DIAGNÓSTICO: AMOR
DIAGNÓSTICO: AMOR
Por: Evilyn Sá
Capítulo 1

Helena Ferreira passou pela porta do centro cirúrgico com os nervos à flor da pele. O hospital tinha sido seu novo lar nos últimos seis meses, mas a unidade de cirurgias era um território desconhecido para ela. Ela já tinha lidado com emergências e situações de risco, mas trabalhar ao lado de um cirurgião tão renomado e meticuloso quanto o Dr. Rafael Moretti, com sua reputação impecável, era uma realidade desafiadora.

Ela ajustou a máscara sobre o rosto, sentindo o cheiro característico de álcool e antisepsia no ar, e seguiu para a mesa de operações. A sala estava fria, iluminada por lâmpadas fluorescentes que faziam a pele pálida dos pacientes refletir de forma quase fantasmagórica. Helena passou a mão pelos cabelos presos em um coque e olhou para a figura que dominava o ambiente.

Dr. Rafael Moretti estava de pé, como uma estátua de pedra, com as mãos cruzadas sobre o peito, observando a equipe se preparar para a cirurgia. Sua postura era rígida, impecável, e seus olhos pareciam afiados o suficiente para cortar o ar. Helena sabia que ele era conhecido por sua habilidade excepcional em cirurgias, mas também por sua atitude inflexível e perfeccionismo. E naquele momento, ela sentia o peso da sua presença como se ele estivesse avaliando cada movimento dela.

— Enfermeira Ferreira, você já conferiu a dosagem do anestésico? — A voz de Rafael ecoou pela sala, fria e autoritária.

Helena se virou com um olhar rápido, um pouco mais impaciente do que deveria. Ele sempre falava com aquele tom impositivo, como se ela fosse um simples acessório na sala de cirurgia, um peão no tabuleiro. Ela sabia que o respeito por sua habilidade era inegável, mas ninguém jamais a havia tratado com tanta distância, tanta certeza de sua própria superioridade.

— Sim, Dr. Moretti, está tudo em ordem — ela respondeu, tentando manter a calma. Não seria hoje que ele conseguiria intimidá-la.

Ele a observou com uma precisão quase cirúrgica, seus olhos profundos analisando cada movimento que ela fazia. Para um homem que parecia tão calmo por fora, havia algo inquietante na maneira como ele a estudava. Helena tentou desviar o olhar, mas sentiu a tensão subir na sala. O silêncio entre os dois ficou quase insuportável.

— Vejo que você é rápida, mas cuidado. Aqui não há espaço para falhas — ele disse, com a voz baixa, mas carregada de uma ameaça velada. — O erro de um médico pode custar uma vida. E não tolero erros.

Helena sentiu a ponta da irritação surgir. Ele pensava que ela era como qualquer outra enfermeira que aceitava suas ordens sem questionar? Se ele achava que a intimidaria com aquele ar de superioridade, estava redondamente enganado. Ela sabia exatamente o que estava fazendo.

— Eu entendo a importância da precisão, Dr. Moretti. Mas não pense que sou nova neste jogo — ela retrucou, sem hesitar. — E se há algo que você deveria aprender, é que uma mão firme pode se tornar uma mão fraca se pressionada demais.

Ele a observou em silêncio por um momento, e Helena sentiu uma onda de tensão crescente entre eles. Ela estava ciente de que, como enfermeira, deveria se manter no lugar, mas algo naquele homem a desafiava. Algo em sua postura, no jeito como ele parecia se considerar intocável, despertava uma necessidade de fazer com que ele percebesse que não poderia tratá-la como uma subalterna qualquer.

A cirurgia teve início, e com a precisão que só ele possuía, Rafael iniciou os cortes com uma destreza impecável. Mas, mesmo enquanto ele se movia com uma precisão que fascinava todos ao redor, Helena não pôde deixar de notar o modo como ele parecia desconectado, como se estivesse ali fisicamente, mas emocionalmente distante. Ela sabia que ele era um homem fechado, mas algo em sua frieza fazia a tensão entre os dois se intensificar ainda mais.

Ela continuou a monitorar os sinais vitais do paciente com cuidado, seus olhos frequentemente se voltando para ele, que parecia ter uma calma sobre-humana. Seus movimentos eram tão meticulosos que ela não conseguia deixar de admirar sua habilidade. Mas havia algo mais, algo que ia além da técnica. A distância entre eles parecia um muro invisível, mas também era uma linha tênue entre admiração e algo mais. Algo que ela ainda não sabia definir.

A cirurgia seguiu com sucesso, e o ambiente tenso foi suavizado quando Rafael anunciou que o procedimento havia terminado. Mas, ao invés de um gesto de aprovação, ele apenas olhou para a enfermeira com o mesmo ar de superioridade.

— Vamos ver como o paciente reage. A recuperação dele dependerá de muitos fatores. Fique atenta — disse ele, sem mudar a postura.

Helena respirou fundo, tentando controlar a raiva que começava a se acumular dentro de si. Ele achava que tinha o controle de tudo. Ela sabia que ele era bom, talvez até o melhor cirurgião que ela já vira, mas o que realmente a incomodava era a maneira como ele parecia acreditar que sua habilidade o fazia superior aos outros. Ela não precisava de elogios, mas um simples reconhecimento, nem que fosse um olhar de respeito, parecia pedir demais.

— Vou observar, Dr. Moretti. Mas, se me permite, acho que você deveria deixar os outros ajudarem mais. Às vezes, você não precisa fazer tudo sozinho — ela disse, já se afastando da mesa de operação, seu tom firme e desafiador.

Ele a encarou por um segundo, e pela primeira vez, seus olhos pareciam ter uma intensidade diferente, algo que ela não soubera identificar antes. Era quase como se, por um momento, ele estivesse interessado no que ela tinha a dizer. Mas, como sempre, ele se manteve impassível.

— Fazer tudo sozinho é uma habilidade que você vai aprender com o tempo. Mas a experiência nunca vem sem sacrifícios — ele respondeu, sua voz carregada de algo que ela não conseguia decifrar.

Enquanto Helena deixava a sala, um sentimento estranho se formou em seu peito. Havia algo nesse homem, algo que a atraía e a repelía ao mesmo tempo. Ela sabia que essa relação não seria fácil, mas algo em seu íntimo dizia que ele, por mais que tentasse manter o controle, também estava lidando com algo profundo e pessoal. E talvez, no fundo, isso fosse o que mais a intrigava.

Ela mal sabia, mas essa primeira incisão nas palavras e nas ações de ambos seria apenas o começo de algo muito mais complexo, doloroso e, talvez, irresistível.

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