Amber Eu encostei a cabeça na parede fria do quarto, tentando ignorar a ardência em meu rosto. O tapa de Anny ainda ecoava em minha mente, mas era o olhar de desprezo dela que doía mais. Eu sabia que não era bem-vinda ali, mas precisava manter a calma pelo menos por enquanto. O som da maçaneta girando me trouxe de volta à realidade. Antes que eu pudesse reagir, Ester entrou no quarto e trancou a porta atrás de si, sua expressão carregada de raiva e impaciência. — Eu não te tirei daquele cativeiro para você agora dar uma de assassina — ela sibilou, a voz baixa, mas afiada como uma lâmina. — Como você pôde machucar a filha do Lorenzo? Meu coração acelerou. — Então a Camila já sabe que fui eu. — Claro que sabe — ela cruzou os braços, me encarando como se eu fosse uma criança desobediente. — Um dos seguranças viu o que você fez. Eu não suportei todos esses anos, quase morri pelo Lorenzo, para agora você estragar os meus planos. Sei que você quer o Lorenzo, Amber, mas não vai ser as
Lorenzo RicciO jardim da mansão estava impecavelmente decorado para o aniversário de Ares. As luzes suaves pendiam das árvores, o cheiro das flores misturava-se ao aroma de bolo recém-assado, e o som de risadas ecoava pelo gramado. Ares estava rodeado pelos amigos, sorrindo, e eu, ao lado de Aurora, sentia uma tranquilidade rara — mesmo que temporária. Minha filha estava em uma cadeira de rodas, ainda se recuperando da fratura na perna, mas seu sorriso iluminava o ambiente mais do que qualquer decoração.Isabella estava deitada nos meus braços, sua cabeça descansando em meu peito. A serenidade daquele momento era quase ilusória, como se estivéssemos em uma bolha que a qualquer instante poderia estourar. E eu sabia que estouraria. Sempre estoura.Foi quando senti uma presença ao meu lado. Era Ester. Ela se acomodou em uma cadeira próxima, ajeitando o vestido com um movimento discreto. Seu olhar parecia distante, mas sua voz veio baixa e direta.— Lorenzo — ela começou, e percebi a ten
Camila Duarte Ricci A festa havia acabado. O jardim, antes repleto de risos e luzes suaves, agora estava mergulhado em um silêncio acolhedor, quebrado apenas pelo som das folhas ao vento. Ares já dormia profundamente após um dia inteiro de brincadeiras e sorrisos, e eu estava me despedindo dos últimos convidados quando senti a mão quente de Anny, minha sogra, tocar meu ombro. — Camila, querida — sua voz era suave, mas carregava aquele tom de respeito mútuo que construímos ao longo dos anos —obrigada por organizar essa festa maravilhosa para o Ares. Você realmente pensou em tudo. Sorri, sentindo uma leve pontada de orgulho. — Foi um prazer, Anny. Ares merece cada segundo de felicidade. Ela assentiu, me lançando um olhar cúmplice antes de seguir pelo corredor, sua figura desaparecendo lentamente entre as sombras suaves da casa. Agora sozinha, caminhei até o quarto. As luzes estavam baixas, criando um ambiente intimista, o cheiro amadeirado do perfume de Lorenzo ainda pairava
Camila Duarte Ricci A noite ao lado de Lorenzo foi silenciosa. Apesar da tensão anterior e dos sussurros carregados de desejo, adormecemos envolvidos pelo calor um do outro, um raro momento de paz em meio ao caos que, ultimamente, parecia rondar minha mente. O som da respiração calma dele era um lembrete de que, por mais feroz e dominante que Lorenzo fosse durante o dia, ali, na escuridão do do nosso quarto, ele era apenas meu marido, o homem que amava nossa família. Acordei com os primeiros raios de sol atravessando as cortinas, pintando linhas douradas pelo quarto. Lorenzo ainda dormia, seu peito subindo e descendo em um ritmo constante. Havia algo quase vulnerável nele quando dormia, um contraste gritante com o magnata impiedoso que todos temiam. Passei a ponta dos dedos levemente pela linha do maxilar dele, gravando aquela imagem na minha mente, antes de me levantar com cuidado para não acordá-lo. Depois de uma rápida passada pelo banheiro, vesti um vestido simples de algodã
