ANTON
Fazia mais de um ano que eu estava ali – talvez quase dois -, no escuro, sozinho e completamente vazio por dentro. A única coisa que me mantinha vivo era o segundo batimento em meu peito, me mostrando que, em algum lugar, Ully continuava viva.
Tenho certeza que Luca tinha a intenção de me ver minguar pouco a pouco, porque eu recebia uma refeição rala por dia, passada por uma portinha na porta totalmente fechada. Eu nunca mais tinha visto o rosto de outra pessoa.
Estava tão magro que todos meus ossos estavam aparecendo, o cabelo era uma confusão emaranhada e a barba muito comprida. Isso tinha me incomodado por um tempo, mas depois eu tinha apenas me resignado.
 
ANTON - Anton! – Dana surgiu primeiro, correndo, e se jogou nos meus braços. Zander veio andando atrás, lentamente, me observando com um certo horror. - Eu sei, estou realmente encantador. – sorri para ele. Finalmente, entre os meus, eu podia baixar a guarda. Estava terrivelmente cansado, desejando uma boa comida e uma noite de sono decente. - Como conseguiu chegar aqui? Como fugiu? Realmente pensei que aquele lunático... – meio tio me abraçou, incapaz de concluir a frase.&n
LUCA - Você poderia me dar espaço para sair? – Ully perguntou de dentro do box. - Por que você não pode sair? – questionei, terminando de escovar os dentes. Ela não respondeu, o que já me causou uma irritação interna. Não era possível que depois de tantas noites juntos, ela sentisse vergonha de aparecer sem roupa na minha frente. Eu já tinha visto tudo mesmo. Ela saiu do box, se enrolando rapidamente na toalha e sem me olhar, depois vestiu as roupas com alguma dificuldade para não soltar a toalha. Antigamente eu poderia achar adorável, mas agora era apenas irr
ULLY Fiquei observando a porta fechada muito tempo depois de Luca sair. Eu não me sentia muito confortável em ficar sozinha naquele apartamento grande. Ultimamente a estranha batida no meu peito tinha ficado mais e mais forte e, apesar de ter prometido, ele nunca me levou ao médico para resolver essa questão. Não era ruim, sinceramente, era quase confortável demais, mas não era comum e eu me preocupava. Tudo era tão confuso, eu ainda não conseguia me lembrar do tal acidente do carro que me roubara a visão do lado direito, e como Luca e eu tínhamos nos conhecido e nos tornado um casal. Em compensação eu via alguns flashes de coisas imposs&iacu
ULLY - Estamos quase chegando. – Artur disse com desespero. Estávamos correndo numa velocidade alarmante há algum tempo, o farol atrás de nós tinha se distanciado e desaparecido e, agora numa estrada entre as árvores, Adriane e Artur pareciam aliviados, mas Sarita e eu estávamos mais apreensivas. - Só mais um pouco... só mais um pouco... – o homem murmurava para si mesmo, inclinado em direção ao vidro da frente com o suor pingando pela testa. Adriane estava muito tensa, de olhos fechados como se fizesse uma oração, Sarita segurava o bebê próximo ao pei
ANTON O sol começava a nascer enquanto caminhávamos através das árvores. Dana e Zander estavam cheios de cortes sangrando e com expressões muitos sérias porque Luca tinha fugido mais uma vez. Eu só conseguia sentir alívio por Ully ter chegado, mesmo que ela tenha me olhado de um modo muito estranho e preferido não conversar. Claro que eu tinha imaginado que ela correria para os meus braços quando nos reencontrássemos, e não se encolhido num canto com uma criança que eu ainda não fazia ideia de onde tinha vindo. Dana e Zander chegaram logo depois, cheios de adrenalina, contando que apenas por golpes de sorte Luca tinha recuado e fugido.
ANTON - Certo. Precisamos conversar. – falei depois de uma profunda respiração. Estávamos todos sentados na sala. Eu num sofá, Artur com o neto no colo numa poltrona, Dana em outro sofá junto com Ully e Zander na poltrona mais distante de nós. - Certo. – Artur se apressou em concordar, naquele estado sempre ansioso. - Você não. – gesticulei vagamente para ele – Dana, Zander... – esperei os dois me encararem – Está na hora de contar para nós. – apontei de mim para Ully algumas vezes – Precisamos saber exatamente quem s
ANTON Ully estava sentada na varanda, sozinha, com as costas apoiadas na parede da cabana. Parecia muito longe, pensativa, com aquele leve ar de confusão que a acompanhava o tempo todo agora. - Oi. – me aproximei lentamente, as mãos dentro dos bolsos da calça. Ela ergueu o rosto na minha direção imediatamente. - Oi. – respondeu com um sorriso educado. Eu podia perceber seu esforço em não me chatear, tentando soar simpática e não muito estranha, porque sabia que tínhamos uma relação de anos me
ULLY Corri pelo apartamento sabendo que Luca vinha atrás de mim. Eu sabia lutar, deveria saber, mas tudo estava perdido junto com as minhas memórias de vida. Ainda não conhecia realmente aquelas pessoas, por mais que me soassem confortáveis e seguras, e não me lembrava de ter vivido nada com Anton, mesmo que pudesse sentir que era real e quisesse ficar perto dele. Me vi dentro do meu antigo quarto, as cortinas arrancadas e amontoadas no chão. O céu escuro se projetava através da parede de vidro, com as luzes da cidade lá em baixo. Uma paisagem que eu amava por algum motivo que estava perdido dentro da minha cabeça. - Vamos acabar com isso. – Luca passou pel