- Diz-me lá, amiga, ele fode bem? – Rompeu assim o silêncio, a Helena.
- Ele… - A Lwkwakwa gaguejava; não conseguia se adaptar àquele linguajar libertino da amiga, pois os ensinamentos que recebeu na infância lhe tinham traumatizado – sim, ele é bom de cama. – Acabou proferindo.
- Oh, amiga! Que é isso? Depois vais querer dizer também que “eu o amo com todo o meu coração”, mesmo sabendo que estás feliz por causa de uma boa foda, e que a satisfação ou o amor que agora sentes é fruto das atividades dos teus órgãos eróticos e não do teu coração. – Falava pausadamente – A partir de agora tu já és adulta. E tens de te adaptar à linguagem adulta. Porquê fingir mais? Usar de eufemismos e hipocrisias só vai inibir o teu entusiasmo. Você mesma sabe que to
O subúrbio Kalohombo crescia num ritmo incontrolável, justamente no cú do olho de uma das mais prestigiadas cidades do país; havia novas construções em todos os cantos, de cimento e de terra simples. Esse aumento de construções precárias devia-se ao seu constante crescimento demográfico. Muita gente nascia, apesar de muita outra que morria. E cada vez mais a água escasseava, a energia elétrica também só acendia de vez em quando. Havia montões de lixo em becos e à beira das estradinhas que drenavam o bairro. As mesmas estradas estavam ficando cada vez mais decrépitas e acidentadas…No período em que caía chuva, o bairro se transformava em um pantanal. Moscas, mosquitos, baratas e morcegos perseguiam as pessoas a todos os sítios. E o calor intenso que a estação chuvosa causava servia como justificação para as mulheres, jovens e adultas, que se exibiam seminuas pelas artérias do bairro.Quando não caía chuva havia a poeira, uma poeira doentia que ameaçava corroer e macu
É comum que depois do alambamento o namorado ganhe mais direitos para com a sua amada e assim também a própria podia beneficiar de muitas liberdades sociais, eximindo-se das restrições a que as jovens são submetidas quando atingem a mocidade; e a Lwkwakwa tinha ganhado mais liberdade de se movimentar depois que o Henriques havia formalizado o relacionamento. A alegação de visitar o Henriques legitimava muitas das suas saídas. Assim passeava mais e aos fins-de-semanas costumava conduzir com a Helena quando saíam para passear ou quando a amiga autorizava ela a usar o carro para visitar o namorado. Por outro lado, um dos direitos fundamentais que o namorado ganhara através do alambamento era o de visitar a namorada em casa desta sempre que lhe aprouvesse ou fosse necessário. E o Henriques era sempre bem-vindo à casa do Betinho. Tanto o Betinho como a Tchilombo gostavam dele e o recebiam com alguma reverência porque sabiam que ele era um homem ilustrado, que frequentava a Universidade.
Foi nessa altura, depois da viagem ao planalto central, que a Helena começou a se queixar da sua saúde. Primeiro fazia febres e dores de cabeça. Ela não gostava de ir ao hospital porque não tinha confiança no sistema de saúde que vigorava e tentou aliviar as dores com medicamentos adquiridos numa pequena farmácia dali no bairro. Mais tarde passou a tossir muito e sentia a coluna e o peito a doerem. Até essa altura já os pais intervieram e a levaram ao Hospital Geral. Os médicos não conseguiram detetar alguma doença, mas tinham-lhe passado uma prescrição. Tomou os medicamentos, a situação tinha abrandado um pouco, mas voltou a piorar mais tarde. A tosse piorou, começou a expectorar abundantemente; perdeu o apetite e emagreceu. Muitas vezes era acometida com o problema de falta de ar. Depois levaram-na a uma das famosas clínicas da cidade.
