Capítulo 03

Nyla | dia 5, agosto de 2019

Eu passei os últimos dois dias tentando fingir que a coisa toda com Thorne não aconteceu. Difícil, né? Eu sentia como se ele estivesse em toda parte, mesmo quando eu estava longe da floresta. Às vezes eu acordava no meio da noite, com aquela sensação de que ele estava me observando. Não era um medo comum, era outra coisa. Era como se meu corpo soubesse que ele estava perto, mesmo quando minha mente tentava negar.

Eu não sabia se o que estava acontecendo comigo era real, ou se eu estava surtando de vez. Quem poderia me culpar? Eu nunca acreditei nessas histórias de lobisomens, mates e destinos traçados. Isso era coisa de livro, de filme. Mas Thorne… ele me fazia questionar tudo.

Naquela manhã, eu precisava de ar, precisava pensar, e ficar trancada em casa com a minha mãe não ia ajudar em nada. Ela, claro, nem notou que eu estava agitada. Estava mais ocupada do que nunca com suas ervas, rituais estranhos e sei lá mais o quê. Eu tinha minhas dúvidas sobre o que ela realmente fazia com tudo aquilo, mas não queria saber. Melhor não perguntar.

Peguei meu casaco, enfiei meus tênis e saí. O sol estava começando a subir, mas o ar ainda estava gelado. Eu caminhei sem rumo, meio que deixando meus pés me guiarem. Quando percebi, já estava na beira da floresta. Uma parte de mim sabia que eu acabaria ali de novo.

Só que dessa vez, não era medo que me puxava. Era uma curiosidade estranha, uma necessidade de entender o que estava acontecendo comigo. E, claro, eu não consegui parar de pensar nele. Thorne. Seu olhar, sua voz. Era como se tudo nele fosse feito pra me atrair. Isso era ridículo, mas real demais pra ignorar.

Quando entrei na floresta, a sensação foi instantânea. Era como se eu estivesse pisando em outro mundo. O vento soprava entre as árvores, fazendo aquele som assustador, como se a floresta estivesse viva e sussurrando meu nome. A escuridão entre os troncos era densa, mas eu continuei. Meu corpo sabia o caminho.

Não demorou muito até eu sentir que ele estava perto. Meu corpo inteiro reagiu antes mesmo de eu vê-lo. Cada célula minha pareceu despertar, como se soubesse o que estava por vir. E aí ele apareceu, surgindo das sombras como uma visão.

— Sabia que você voltaria — a voz de Thorne ecoou pela clareira, e meu corpo inteiro reagiu a ela.

Eu engoli em seco, tentando parecer menos afetada do que eu realmente estava. Ele estava mais perto do que da última vez, e eu conseguia sentir o calor do corpo dele, mesmo com o vento gelado cortando o ar. Aquele olhar... como se ele pudesse me ver por dentro, como se soubesse de tudo que eu estava tentando esconder.

— Eu não voltei por sua causa — falei, cruzando os braços na defensiva. Não sabia se era uma boa ideia provocá-lo, mas meu orgulho gritava mais alto.

Ele arqueou uma sobrancelha, aquele sorriso torto aparecendo nos lábios.

— Claro que não. Você só sentiu o chamado, certo? — Thorne deu mais um passo em minha direção, e meu coração começou a bater forte de novo. Como ele conseguia mexer tanto comigo? — Não tente lutar contra isso, Nyla. Você já está envolvida.

Eu dei um passo para trás, sentindo o tronco de uma árvore tocar minhas costas. Droga. Era como se ele soubesse exatamente o efeito que tinha sobre mim, e isso só o divertia mais.

— Envolvida no quê, exatamente? — tentei manter a voz firme, mas saiu mais fraca do que eu queria.

Ele parou a poucos centímetros de mim, os olhos âmbar cravados nos meus. A proximidade me deixou sem ar, como se a simples presença dele fosse sufocante.

— Você foi marcada — ele disse, sua voz baixa e grave, como se estivesse me revelando um segredo proibido. — A partir do momento que cruzou aquela linha na floresta, seu destino foi selado.

Eu pisquei, confusa. Marcada? O que isso significava? E por que tudo nele parecia fazer meu corpo inteiro vibrar daquele jeito?

— Marcada? — perguntei, a voz mais baixa. — Isso é alguma piada?

Ele não riu. Pelo contrário, seu olhar ficou mais sério, mais intenso.

— Eu sou o Alfa desta alcateia, Nyla. E você é o meu mate.

Aquelas palavras bateram em mim como uma tonelada de tijolos. Meu mate? O que isso sequer significava? A cabeça começou a girar, e de repente, o mundo ao meu redor pareceu mais estreito, como se tudo estivesse se fechando em torno de nós dois.

— Não… isso não faz sentido — eu balbuciei, tentando processar tudo. — Isso é coisa de lenda, de livro de fantasia. Lobisomens não existem. Mates não existem.

— Ah, mas eles existem — Thorne disse, a voz firme. — E você está ligada a mim agora, queira ou não.

Eu senti o chão sumir debaixo de mim. Como assim, ligada a ele? Desde quando? Meu corpo reagia de formas que eu não conseguia entender. Havia algo mais, algo profundo, que estava além do simples desejo.

— E o que isso significa pra mim? — perguntei, tentando manter o controle, mesmo sabendo que a situação estava fugindo das minhas mãos.

Thorne sorriu de leve, mas não era um sorriso gentil. Era quase predatório, como se estivesse gostando de me ver confusa.

— Significa que a partir da próxima lua cheia, você será minha. Não há escapatória, Nyla. A conexão entre nós só vai ficar mais forte, e você vai sentir isso. Vai desejar isso.

Eu queria lutar contra aquelas palavras, queria negar tudo o que ele estava dizendo. Mas, no fundo, algo em mim sabia que ele estava certo. Eu sentia essa conexão, essa atração avassaladora que era impossível de ignorar.

— E se eu não quiser? — eu perguntei, mesmo sabendo que a resposta não seria a que eu queria ouvir.

Thorne riu baixo, e o som da sua risada fez minha pele arrepiar.

— Não é uma questão de querer, Nyla. É uma questão de aceitar.

Ele se aproximou mais, até que eu pudesse sentir sua respiração quente contra minha pele. Minha cabeça girava, meu corpo inteiro queimava com a proximidade dele.

— A lua cheia está chegando — ele sussurrou, os lábios quase tocando a minha orelha. — Quando ela brilhar no céu, tudo vai mudar. Você vai entender.

Meu coração batia tão rápido que eu achava que ele podia ouvir. A floresta parecia mais escura ao nosso redor, e o mundo inteiro parecia girar em torno daquele momento.

Antes que eu pudesse reagir, ele desapareceu na escuridão, deixando apenas o eco das suas palavras na minha mente.

E eu sabia, mesmo sem querer admitir. A lua cheia estava se aproximando, e quando ela chegasse... nada mais seria o mesmo.

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