E nesse dia, quando a Lwkwakwa chegou em casa, deparou-se com uma cena que a deixou um tanto perturbada. O casal tutor estava estendido abraçado numa esteira, no pequeno quintal, esperando com alguma arrogância que quando ela chegasse aprontasse o almoço. Mas é assim, não é por abuso, quando se tem o privilégio de obter moça em casa, a dona da casa beneficia-se dessas contemplações. Essa cena fazia parecer que a Tchilombo era, na verdade, uma grande senhora e a Lwkwakwa uma mera empregada; e hoje, pela idade e pela maturidade que já tinha adquirido, imaginar-se nesse papel deixava a Lwkwakwa um tanto constrangida. O filho do casal entretinha-se a brincar no chão não pavimentado nem ajardinado do pequeno quintal, aparentemente repleto de pães do negócio da mamã. Mas por este a Lwkwakwa nutria um afecto particular. Gostava muito dele e não se importava que sujasse a sua roupa com areia. Porque afinal era ela quem agora cuidava da roupa suja da família.
Entretanto, nessa altura a
Um mês, dois, três, um ano. Nada.A Helena descobrira que apesar de tudo a amiga ainda tinha dúvidas.- Mas, dúvidas de quê, amiga?- Ainda tenho algumas reservas…- Mas quê!? O Henriques é louco por ti.- Eu sei…- Eu também sei que andas perdidamente apaixonada por ele.- Eu … - A Lwkwakwa titubeava – sim! – Admitiu finalmente – Eu realmente estou louca de paixão por ele. Mas é que tu bem sabes amiga que os homens nem sempre são fiéis aos seus primeiros sentimentos. A princípio podem até prometer coisas, mas depois que a máscara da paixão cair…- Amiga, abre o olho. Não seja tão ingénua. O namoro é algo que se vive a dois. Ninguém namora sozinha e é criancice colocar-se no papel de vítima. Se os homens fazem isso, é porque as mulheres também podem fazer…» Eu sei que uma paixão é apenas uma paixão; que tarde ou cedo as coisas podem mudar. Mas queres te impedir de viver uma experiência tão importante por causa do medo? Eu também
Mais um tempo depois a Helena estava a trabalhar num desses bancos do país em que a tonalidade da pele é condição sine qua nonpara admissão. Foi o pai dela, pela influência que este beneficiava, que lhe havia arranjado a vaga. Mas ela era tão à-vontade e espontânea que não dava imaginá-la ao balcão de um banco; pois banco é daquelas empresas cujos funcionários agem como autómatos, que só sabem repetir informações pré-programadas, numa linguagem impessoal.Porém, lá foi trabalhando e alguns breves meses depois ela tinha adquirido um pequeno carrito, um i10de cor vermelha, para si. Portanto, tanto o carrito assim como o salário ela os partilhava de bom coração com a amiga.É preciso fazer notar aqui que nem por causa do emprego, nem do carrito que ela agora possuía, a Helena tinha abdicado de fazer o que fazia antes. Ou deixado de ser o que era. Ainda frequentava a Universidade, ia a cinemas e a discotecas aos sábados à noite e aos domingos costumava ir a igrej
Foi assim:A Tchilombo teve muitas complicações ao longo do parto, e ficou no hospital por umas três longas semanas, pois os médicos tinham tomado a precaução de não liberá-la imediatamente porque, como acontecia amiúde, se fosse após a sutura para a casa, iria se envolver em sexo antes de sarar a ferida suturada e criar complicações. Mas, como é facto sabido, a Tchilombo já não aceitava envolver-se em sexo com o esposo havia um bom tempo, desde que tinha ela completado oito meses de gravidez. Portanto, ele ficara por mais de um mês a aguentar a seca e a reprimir os seus impulsos sexuais. A esposa tinha-se tornado tão susceptível no último mês, que não admitia sequer ser tocada pelo esposo e, mesmo usando a mesma cama, dormia apartada deste. E o Betinho, tímido que já era, não obtinha coragem de persuadir a mulher de que estava a queimar de desejos, para que ela fizesse um pequeno esforço a fim de aliviar-lhe os impulsos. Além do mais, os amigos e colegas de serviço dele já an
