MirellaJá é tarde quando Léo entra pela porta, ele me dá um beijo no rosto e se aproxima de Mateus passando a mão em seu rosto e em seguida acariciando seu cabelo como se o bagunçasse.— Oi Mi, ei irmão? Já não chega de dormir não? —— Oi Léo, pensei que hoje já não viria mais ninguém. Como estão as coisas em casa? —— A Patrícia não veio? Marcos está louco, querendo matar tudo e todos. Eu passei o dia todo resolvendo pendências e atrás de informações, mas supus que Patrícia tivesse vindo. —— Não, ela disse que está um caos lá na mansão, mas eu acreditei que a essa hora o Marcos já teria se acalmado. —— Que nada pequena, ele até tentou ir para cima do tio e quase bateu no homem. —As máquinas que monitoram Mateus, apitam mostrando uma alteração.— Aí Jesus! —Aproximo-me dele segurando seu rosto com as mãos e falo calmamente.— Mateus, calma, está tudo bem, lembra do que eu disse ontem, você precisa relaxar para melhorar, lembra? Estamos aqui com você, vamos resolver tudo, fica tra
MateusMais um dia, estou ouvindo Mirella tagarelar, fazendo uma narrativa sobre minha higiene, fisioterapia, e tudo mais. Assim que terminam meus cuidados matinais, deixam apenas nós dois no quarto.Pelo que ela falou hoje faz quinze dias que sofri o acidente e não tem vindo ninguém nos visitar ou trocar de lugar com ela, o que eu acho muito estranho.Patrícia e Marcos eu dou até graças a Deus que não venham, mas meu pai e Leonardo? Eu estou morrendo de saudades, gostaria muito de ao menos ouvir a voz deles. Além disso, esse sumiço deles é muito estranho, eu conheço os dois, sei que algo aconteceu para eles não virem me ver. Leonardo veio apenas uma vez e meu pai, não vejo ele desde que saí da mansão no dia do casamento.Mirella também não fala nada a respeito de onde eles estão ou o que estão fazendo, ela apenas diz que logo todos vêm me ver, mas sinto pela voz dela que isso não é uma certeza, parece que ela está com medo e não sabe o que dizer a respeito desse fato.Ela não para de
MateusAcordo novamente com Mirella tagarelando sobre minha rotina matinal, logo vejo o enfermeiro e ela começarem a me higienizar e tudo segue normal, exceto que Mirella está com seu olhar vidrado no meu já que meus olhos estão abertos.Quando acaba a higiene e fisioterapia, ela me diz que vai trabalhar um pouco, me esforço para mover os lábios e o que acontece deixa até a mim surpreso.— Ooouuerr. —Solto algo parecido com um gemido.— Meu Deus você falou. Espera, vou chamar o médico. —Ela me abraça e eu solto outro gemido.— Oouurrr. —Ela saiu e voltou com o médico que já entra comemorando.— Vejo que estamos evoluindo. Bom dia, Mateus. —— Ooiiooi. —Sussurro arrastado e enrolado— Olha que maravilha, você me entende? —— Sssss... —— Calma, está excelente, vou considerar isso um sim, se estiver certo pisque uma vez para mim? —Pisco uma vez.— Ótimo, vamos estabelecer um código para nos comunicar até que a fonoaudióloga te avalie. Para sim você pisca uma vez, para não duas, cor
MateusHoje faz exatamente vinte e oito dias do meu acidente, os médicos dizem que minha melhora é espantosa, já me alimento por via oral, converso, permaneço sentado por um bom período na cadeira de rodas, não movimento do pescoço para baixo, mas já sinto quando me tocam, já até tomei banho de chuveiro, o enfermeiro me colocou embaixo da água em uma cadeira de banho e me esfregou.O banho e as trocas de fraldas que são agora mais frequentes, já que sinto que preciso trocá-las, ainda são momentos que me deixam muito constrangido e são os únicos momentos em que Mirella não participa, ela não se sente confortável, já que sou seu cunhado. Mas o restante é ela quem tem feito. Até me vestir e passar da maca para a cadeira ela aprendeu.Os médicos estão trabalhando para eu conseguir identificar a necessidade de urinar e evacuar antes de fazê-los, e todos já me convenceram que isso faz parte do processo, então mesmo constrangido eu aceito tudo sem
