RICKY
Passei as mãos pelos cabelos de forma nervosa. Tinha acabado de tomar banho e ainda sentia o corpo de Joana na minha pele. Por mim, ficaria trancado no quarto dela até o último dia da viagem, mas eu poderia assustá-la. Fantasiei sobre aquilo durante muito tempo, eu teria que me controlar para não estragar tudo. O desejo foi tão intenso e fiquei tão feliz quando senti o mesmo da parte dela que a transa acabou sendo muito rápida. Pareci um afobado inexperiente. Eu queria muito mais.
Quando Tânia bateu na porta querendo saber das novidades, nem tive como a expulsar. Ela simplesmente invadiu o meu quarto, tagarelando sem parar. Às vezes ficava de saco cheio das suas cobranças. Ela e a sua eterna mania de achar que pode se meter em todos os meus assuntos.
— Ontem concordei em manter o segredo, mas não vejo qual a importância disso. Conte para ela de uma
TÂNIAAdoro fazer aulas de ritmos na academia. Seria uma ótima oportunidade de dançar justamente na Bahia. Quando entrei na sala de aula, que parecia mais um salão de festas todo espelhado, fiquei ainda mais animada. Encontrei Joana e mais umas dez mulheres.— Caraca! Cadê os homens desse hotel, Joana? Só a mulherada vai se arriscar a dar umas reboladas?— Hahahaha! Pelo visto sim. E quer saber? Tô achando até bom. Eu nunca fiz uma aula dessas e é certo que vou me enrolar. Prefiro que os olhares masculinos não testemunhem a coleção de micos que vou pagar.— Olhares masculinos de uma forma geral ou especialmente o olhar cor de âmbar de certo cantor paulistano?Joana sorriu com a provocação. Mas não tive tempo de prosseguir com as minhas habituais piadinhas, pois fomos interrompidas pela entrada da professora de
RICKYTânia e Joana ficaram ainda mais entrosadas depois da aula de dança de axé. O que foi bom! Depois da timidez inicial de assumir que estávamos ficando, ela não escondeu seus carinhos durante o jantar. Sei que era quase impossível para a Tânia segurar seus comentários sarcásticos, mas ela respeitou e não fez qualquer piada. Fingiu que nossas mãos dadas e beijos furtivos eram as coisas mais normais do mundo.A banda finalmente deu as caras e os músicos eram bem animados. Uma parte do salão virou pista de dança e vários casais se arriscaram. Eram músicas bem legais, dançantes, mas para serem dançadas juntinho.— Vamos dançar, Joana?— Vamos! Só me dá dois minutinhos, já volto.Ela saiu em disparada em direção ao seu alojamento. Não entendi absolutamen
JOANAAcordei sobressaltada e estranhei o ambiente. Esfreguei os olhos e uma fraca claridade entrava através das cortinas. Aos poucos reconheci o quarto do Ricky e senti o peso de seu braço sobre a minha barriga. Já conseguindo enxergar um pouco melhor na semiescuridão, olhei para ele, que ressonava baixinho. Seus cabelos completamente desgrenhados espalhavam sobre o travesseiro. Uma das melhores coisas para se ver ao acordar.Com todo o cuidado, tirei o braço do Ricky e saí da cama, procurando minha bolsa, roupas e sapatos. Meu celular tinha apenas 10% de bateria e várias mensagens do João Pedro no WhatsApp. Passava um pouco das sete da manhã e, só então me lembrei do passeio que faríamos para o Pelourinho. Todo o meu corpo doía, como se tivesse corrido uma maratona. Apesar da dor muscular, senti que sorri. E esse sorriso involuntário era uma mistura de praz
