MirellaÀ tardinha levei algumas coisas para o Léo, Patrícia não quis ir, diz que vai só quando puder visitar Mateus, ela não gosta de hospitais, mas mandou um beijo e melhoras para seu sogro, e no outro dia eu e Marcos vamos visitá-lo.— Como está Miguel? —Miguel— B... —Tento falar e não consigo, minha boca se arrasta, então estendo minha mão esquerda já que não consigo mover o lado direito.— Você vai melhorar logo, vamos cuidar de você, Patrícia e Mateus mandaram beijos, eles estão se recuperando e logo vem te ver. —— Pai, que bom que está bem. Logo estaremos em casa. —Ele alisa minha mão, enquanto Mirella acaricia meu rosto.— O médico disse que se continuar assim, no início da semana ele estará em casa, né tio? —— Isso é ótimo. —Mirella diz sorrindo para mim.LeonardoFicamos ali, Mirella acaricia meu tio Miguel até que ele dorme, então os chamo para tomar um café e conversar, saímos em direção a cafeteria do hospital.MateusMinha mente apaga e retorna, como se sem perceb
MarcosChego em casa com Mirella, dou uma olhada em meu pai que dorme tranquilamente sendo velado por Suelen e sigo para meu quarto, preciso de um banho.— MAS QUE MERDA QUE NADA DÁ CERTO NESSA PORRA DA MINHA VIDA! —Soco a parede enquanto a água fria cai em minha cabeça, meus pensamentos voam, analisando minha medíocre existência...Nasci fruto de um abuso, nunca vou saber quem foi o filho da puta que me implantou no útero de minha mãe, mas até que tive sorte, antes mesmo de nascer ganhei um pai, ele mesmo sendo muito novo, me assumiu como seu e se casou com minha mãe, e assim me tornei Marcos Soares.Só que minha família feliz veio com data de validade, quando eu tinha oito anos, próximo de fazer nove, com um pouco de dificuldade, minha mãe me contou sobre minha concepção, meu pai garantiu que pra ele isso não mudava nada, eu era filho dele e pronto, me conformei e fiquei feliz, pois realmente achei que tinha sorte, afinal eu tinha uma família unida e feliz, não éramos ricos, mas me
MateusEstá tudo em silêncio e sinto alguém tocar meu rosto, permanece assim por um momento e então retira sua mão antes de falar.— Ah Ot Melado, você tinha que cometer a deselegância de permanecer vivo né? Só para me atrapalhar, agora estou aqui, sendo babá de um vegetal, você que nem pense em se recuperar, ou vou ter que finalizar o que comecei, daqui um tempo te enfiarei em uma clínica de cuidados paliativos e seguirei com minha linda vida.Claro que não terei a fortuna que tinha planejado, mas ainda sim seus bens devem valer uma grana, aliás seus não, agora são meus...rsrsrs.Sempre detestei esse seu modo grudento de ser, sua preocupação por um trauma que nunca existiu....hahaha...Confesso que você é gostoso, mas não podia trair meu amor, por isso nunca passamos de preliminares e você todo preocupado por conta de um trauma, tudo mentira, eu inventei tudo, você é um otário mesmo, né meu Ot Melado. —Escuto cada palavra sem acreditar, como me enganei tanto com Patrícia, tento me a
MateusO que eu fiz meu Deus para merecer isso? Meu próprio irmão e minha esposa...Meu Deus! O que eu vou fazer? Que maluquice de história é essa? Será que tem mais alguém com eles? O que vou fazer se nem ao menos consigo abrir os olhos?— Viu Ot, que delícia de amorzinho eu e o Marcos fizemos, eu poderia esfregar todo nosso gozo na sua cara agora, para você sentir a delícia que é, mas se eu fizer isso a Mirella pode perceber, sabe vou te contar um segredo, mas não conta para ninguém... Ops, esqueci: vegetais não falam. Olha que coincidência, Mirella, na verdade é minha filha e de Marcos, ele foi meu primeiro e único homem, engravidei no início da minha adolescência, meus pais piraram, me levaram embora da cidade e pegaram minha filha para eles. Quando eles morreram, com a merreca que deixaram, comprei aquele muquifo de casa e voltei, tive a sorte de reencontrar Marcos anos depois, e adivinha, estamos juntos, nos amando mais que nunca... Precisamos de dinheiro, então tivemos que dar