MateusSeguimos em silêncio até a mansão, claro que reconheci o caminho, mas assim que o carro para questiono.— Onde estamos? —— Sua casa. É Mateus teremos muitas coisas para conversar, mas vamos entrar e liberar o motorista primeiro. —MirellaDesço do carro estranhando o portão não ter aberto assim que nos aproximamos, deve ser porque é um Uber, penso comigo mesma. Mas ao chegar mais perto verifico que o portão está fechado com cadeados, volto ao carro e peço para que o motorista aguarde, acho que ele enxerga o desespero em meus olhos, pois apenas concorda e volta a olhar para a frente, eu volto para o portão, sigo até a entrada lateral e tudo está trancado com cadeados. Meu Deus e agora? Penso enquanto observo o portão fechado a minha frente, é quando vejo que a caixa de correios está cheia, vou até lá e retiro tudo, começo a olhar, na verdade quero ganhar tempo, pois não sei o que fazer, vou passando por vários envelopes com contas e propagandas, até que encontro dois envelopes
MateusNão sei como, mas ainda me surpreendo com Patrícia, como pode ser tão baixa, olho para Mirella e vejo que está pálida, lágrimas escorrem por seu rosto sem parar.— Meu Deus! Minha irmã é um monstro. —Ela fala já soluçando de tanto chorar.— Ei pequena, não fica assim, olha para mim! —— Não tenho coragem, tudo isso é culpa da minha irmã, me perdoa Mateus por favor? —Ela fala enquanto me abraça. Fico em silêncio por um tempo, deixo que ela coloque toda sua dor para fora, ela fica um bom tempo pedindo perdão, dizendo que Patrícia é um monstro e chorando. Até que eu resolvo falar.— Mi, por favor, não fica assim, você não tem culpa de nada, olha para mim pequena! —— Meu Deus! Você lembrou do meu apelido Mateus. —— Eu nunca esqueci pequena. —Ela me olha confusa e espantada.— O que? Como assim? —— Senta que vou te contar. —Começo então a relatar tudo para ela, conto que desde o início eu ouvia tudo que era falado, relato tudo que aconteceu no caminho para o hotel até o acide
MateusNem sei quanto tempo levou todo aquele trabalho que a Mirella teve para me limpar e deixar tudo arrumado, um turbilhão de pensamentos me inunda, me impedindo de dormir. Como pude ser tão ingênuo? Como nunca percebi ou desconfiei de nada? O que vou fazer para me reerguer financeiramente?Esse dinheiro que temos não irá durar muito, principalmente se ela ficar comprando todas as coisas que eu vou precisar para o tratamento, e esse trabalho de consultoria, não sei como será, eu não quero que as pessoas me vejam nesse estado. Onde estarão meu pai e Léo? Será que Marcos realmente ficou louco? E como assim Patrícia estará de olho em nós? Como minha vida pode se transformar nisso?Numa coisa Patrícia tem razão, eu virei um encosto. Vou atrapalhar a vida da Mirella, não é justo ela estar presa a mim. Por que ela está fazendo tudo isso? Que ser humano em sã consciência ia se dedicar tanto a alguém que não tem nada a lhe oferecer? Nem mesmo prazer posso dar a ela. Espera! Como assim? Po
MirellaAcordo e percebo que estou abraçando Mateus, e ainda por cima com minha perna em cima dele, tomara que ele não tenha percebido, acredito que não, pela sua respiração parece estar dormindo, me levanto devagar para não o acordar.— Bom dia! Dormiu bem? —— Ah... Merda! —— Nossa! Que bom dia mais estranho, pelo jeito o colchão não estava confortável. —Digo dando risada e ela então também sorri.— Desculpa. Bom dia! Mateus, o colchão estava ótimo, foi o melhor que eu já dormi. —— Sempre que precisar, pode ficar à vontade. —— Vejo que alguém acordou de bom humor hoje, isso é muito bom. Mas chega de papo, hora de começar o dia. —Falo indo à sala, droga, eu preciso arrumar essa bagunça, pego uma roupa e faço minha higiene o mais rápido que consigo. E volto para o quarto já com algumas coisas para arrumar Mateus.— Agora é sua vez mocinho. —Falo arrumando as coisas na cama para higienizá-lo.— Eu sei que está acostumado com o banho pela manhã, mas hoje terá que ficar para a noit