Lorenzo Ricci Eu estava ali, parado, encarando Camila como se o chão tivesse sido arrancado dos meus pés. O silêncio entre nós era cortante, apenas o som dos nossos corações batendo apressadamente preenchia o espaço. Sobre a mesa, os exames médicos estavam espalhados, as palavras frias e cruéis saltavam das páginas como facas afiadas: câncer, estágio avançado, tratamento urgente. Minha voz ecoou pelo restaurante, rouca, trêmula, mas carregada da raiva que nascia do medo. — Quando ia me contar? — Minha pergunta cortou o ar, carregada de incredulidade. — Em que momento pensou que eu deveria saber? Quando eu tivesse que preparar seu velório? — As palavras saíram mais duras do que eu pretendia, mas eu não podia conter a fúria desesperada que me corroía por dentro. Camila abaixou a cabeça, os lábios entreabertos, como se procurasse a resposta certa, como se qualquer justificativa pudesse apagar aquele pesadelo. — Lorenzo… Eu ri, mas não de felicidade. Um riso vazio, ácido. — Subo
Meses depois(....)Lorenzo Ricci Meses se passaram desde que fomos para a Alemanha, e agora estávamos de volta à nossa amada Itália. O avião tocou suavemente a pista particular da nossa propriedade, mas meu coração ainda pulsava com a intensidade de uma tempestade. Olhei para Camila ao meu lado; seu rosto, embora pálido, exibia uma serenidade que refletia a jornada que havíamos atravessado juntos. O tratamento na Alemanha fora árduo, quimioterapias exaustivas, cirurgias arriscadas, mas ela estava viva. Ela estava curada. No entanto, essa cura veio com um preço. Camila perdera parte de sua memória. Não sabia como havia chegado até ali, não se lembrava de quando teve nossas filhas, não recordava as cicatrizes emocionais que nos uniram tão profundamente. Era como se eu estivesse ao lado da mulher que eu amo, que tinha meu coração nas mãos, mas não lembrava de como começou a me amar e como nos tornamos um só. Quando descemos do avião, e chegamos ao jardim da mansão, as meninas cor
Lorenzo RicciCamila recuou.. O choque em seus olhos era tão intenso quanto a dor silenciosa que parecia pulsar em cada palavra não dita. Dentro do nosso quarto, ela ficou sentada na cama distante. — Presa? — sua voz veio como um sussurro, um eco frágil da realidade que eu acabara de impor sobre ela. — Minha irmã está presa, Lorenzo? Eu assenti lentamente, cada movimento meu carregando o peso de uma confissão, ela se levantou e ficou olhando para o jardim, através da porta de vidro da varanda. — Eu... Eu não queria que você soubesse assim — murmurei, tentando me aproximar, mas ela deu um passo para trás. — Camila, eu só queria te proteger. — Me proteger? — ela soltou uma risada amarga, as lágrimas escorrendo pelo rosto. — Me proteger de quê? Da minha própria família? Ou da verdade? Meus punhos se fecharam ao lado do corpo. Eu sabia que nada que eu dissesse apagaria o que toda sua família havia feito, ou o que havia escondido. — Amber tentou te matar, Camila — minha voz trem
Camila Duarte O quarto estava mergulhado em uma penumbra silenciosa, e o único som era minha respiração irregular. Meus olhos ardiam pelas lágrimas derramadas, e minha cabeça latejava com o peso da verdade recém-revelada. Amber tentou me matar. Minha irmã. A única família que eu ainda tinha. A frase se repetia na minha mente como um eco cruel, me lembrando do abismo que existia entre nós. Ela não só desejou minha morte. Ela planejou. E eu não fazia ideia de por quê. Cruzei os braços, tentando abraçar a mim mesma, buscando um calor que não vinha. Sentia-me vazia, como se uma parte de mim tivesse se perdido junto com minhas memórias. Fechei os olhos e tentei lembrar. Tentei recordar qualquer momento de cumplicidade com Amber, qualquer conversa, qualquer sorriso. Mas tudo que veio foram fragmentos soltos, desconexos. Como páginas de um livro queimado, onde apenas cinzas restavam. Era frustrante. Eu queria lembrar. Queria entender. Mas a realidade era