Lembranças de Mateus
Sem pensar muito, nem peço a conta, levanto indo até o balcão de atendimento, demora uns minutos, mas enfim pago e saio do restaurante, sigo pela rua desesperado, até me esqueci do carro no estacionamento, mas que porra aconteceu?
Eu até estava preparado para ouvir um não, mas esse desespero e fuga, isso está totalmente fora da minha compreensão.
É então que a vejo, com os braços cruzados no ponto de ônibus, me apresso para alcançá-la antes que fuja novamente.
— O que faz aqui Mates? Vai embora, me deixa, eu já disse que não posso. —
— Calma Patrícia, por favor, vamos conversar, eu não vou obrigar você a nada, se você não me quer tudo bem, mas não precisa ficar assim, vêm, me deixa te levar para casa, é perigoso ficar sozinha essa hora no ponto. —
Estendo a mão para ela, que segura mas não se move, uma senhora que está no ponto nos observa parecendo confusa, eu então aperto levemente a mão de Patrícia, para que ela perceba que estou preocupado com ela, e é aí que meu coração se aperta de vez, Patrícia desaba em um choro sentindo, me fazendo pensar no que ela disse: Eu não posso?
Como assim não pode? Que raios aconteceu? A questão aqui não parece ser ela não me querer e sim que algo a impede. Mas o que?
A envolvo em meus braços e ficamos ali, não sei quanto tempo se passa, mas a senhora que nos observava já se foi, Patrícia parou de soluçar, mas continua imóvel, olho para ela, tão frágil e assustada.
— Vêm, vamos sair daqui. —
Em silêncio, caminhamos de mãos dadas até o estacionamento, entramos no carro e após dar partida eu resolvo falar.
— Patrícia, eu quero que saiba, que tudo que eu disse é a mais pura verdade e mesmo que você não me queira como seu namorado, será que podemos ser amigos? Estou aqui se você precisar de mim. —
— Eu quero você, mas eu... Eu não posso! —
— Como assim não pode? Você pode me falar porque? Eu estou indo rápido demais? Me parecia que estávamos na mesma sintonia, que estávamos indo bem. Que você também estava gostando de mim. —
— Não é você, sou eu... Eu... Não posso, não posso! —
— Antes de qualquer coisa, quero ser seu amigo, confia em mim minha linda, se abre comigo. —
Paro o carro em frente à sua casa, mas ela continua imóvel, olha para o lado e firma seu olhar para o nada a nossa frente, ela não me olha e eu não sei mais o que fazer ou dizer.
— Eu não posso, porque não serei uma namorada completa, não poderei te dar coisas que todo namorado vai querer. —
E lá vem mais uma onda de choro, e as palavras que ela solta a seguir esmagam meu coração, me fazendo querer abraçá-la e nunca mais soltar, para que ninguém nunca volte a fazê-la sofrer.
— Mateus, eu vou te contar algo que ninguém além da minha psicóloga sabe, e peço que por favor, nunca comente isso com ninguém, sei que assim que eu te contar você vai desistir dessa ideia de namorar comigo e até agradecer por eu não ter aceitado seu pedido. Me deixe falar tudo, sem interrupções, para que eu não perca a coragem. —
Apenas concordo com a cabeça e me ajeito no banco a olhando.