Foi-lhe assaz difícil distinguir a barreira entre o sonho e a realidade quando começou a despertar. Pois teve um despertar gradual.Como que tomada por uma paralisia de sono, ela sabia que estava desperta, mas tudo o mais em seu redor era-lhe estranho e onírico. Era como se, tendo já despertado, ela estivesse a continuar a sonambular. Percebia o peso e o sôfrego menear de um corpo que sobre ela se debatia, transmitindo-lhe um calor e um prazer indiscritíveis, mas não entendia patavina nenhuma do que estaria realmente a acontecer com o seu corpo. Uma ligeira dor se fazia anunciar em alguma parte do corpo, mas havia também um pequeno prazer que a isso se sobrepunha. O que seria? A razão estava enturvecida pelas emoções, ou pela realidade onírica? Além do corpo sobre si, ela percebia também alguma substância estranha que penetrava e fazia ziguezagues entre as suas pernas, enqua
Mas quando o sol raiou ela ficou em pânico ao imaginar como olharia agora e doravante para o rosto do Betinho. O seu pavor nesse sentido justificava-se pelo facto quase comum e esperado nessas circunstâncias; pois os homens e as mulheres sentem-se embaraçados diante da pessoa com quem se envolveram pela primeira vez sem consentimentos. Só que para ela não havia só vergonha, estava também imiscuído algum medo do futuro. O medo que sentia de ser expulsa de casa pela prima e ser discriminada pela sociedade em que fazia parte; para ela, viver na rua, levando uma vida desregrada, seria pior que a vergonha de ver o Betinho depois do ato que a tinha baixado muito fundo na arena humana e social. Sentia-se mal, quando imaginava o futuro, um mal-estar geral percorria o seu corpo; pior porque não sabia que comportamento adoptaria, nesse dia, diante do Betinho e do resto das pessoas desse mundo. Mas nesse dia ela não viu o Betinho a sair da casa. Surpreendeu-se quando descobriu mais tarde que,
Nos dois dias seguintes alguma coisa na expressão da Lwkwakwa deu a entender ao Betinho que ela não havia apreciado a aventura noturna. Tudo nos seus modos recentes indiciava que escondia vingança.Mas, por causa do medo de ser descoberta, a Lwkwakwa ficou por esses dois dias consecutivos solitária, evitando toda tentativa de aproximação com pessoas conhecidas, o que constituiu preocupação para a Helena que tinha vindo ela própria ao encontro da outra.A Helena tinha vindo muito cedo, pelas sete horas da manhã, mas numa altura em que o Betinho já havia saído para o serviço. Entrou pelo portão do pequeno quintal da amiga, apressada, e sem saudar falou:- Já não me procuras mais, amiga!? Por acaso eu te fiz algum mal?Porém, a Lwkwakwa estava surpreendida pela vinda inesperada da Helena. A presença da amiga transmitiu-lhe uma ambival
A Helena começava a trabalhar às 7 horas e saía pelas 17, às 18 horas ia para a escola de onde voltava pelas 22 horas. Era curioso que com tantas tarefas assim ela ainda fosse capaz de ter tempo para fazer as suas proezas sexuais. Não se tinha limitado de nada por causa do seu recém adquirido estatuto social, tal como já se referiu, ela continuava a divertir-se como antes. E mesmo assim, o seu desempenho no trabalho e na escola era excelente. Era uma mulher livre que sabia usufruir a sua liberdade. Não queria se casar, nunca tinha pensado em tal. Mas preferia entregar-se em orgias constantes e ou colectivas com quem lhe apetecesse. Fazia-o com jeito e cada vez mais com alguma experiência. Todos os homens que com ela se metiam colavam-se a ela por muito tempo, querendo sempre mais. Até quando ela os dispensava, enxotando-os e ou substituindo-os por outros.Nessa altura a Helena se tinha tornado muito famosa,
Desde que a Tchilombo estava hospitalizada, era raro baterem à porta àquelas horas da noite e o Betinho imaginou que podia ser por motivo que tivesse a ver diretamente com ele, como dono da casa, e ficou agitado pensando que fosse alguém a pedir asilo ou a querer informar-se sobre o estado clínico da Tchilombo; fosse o que fosse, só serviria para embaraçar os seus planos para mais uma noite de prazer sexual.Assim ele levantou-se num ímpeto, muito antes que a Lwkwakwa pudesse se mexer. A criança que esteve a dormir mexeu-se um pouco quando a porta foi batida, mas não despertou. Mal abriu a porta o Betinho apanhou um susto quando descobriu de quem se tratava. Não acreditava que ela soubesse de alguma coisa, mas a presença dela ali, por si só, constituía motivo de ameaça e era digna de desconfiança. Portanto, antes mesmo que tomasse completamente conta da situação, duas impetuosas cabeçadas bem disferidas já lhe tinham atingido o rosto e agitado a razão; foi violentamente impeli