danilo mesmo. Sequer consigo acreditar que o amor existe.— Não é porque você não acredita em algo, que ela não exista. Então, farei com que você acredite no que sinto por você, não somente isso, te farei perceber que o amor existe. — Danilo declarou empolgado.— Sim, sim. Existe tal como as fadas e os unicórnios. Você não está velho de mais para acreditar nisso? — perguntei.— Você não está nova demais para desacreditar no amor? Quantas vezes seu coração foi quebrado para você chegar a conclusão que o amor nunca existiu? Deve ter alguma história por trás de alguém que ignora todo e qualquer sentimento, julgando como falso. O que você esconde? — Danilo perguntou. Eu não ia entrar nesse assunto. Sentimentos são simples distrações. Apenas preciso ficar longe deles.Consegui arrumar um desculpa, corri para casa. Nada de bom sairia daquela conversa. Por sorte já estávamos bem perto. Eu não sabia o que responder a ele. Na verdade, acho que ele estava confundindo amizade com amor, mas tudo bem. Não que eu realmente me importe. Já me distrai demais com ele. Vou focar na minha lista de exercício e esquecer tudo que aconteceu hoje. Não verei Danilo tão cedo mais. Não preciso pensar sobre isso.Pelo menos, era o que eu pretendia, mas no outro dia, esperando no portão da escola, olhando de um lado para o outro parecendo assustado, estava o Danilo. Se eu não conhecesse ele, teria chamado a polícia. Parecia um daqueles malucos tarados que correm atrás de mulher na rua.— Gabi! Me espera! — Danilo gritou quando eu passei direto dele.— Não lembro de ter dito que podia me chamar de Gabi. — Alertei ele.— Não posso? — Danilo perguntou preocupado.— Tanto faz. Vai mesmo ficar me seguindo por aí? Ao menos ande do meu lado, andando atrás de mim está chamando ainda mais atenção. As pessoas já estão comentando. Ande direito. — Todos estavam olhando para nós dois. O que era esperado, já que eu nunca interagia com ninguém e ele nunca vinha para escola. Para piorar ainda estava agindo estranho.— Quem está falando de você? — Danilo perguntou olhando bravo ao redor. Todos se afastaram na mesma hora. Acho melhor fingir que não conheço ele, assim terei menos problemas.Mesmo tentando escapar dele, era impossível. No fim, querendo ou não, ele era não apenas meu colega de sala, mas meu vizinho de cadeira. Algo me diz que meus planos de uma vida pacifica e calma escolar vão de água a baixo.— Para ser sincera, eu estou realmente surpresa que você tenha vindo para escola. Pensei que seu medo te impediria. — Confessei para ele. Vamos ser sinceros. Ele não tem jeito nenhum de quem gosta de estudar ou se importa. No fim, ele gosta da escola pela interação que pode ter com os outros. O problema é ele conseguir fazer isso.Sabe porque estuda parece o melhor caminho? Se eu me dedicar muito, tenho certeza que terei frutos disso. Serei retribuída de alguma forma no final. Colhemos o que plantamos, certo? Pelo menos, era isso que eu pensava, mas o que diabos eu fiz para colher Danilo em minha vida? Meus dias estão caóticos desde que ele voltou a frequentar a escola. Não tenho um minuto de paz.— Gabi! Me salva! Essas pessoas estão querendo me assaltar. Tem um assaltante dentro da escola! Eu te disse que esse lugar não era seguro. Sim, assustador. Acredita que me colocaram em uma rodinha e mandar eu entregar todo meu dinheiro? — Danilo gritava. Ao redor dele haviam vários garotos com nariz sangrando jogados ao chão.Olhando bem essa cena, que está precisando de ajuda nisso tudo não é o Danilo, mas quem tentou tirar o dinheiro dele. Melhor eu não me envolver nisso. Vou apenas ignorar e passar direto. Fugir é a melhor opção.— Gabi!! Para onde você está indo! ME ESPERA! — Danilo gritou correndo atrás de mim.
Me pergunto porque ainda permito que Danilo fique ao meu redor criando caos. Se me incomoda, eu deveria afastar ele, assim como fiz com todas as pessoas nos últimos anos. Mesmo dizendo isso, quando penso no que ele disse naquele dia. Me sinto estranha. O que foi aquilo do nada? Mesmo que eu pense muito nisso, não encontro qualquer resposta.— Professor, eu tenho uma pergunta. — Danilo levantou a mão. Toda a sala voltou atenção para ele.— Claro, Danilo. Qual seria sua dúvida? — O professor parecia feliz com a interação de Danilo na sala de aula. Era realmente um avanço. Para quem tinha um medo irracional da escola agora está até participando das aulas.— Professor, como faço para uma garota perceber que meu sentimento por ela é sincero e genuíno? — Danilo perguntou. Consegui até ouvir o barulho do vento passando de tão silencioso que ficou. Acho que eu falei cedo demais. Ele é um idiota.— Ouvir o que ela tem a dizer? Não sei. — O professor parecia nervoso.— Professor, o senhor con
Passei a noite inteira pensando sobre isso. Não dormi nada. Danilo não é apenas o ser irritante que fica atrapalhando meus estudos, ele é e sempre foi meu oponente. Talvez seja isso que ele queira fazer. Quer me distrair para continuar no primeira lugar. Eu não vou deixar. Nessas próximas provas, eu vou ficar com as melhores notas.— Gabi, bom dia. VOCÊ ENLOUQUECEU, MULHER? SAIU CORRENDO DO NADA ONTEM. — Danilo com toda certeza não batia bem da cabeça. Primeiro, me dá bom dia simpático e educado, depois começa a gritar. — Explica o que diabos aconteceu. E porque você está parecendo um panda magrelo?— Idiota! Não deixarei que você me distraia. Você é meu oponente. Daqui para os finais das provas. Eu não vou deixar você interferir nos meus estudos. Eu serei a melhor aluna da escola. Você não merece esse título. — Eu estava irritada. Dedico minha vida a estudar, para alguém, que sequer se importa tirar uma nota melhor que a minha. Isso era injusto.— Está dizendo que eu não mereço nada
