Capítulo 3

Um olhar, uma obsessão?

Leonardo achou melhor ficar de olhos fechados enquanto constatava que Lily era uma boa enfermeira. Ela o limpava com firmeza em todas as partes; pênis, testículos, virilhas, e até mandou ele erguer o quadril para passar lenços na sua bunda carnuda, redonda e firme.

Apesar de estar adorando toda aquela atenção dispensada a ele, Leonardo não pôde deixar de sentir a humilhação. Ele não deveria estar preso igual a um animal.

Até os cinco anos de idade ele era uma criança normal que gostava de fazer coisas de crianças. Ele era o caçula de três irmãos, Lennox era o irmão do meio dois anos mais velho do que Leonardo, e Liam era o mais velho com diferença de cinco anos.

Levi Ferrero, o pai deles, era contra o uso de anticoncepcional, fazendo sua mulher ter um filho atrás do outro para ter muitos herdeiros. Antes de Leonardo nascer, a mãe perdeu duas meninas: Lara e Lilith, e também perdeu Lukas. Já fragilizada por tantas gestações seguidas, sua mãe morreu durante o seu nascimento no hospital de Nova Iorque.

Leonardo era muito pequeno para entender que era odiado pelo pai que o culpava pela morte da sua amada Lily. Ele era só uma criança que não percebia que era tratado de forma diferente de Liam e Lennox.

Enquanto cresciam na fazenda Lucky Star nos arredores de Nova Iorque, os três brincavam e se divertiam juntos quando o pai não estava por perto. Quando Levi estava em casa depois de ter ficado fora por dias a trabalho, Leonardo era ignorado pelos irmãos que ganhavam presentes, e ele não.

O ódio nasceu em seu coração quando Liam ganhou um filhote de Golden Retriever. O irmão não dava atenção para o cachorro, e Leonardo começou a brincar escondido com Logan. Em certo dia, quando estavam todos em casa, Logan abanou o rabo para ele e o cheirou. Dias depois, ele foi encontrado morto no meio das plantações de cana de açúcar. Logan tinha sido envenenado.

Leonardo levou a culpa. Liam disse que ele tinha matado Logan por inveja. A surra de cinto dada pelo pai, e os longos dias e noites sem qualquer tipo de contato com outras pessoas, deixaram Leonardo muito irritado.

Quando o castigo acabou, ele estava cheio de mágoa, ódio e rancor. Ele queria e precisava ferir alguém para aplacar toda aquela ira que ameaçava sufoca-lo.

Leonardo estava apenas com cinco anos, Lennox com sete e Liam com dez anos. Eles foram nadar no lago de água cristalina que cortava a extensa fazenda, e uma das mais produtivas da região. A governanta da família sentou na cadeira de balanço, e começou a fazer crochê. Porém, com os olhos em três crianças sapecas.

Leonardo viu Lennox engolir em seco quando ele tirou a camiseta e ficou apenas de calção bege. Suas costas estavam marcadas pelo cinto do pai.

- Eu sinto muito, Leo. Eu sei que não foi você que matou o Logan.

Leonardo viu o irmão lutando para não chorar. Ele sorriu e bagunçou os cabelos castanhos escuros de Lennox.

- Tudo bem, Lex. Esquece isso.

Já na água, Liam gritou:

- Vem, Lex! A água está quente!

Lennox obedeceu o irmão mais velho. Liam era uma espécie de líder e ele não lidava muito bem com desobediência.

Leonardo entrou na água e nadou por alguns minutos. Elisabete estava entretida com o casaco de lã rosa que fazia para ela. O inverno estava chegando, e provavelmente, aquele seria o último fim de semana de sol e calor.

Pronto, Leonardo nadou até os irmãos.

Apesar de ser menor do que Liam, ele tinha uma vantagem: Fúria. O irmão mais velho teve a boca tampada por uma mão forte, e um braço feroz o enlaçou pelo pescoço. Liam esperneou enquanto era afogado.

Lennox arregalou os olhos verdes e encontrou o olhar frio de Leonardo. Ele poderia gritar para chamar atenção de Elisabete, e chegou a se virar apavorado para ela.

- Está tudo bem, Lex. Agora você será o mais velho. Você será o líder.

A liderança lhe pareceu sedutora e Lennox sorriu. Ele segurou as pernas de Liam até ele não ter mais forças para se debater, revirar os olhos brancos e dar o último suspiro. Com um sorriso satisfeito, Leonardo soltou o irmão que boiou sem vida.

Um olhar de cumplicidade foi trocado. Lennox nunca disse o que aconteceu no lago. Também, ele não precisava. Seu pai sabia. Todos sabiam que a ira do Diabo tinha sido despertada. Levi passou a ter medo. Lennox também.

Após enterrar o feto de três filhos que ele nem chegou a conhecer, enterrar a esposa que amava, e o filho mais velho, Levi não tinha mais nada além de Lennox e Leonardo. Ele não teve outra escolha a não ser treinar os dois para serem exímios mafiosos, e um dia, assumirem a Máfia Americana. Um poderia cuidar do outro. Pelo menos, assim ele esperava que fosse porque os dois pareciam ter algum tipo de elo invisível. Contudo, o filho mais novo precisava de alguns ajustes.

Nos anos seguintes, Leonardo passou a matar qualquer um que olhasse feio para ele. As internações começaram e um diagnóstico veio: Psicopatia. Ele matava por pura diversão e sem arrependimentos. Aquilo não seria um problema se Leonardo tivesse um filtro. A busca por um equilíbrio na sua mente assassina, continuaria na Clínica Hope.

- Prontinho.

Lentamente, Leonardo abriu os olhos.