— Quando eu tinha vinte e um anos, eu comecei a sair com um cara que trabalhava comigo, antes disso eu praticamente não saia por causa de Mirella, eu nunca havia saído com um rapaz, ele era gentil, me tratava bem, e na última vez que saímos juntos, após irmos a uma lanchonete, ele foi me levar em casa, estava tudo bem, até que percebi que ele pegou um caminho que eu não conhecia, quando questionei onde estávamos indo, ele disse que tinha uma surpresa. Pouco tempo depois ele parou o carro em uma rua sem saída e sem construções. Eu me apavorei, perguntei o que estávamos fazendo ali, ele disse que era para eu relaxar, que íamos nos divertir e veio para cima de mim, eu disse não, pedi para ele parar, tentei lutar e até consegui sair do carro, mas ele correu atrás de mim, me alcançou e me jogou no chão, veio por cima de mim, rasgou meu vestido e minha calcinha, enquanto me segurava, tirou seu membro pra fora e me penetrou, e enquanto se movia, entrando e saindo de mim, ele me dava t***s na cara, me chamando de puta, dizendo que sabia que eu estava adorando aquilo, por fim ele saiu de dentro de mim dizendo que ia gozar, veio esfregando seu membro por minha barriga, passando por meus seios, até chegar no meu rosto, bateu com seu membro algumas vezes no meu rosto e me mandou abrir a boca, quando ele estava com praticamente todo o membro dentro da minha boca, ele começou a mover o quadril e a minha cabeça, até que gozou e ficou dentro da minha boca, dizendo para eu engolir toda a porra gostosa dele. Depois de uns minutos ele saiu de lá, me deixando jogada no chão, apenas se deu ao trabalho de jogar minha bolsa pra fora do carro. Um tempo depois, eu me levantei, tentei colocar o vestido rasgado como deu e sai andando, levei horas até chegar em casa, graças a Deus Mirella estava na vizinha e ninguém me viu naquela situação, chorei muito, mas tomei um banho e precisava ir trabalhar, inventei que fui assaltada para explicar algumas escoriações e descobri que ele havia pedido demissão, pois estava mudando de cidade, e eu nunca mais o vi. —
— Vem cá minha linda. —
Falo a puxando para um abraço, e me permito chorar, como esse cretino foi capaz de machucar um anjo como ela.
— Entende agora por que não posso namorar! Eu não consigo, aquele dia foi minha primeira e única vez, sei que já tenho quase trinta e três anos, mas nunca consegui me relacionar depois disso. Eu consegui começar um acompanhamento com a psicóloga do centro comunitário que tem aqui perto, ela me incentiva a falar, e eu até já tentei me relacionar, mas sempre quando começa a fase dos contatos eu travo e fujo. Eu não deveria ter aceitado sair com você hoje, mas você sempre me transmitiu segurança e não tive vontade de fugir e nem medo quando você me beijou, mas mesmo assim eu não posso, pois não poderei te dar aquilo que sei que você vai querer. —
— Ei, olha pra mim, eu quero você! Não é apenas sexo, isso eu teria fácil em qualquer lugar, mas eu quero estar com você, eu sinto muito por tudo isso que te aconteceu, mas peço uma chance, para te mostrar que pode ser diferente, que juntos podemos superar seus traumas, eu vou te esperar e respeitar acima de qualquer coisa, faremos tudo no seu tempo, quando e se você quiser. Eu sei que parece cedo pra dizer isso, mas eu sinto que te amo, que você é a mulher da minha vida. Por favor, dá uma chance pra nós, aceita namorar comigo. —
— Está bem, eu aceito. —
Ela responde chorando, e eu a aperto em meu abraço, beijo sua cabeça, tiro as alianças do bolso, colocando em seu dedo e ela faz o mesmo, nos despedimos com um beijo calmo e eu fico ali, olhando minha namorada até que ela entre em casa.
