Antes, eu já tinha falado em divórcio com o Daniel algumas vezes.

Mas, sempre que via ele realmente bravo, meu coração amolecia, e eu acabava cedendo. No final, era sempre eu quem pedia desculpas, tentando agradá-lo, implorando por perdão.

Talvez por isso ele achasse que, dessa vez, era só mais uma das minhas birras, como ele dizia.

Mas não era.

[Daniel, dessa vez eu estou falando sério. Vamos nos divorciar. Amanhã, às nove e meia, na porta do cartório.] — Por isso, respondi com firmeza, sem hesitar.

[Tudo bem. Já que você quer tanto isso, vou te dar o que quer.] Ele respondeu na hora.

Não respondi mais.

Na manhã seguinte, eu e Paty chegamos cedo ao cartório.

Não demorou muito e Daniel apareceu... Com a Nicole ao lado.

Nicole.

A ex dele da época da faculdade.

Eles tinham terminado por causa de um mal-entendido, mas, mesmo depois de tantos anos, ele nunca a esqueceu.

Quando olhei para aquele cachorro nos braços dela, a dor voltou com tudo, rasgando meu peito, me lembrando da minha avó... Do dia que perdi ela pra sempre.

Daniel se aproximou, me lançou um olhar frio, rápido, e já ia entrando direto.

Respirei fundo e disse, com a voz calma, mas firme:

— Espera. A Paty também vai se divorciar. O Felipe ainda não chegou.

Daniel franziu a testa, irritado:

— Isabella, só o seu divórcio não basta? Agora quer arrastar a família inteira pra confusão? Você não vai sossegar enquanto não destruir tudo, né?

Paty, sem conseguir se conter, explodiu:

— Cala a boca, Daniel! Fui EU que quis o divórcio, não tem nada a ver com a Bella! Você sabe muito bem o tipo de irmão que tem, né? Aliás, vocês dois, você e ele, são farinha do mesmo saco! Dois canalhas!

Nicole, com aquele sorrisinho falso, se intrometeu, doce como veneno:

— Sra. Patrícia, a gente só quer o melhor para todos. Não precisava ofender, né?

Depois, virou o rosto pra mim, com aquela falsa preocupação:

— O Dan só não quer que você se deixe influenciar pela Sra. Isabella e acabe tomando uma decisão precipitada, se divorciando do Sr. Felipe por impulso.

— Daniel virou mudo agora? Desde quando você fala por ele? — Eu a encarei sem desviar, gelada.

Nicole fez aquela carinha de coitada, se virando pro Daniel:

— Desculpa, Dan... Eu só queria ajudar. Acho que falei algo que deixou a Sra. Isabella chateada...

Daniel me lançou um olhar pesado e disse, em tom grave:

— Isabella, já chega!

Revirei os olhos, cansada daquela encenação nojenta.

Daniel, cada vez mais irritado, me repreendeu:

— O que a Nic te fez para merecer isso, hein? Primeiro você não me deixou ajudar a procurar o cachorro, agora tá contra ela de novo!

Nicole, com aquela voz mansa, tentou posar de inocente:

— Sra. Isabella, o Dan só me ajudou a procurar o Totó. Não teve nada demais! Mas, sinceramente, você não devia ter dito o que disse, né? Amaldiçoar a própria avó para fazer o Dan voltar? Isso é muito feio... Ainda mais com uma senhora de idade...

Daniel me olhou com desprezo, o olhar cheio de nojo:

— Logo você, Isabella... Sua avó te amava tanto. E olha o que você faz. Não passa de uma ingrata!

Minhas mãos tremiam, mas mantive o olhar firme.

Abri a bolsa, tirei o atestado de óbito da minha avó, e estendi pra ele:

— Daniel, abre bem os olhos! MINHA AVÓ MORREU! Ela morreu! Bem no dia em que você estava ocupado demais correndo atrás do cachorro da Nicole! Eu te implorei para voltar, para salvá-la. Mas você escolheu o cachorro. Para você, a vida dela valeu menos que um cachorro! E agora tem coragem de me julgar?

Daniel lançou um olhar rápido pro documento, e depois riu, frio:

— Isabella, eu era o médico dela. Sabia muito bem do estado de saúde dela. Nunca imaginei que você fosse tão baixa a ponto de forjar um atestado de óbito só para me comover. Estou decepcionado. Acha que vou cair nisso? No fundo, você não quer se divorciar, só tá armando esse show para me amolecer. Pois esquece! Você quer tanto o divórcio? Vai ter!

Fechei os olhos por um instante, exausta de lutar contra aquele muro de frieza.

Quando os abri, respondi, com um tom gelado:

— Daniel, você é um idiota!

O rosto dele se fechou na hora, surpreso.

Eu, que sempre cedi, que fazia tudo por ele, jamais o havia insultado.

Ele abriu a boca para responder, mas foi quando Felipe chegou.

Eu e Paty trocamos um olhar cúmplice.

Sem dizer nada, seguimos pro cartório.

Não tinha quase ninguém, então o processo foi rápido.

Logo, os papéis estavam assinados.

Tudo oficialmente terminado.

Durante todo o tempo, eu sentia o olhar de Daniel grudado em mim, como se esperasse que, a qualquer momento, eu desistisse e implorasse pra ele.

Mas eu não olhei para ele.

Nem por um segundo.

Ele não valia mais nada para mim.

Quando saímos, o cachorro da Nicole, Totó, pulou em cima de mim de repente.

Assustada, me defendi com o braço, afastando o cachorro.

Nicole correu até ele, dramática, e caiu no chão.

Daniel foi correndo atrás, desesperado:

— Nic, você tá bem?

Depois, me lançou um olhar furioso:

— Isabella, peça desculpas para Nic, agora!

Eu nem o encarei.

Virei as costas e continuei andando, sem vontade de gastar mais nenhuma palavra.

Foi então que Daniel veio atrás de mim.

Tentou segurar meu braço, se desequilibrou e acabou me empurrando com força escada abaixo.

— Ah! — Gritei, caindo, tentando proteger minha barriga com as mãos, mas era tarde.

Caí no chão com violência.

Uma dor aguda atravessou meu ventre, como uma faca rasgando por dentro.

— Minha barriga... Tá doendo muito... — Sussurrei, pálida, o corpo inteiro tremendo.

Paty correu para mim, desesperada, as lágrimas caindo sem parar:

— Bella! Calma, querida, eu estou aqui, vai ficar tudo bem, tá? Respira comigo!

Depois, virou pro Daniel, furiosa, com os olhos cheios de ódio:

— Daniel! Você tem noção do que fez? A Bella tá grávida! E mesmo assim você empurrou ela!

Daniel ficou pálido, como se tivesse levado um soco.

Os olhos arregalados, encarando o sangue que começava a escorrer entre minhas pernas.

Sem conseguir dizer uma única palavra, ele ficou ali, parado, com os lábios tremendo.