Lily sorriu para ele, e só então, ele percebeu que estava com a fralda seca, e ela tentava puxar a calça de moletom para cima.

- Levanta um pouquinho, por favor.

Leonardo obedeceu com os olhos fixos nos seios grandes da enfermeira. Ele passou a língua pelos lábios ressecados.

- Água.

Lily tirou as luvas e descartou no lixo juntamente com os vários lenços. Ela sentiu pena do seu paciente. Ele era saudável fisicamente, e não deveria estar preso daquele jeito. Era tão bom poder tomar banho naquelas condições.

Ela ergueu a cabeceira da cama com a alavanca e pegou o copo de água. Para não correr o risco do paciente engasgar, Lily passou o braço em volta do pescoço dele e o auxiliou. Leonardo bebeu em pequenos goles. O monitor se aproximou com a mão no cabo da arma de choque que estava no coldre preso a sua cintura. Tensão o tomou quando os olhos verdes o fuzilaram.

Lily se afastou com o copo vazio.

- Eu volto amanhã.

- Você mora onde?

- No Queens.

Leonardo franziu a testa.

- É longe pra caralho.

Lily estremeceu com o palavrão.

- Eu sei.

- Você está mesmo precisando desse trabalho, não é?

O olhar inquisidor fez a enfermeira arfar como se seu paciente soubesse que ela estava atolada em dívidas.

- Eu confesso que cinco mil dólares é um salário fora do comum.

Leonardo sorriu torto.

- Meu irmão me colocou aqui e ele quer que eu seja bem tratado para compensar a consciência pesada dele. Dinheiro não será problema. Você disse que tem um cachorro?

Lily sorriu abertamente. Toddy era a sua vida.

- Sim. Toddy tem cinco anos. Ele é um labrador marrom de olhos azuis.

- Ele deve ser lindo.

- É sim, e ele também é muito esperto.

- Você parece uma mãe orgulhosa falando do filho levado.

Tímida, Lily baixou a cabeça. Toddy tinha um armário de roupas, três gavetas de acessórios e produtos caros de higiene. Eles faziam o dia de spa juntos com direito a rodelas de pepino nos olhos, máscara facial, hidratação e um ritual completo de beleza. Eles ouviam músicas e também comiam enquanto se cuidavam. Toddy era a sua vida, e Lily ficava doente quando ele ficava doente.

- Eu amo muito ele.

Leonardo suspirou exasperado com ciúmes da droga de um cachorro.

- O tratamento inútil do Doutor West vai durar três meses. Dez mil dólares por mês pra você, e você pode trazer o Toddy. Eu tenho certeza que ele não vai incomodar.

Dez mil dólares?! A mente de Lily explodiu em fogos de artifício. Trinta mil em três meses?! Ela olhou para Leonardo e esboçou um sorriso lindo.

- Eu vou falar com o Doutor West.

- Não tem necessidade. Eu falo com ele. É bom você estar aqui amanhã. Eu acredito que não existam muitos labradores marrons de olhos azuis chamados Toddy, no Queens.

Leonardo disse em tom de zombaria, mas Lily repensava sobre o trabalho quando pegou a estrada. Doutor West não se opôs a presença de Toddy. Ele afirmou que seria bom para os pacientes a presença de um cachorro dócil. Ela estava muito confusa com a sua sorte grande. Boa parte das dívidas seriam quitadas, mas a que preço?

Leonardo suspirou profundamente. O pau duro o incomodava dentro da fralda bem colocada. Ele olhou para o monitor parado na porta mesmo ele estando com pulsos e tornozelos algemados.

- A enfermeira esqueceu de colocar a cama na posição de antes. Você pode abaixar pra mim?

Michael assentiu e se aproximou dos pés da cama. Ao abaixar para rodar a alavanca, um chute certeiro atingiu o seu rosto. Leonardo gemeu de dor ao quebrar o polegar para passar o pulso pela algema direita trincada.

Mais cedo ele tinha friccionado ela na grade até conseguir trinca-la. Com a mão direita livre, porém machucada, ele ignorou a dor física como tinha sido treinado para fazer, pegou o monitor ainda tonto pelos cabelos negros, e usou toda a força que tinha para puxa-lo para cima do seu corpo majestoso.

De barriga para cima, o monitor tentou virar e teve a orelha arrancada com uma mordida. Ele berrou de dor. Leonardo cuspiu o órgão para longe, pegou a arma de choque e enfiou na boca do monitor. Ele estremeceu, e em seguida, ficou imóvel.

Leonardo jogou a arma longe, pegou a chave das algemas no bolso da calça de Michael, o jogou no chão e se soltou.

O Doutor West estancou na porta de olhos arregalados. Leonardo cruzou os braços atrás da cabeça e balançou os pés livres. Ele sorriu tranquilo.

- Eu não tenho palavras para dizer o quanto essa merda não foi legal, Doutor West. Dopado e algemado por dias. Agora, com o prestígio que eu consegui por ter matado esse inútil... - Leonardo fez uma pausa para tirar um pedaço de pele da boca ensanguentada. - ... eu gostaria de ligar para o meu irmão.

Sem tirar os olhos de Leonardo, Davis abaixou e colocou a mão na carótida de Michael. Sem pulsação, ele começou a massagem cardíaca em vão. Por mais inacreditável que fosse, seu paciente começou a cantar com voz infantil:

🎵Brilha, brilha estrelinha

Lá no céu, pequenininha

Solitária, se conduz

Pelo céu com tua luz

Brilha, brilha Lilyzinha

Lá no céu, pequenininha

Solitária, se conduz

Pelo céu com tua luz🎵

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