Foram quase cinco minutos de pura agonia. Já começava a condenar a si mesmo por não tê-la seguido e por tê-la deixado sozinha. Já estava prestes a ir atrás dela quando a viu voltar, com uma expressão muito assustada.
Calada, ela se sentou, como se não pudesse mais se manter de pé. A espera estava deixando Mac enlouquecido, por isso, não suportou mais e se aproximou.
— Viviane, quem era no telefone? — Com as mãos em seus braços, fez com que ela o olhasse nos olhos.
Por um momento, Viviane permaneceu olhando para ele, mas sem dizer nada. A verdade era que ele poderia jurar que ela sequer o estava vendo. Finalmente, depois de alguns segundos, ela abaixou a cabeça e respondeu, sem o fitar:
— Era a minha sogra.
— O que ela queria? — Mac não iria permitir que ela dissesse apenas aquilo. Queria uma explicação m
Vislumbrar o futuro era algo que fazia parte de sua vida. Como calçar um sapato, beber um copo d'água, abrir uma porta. Era tão banal quanto qualquer uma dessas ações do cotidiano. O que para os outros era uma novidade, algo inimaginável, para Aldo era parte de quem ele era, parte de sua essência. Mas isso não queria dizer que era fácil. Viviane não tinha voltado para casa na noite anterior. E não precisava ser um vidente para adivinhar onde estivera. Confortava-lhe saber que estava bem e protegida — talvez mais do que estaria do que se estivesse com ele —, mas não podia negar que a casa ficava um pouco vazia sem Lúcia. E era exatamente aquilo que suas nuvens nunca lhe disseram que aconteceria. Nunca fora capaz de compreender o amor. Sen
Colocando a carta dentro do bolso de seu jeans, Viviane pegou a mão de Lúcia novamente e a conduziu para fora do quarto. Ao chegarem na varanda, a menininha pediu que a mãe lhe desse um tempo com o avô. Relutante, Viviane acabou aceitando, pedindo que ela não demorasse e avisando que a estaria esperando no carro. Sem nem dizer nada ou pedir licença, Lúcia sentou no pequeno degrau da varanda da casa, bem ao lado da cadeira de balanço onde Aldo estava sentado, com seu café. Na verdade, ele nem estava bebendo nada, apenas segurando a caneca e apreciando sua solidão, que voltaria a ser sua companhia de todos os dias.` A menina realmente não desistia. Segurando sua boneca como se fosse seu maior tesouro, ela sentou-se ao lado dele, com aquele rostinho, que mais parecia ser
DOIS DIAS DEPOIS — Não posso demorar muito. Não quero que ela desconfie de nada. Foi a primeira coisa que Mac falou quando seu acompanhante entrou na cafeteria ― não a de Edna, é claro ―, portando uma pasta de couro e vestindo um terno de tweed bastante fora de moda. Usava também um bigode, e seus cabelos grisalhos, contrastando com a pele negra, faziam com que lembrasse um cantor de jazz boêmio ou uma versão mais jovem de Morgan Freeman. Bem, a aparência dele era o que menos importava. Sabia que era bom. Que daria conta do serviço e que estava disposto a viajar de Belo Horizonte para chegar em Serenia às sete da manhã sem cobrar a mais por isso.
Enquanto minutos e horas se passavam, ele descobria todas as nuances do Transtorno dissociativo de identidade. Tratava-se de uma doença que normalmente tinha como causa algum trauma do passado, geralmente associado ao cunho sexual, o que poderia gerar dois ou mais agrupamentos mentais independentes, sem que nenhum soubesse da existência do outro. Assim, cada "personalidade" existente dentro de uma mesma mente poderia ter comportamentos, lembranças e ideias completamente diferentes. Era como vários personagens em um livro, cada um com seu passado, nome, gostos, sexo, raça, manias e até mesmo características físicas. Relatos contavam casos de pacientes cuja personalidade principal era destra, enquanto uma das fornecidas por sua mente era canhota. Era assustador ler os casos reais e imaginar o quão vulnerável as pessoas deveriam se sentir ao ter
Assim que saiu da casa de Mac, Aldo tinha a intenção de voltar para sua própria casa. Tinha muitas coisas a ponderar; contudo, suas pernas tomaram outro rumo completamente inesperado. Talvez tivessem sido as malditas Cumulonimbus, que pareciam vibrar em sarcasmo, zombando do que estava prestes a acontecer. Elas adoravam uma boa tragédia, e Aldo parecia ser sempre seu alvo preferido. De alguma forma sentia-se cansado de tantas tristezas, de nuvens escuras em sua vida. Estava mais do que na hora de reparar os males que causara. Quem sabe assim alguns dos que foram causados contra ele também não fossem reparados? Não fazia ideia de onde surgira aquela desesperada necessidade, mas realmente queria fazer a coisa certa. Ao menos daquela vez.&n
Lágrimas nos olhos nunca eram um bom sinal. Ainda mais vindas de uma mulher que normalmente resolvia seus problemas antes de levá-los para casa. Edna conhecia sua menina e quase podia dizer que também conhecia Aldo. Ao menos o conhecia mais do que muitas pessoas viriam a conhecer. Até a própria filha. Não costumava ser uma mulher enxerida, mas a verdade era que sabia muito mais daquela história do que gostaria. Embora preferisse ter permanecido na ignorância, era tarde para esquecer, por isso, o melhor seria usar seus conhecimentos para ajudar aquelas duas pobres almas desencontradas. O que, claro, não seria fácil. Viviane já sabia das cartas; Edna tinha ouvido parte da conversa dela com Al
Era cedo. Cedo demais para a campainha estar tocando de forma tão insistente. Deitada na cama de Mac, nem se lembrando de como tinha ido parar ali depois da noite de amor no sótão, Viviane ergueu a cabeça do travesseiro e observou o relógio digital que ficava no criado mudo ao lado da cama. Eram seis e dez da manhã. Ao seu lado, Mac dormia um sono pesado e não parecia disposto a acordar, muito menos levantar para atender ao visitante indesejado. Sobraria, portanto, para ela. Vestiu um robe por cima da lingerie que usava e calçou o chinelo de forma errada; o pé direito no esquerdo e vice-versa. O sono era intenso demais para que conseguisse prestar atenção naquelas pequenas coisas. Por um m
Chorando, Viviane mal conseguiu responder, apenas balançou a cabeça em afirmativa, com soluços entrecortados como trilha sonora. — Não sei o que dizer... Me perdoe pela forma como contei tudo... — Ele nem sequer é meu pai... não tinha a menor obrigação de me criar, mas ficou comigo. — Viviane chorava copiosamente. — Seu pai é um homem maravilhoso, Viviane. — Mas e os meus avós? Seus pais... por que me deixaram com ele mesmo achando que era um homem violento? ― Era mais uma coisa que Viviane precisava saber. ―