RICKY
Dei três batidas na porta. Aqueles dois sempre atrasam para se arrumar. Esquecem-se da vida transando e o mundo que espere.
— Entra aí, Ricky! — Tânia abriu a porta ainda ajeitando o sutiã. Intimidade é uma merda.
— Posso entrar, Carlinhos? Não quero ver você pelado.
— Não vai encontrar nada que você não tenha, parça. — debochou.
— Verdade, tenho mesmo. Mas, claro, tudo bem maior.
— Meninos sempre com seus brinquedinhos e comparações de tamanho, que infantilidade! — Tânia jogou uma almofada, acertando bem no meio do meu peito.
Sentei no sofá e fiquei observando aqueles dois, um passando hidratante nas costas do outro. Se eu já não os conhecesse tão bem seria um bom motivo para me mandar de lá, pois o erotismo perdia de longe naquela cena. Par
RICKYDois meses antes...O barzinho da Bela Vista estava lotado. De fato, eu precisava me enturmar novamente depois de meses afastados dos palcos, shows e bares. Foram tantas decepções, perdas e facadas nas costas, que o tesão que eu sentia de subir no palco havia desaparecido. Sugeri, inclusive, que arrumassem outro vocalista, mas se recusaram, uma vez que quem idealizou a banda fui eu. Os caras foram bastante compreensivos com o meu momento e cada um tocou a sua vida em projetos paralelos, mas sempre me dando força para voltar.Pensei que não cantaria de novo. Não naquela noite especificamente, mas em breve. Carlinhos e Tânia insistiram que já estava mais do que na hora de a Rockstar Edge ter um novo guitarrista. O tal Tiago ia se apresentar com outra banda e só faltava a minha aprovação para que ele se unisse definitivamente ao grupo.A banda
JOANAO único plano do jantar era encontrar Ricky no restaurante do resort e (tentar) suspirar discretamente pelo seu sorriso e a cor caramelo dos seus olhos. Mas a noite tinha reservado bem mais do que isso. Vê-lo naquele palco simplesmente me tirou do chão. Até agora não consigo me lembrar de ter caminhado até a mesa e sentado ao lado da Tânia. Minha atenção se dividia entre ouvi-lo cantar e perceber os olhares fascinados das outras mulheres. Senti uma pontada de ciúmes. O que não tinha nada a ver, já que ele não era nada meu.Quando voltei para o quarto, bem mais cedo do que eu gostaria, fiquei só de calcinha e me enfiei embaixo das cobertas. Aquele lençol era tão macio que o toque da minha pele sobre ele era delicioso. Geralmente uso um pijaminha de flanela bem confortável, mas deitar praticamente nua naquele quarto de hotel me deu uma
JOANARicky usava o mesmo calção de banho, mas tinha uma camiseta regata por cima. Acredito que teve a mesma ideia que eu, pois havia um leve perfume de sabonete e ele devia ter tirado o excesso de sal e areia. Com o tempo combinado, era o máximo que poderia ser feito.Deixou a barra de chocolate em cima da mesinha de cabeceira e se aproximou de mim. Eu não conseguia desgrudar meus olhos dos dele. Ricky caminhou lentamente na minha direção e só percebi que eu andava para trás quando senti a parede. Lembrei-me da cena do filme "Cinquenta tons de cinza" quando Mr. Grey empurra Anastacia para a parede do elevador. Essa é uma das minhas cenas favoritas. No filme, o beijo arrebatador foi interrompido pelas pessoas que entraram no elevador, deixando Anastacia respirando com certa dificuldade e um tanto descabelada. Mas, na minha cena particular, ninguém nos interrompeu.O Ricky daquele