MirellaJá é tarde quando Léo entra pela porta, ele me dá um beijo no rosto e se aproxima de Mateus passando a mão em seu rosto e em seguida acariciando seu cabelo como se o bagunçasse.— Oi Mi, ei irmão? Já não chega de dormir não? —— Oi Léo, pensei que hoje já não viria mais ninguém. Como estão as coisas em casa? —— A Patrícia não veio? Marcos está louco, querendo matar tudo e todos. Eu passei o dia todo resolvendo pendências e atrás de informações, mas supus que Patrícia tivesse vindo. —— Não, ela disse que está um caos lá na mansão, mas eu acreditei que a essa hora o Marcos já teria se acalmado. —— Que nada pequena, ele até tentou ir para cima do tio e quase bateu no homem. —As máquinas que monitoram Mateus, apitam mostrando uma alteração.— Aí Jesus! —Aproximo-me dele segurando seu rosto com as mãos e falo calmamente.— Mateus, calma, está tudo bem, lembra do que eu disse ontem, você precisa relaxar para melhorar, lembra? Estamos aqui com você, vamos resolver tudo, fica tra
MateusMais um dia, estou ouvindo Mirella tagarelar, fazendo uma narrativa sobre minha higiene, fisioterapia, e tudo mais. Assim que terminam meus cuidados matinais, deixam apenas nós dois no quarto.Pelo que ela falou hoje faz quinze dias que sofri o acidente e não tem vindo ninguém nos visitar ou trocar de lugar com ela, o que eu acho muito estranho.Patrícia e Marcos eu dou até graças a Deus que não venham, mas meu pai e Leonardo? Eu estou morrendo de saudades, gostaria muito de ao menos ouvir a voz deles. Além disso, esse sumiço deles é muito estranho, eu conheço os dois, sei que algo aconteceu para eles não virem me ver. Leonardo veio apenas uma vez e meu pai, não vejo ele desde que saí da mansão no dia do casamento.Mirella também não fala nada a respeito de onde eles estão ou o que estão fazendo, ela apenas diz que logo todos vêm me ver, mas sinto pela voz dela que isso não é uma certeza, parece que ela está com medo e não sabe o que dizer a respeito desse fato.Ela não para de
MateusAcordo novamente com Mirella tagarelando sobre minha rotina matinal, logo vejo o enfermeiro e ela começarem a me higienizar e tudo segue normal, exceto que Mirella está com seu olhar vidrado no meu já que meus olhos estão abertos.Quando acaba a higiene e fisioterapia, ela me diz que vai trabalhar um pouco, me esforço para mover os lábios e o que acontece deixa até a mim surpreso.— Ooouuerr. —Solto algo parecido com um gemido.— Meu Deus você falou. Espera, vou chamar o médico. —Ela me abraça e eu solto outro gemido.— Oouurrr. —Ela saiu e voltou com o médico que já entra comemorando.— Vejo que estamos evoluindo. Bom dia, Mateus. —— Ooiiooi. —Sussurro arrastado e enrolado— Olha que maravilha, você me entende? —— Sssss... —— Calma, está excelente, vou considerar isso um sim, se estiver certo pisque uma vez para mim? —Pisco uma vez.— Ótimo, vamos estabelecer um código para nos comunicar até que a fonoaudióloga te avalie. Para sim você pisca uma vez, para não duas, cor
MateusHoje faz exatamente vinte e oito dias do meu acidente, os médicos dizem que minha melhora é espantosa, já me alimento por via oral, converso, permaneço sentado por um bom período na cadeira de rodas, não movimento do pescoço para baixo, mas já sinto quando me tocam, já até tomei banho de chuveiro, o enfermeiro me colocou embaixo da água em uma cadeira de banho e me esfregou.O banho e as trocas de fraldas que são agora mais frequentes, já que sinto que preciso trocá-las, ainda são momentos que me deixam muito constrangido e são os únicos momentos em que Mirella não participa, ela não se sente confortável, já que sou seu cunhado. Mas o restante é ela quem tem feito. Até me vestir e passar da maca para a cadeira ela aprendeu.Os médicos estão trabalhando para eu conseguir identificar a necessidade de urinar e evacuar antes de fazê-los, e todos já me convenceram que isso faz parte do processo, então mesmo constrangido eu aceito tudo sem