Lágrimas nos olhos nunca eram um bom sinal. Ainda mais vindas de uma mulher que normalmente resolvia seus problemas antes de levá-los para casa.
Edna conhecia sua menina e quase podia dizer que também conhecia Aldo. Ao menos o conhecia mais do que muitas pessoas viriam a conhecer. Até a própria filha.
Não costumava ser uma mulher enxerida, mas a verdade era que sabia muito mais daquela história do que gostaria. Embora preferisse ter permanecido na ignorância, era tarde para esquecer, por isso, o melhor seria usar seus conhecimentos para ajudar aquelas duas pobres almas desencontradas. O que, claro, não seria fácil.
Viviane já sabia das cartas; Edna tinha ouvido parte da conversa dela com Al
Era cedo. Cedo demais para a campainha estar tocando de forma tão insistente. Deitada na cama de Mac, nem se lembrando de como tinha ido parar ali depois da noite de amor no sótão, Viviane ergueu a cabeça do travesseiro e observou o relógio digital que ficava no criado mudo ao lado da cama. Eram seis e dez da manhã. Ao seu lado, Mac dormia um sono pesado e não parecia disposto a acordar, muito menos levantar para atender ao visitante indesejado. Sobraria, portanto, para ela. Vestiu um robe por cima da lingerie que usava e calçou o chinelo de forma errada; o pé direito no esquerdo e vice-versa. O sono era intenso demais para que conseguisse prestar atenção naquelas pequenas coisas. Por um m
Chorando, Viviane mal conseguiu responder, apenas balançou a cabeça em afirmativa, com soluços entrecortados como trilha sonora. — Não sei o que dizer... Me perdoe pela forma como contei tudo... — Ele nem sequer é meu pai... não tinha a menor obrigação de me criar, mas ficou comigo. — Viviane chorava copiosamente. — Seu pai é um homem maravilhoso, Viviane. — Mas e os meus avós? Seus pais... por que me deixaram com ele mesmo achando que era um homem violento? ― Era mais uma coisa que Viviane precisava saber. ―
Assim que Janine fechou a porta, Viviane entrou no carro para voltar para casa. Mas a verdade era que não estava pronta. Pelo menos não totalmente. Novamente sentia-se sem rumo, da mesma maneira como se sentira quando chegara naquela casinha sem nenhuma resposta. Naquele momento, contudo, a situação era diferente. Todas as suas perguntas tinham sido respondidas, não apenas as dúvidas relacionadas àquele romance que tanto atiçara sua curiosidade, mas, também, todas as ruas sem saída de uma vida inteira finalmente a levavam a algum caminho. Sorrindo, em meio a algumas lágrimas emocionadas, Viviane deu partida no carro. Preparava-se para sair dali cheia de novas esperanças, mas um carro parou ao lado do dela. Por um momento pensou que poderia ser Janine, dec
Ele tinha chegado. O mal, que tanto era anunciado pelas nuvens que Aldo enxergava, já não era mais uma promessa. Era uma realidade. Ele sabia disso porque uma ventania forte e repentina surgiu, começando a tornar o céu uma verdadeira bagunça. Via as folhas das árvores secas caindo no chão, o bater das asas dos pássaros fugindo em disparada, as cortinas voando longe... Nada disso era um bom sinal. Aldo sabia que algo estava errado. Mais que isso, sabia que o problema era com Viviane. Tinha, portanto, uma escolha a fazer. Poderia ficar parado, sentado ali em sua cadeira de balaço, com uma maldita cerveja na mão, fazendo o que
Não iria chorar. Não na frente dele. Não de novo. Não iria se tornar a frágil donzela em perigo, pois sabia que era o que ele queria; sabia que ele gostava da brincadeira de caça e caçador, que gostava de cada minuto de terror que proporcionava. Não. Não daquela vez. Por Lúcia... Não fazia ideia de como sairia viva, de como conseguiria escapar, mas era uma sobrevivente. Lutaria novamente até a morte. Dele ou dela. Quem fosse mais forte venceria. E, apesar de ele ser maior, ela tinha uma vantagem sobre ele: total controle de sua própria mente. Enquanto mantivesse a sanidade, estaria segura.
A busca parecia eterna. Tal qual a agonia. Apesar de viver um vida solitária, Janine conhecia bem as pessoas da vizinhança e sabia exatamente quem costumava alugar suas casas, cabanas e chalés, e até mesmo quem tinha algum imóvel à venda. Thales Moreno era um homem com uma condição financeira muito boa, portanto. poderia se dar ao luxo de comprar uma pequena propriedade em Serenia, mesmo que fosse temporária. Porém, apesar da ajuda ser de grande utilidade, eles já tinham visitado pelo menos seis pessoas, e todas afirmaram que não tinham feito negócio com ninguém no último mês. Sempre havia a possibilidade de alguém estar mentindo, talvez como uma exigência do próprio comprador — ou locatário &mda
Viviane respirou fundo, esperando a dor. Queria que, ao menos, a morte fosse rápida. Jimmy já lhe provocara muitas dores, e ela não sabia se estava preparada para mais. Sempre ouvira que quando uma pessoa estava prestes a morrer, sua vida passava diante de seus olhos por breves quatro segundos. Sabia que quatro segundos era um período curto demais para que revisse todas as coisas que tinha aprontado, portanto, não teria tempo de se arrepender de nada. Então, apenas três coisas preencheram sua mente enquanto esperava pelo que achava ser inevitável: o sorriso de Lúcia, que nunca mais veria novamente; não teria outra oportunidade de fazer amor com Mac, e o perdão de Aldo, que jamais receberia. Passara toda sua vida remoendo o passado e esquecera-se de aproveitar o presente, de valorizar cada segundo ao lado das pessoas que amava e nem ten
Mais uma vez havia uma arma apontada para sua cabeça. Na primeira tivera sorte, mas não acreditava que o mesmo aconteceria. Um raio nunca caía duas vezes no mesmo lugar. E estava mais do que acostumada a raios e tempestades. Sentia que seu coração batia na velocidade da luz, em uma relação inversamente proporcional ao movimento dos ponteiros do relógio, que pareciam manter-se inertes, fazendo o tempo demorar mais a passar, apenas para torturá-la. Jimmy caminhava lentamente em direção a ela, balançando o corpo de um lado para o outro, dançando a música que ele mesmo cantava:"Pleased to meet youHope you guess my nameWhat is puzzling youIs the nature of my game..."[1]