JOANAEu poderia facilmente ficar viciada em acordar nos braços do Ricky. Fiquei tão relaxada que não sentia mais dor nas pernas por causa da maratona do dia anterior. Entramos no quarto dia de viagem e queria que aquele aconchego e bem-estar durasse para sempre.A única coisa programada do dia era a segunda aula de axé. Então, tudo o que eu queria era curtir uma bela praia na companhia desse moreno espetacular. Olhei rapidamente o celular e vi que passava um pouco das sete. Abri a mensagem do meu irmão. Ahhh, João Pedro! E não é que ele bancou o Sherlock mesmo? Lá estavam dois links: um para a página da banda e outro do perfil dele do Facebook. Além de um áudio de aproximadamente dois minutos. Os fones de ouvido estavam longe da cama e deixei pra ouvir depois. Para quê perder tempo com a vida do Ricky na internet se ele estava maravilhosamente espalhad
JOANANem tive tempo de engolir o pedaço de bolo que havia acabado de colocar na boca, pois o cuspi no prato tal o susto que levei. A dona da voz, que antes estava atrás de mim, circulou a mesa colocando-se ao lado do Ricky.Ela era tão alta quanto ele, morena, com os cabelos bem pretos, lisos e compridos, que ultrapassavam a linha da cintura. Seu corpo era escultural e parecia ser um membro perdido da família Kardashian. Seria eu a tal periguete de resort que ela havia mencionado?— Rosana, que diabos você está fazendo aqui?! — Ricky, que sempre tinha demonstrado calma e educação desde o início, estava com uma cara feia de dar medo.— Sabe aquele ditado da vovó, “quando Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé”?Ela parecia nem se abalar com a expressão transtornada do Ricky. Ainda em pé
RICKYNão pensei que pudesse sentir todo aquele ódio novamente. Tudo estava tão bem e eu finalmente acreditava que poderia ser feliz. Rosana tinha invadido meu paraíso sem a menor cerimônia, como o pior dos furacões. E continuava a mesma: arrogante, se considerando acima de tudo e de todos e se achando no direito de ferir quem estivesse em seu caminho. Não consigo entender como um dia pude ser apaixonado por essa mulher. A única explicação plausível é que sua beleza me cegou para todo o resto. E, agora percebendo tudo de forma tão clara, ainda consigo ver o quanto é bonita e atraente, mas em nada mais me afeta.Minha cabeça tinha virado o mais completo caos. E nem pude evitar que Joana saísse daquela maneira. Ela não merecia ser agredida pela Rosana, então era melhor mesmo que não presenciasse aquela cena tão pat&eacut
JOANAO filme me distraiu, ainda bem. Saí renovada do cinema e não foi tão traumático assim assistir sozinha. Mais uma primeira vez para a minha coleção. Por que eu tinha tanto medo de ir sozinha ao cinema? Não sei se medo é o sentimento correto, talvez eu sentisse vergonha de ir desacompanhada. E, soltinha na vida, lá fui eu buscar um lugar para almoçar. Já passava das três da tarde e meu estômago começou a reclamar. Escolhi um belo salmão grelhado com batatinhas coradas, um suco de laranja e mousse de limão.Depois de mais uma volta pelo shopping, decidi que já era tempo de tirar o celular do modo avião. Por sorte, eu estava com o carregador portátil na bolsa e resolvi sentar em um dos inúmeros bancos para checar as mensagens enquanto ele recarregava.Joana,Por favor, me avisa assim que voltar
RICKYEnfim, a mensagem que eu tanto esperava! Por onde será que Joana andou afinal? Passei um dia de merda, pensando em tudo o que a Rosana jogou na minha cara sobre eu ser um músico medíocre. Além de olhar para o celular igual a um psicopata esperando uma mensagem ou ligação da Joana.Tânia conseguiu confirmar que Rosana havia deixado o resort. Se ela ainda estava na Bahia, se tinha voltado pra São Paulo ou comprado passagem para o quinto dos infernos pouco me importava. Meu paraíso estava a salvo daquela louca.Como não havia muito o que fazer e com o estresse num nível medonho, Tânia e Carlinhos me deixaram sozinho no decorrer do dia. No início, Carlinhos ainda tentou conversar e procurar alguma atividade no hotel para me distrair, mas Tânia, me conhecendo como ninguém, sabe que quando estou assim preciso ficar sozinho para pensar. Como um gran