Lembranças de MateusE aqui estamos nós, pouco mais de três anos juntos, noivos e faltando apenas dez dias para o nosso tão sonhado casamento.Nosso relacionamento tem seus desafios, afinal Patrícia ainda tem seus traumas, ela continua com seu acompanhamento psicológico no centro comunitário, e nós vamos evoluindo aos poucos, ainda falta muito para termos uma relação sexual completa, mas sei que logo chegaremos lá.Claro que já ofereci algumas vezes para pagar um tratamento particular, mas ela se sente mais confortável e confiante em continuar no centro com a psicóloga que já conhece, também já ofereci uma casa, mas próxima a minha ou a empresa, mas ela nunca aceitou, aliás nem presentes caros ela aceita. Sempre frisa que está comigo por mim e não pelo que eu tenho.Como se precisasse, eu a conheço, e ela não mudou seu jeito simples depois que eu fiquei rico.Nos primeiros meses de namoro, ela permitia apenas beijos, minhas mãos precisavam ficar paradas em suas costas ou cabelos, fica
PatríciaChegamos na sala de jantar e Miguel meu sogro já está jantando junto com Marcos e Leonardo.— Oi meus filhos, não sabia que estavam em casa, jantam conosco? —— Oi sogro, como está? Estávamos finalizando nosso quarto, vamos jantar sim. Oi Marcos, oi Léo? —Cumprimento Miguel com um beijo na bochecha e enquanto dou oi para Marcos e Leonardo me sento ao lado de Mateus. — Oi Paty! —— Oi. —Marcos me dá oi sorrindo, já Leonardo é bem seco, eu sei que ele não vai muito com a minha cara e o sentimento é recíproco, assim como Mateus ele é muito metido a bom moço, todo certinho, um saco, e ainda para me irritar mais, ele é o advogado do Mateus. Com Miguel meu sogro eu finjo, já que ele me adora, por mim eu o mandaria para bem longe, mas ele é pai do Marcos, mesmo que não seja seu pai biológico sei que Marcos gosta dele, principalmente pelo fato dele o ter assumido quando a mãe dele engravidou depois de ser violentada. E Mateus venera o pai, o vê como um herói, pois além de criar
MirellaConfesso que estou um pouco ansiosa com essa mudança, na verdade eu não queria morar com eles, mas não teve negociação, Patrícia ameaçou até não se casar se eu não aceitasse, e eu não posso fazer isso, Mateus a ama demais e isso acabaria com ele.Não é que eu não me dê bem com algum deles, pelo contrário, todos me acolheram muito bem e Marcos eu chego até estranhar, desde que o conheci ele me trata com muito cuidado e carinho, logo começou a me chamar de princesa e faz de um tudo para me agradar. Leonardo já comentou uma vez que ele deve ter uma queda por mim, mas eu não acho que seja isso, ele me trata com um amor mais paternal, lógico que não tenho como garantir isso, afinal não entendo nada de amor, nunca se quer beijei alguém, mas não sei, sinto que o interesse de Marcos em mim não é de um homem por uma mulher.Eu nunca tive interesse em nenhum garoto, até me apaixonar por um homem, e tinha que ser justamente pelo homem que é extremamente proibido, então me relacionar com
MateusOs dias passam rápido, apesar de torturante, tem sido uma delícia dormir ao lado de Patrícia, não dormimos abraçados, ela diz que não consegue, mas acordar e ver o lindo rosto dela e saber que ela estará para sempre ali, me deixa imensamente feliz. Essa semana virei o rei da punheta, já perdi a conta de quantas vezes tive que bater uma para me aliviar, fora os diversos banhos gelados que estou tomando. Combinamos que nesses dias não trocaríamos nem carícias, a princípio fiquei triste, mas logo minha linda me explicou e eu fiquei feliz e muito orgulhoso dela. Além claro de cheio de expectativas para nossa noite de núpcias.Flashback de Mateus Chego em casa da reunião, já vou abraçando Patrícia, a beijo e sussurro em seu ouvido.— Hum... Finalmente esse quarto está completo. O que acha de estrearmos nossa cama minha linda? —Ela me dá um beijo e se afasta e eu já estranho.— Bebê, eu queria mesmo falar com você sobre isso... Até o casamento não poderemos fazer nada, sem toqu