RICKYPassei as mãos pelos cabelos de forma nervosa. Tinha acabado de tomar banho e ainda sentia o corpo de Joana na minha pele. Por mim, ficaria trancado no quarto dela até o último dia da viagem, mas eu poderia assustá-la. Fantasiei sobre aquilo durante muito tempo, eu teria que me controlar para não estragar tudo. O desejo foi tão intenso e fiquei tão feliz quando senti o mesmo da parte dela que a transa acabou sendo muito rápida. Pareci um afobado inexperiente. Eu queria muito mais.Quando Tânia bateu na porta querendo saber das novidades, nem tive como a expulsar. Ela simplesmente invadiu o meu quarto, tagarelando sem parar. Às vezes ficava de saco cheio das suas cobranças. Ela e a sua eterna mania de achar que pode se meter em todos os meus assuntos.— Ontem concordei em manter o segredo, mas não vejo qual a importância disso. Conte para ela de uma
TÂNIAAdoro fazer aulas de ritmos na academia. Seria uma ótima oportunidade de dançar justamente na Bahia. Quando entrei na sala de aula, que parecia mais um salão de festas todo espelhado, fiquei ainda mais animada. Encontrei Joana e mais umas dez mulheres.— Caraca! Cadê os homens desse hotel, Joana? Só a mulherada vai se arriscar a dar umas reboladas?— Hahahaha! Pelo visto sim. E quer saber? Tô achando até bom. Eu nunca fiz uma aula dessas e é certo que vou me enrolar. Prefiro que os olhares masculinos não testemunhem a coleção de micos que vou pagar.— Olhares masculinos de uma forma geral ou especialmente o olhar cor de âmbar de certo cantor paulistano?Joana sorriu com a provocação. Mas não tive tempo de prosseguir com as minhas habituais piadinhas, pois fomos interrompidas pela entrada da professora de
RICKYTânia e Joana ficaram ainda mais entrosadas depois da aula de dança de axé. O que foi bom! Depois da timidez inicial de assumir que estávamos ficando, ela não escondeu seus carinhos durante o jantar. Sei que era quase impossível para a Tânia segurar seus comentários sarcásticos, mas ela respeitou e não fez qualquer piada. Fingiu que nossas mãos dadas e beijos furtivos eram as coisas mais normais do mundo.A banda finalmente deu as caras e os músicos eram bem animados. Uma parte do salão virou pista de dança e vários casais se arriscaram. Eram músicas bem legais, dançantes, mas para serem dançadas juntinho.— Vamos dançar, Joana?— Vamos! Só me dá dois minutinhos, já volto.Ela saiu em disparada em direção ao seu alojamento. Não entendi absolutamen
JOANAAcordei sobressaltada e estranhei o ambiente. Esfreguei os olhos e uma fraca claridade entrava através das cortinas. Aos poucos reconheci o quarto do Ricky e senti o peso de seu braço sobre a minha barriga. Já conseguindo enxergar um pouco melhor na semiescuridão, olhei para ele, que ressonava baixinho. Seus cabelos completamente desgrenhados espalhavam sobre o travesseiro. Uma das melhores coisas para se ver ao acordar.Com todo o cuidado, tirei o braço do Ricky e saí da cama, procurando minha bolsa, roupas e sapatos. Meu celular tinha apenas 10% de bateria e várias mensagens do João Pedro no WhatsApp. Passava um pouco das sete da manhã e, só então me lembrei do passeio que faríamos para o Pelourinho. Todo o meu corpo doía, como se tivesse corrido uma maratona. Apesar da dor muscular, senti que sorri. E esse sorriso involuntário era uma mistura de praz
JOANAEu poderia facilmente ficar viciada em acordar nos braços do Ricky. Fiquei tão relaxada que não sentia mais dor nas pernas por causa da maratona do dia anterior. Entramos no quarto dia de viagem e queria que aquele aconchego e bem-estar durasse para sempre.A única coisa programada do dia era a segunda aula de axé. Então, tudo o que eu queria era curtir uma bela praia na companhia desse moreno espetacular. Olhei rapidamente o celular e vi que passava um pouco das sete. Abri a mensagem do meu irmão. Ahhh, João Pedro! E não é que ele bancou o Sherlock mesmo? Lá estavam dois links: um para a página da banda e outro do perfil dele do Facebook. Além de um áudio de aproximadamente dois minutos. Os fones de ouvido estavam longe da cama e deixei pra ouvir depois. Para quê perder tempo com a vida do Ricky na internet se ele estava maravilhosamente espalhad