E a família com a Helena ficaram por duas inteiras semanas no Lubango. Localizaram a clínica mais famosa e submeteram a Helena a variadíssimos exames, tal que mais tarde o pai da Helena ficou baralhado. Já não entendia o que tantos médicos e enfermeiros faziam com apenas uma doente. Era um cardume de batas brancas revezando-se constantemente para avaliar uma única paciente. Segundo pôde depreender, havia naquela gama de pessoas usando batas brancas, especialistas de diversas coisas que tinham a ver com saúde humana. Cardiologistas, obstetras, clínicos gerais, ortopedistas, oncologistas… e tantas outras denominações desse jaez. Mas todos e cada um, ao final das contas, precisariam de algum sagrado estipêndio. Sendo assim, o pai dela imaginava, a soma que seria cobrada para essa algazarra envolvendo a filha seria uma daquelas muito avultadas. E realmente não foi pouco o dinheiro que os pais da Helena tiveram que gastar nesse processo. Para, ao fim e ao cabo, aparecer apenas um velho m
Nos dias que se seguiram a isso a Lwkwakwa também ficou muito abatida e emagreceu mais. Tinha emagrecido tanto e continuava apegada ao quarto da amiga. Agora passava todas as noites com a amiga e comia pouco por falta de apetite. O Henriques tinha tentado, sem êxitos, reanima-la. - Não pode, a Helena não pode morrer. – Suplicava ela, desesperada, a qualquer pessoa que tentava consolar-lhe. Mas a partir daquela data tinha começado para eles como que uma contagem regressiva inevitável. Passou uma semana, passaram duas, três… e a Lwkwakwa tinha-se recomposto, convencida de que a amiga já não morreria mais. Talvez a mão invisível tivesse mudado de ideias e cancelado o desditoso fim. Ela acreditava em milagres e podia ser que dessa vez eles lhe tivessem favorecido. Mas a Helena sabia, agora mais do que nunca, que o seu fim estava próximo e inelutável. E dizia à amiga. - A princípio também fiquei chocada, quando descobri que iria morrer em pouco tempo. Mas mais tarde fiquei calma e pen
Quando bateram os dois meses previstos pelos médicos, a Helena tinha realmente morrido. Numa certa manhã descobriram ela morta no seu quarto; no seu rosto preservava uma expressão neutra, como alguém que morre com a consciência realmente tranquila. Era evidente que tinha morrido como os deuses, sem traumas e sem desnecessárias preocupações ou como quem aceita sem remorsos que a morte é o inevitável fim de toda e qualquer forma de vida.Na verdade, quando a pessoa, como animal racional superior, descobre e aceita que, ao contrário do que se tem propagado pelos meios sociais, vai ao cemitério ou vai ser queimado ou devorado por insectos e ou por outros animais carnívoros, respectivamente mediante o meio em que se encontre; que afinal não vai a quaisquer ilusórias imortalidades, aceita benevolentemente a morte real. E nesse âmbito, houve óbito no bairro. Para a maioria dos moradores era apenas mais um óbito entre os tantos que costumavam acontecer dia-a-dia por ali. Mas o pai, a
Mas mantemos a ilusão de que o tempo passa e que passam com ele as lembranças e as mágoas. À medida que vamos evoluindo para uma outra realidade, novas imagens vão ocupando a nossa consciência, substituindo nela o lugar das velhas. Passou um mês, passaram dois, três e as más lembranças foram-se obliterando.Mais tarde já se podia falar da Helena como apenas uma terna lembrança. Falava-se só das coisas boas que ela tivera feito quando em vida. E o bairro Kalohombo devia muito a ela. Grande parte da fama de que esse bairro beneficiava hoje advinha do que a Helena um dia no passado tinha feito. Ela tinha elevado o nome do bairro a um nível de destaque na arena provincial e nacional.Mais tarde o Henriques decidiu convidar a esposa à viver com ele. A gravidez já estava muito crescida e ele achava mais conveniente o futuro bebé nascer no lar dos pais. Convidou os pais dele, os pais da Helena e da Lwkwakwa a um simples cerimonial de enlace matrimonial. Não foram nem à igreja n
Depois de ter parido, a Lwkwakwa queria arranjar um emprego. Tinha vontade de trabalhar para auxiliar o marido nas despesas domésticas. Mas este não concordava. Ele queria a sua esposa só para si e para a filha, e garantia tudo o que ela precisasse.- Aliás, já tens carro e casa. Queres trabalhar mais para quê, se eu já trabalho?- Mas, Henry, é que… eu…- Mas quê, meu amor!? Você não é como todo mundo e não imites todo mundo. Você é a distinta Lwkwakwa, única amiga e herdeira da extraordinária Helena, e você não precisa de mais nada, porque eu te amo e não vou morrer agora. Eu quero-te só para mim e para a nossa filha.Chegaram nessa conclusão e ficaram felizes.As extravagâncias sexuais da Lwkwakwa iam além de todas as fantasias que ele havia imaginado na puberdade e quando se masturbava. Nunca tinha imaginado que aquilo aconteceria algum dia com ele. Que a sua Lwkwakwa fosse tão criativa assim. Aliás, nunca tinha olhado para a Lwkwakwa com tanto resp