E quando o dia marcado para o encontro com o namorado tinha chegado, a Helena entregara-lhe a chave do carro alegando que não sairia nesse dia e que a amiga estivesse, assim, à vontade durante todo o dia para usar o carro com o namorado.
- Surpreenda o teu namorado, amiga. Não esperes que venha ele te buscar, assim vais tornar o encontro mais excitante! – Tinha dito à amiga, enquanto se despediam.
Quando entrou na casa do Henriques, uma enorme casa que este tinha recentemente alugado, a Lwkwakwa ficou maravilhada com o cenário que este estava montando, especialmente no quarto de dormir, para a ocasião. Ficou inebriada de alegria. Ela tinha-se imiscuído despercebidamente na sua casa, e quando o Henriques deu inadvertidamente por ela, apanhou um repentino susto e perdera por alguns instantes a compostura. Não esperava realmente pela sua vinda voluntária; ele já tinha preparado o dinheiro para as
Após a conversa pós coito ela levantou-se, vestiu-se com vaidade para o namorado ver. Estava tarde e tinha de se ir embora para a casa.- Preciso de ir-me embora, os meus parentes podem estar à minha espera para preparar-lhes o jantar.- Está bem, meu amor. Por enquanto vai, mas vamos arranjar formas de acabar com essas tristes despedidas. Queria tanto que ficasses cá pela noite toda ou pela vida inteira! – Disse suavemente este, olhando com ternura para a namorada que se vestia.Para a ocasião a Helena lhe tinha aconselhado para se vestir bem. E agora ela estava ali realmente bem vestida, o que deixava o namorado cada vez mais desejoso dela. Sua roupa interior era atraente, eram pequenas fitas vermelhas que atravessavam o busto e a púbis em linhas sedutoras. A saia também era linda, apertava os quadris e realçava a protuberância das nádegas e anunciava o monte de vénus. Os calçados eram de um feitio simples mas caro, a Helena os tinha escolhido num certo dia numa
- Diz-me lá, amiga, ele fode bem? – Rompeu assim o silêncio, a Helena.- Ele… - A Lwkwakwa gaguejava; não conseguia se adaptar àquele linguajar libertino da amiga, pois os ensinamentos que recebeu na infância lhe tinham traumatizado – sim, ele é bom de cama. – Acabou proferindo.- Oh, amiga! Que é isso? Depois vais querer dizer também que “eu o amo com todo o meu coração”, mesmo sabendo que estás feliz por causa de uma boa foda, e que a satisfação ou o amor que agora sentes é fruto das atividades dos teus órgãos eróticos e não do teu coração. – Falava pausadamente – A partir de agora tu já és adulta. E tens de te adaptar à linguagem adulta. Porquê fingir mais? Usar de eufemismos e hipocrisias só vai inibir o teu entusiasmo. Você mesma sabe que to
O subúrbio Kalohombo crescia num ritmo incontrolável, justamente no cú do olho de uma das mais prestigiadas cidades do país; havia novas construções em todos os cantos, de cimento e de terra simples. Esse aumento de construções precárias devia-se ao seu constante crescimento demográfico. Muita gente nascia, apesar de muita outra que morria. E cada vez mais a água escasseava, a energia elétrica também só acendia de vez em quando. Havia montões de lixo em becos e à beira das estradinhas que drenavam o bairro. As mesmas estradas estavam ficando cada vez mais decrépitas e acidentadas…No período em que caía chuva, o bairro se transformava em um pantanal. Moscas, mosquitos, baratas e morcegos perseguiam as pessoas a todos os sítios. E o calor intenso que a estação chuvosa causava servia como justificação para as mulheres, jovens e adultas, que se exibiam seminuas pelas artérias do bairro.Quando não caía chuva havia a poeira, uma poeira doentia que ameaçava corroer e macu
É comum que depois do alambamento o namorado ganhe mais direitos para com a sua amada e assim também a própria podia beneficiar de muitas liberdades sociais, eximindo-se das restrições a que as jovens são submetidas quando atingem a mocidade; e a Lwkwakwa tinha ganhado mais liberdade de se movimentar depois que o Henriques havia formalizado o relacionamento. A alegação de visitar o Henriques legitimava muitas das suas saídas. Assim passeava mais e aos fins-de-semanas costumava conduzir com a Helena quando saíam para passear ou quando a amiga autorizava ela a usar o carro para visitar o namorado. Por outro lado, um dos direitos fundamentais que o namorado ganhara através do alambamento era o de visitar a namorada em casa desta sempre que lhe aprouvesse ou fosse necessário. E o Henriques era sempre bem-vindo à casa do Betinho. Tanto o Betinho como a Tchilombo gostavam dele e o recebiam com alguma reverência porque sabiam que ele era um homem ilustrado, que frequentava a Universidade.
