Capítulo 02

Nyla | dia 3, agosto de 2019

O sol mal tinha se levantado quando acordei no meu quarto, o coração ainda batendo forte no peito. Eu podia jurar que tudo o que aconteceu na noite anterior tinha sido um sonho. Mas quando toquei o pescoço, senti uma pequena marca. Quase invisível, mas ali, como se alguém — ou algo — tivesse me tocado. Um calafrio percorreu minha espinha.

— Isso não pode estar acontecendo — murmurei, me olhando no espelho. Minhas olheiras estavam profundas, o rosto pálido. A noite inteira, pesadelos com olhos âmbar me perseguiram. Mas foi só ao abrir a janela do quarto que a realidade me atingiu.

A floresta ainda estava lá. Silenciosa, misteriosa, e... convidativa? Mesmo depois do que vi ontem à noite, uma parte de mim sentia-se puxada para aquele lugar. Era como se a própria terra estivesse sussurrando meu nome.

Balancei a cabeça, tentando me livrar desses pensamentos. Minha mãe estava na cozinha, como de costume, preparando café, alheia a tudo. Talvez eu devesse contar a ela. Ou, talvez, fosse melhor guardar isso para mim.

— Dormiu bem? — Ela me perguntou, sem tirar os olhos da xícara que enchia com café quente.

— Claro... — Respondi automaticamente, forçando um sorriso. — Foi uma noite tranquila.

Ela me olhou de canto, sem dizer nada. Era difícil enganá-la, mas mesmo assim, ela não insistiu. Ela tinha seus próprios segredos, e eu sempre soube disso.

Peguei um pedaço de pão e dei uma desculpa rápida antes de sair. Meu corpo estava inquieto. Eu sabia que precisava voltar lá. Havia algo não resolvido naquelas árvores, algo que me chamava. E por mais que tentasse lutar contra isso, a curiosidade era insuportável.

Meus passos me levaram de volta àquela trilha. A cada metro, o ar parecia mais pesado, mais denso. Era quase como se o próprio chão estivesse carregado com uma energia que pulsava em sincronia com o meu coração. E então, ele apareceu de novo.

Espinho.

Ele estava encostado em uma árvore, como se já soubesse que eu voltaria. O mesmo olhar predador, o mesmo ar arrogante. O vento bagunçava seus cabelos escuros, e sua presença parecia dominar o espaço ao nosso redor. Era impossível ignorá-lo.

— Eu sabia que você voltaria — disse ele, sem se mexer.

Eu parei, sentindo meu corpo inteiro reagir à sua voz. Era como se eu fosse atraída por ele, mesmo sabendo que deveria ficar longe.

— O que você fez comigo? — Minha voz saiu mais firme do que eu esperava. Eu queria respostas. Precisava entender o que diabos estava acontecendo.

Ele finalmente se afastou da árvore, dando alguns passos em minha direção. Cada movimento seu era controlado, quase felino, como se estivesse pronto para atacar a qualquer momento.

— Você foi marcada, Nyla — disse ele, com aquela voz rouca que parecia vibrar em meu peito. — A partir de agora, você pertence a mim.

Eu ri. Um riso nervoso, mas genuíno. Aquelas palavras soavam ridículas.

— Eu não pertenço a ninguém.

Ele levantou uma sobrancelha, como se estivesse se divertindo com a minha reação.

— Acha que tem escolha? — Seus olhos brilharam com um tom desafiador. — Isso é maior do que você. Maior do que qualquer um de nós. A ligação já foi feita.

Minhas mãos tremiam, mas eu não podia deixá-lo perceber meu medo. Algo dentro de mim queria acreditar que ele estava errado, que eu ainda tinha controle sobre a minha vida. Mas a intensidade daquele momento dizia o contrário.

— E o que você quer de mim? — Perguntei, cruzando os braços na defensiva.

— Não é o que eu quero — ele respondeu, se aproximando ainda mais, até que eu pudesse sentir o calor do seu corpo. — É o que já está destinado.

Eu queria recuar, mas meus pés pareciam presos no chão. Havia algo naqueles olhos âmbar que me prendia, que me deixava vulnerável de uma forma que eu nunca havia experimentado antes.

— Não pode lutar contra isso, Nyla. Não por muito tempo.

Seu cheiro amadeirado me invadiu, e por um segundo, perdi a noção de onde estava. A proximidade dele me desorientava, mas também me fazia querer... mais. Meu Deus, o que estava acontecendo comigo? Eu devia estar assustada, devia fugir. Mas, em vez disso, senti um desejo avassalador tomando conta de mim.

Thorne inclinou-se ainda mais, sua voz agora um sussurro perto da minha orelha.

— A lua cheia está se aproximando. E quando ela chegar... não haverá mais volta.

Eu estremeci, mas não era medo. Pelo contrário. Algo profundo, primal, pulsava dentro de mim, respondendo ao chamado dele. Era como se meu corpo soubesse de algo que minha mente ainda não conseguia aceitar.

— Eu não vou me submeter a você — murmurei, mas minha voz saiu fraca, sem convicção.

Ele riu baixo, um som grave que ecoou em meu corpo.

— Veremos.

Antes que eu pudesse responder, ele desapareceu tão rápido quanto havia aparecido. Fiquei ali, sozinha, com o eco das suas palavras ressoando na minha mente.

A lua cheia está se aproximando.

Eu sabia que ele estava certo. Algo estava mudando. Eu sentia isso em cada célula do meu corpo. Mas a pergunta era: eu estaria pronta quando o momento chegasse?

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