Fiquei um tempo no pátio, não sabia exatamente como me sentia. Se Danilo me incomodava tanto, porque estou me sentindo estranha por ele ter reagido daquela forma? Porque estou sentindo falta dele ao meu redor. Eu sabia que era um erro. Não deveria ter deixando ninguém se aproximar.Deixa. Não importa. Está na hora de focar no que é realmente importante. As provas estão chegando. Preciso estudar. Não tenho nada a ver com as outras pessoas. Isso é distração. Não posso. Desde o começo eu tenho guiado minha vida dessa forma. Deu tudo certo até agora. Não vou deixar que um cara qualquer me faça questionar o que eu acredito.— Você é a Gabriela, certo? Podemos conversar? — Uma menina se aproximou de mim. Nunca havia visto ela na escola. Na verdade, não iria reconhecer ninguém, nem mesmo da sala. A única pessoa que eu reconheceria era... Danilo. Talvez mesmo que ele tivesse no meio de muita gente. Ainda assim, eu ainda iria reconhecer ele.Bem. Estava com a cabeça nas nuvens. Acabei conco
Depois daquele dia, tudo pareceu voltar ao normal, ao mesmo tempo, que me sentia confortável com minha normalidade, tinha a sensação que algo estava errado, faltando, fora do lugar. Eu não sabe realmente de onde vinha esse sentimento. De qualquer forma, nos últimos dias era. cada vez mais difícil encontrar com Danilo. Parecia está sempre me evitando. Além disso, os rumores sobre ele apenas aumentavam.— Gabriela, você viu o Danilo? Os professores estão notando a ausência dele na sala de aula e está circulando um rumo que ele bateu em uma estudante dessa escola até deixar ela sangrando. Preciso conversar com ele. — A professora me procurou novamente. Acho que ela tem muito medo dele ainda.— Não faço ideia de onde ele possa está. As provas estão chegando e preciso ficar nisso. Não quero que minhas notas acabem caindo por conta de problemas de terceiros. — Expliquei. Eu sabia que a garota que ele machucou foi eu, mas não foi com sua intenção, mesmo assim, ele ainda fez por se deixar lev
No outro dia, Danilo estava na sala de aula, sentado ao meu lado quando cheguei. Tinha um sorriso lindo no rosto. Dava uma sensação quentinha no coração. Será que é azia? Não sei. Os dias se passaram de par e par. Os rumores mudaram totalmente, agora falavam que eu havia domesticado Danilo. Que não era mais uma ameaça.— Gostou daquela lista de exercícios? Achei em uma banca lá perto de casa. Quer tomar algo enquanto estuda? — Danilo também mudou um pouco a forma de lidar comigo. Ele não apenas fazia bagunça e barulho buscando minha atenção. Parecia agora querer me ajudar. Era estranho, mas nem mais fácil de lidar.— Está tudo bem. E sabe que não se pode comer na biblioteca. Quando sair podemos pegar algo para comer na volta para casa. Acho que não tem problema. — Estou tentando ser um pouco mais flexível. Passar, comprar comida e comer enquanto andávamos não parecia algo ruim. Não quero mais sentir um vazio depois de uma conquista que almejei e lutei tanto.— Tudo bem. Quando você t
Enquanto eu digeria que meu primeiro beijo tinha acontecido no meio da rua, do nada, por um cara que me beijou, depois se afastou lendo uma revista, Danilo balbuciava algo incompreensível. Quem vai acabar louca nessa história serei eu, se continuar esse ritmo.— Estranho! — Danilo disse coçando a cabeça enquanto olhava uma página de uma revista.— Tenho que concordar, você é absurdamente estranho. O que diabos você estava tentando fazer? — perguntei tentando me recompor. Nunca sei o que esperar dele, mas me beijar, parece ter os limites da minha compreensão rasa sobre ele.— Aqui diz que quando beijamos a pessoa que gostamos, nosso coração dispara, temos uma sensação diferente. O meu coração não disparou. — Danilo explicou fazendo careta. — O que disparou?— Quê? Que tipo de pergunta é essa? — Como alguém pergunta algo assim como se não fosse nada.— Cientificamente falando, quando beijamos alguém que gostamos ou temos uma grande atração, acontece a dilatação dos vasos sanguíneos par
Nós últimos dias, tenho me sentido cada vez mais estranha e menos eu mesma. Com uma dificuldade de me consertar até nas coisas mais pequenas. Embora lá no fundo eu saiba exatamente o que andava acontecendo e porque toda minha atenção esvaziando, apenas prefiro negar a ideia.— Você viu a lista dos alunos em recuperação? Seu nome está lá. Como não veio fazer a prova, levou zero. Terá que estudar para refazer. — Explique para Danilo que me olhou surpreso.— Recuperação? O que é isso? — Danilo questionou surpreso.— Em que mundo você vive? A recuperação é feita para todos o que não atingiram a nota média. Dando uma segunda chance. Sério que você nunca ouviu falar sobre isso? — Às vezes me pergunto que vida Danilo vivia antes de entrar nessa escola. — Como você tirou zero em todas as matérias, por simplesmente faltar sem qualquer explicação para os professores, terá que fazer a recuperação.— Você também precisa fazer esse negócio? — Danilo me perguntou. Tive uma crise de riso. Será que