Aos poucos comecei a sentir um calor aconchegante e a ouvir um agradável estalar de madeira. Deitado, de barriga para cima, senti um peso sobre mim e acordei para constatar que Cassiene compartilhava o saco de dormir comigo, no escuro, e que ela acendera uma fogueira ali, ao lado.
Deitada em cima de mim, com as mãos espalmadas sobre meu peito nu e apoiando o queixo nos dedos entrelaçados das mãos, me encarava, aparentemente, há algum tempo.
— O que foi? — sussurrei.
— Happy hour — respondeu com naturalidade ao aproximar, devagar, a boca quente e macia da minha, culminando no beijo ardente e molhado há muito desejado.
Foi quando notei que estava nua e, tocando-a com suavidade, senti cada parte de seu corpo
A Floresta Pétrea não era mais a mesma. Nosso mundo, agora chamado de Ômnia pelos humanos, já não era mais o mesmo. O Caos viera e mudara tudo. Trouxera novos seres além dos humanos, seres de cá mudaram seus hábitos e nós, por esses e outros motivos, passamos a cuidar dos nossos territórios com mais afinco.Encontrar uma forma de reverter o Caos era uma obstinação do meu povo, afinal fomos os causadores dele e, embora o ardor dessa busca tenha amainado nas últimas décadas, ainda existiam uns poucos que acreditavam e persistiam na tarefa. Eu não. Desistira há anos e passei a me dedicar às boas relações com os humanos que se alojaram em uma das bordas da nossa floresta e fundaram uma vila que, mais tarde, se transformou na cidade a que chamaram Nova Esparta.
Fazíamos uma patrulha de rotina em nosso território, eu e minha escolta pessoal, quando nos deparamos com a seguinte cena: um vulto transparente passou por nós correndo em total silêncio. Tudo o que víamos, eram as folhas secas se mexendo por onde ele passava e o perseguimos até que se deparou com um caçador da tribo dos metamorfos que carregava um búfalo morto às costas. O vulto se revelou naquele humano chamado Laius, que dispunha de itens mágicos aos quais, mais tarde eu soube, denominava artefatos tecnológicos.Ao mesmo tempo, ouvimos um canto que qualquer um confundiria com o piar de uma ave, mas que nós sabíamos se tratar do chamado do rei Douglas Black. Tínhamos uma rede de sentinelas espalhadas por todo nosso território que reproduziam o chamado por toda a floresta a partir da borda que fazia div
Chegamos a Nova Esparta e entramos, pois, como já era de praxe, tínhamos passe livre em todo o reino. Na porta do palácio, fomos informados que o rei Douglas nos aguardava e que o assunto era urgente. Claro que era. Um ataque de dragões daquela magnitude não era registrado há muitos anos, desde antes de o rei nascer e por isso ele não sabia o que fazer ou esperar. Tudo o que poderia saber sobre dragões e história, estava registrado na biblioteca real, mas o rei era um homem de armas e não consultava livros a não ser como última opção. E eu era a primeira opção.— Majestade, conselheiro — cumprimentei-os, ao entrarmos na sala do trono, eu e Gwyliam.— Lorde
Fiz uma pausa e percebi que as feições dos dois nobres se inquietaram esperando que eu prosseguisse.— Meu povo tem um ditado: “catástrofes são tríades” — declarei. — Costumam acontecer de três em três muito semelhantes e, se o ditado estiver certo, teremos mais dois ataques pela frente. O que não temos como saber é onde e quando, mas, de qualquer modo, dragões são seres poderosos demais para serem desprezados…— Sim, bestas descontroladas e sedentas por riquezas! — interrompeu-me Sir Geofrey.— Não os subestime, conselheiro. Tenho evidências de que não
Acordamos com o raiar do sol e, depois de um rápido desjejum, fomos ao observatório para constatar que a cidade não mudara muito. Perto do meio dia resolvemos descer ao acampamento para almoçar com mais tranquilidade. Estávamos ficando preguiçosos, admito. Sentado em uma das grandes raízes expostas da árvore que nos abrigava, eu brincava com uma faca com a qual cortava nacos de uma fruta selvagem muito doce, parecida com abacaxi, que encontramos nas redondezas.Súbito, atraído pelo último pedaço, um inseto se aproximou voando e fazendo um belo zumbido. Com mais ou menos cinco centímetros, tinha feições delgadas e grandes asas, como um marimbondo, mas com o dorso anelado e aveludado como uma abelha, porém em branco e vermelho. Pousou na fruta e eu, em silêncio contemplei-o. Caminhou subindo
No dia seguinte, ao acordarmos, ficamos debaixo das cobertas por um tempo.— Sabe, eu estava pensando: — conversei — quando vocês assumem a forma guerreira ou a forma de tigres, suas roupas simplesmente somem. Como é possível? — questionei.— É um ritual que fazemos: todas as nossas roupas passam pelo “ritual da dedicação”. Cada peça de roupa é “dedicada” a seu dono e torna-se parte do corpo ao mudar de forma.— Vocês encantam as roupas para que elas sumam? Dá pra fazer isso com terceiros?— Acordamos sob o sol nascente e, depois do desjejum, fomos ao observatório. Os dezessete dias que se passaram desde o ataque do dragão dourado ao acampamento nos proporcionaram intimidade quase automática. Dezessete dias de convivência próxima em que dormíamos juntos todas as noites reservando o dia para vigiar a cidade e o envolvimento afetivo consumara-se: estávamos perdidamente apaixonados um pelo outro.Voltáramos à aldeia dos tigres uma única vez para reabastecer os suprimentos e, na cidade, as diferenças eram grandes: todo o exército fora realojado dentro das muralhas na faixa de terra reservada para tal fim e aqueles homens já davam sinais de tédio, esboçando pequenos ataques aos barracos mais pobres da cidade. Os capitães faziam de tudo para contê-los, mas um ou outro sempre escapava 28 - LAIUS E O TÉDIO
— Soldados, atenção!! — gritou o rei. — Carregar! — comandava e era obedecido à risca por todos os arqueiros — Preparar, apontar! Sustentar a mira! Ao meu comando!O dragão púrpura era tão grande quanto o dourado que vi e parecia determinado a tirar muitas vidas sem hesitar, mas por que? Que tipo de inteligência era aquela?Não houve tempo para respostas: ele escolheu uma ala de soldados e vertiginosamente, derramou sobre eles suas chamas púrpuro-esbranquiçadas.Muitos dispararam na esperança de abater o monstro, mas as flechas passaram no vazio dada a velocidade da criatura, além do que, o comando de disparo ainda não fora dado pelo rei que esperou a criatura levantar-se do rasante e esboça