Capítulo 04

Nyla | dia 6, agosto de 2019

A noite inteira eu fiquei acordada, girando na cama, encarando o teto. Não tinha jeito de esquecer o que Thorne me disse. Lobisomens? Mate? Ser dele? Como assim, "não tem escapatória"? Isso é ridículo... não é? Eu tentei racionalizar tudo, me convencer de que ele estava jogando comigo, que nada daquilo era real. Mas, sempre que eu fechava os olhos, sentia o peso daquelas palavras, e algo dentro de mim... acreditava.

Era como se meu corpo estivesse um passo à frente da minha mente, já aceitando algo que eu não conseguia compreender.

Quando finalmente levantei da cama, o sol ainda não tinha nascido. Eu me olhei no espelho do quarto, tentando encontrar algum sinal de que eu estava diferente, mas parecia a mesma de sempre. Tirando as olheiras gigantes, claro. Peguei uma escova e passei no cabelo, como se isso fosse ajudar de alguma forma a clarear meus pensamentos.

“Eu preciso falar com alguém”, pensei. Mas com quem? A verdade era que eu não conhecia ninguém o suficiente na cidade. Minha mãe não seria uma opção, não com o jeito dela, toda imersa nas próprias coisas e distante da realidade. Talvez Athea soubesse algo. A forma como ela falou comigo no outro dia... Como se já soubesse que algo estava errado.

— Só pode ser loucura — murmurei para mim mesma, jogando a escova de volta na mesa com frustração.

Mas eu sabia que não tinha jeito de escapar. A coisa entre mim e Thorne era real. A floresta estava chamando, e eu tinha que entender o que estava acontecendo comigo antes que fosse tarde demais.

Depois de um café da manhã rápido e sem gosto, saí de casa. O ar fresco da manhã me deu uma leve acalmada, mas não o suficiente pra tirar o nó que tinha se formado no meu estômago. Eu não queria voltar pra floresta, mas parecia que algo me puxava pra lá. Cada vez que pensava em não ir, meu corpo reagia, como se estivesse resistindo à minha vontade.

De novo, meus pés me levaram até o lugar onde tudo começou.

O lugar estava quieto, como se esperasse por algo. Como se soubesse que eu estava chegando. E, claro, ele estava lá. Thorne, encostado numa árvore, como se já soubesse que eu viria.

— Não consegue ficar longe, pode admitir — ele falou, sem nem olhar diretamente pra mim, mas com aquele sorrisinho de canto.

— Você não sabe de nada — respondi, irritada, cruzando os braços. Mas, lá no fundo, ele sabia. E eu também. A atração entre nós era quase física, e por mais que eu tentasse negar, cada vez ficava mais difícil.

Ele finalmente me olhou, e aquele olhar me fez arrepiar da cabeça aos pés. Era como se ele visse através de mim. Ninguém nunca tinha me olhado daquele jeito antes. Não era só atração. Era mais do que isso. Era como se ele estivesse enxergando algo que eu mesma não conseguia ver.

— Então por que voltou? — ele perguntou, se afastando da árvore e andando em minha direção. Cada passo que ele dava parecia carregar um peso, e meu coração batia mais rápido a cada movimento dele.

Eu não sabia o que dizer. Não tinha uma resposta boa, porque nem eu sabia o motivo. Mas sabia que, de algum jeito, eu não podia ficar longe dele.

— Eu só quero entender — falei, tentando soar firme, mas minha voz vacilou. — O que está acontecendo comigo? O que você fez?

Ele parou bem na minha frente, tão perto que eu conseguia sentir o calor do corpo dele. O cheiro amadeirado dele me invadiu, e por um segundo, eu me perdi naquele momento.

— Eu não fiz nada que já não estivesse destinado a acontecer — ele disse, a voz rouca e baixa, me envolvendo. — A lua cheia está se aproximando, Nyla. E quando ela estiver no céu... tudo vai fazer sentido. Você vai entender o que somos.

Aquelas palavras eram mais assustadoras do que qualquer coisa que ele tinha dito antes. "O que somos"? Meu corpo já estava reagindo, e eu não sabia se era medo ou algo... mais.

— Eu não quero fazer parte disso, Thorne — tentei recuar, mas ele deu um passo à frente, me encurralando. Meu coração acelerou, e minha pele queimava com a proximidade dele. — Eu não sou sua.

Ele inclinou a cabeça, seus olhos âmbar cravados nos meus, um brilho desafiador ali.

— Não é uma questão de querer, Nyla. Você já sente isso. O laço entre nós está crescendo, e você não pode lutar contra ele. Quanto mais você tentar resistir, mais forte ele fica.

— E se eu fugir? — perguntei, tentando me agarrar a alguma possibilidade de escapar daquela loucura.

Ele sorriu, aquele sorriso meio torto que fazia meu coração parar por um segundo.

— Pode tentar — ele disse, sem perder a calma. — Mas você vai voltar. Vai sentir o chamado. E quando a lua cheia vier, não haverá como resistir.

Eu queria lutar contra isso, contra ele. Mas a verdade era que, no fundo, eu sabia que ele estava certo. Eu já sentia essa atração estranha, esse desejo que não fazia sentido. Mesmo tentando negar, meu corpo já estava reagindo a ele, a essa conexão que eu não queria aceitar.

— Por que eu? — perguntei, minha voz quase um sussurro. Eu não entendia. Não fazia sentido.

— Porque você foi escolhida — ele disse, sua voz ficando mais suave, como se estivesse explicando algo simples. — Não é uma questão de sorte ou azar. É destino. E quando a lua cheia estiver no céu, o lobo dentro de mim vai reivindicar o que é dele.

Meu corpo estremeceu com aquelas palavras. Reivindicar. Eu devia estar apavorada. Devia fugir. Mas tudo o que eu conseguia sentir era essa mistura de medo e desejo. Como se uma parte de mim quisesse que ele estivesse certo.

— Eu não posso fazer isso — sussurrei, mais pra mim mesma do que pra ele.

Ele se aproximou ainda mais, seus olhos queimando nos meus.

— Não se preocupe, Nyla — ele disse, a voz baixa e suave, como se estivesse me tranquilizando. — Você vai querer. Vai me desejar mais do que qualquer coisa. Quando a lua cheia vier... você vai entender.

Antes que eu pudesse reagir, ele virou as costas e desapareceu na floresta, deixando minhas palavras presas na garganta. Eu fiquei ali, sozinha, com o eco do que ele tinha dito.

Tudo vai mudar com a lua cheia.

Eu sabia que ele estava certo. Algo dentro de mim já estava mudando. E eu não sabia quanto tempo mais conseguiria resistir.

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