Foi nessa altura, depois da viagem ao planalto central, que a Helena começou a se queixar da sua saúde. Primeiro fazia febres e dores de cabeça. Ela não gostava de ir ao hospital porque não tinha confiança no sistema de saúde que vigorava e tentou aliviar as dores com medicamentos adquiridos numa pequena farmácia dali no bairro. Mais tarde passou a tossir muito e sentia a coluna e o peito a doerem. Até essa altura já os pais intervieram e a levaram ao Hospital Geral. Os médicos não conseguiram detetar alguma doença, mas tinham-lhe passado uma prescrição. Tomou os medicamentos, a situação tinha abrandado um pouco, mas voltou a piorar mais tarde. A tosse piorou, começou a expectorar abundantemente; perdeu o apetite e emagreceu. Muitas vezes era acometida com o problema de falta de ar. Depois levaram-na a uma das famosas clínicas da cidade.
E a família com a Helena ficaram por duas inteiras semanas no Lubango. Localizaram a clínica mais famosa e submeteram a Helena a variadíssimos exames, tal que mais tarde o pai da Helena ficou baralhado. Já não entendia o que tantos médicos e enfermeiros faziam com apenas uma doente. Era um cardume de batas brancas revezando-se constantemente para avaliar uma única paciente. Segundo pôde depreender, havia naquela gama de pessoas usando batas brancas, especialistas de diversas coisas que tinham a ver com saúde humana. Cardiologistas, obstetras, clínicos gerais, ortopedistas, oncologistas… e tantas outras denominações desse jaez. Mas todos e cada um, ao final das contas, precisariam de algum sagrado estipêndio. Sendo assim, o pai dela imaginava, a soma que seria cobrada para essa algazarra envolvendo a filha seria uma daquelas muito avultadas. E realmente não foi pouco o dinheiro que os pais da Helena tiveram que gastar nesse processo. Para, ao fim e ao cabo, aparecer apenas um velho m
Nos dias que se seguiram a isso a Lwkwakwa também ficou muito abatida e emagreceu mais. Tinha emagrecido tanto e continuava apegada ao quarto da amiga. Agora passava todas as noites com a amiga e comia pouco por falta de apetite. O Henriques tinha tentado, sem êxitos, reanima-la. - Não pode, a Helena não pode morrer. – Suplicava ela, desesperada, a qualquer pessoa que tentava consolar-lhe. Mas a partir daquela data tinha começado para eles como que uma contagem regressiva inevitável. Passou uma semana, passaram duas, três… e a Lwkwakwa tinha-se recomposto, convencida de que a amiga já não morreria mais. Talvez a mão invisível tivesse mudado de ideias e cancelado o desditoso fim. Ela acreditava em milagres e podia ser que dessa vez eles lhe tivessem favorecido. Mas a Helena sabia, agora mais do que nunca, que o seu fim estava próximo e inelutável. E dizia à amiga. - A princípio também fiquei chocada, quando descobri que iria morrer em pouco tempo. Mas mais tarde fiquei calma e pen
Quando bateram os dois meses previstos pelos médicos, a Helena tinha realmente morrido. Numa certa manhã descobriram ela morta no seu quarto; no seu rosto preservava uma expressão neutra, como alguém que morre com a consciência realmente tranquila. Era evidente que tinha morrido como os deuses, sem traumas e sem desnecessárias preocupações ou como quem aceita sem remorsos que a morte é o inevitável fim de toda e qualquer forma de vida.Na verdade, quando a pessoa, como animal racional superior, descobre e aceita que, ao contrário do que se tem propagado pelos meios sociais, vai ao cemitério ou vai ser queimado ou devorado por insectos e ou por outros animais carnívoros, respectivamente mediante o meio em que se encontre; que afinal não vai a quaisquer ilusórias imortalidades, aceita benevolentemente a morte real. E nesse âmbito, houve óbito no bairro. Para a maioria dos moradores era apenas mais um óbito entre os tantos que costumavam acontecer dia-a-dia por ali. Mas o pai, a