MateusFico admirando-a entrando, linda como sempre, fixo meu olhar nela e algumas lágrimas rolam, ainda estou sem acreditar que estou me casando com a mulher que amo.PatríciaComeço a caminhar pelo pequeno corredor de flores que preparamos, olho para o Ot e não acredito, o babaca está chorando...Aff... Ninguém merece, agora preciso fingir que também estou emocionada, me esforço e derramo uma lágrima solitária.MateusVejo que assim como eu, ela está emocionada, o juiz de paz diz algumas palavras antes de assinarmos, confesso que mal presto atenção, estou vidrado em minha linda mulher, desvio meu olhar dela apenas para assinar o livro de casamento, ela está como eu, tão emocionada que o juiz precisa chamá-la duas vezes para assinar, Leonardo e Mirella foram nossas testemunhas e está tudo parecendo um sonho, até que uma frase me traz de volta a realidade.— Eu os declaro, marido e mulher, pode beijar a noiva! —PatríciaQue cerimonia mais xexelenta, mas para me casar com Ot está bom,
Mirella— Tio? —— Pai? —Vejo Leonardo e Marcos correr em direção a Miguel que parece estar passando mal.— O que aconteceu? —Marcos me ajuda a sentar e fala segurando minha mão.— Princesa, eu preciso que fique calma e nos ajude, ok? —— Vou tentar. —— Mateus e Paty sofreram um acidente de carro, a Paty está bem, o Mateus ainda não sabemos pois está desacordado, nós temos que ir ao local do acidente, mas meu pai começou a passar mal, então precisamos levá-lo a um hospital. —— Vamos então. —Vejo que Miguel está praticamente perdendo os sentidos e Leonardo rapidamente fala.— Eu vou levar ele para o hospital e vocês vão para o local do acidente, liga para Patrícia e diz que se o socorro perguntar é para levar Mateus para hospital central. —Logo saímos e não demora estamos no local do acidente, os bombeiros e paramédicos ainda trabalham, Mateus está preso nas ferragens, corro então ao encontro de Patrícia que está sentada na porta de uma ambulância, com dois paramédicos ao seu lad
MirellaDepois de não sei quanto tempo, porque para mim pareceram horas, vejo os paramédicos correrem com Mateus para a ambulância, ele está todo preso em uma maca, e mesmo de longe consigo ver que seu rosto está machucado.Patrícia foi examinada na ambulância e liberada em seguida, ela teve apenas algumas escoriações, afinal o lado atingido foi o de Mateus, que para piorar estava sem cinto.Pedi ao paramédico que aplicasse um calmante nela, pois a demora para retirarem Mateus do carro a deixou muito agitada, quando ele finalmente foi removido, ela já estava apagada no banco do carro do Marcos.Eu corro até a ambulância e não consigo segurar minhas lágrimas, Mateus é alto, tem mais de um metro e noventa de altura, o corpo atlético, ele é forte, mas vê-lo ali, imóvel, pálido e todo machucado, parecendo tão frágil corta meu coração. Então pego em sua mão e sussurro.— Fica bem por favor, eu te amo! —— Moça, precisamos ir, alguém vai acompanhá-lo na ambulância? —O paramédico me interro
MateusComeço a ouvir vozes, está tudo embaralhado, tento abrir meus olhos, mas não consigo, não sinto meu corpo, apenas uma forte dor de cabeça. Onde estou?Tento me lembrar do que aconteceu, lembro de Patrícia pegando em meu pau, mas, porque ela me mandou morrer e ainda me xingou?Lembro de um barulho antes de tudo escurecer, por que está tudo embaralhado? Forço minha mente, preciso acordar, mas não consigo, escuto pessoas que não conheço, será que estão falando de mim? Será que sofri um acidente?— Vamos tirá-lo com cuidado, precisamos evitar o máximo possível que o corpo dele se movimente, ele não está respondendo aos estímulos, nem reflexos ele está tendo, possivelmente lesionou a coluna. —As lembranças começam a se encaixar em minha mente, lembro de tudo, desde que saímos da mansão, lembro de ser masturbado até Patrícia se jogar do carro gritando: morre idiota! Então o barulho, sinto o carro girar e apago.Quando acordo está aquela confusão, ou será que não acordei? Meu corpo n